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quinta-feira, 12 de junho de 2025

ESTRANHEZA

 





Eu sou de outro país,

De outra época, há muitos anos,

Milênios, talvez.

Não sei quem me fez,

Mas jamais me esqueci

De quem me desfez.

 

Eu venho de alguma galáxia

Muito distante,

Não tem alguém que a alcance,

Ou alguém que fale a minha língua

Ou cure a minha íngua.

 

Quem me olha, nem percebe

Que eu já não estou,

Que eu fui embora

Há muito tempo,

Sou uma folha verde que caiu mais cedo

Derrubada pelo vento.

 .



.



.



.

 

 

 

terça-feira, 3 de junho de 2025

ENCONTRO MARCADO

 

 

Às vezes, me vem em sonhos,

Cabelos em tons de sépia

Um tom de voz que nem me lembro

Um olhar sempre distante,

Perdido em lugares ermos.

 

Está diante de mim,

Ao mesmo tempo, distante,

E ao segurar minha mão,

Me conduz a um lugar

Que fica sempre adiante,

Mas que eu não posso entrar.

 

Se me fala, o faz sempre

Com os lábios bem cerrados.

A paisagem da distância

No olhar envidraçado.

 

E quando acordo, mal lembro

Daquele encontro marcado

Sem ter hora e sem saudade,

Entre o meu tempo e o outro tempo,

Um caminho enviesado,

Marcado na eternidade.

 

Ana Bailune

MEMÓRIA

 





Uma tarde morrente.

As últimas luzes tentam iluminar a mesa da cozinha.

A mulher se debruça ao acaso

Sobre as folhas de jornal que embrulhavam os ovos:

Velhas notícias.

 

Chia a panela de pressão

Enquanto a menina tenta terminar as tarefas da escola.

Mãe e filha ausentes,

Cada qual no seu mundo;

Um mais colorido, outro mais profundo,

Tão profundo, que ela se agarra às boas lembranças

A fim de não se afogar.

 

A criança, em seu mágico mundo da imaginação,

Entre noves fora e multiplicações

Olha para fora, para as folhas do coqueiro na casa vizinha,

E cria esta memória.





 

 

quarta-feira, 30 de abril de 2025

LIBERDADE

 

 






O que não brota de dentro

Não cresce do lado de fora.

Por vezes, será preciso

Regar com o próprio sangue

A fraca raiz que chora,

Para que um dia, o riso

Possa nascer sob os lábios

Que hoje em dia, se crispam.

 

É preciso dizer não,

É preciso ir embora,

Gritar ao mundo o que dói,

Por sobre o medo que aflora

Para que os que ficam, possam

Em um futuro longínquo

Viverem tempos de glória.

 

É preciso ter coragem,

E isso não é tão fácil...

Existem foices que cortam

Sempre que alguém ergue um braço.

Que possa haver, mesmo assim,

Uma voz, uma canção

Que possa escrever um “fim”

Sobre o que foge à razão.

 

 

 

Ana Bailune

terça-feira, 22 de abril de 2025

CALADA

 



 

É que às vezes

Me bate um cansaço

Que estanca o passo,

Paralisa o olhar,

Afrouxa o laço.

 

Um enorme cansaço

De ter que explicar,

De fazer a memória

Esquecer

Para poder continuar.

 

Não é que ainda doa,

Pois a pele frágil

Já cicatrizou,

E a dor que doía

Do espinho nas solas

Há muito passou.

 

É apenas cansaço

Ao ouvir um “Por que?”

E saber que a resposta

Daria outra história...

Tão longa e absurda

Seria a estrada

A se percorrer!

 

E assim, a palavra

Escorre entre os dentes,

Jaz, dependurada

Na ponta do lábio,

E tomba, calada

No meio da rua

É pisoteada,

E silenciada

Antes de ser dita,

Antes de dizer.





 

 

 

 

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

O MEDO


O MEDO

 

O medo é uma voz que grita,

Mas só a ouve quem teme.

Mas quem a teme, disfarça

O coração que se esgarça,

A voz sumida, que geme.

 

O medo é um passo perdido

À beira do desabrigo.

Não tem coragem de ir,

Também não pode voltar.

Os pés, suspensos no ar,

Sobre a estrada, divididos.

 

O medo escreve uma história

Que a vítima não quer ler.

Enquanto prega a coragem,

Atrasa a própria viagem

No afã de não morrer.

 

O medo é a mão que apedreja

Porque não sabe viver.

 

 

Ana Bailune

sexta-feira, 21 de março de 2025

CINCO QUILOS

 


 

 

 

No seu conceber,

Cinco quilos me separam da esbelteza.

Cinco passos, até que eu seja

O 'eu'

Que você deseja.

 

Cinco meses, ou semanas, talvez,

Até que eu preencha as demandas

Que você me fez.

 

Mas tudo isso é uma questão

De ponto de vista.

Quem sabe, eu seja para mim

Finalmente, o que eu sempre quis?

 

Quem sabe, no seu coração

Não seja você mesmo

O real motivo

Da sua insatisfação?

 

.

 

.

 

.

 

 

 

Quem vive para preencher as expectativas alheias tem um sério problema.



quinta-feira, 20 de março de 2025

IMPORTÂNCIA




IMPORTÂNCIA

 

 

Apague meu rosto, não hesite.

Vire a página

À minha irrelevância.

 

Não é importante para mim

O que pensas 

Sobre a minha importância.

 

A cada manhã, eu renasço,

Filha da mesma

Inconstância.

 

E a cada noite, eu me apago,

Sem qualquer desejo

De rutilância.

