Trechos do livro 'As Perguntas da Vida,' de Fernando Savater - (um livro sobre filosofia).
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De todo modo, o cepticismo aponta uma questão muito inquietante: como pode ser que conheçamos algo da realidade, seja pouco ou muito? Nós, os humanos, com nossos toscos meios sensoriais e intelectuais... como podemos alcançar o que a realidade é verdadeiramente? É chocante que um simples mamífero possa ter alguma chave para interpretar o universo! O físico Albert Einstein, talvez o maior cientista do século XX, certa vez comentou: "O mais incompreensível da natureza é que nós possamos compreendê-la, pelo menos em parte." E Einstein não tinha dúvida de que a compreendemos pelo menos em parte. A que se deve esse milagre? Será porque há em nós uma centelha divina, porque temos algo de deuses, mesmo que seja de série 'z'? mas talvez não seja nosso parentesco com os deuses o que nos permite conhecer, e sim o fato de pertencermos àquilo mesmo a que aspiramos conhecer: somos capazes - pelo menos parcialmente - de compreender a realidade porque fazemos parte dela e somos constituídos de acordo com princípios semelhantes. Nossos sentidos e nossa mente são reais e por isso, conseguem, bem ou mal, refletir o resto da realidade.
Talvez a resposta mais perspicaz até hoje ao problema do conhecimento tenha sido dada por Immanuel Kant em sua Crítica da Razão Pura. Segundo Kant, o que chamamos de 'conhecimento' é uma combinação do que traz a realidade com as formas de nossa sensibilidade e as categorias de nosso entendimento. Não podemos captar as coisas em si mesmas mas apenas tal como as descobrimos por meio de nossos sentidos e da inteligência que ordena os dados fornecidos por eles. Ou seja, não conhecemos a realidade pura mas apenas como é o real para nós. Nosso conhecimento é verdadeiro mas não vai além de onde permitem nossas faculdades. Daquilo de que não recebemos informação suficiente através dos sentidos - que são encarregados de trazer a matéria prima de nosso conhecimento - não podemos saber realmente nada, e quando a razão especula no vazio absoluto como Deus, a alma, o Universo, etc., ela se atrapalha em contradições insuperáveis. O pensamento é abstrato, ou seja, ele procede à base de sínteses sucessivas a partir de nossos dados sensoriais: sintetizamos todas as cidades que conhecemos para obter o conceito 'cidade', ou das mil formas imagináveis de sofrimento chegamos a obter a noção de 'dor', absorvendo as características intelectualmente relevantes do universo. Pensar consiste, portanto, em voltar a descer da síntese mais longínqua aos dados concretos particulares até os casos individuais e vice-versa, sem nunca perder o contato com o experimentado nem nos limitar apenas à restritiva dispersão de suas anedotas.
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Feliz Martes.
Amei o texto!!!! Nossa, muito intelectual, muito científico, e brilhante!!!!
ResponderExcluirA Filosofia é uma coisa muito boa de se argumentar, mas ao mesmo tempo difícil, pois se não sabemos ou não intendemos não tem como explanar sobre o tema.
Pensar é uma coisa contínua, sem fim, e complexa, pois se volta à tudo, descobre coisas, às vezes enrola, ou até mesmo esconde, em algumas vezes.
Adorei o post!!! Grande abraço!!!
R. B. Mattozzo'
Brilhante são as palavras as quais fazem parte de um todo... Parabéns pelas suas belas criações
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