 

 

 

Ana Bailune

 

PERFIL

 




PERFIL

 

De frente, de lado,

Sorrindo, Calado,

Pensando num ponto

Cantado.

 

Tem gente que passa,

Os rostos virados,

Tem gente que teme

Mau-olhado.

 

Tem gente que lembra,

Tem gente que esquece,

Tem gente que sopra 

Uma prece.

 

O rosto amarelo

Queimado, bem preso

Na velha moldura

Ovalada.

 

Já nem se vislumbram

Os traços gravados;

Um dia, nasceu,

No outro, finado.

 

Um dia, não sobra

Nem mais uma alma

Que saiba quem está

Sepultado.

 

 

 

 

 

Ana Bailune


CONSELHO

 



Conselho 

 

 

Não olhe jamais

Através do buraco da fechadura.

Não queira ver

O que os outros não querem mostrar,

Pois a inocência é um mar de branduras,

E no saber

Não cabe o recolhimento de um olhar.

O que você vê

É o que saberá,

A vida toda.

Não há como voltar.

 

 

 


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Passarinho

 



É tão bonito o passarinho
Que pousa, cantando
No galho da árvore!

Derrama cores e cantos
Sem economia,
Sem promessas ou cobranças,
E sem sequer prometer
Que voltará no outro dia!






terça-feira, 31 de dezembro de 2024

ESTRANHA


 


 

 

 

Não seguia caminhos traçados,

Não pedia, jamais, perdão

Se não havia o que ser perdoado.

 

Jamais dizia ‘sim’ se isto lhe causasse dor,

Nunca se curvava a falsas

Declarações de amor.

 

Porém, o pior de todas as coisas,

É que ela ouvia muito bem

Tudo o que ficava mudo,

 

Tudo o que não era dito com palavras,

Mas que era disfarçado em sorrisos

Fingidos, itinerantes, ou crivados de mágoa.

 

"Estranha", todos diziam,

E quanto menos ela se importava,

Mais livre e sozinha ela se tornava.

 

Vivia a sua vida estranha,

Sem querer tornar-se nada

Do que não nascera para ser.

 

A todos, não agradava,

Pagava o preço pela sua escolha

De querer viver fora da bolha

Que a todos escravizava.

 

 

 

 


sábado, 16 de novembro de 2024

AMARGURA





 

E você descobre

Que está coberta,

Que se afogou

Na maré cheia,

E você entende

Que já é passada

A hora certa,

E que tem vivido

Espremida

Entre as horas alheias.

 

E você percebe

Que sua existência

Pede permissão.

E você se arrasta,

E você se gasta

Por compreensão.

E você se olha,

Não se reconhece,

Não sabe se sobe,

Não sabe se desce.

 

E você se esquece

De como chegou

Aonde chegou,

Não sabe aonde vai,

Se deve ficar,

Pois nem se dá conta

Do que lhe restou.

 

E você assunta,

Você se pergunta

Se valeu a pena,

- Protagonizou

O seu espetáculo,

Ou tem sido apenas

O receptáculo,

O palco cedido

A um outro show?

 

E você se sente

Sempre deslocado,

Os olhos vidrados,

Os lábios colados,

Coração pesado,

O ar rarefeito

O peito abafado.

 

E você se isola,

Pois a solidão

É a única cola,

Uma proteção

Um alívio, um jeito

De cuidar daquilo

Que ainda restou.

 

E você se vê

Em paz, finalmente,

A vida entre os dentes,

Os anos no fim

A vida no fim,

Lembranças em fileiras

Sobre as prateleiras

Empoeiradas

Catalogadas , etiquetadas:

“Aqui jaz o escopo

De uma vida inteira.”

 

 

 

 

 

 



 

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Não Procuro Nada

 

 



Nada procuro,

Eu não procuro nada,

Mas há sempre alguma coisa

Que me acha,

Que se esborracha, de repente,

Contra a minha vidraça,

E suja o vidro,

Macula a paisagem

E trava a minha alma.

 

Não procuro,

Não procuro nada,

E rezo a Deus, sempre,

Que nada me encontre,

Que nada me ache,

Que nada me afronte.

 

Mas eu acho

Que sirvo de fonte

Às línguas cansadas,

E sou corrimão

Onde as mãos indolentes

Se apoiam

Tentando subir

Minhas escadas.

 

Eu não procuro,

Não me interessa,

Só quero o direito

De permanecer quieta,

Dormir abraçada

A esse dragão tão antigo

Que me aquece

E aos poucos, me mata.





 

 

 

sábado, 14 de setembro de 2024

QUE DEUS ME LIVRE DA ETERNIDADE!

 


 

A vida é boa,

Mágica, trágica, linda,

E mesmo quando ela destoa

Dos planos, por danos e erros que cometemos,

Ela pode ser bonita, ainda.

 

Mas eu não quero voltar; não!

Uma só vida me basta,

Não quero me elevar à Divina casta,

Não quero virar estrelinha,

Nem refazer a viagem

Ao chegar ao fim da linha!

 

Se Deus puder me atender,

Que Ele me livre do peso

Dessa verdade que muitos espalham,

Que Ele tenha piedade e que possa perdoar

A minha quem sabe,  pouca

Acuidade.

 

Que Ele me livre do eterno despertar da vaidade,

De ser novamente um aro nessa roda

Desafortunada

Cujo eixo não tem chão nem parada.

Só  peço a Deus um pouco da Sua compaixão.

 

Não quero sequer o meu nome

Gravado em uma pedra de mármore,

Quero morrer quando for morrer,

Não faço nenhuma questão

De alguma ávida saudade.

A vida que tenho será a minha única dádiva

A mim mesma, ao que eu fui, sou

E que não desejo

voltar a ser.

 

 



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