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sexta-feira, 21 de março de 2025

CINCO QUILOS

 


 

 

 

No seu conceber,

Cinco quilos me separam da esbelteza.

Cinco passos, até que eu seja

O 'eu'

Que você deseja.

 

Cinco meses, ou semanas, talvez,

Até que eu preencha as demandas

Que você me fez.

 

Mas tudo isso é uma questão

De ponto de vista.

Quem sabe, eu seja para mim

Finalmente, o que eu sempre quis?

 

Quem sabe, no seu coração

Não seja você mesmo

O real motivo

Da sua insatisfação?

 

.

 

.

 

.

 

 

 

Quem vive para preencher as expectativas alheias tem um sério problema.



quinta-feira, 20 de março de 2025

IMPORTÂNCIA




IMPORTÂNCIA

 

 

Apague meu rosto, não hesite.

Vire a página

À minha irrelevância.

 

Não é importante para mim

O que pensas 

Sobre a minha importância.

 

A cada manhã, eu renasço,

Filha da mesma

Inconstância.

 

E a cada noite, eu me apago,

Sem qualquer desejo

De rutilância.

 

 

 

Ana Bailune

 

CONSELHO

 



Conselho 

 

 

Não olhe jamais

Através do buraco da fechadura.

Não queira ver

O que os outros não querem mostrar,

Pois a inocência é um mar de branduras,

E no saber

Não cabe o recolhimento de um olhar.

O que você vê

É o que saberá,

A vida toda.

Não há como voltar.

 

 

 


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O QUE É ISSO, MINHA GENTE?

 




Desde novembro de 2024, estranhos fenômenos tem sido avistados nos céus do mundo. Tudo começou em New Jersey, Estados Unidos, onde luzes, orbes e aparelhos não identificados (batizados como drones por falta de um termo mais adequado) cruzam os céus da cidade sem a menor intenção de permanecerem anônimos. As pessoas os fotografam e filmam, postando tudo nas redes sociais, e se indagam a respeito do que tais coisas poderiam ser.

Enquanto isso, o Governo dos Estados Unidos, apesar de declararem não ter a menor ideia do que se trata, tenta acalmar a população, dizendo que as luzes, orbes e drones não apresentam perigo. Ora, como eles podem afirmar tal coisa se eles sequer sabem o que são aquelas UAPS (unidentified anomalous phenomena)?




E enquanto a NASA e o Governo dos Estados Unidos fazem cara de paisagem, e os incrédulos riem daqueles que estão inseguros a respeito daquelas coisinhas luminosas (algumas, maiores que um SUV) pairando sobre suas casas enquanto eles dormem, a coisa começa a se espalhar pelo mundo; há avistamentos no Canadá, Inglaterra, Índia, China e em vários outros países – inclusive, no Brasil.

A coisa já se tornou lugar comum. Ninguém ouve falar muito sobre isso na mainstream media. As informações mais exatas estão nos canais do YouTube. Minha imaginação, que não se contém, inventou algumas teorias, e outras eu peguei em canais do YouTube.


- São drones de países inimigos dos Estados Unidos. Contém armas químicas, e por isso não estão sendo derrubados; se o fossem, espalhariam doenças desconhecidas por todo o país. A origem? Quem sabe, a China, quem sabe o Irã. Isso explicaria os aparelhos físicos, mas não explicariam as luzes e orbes...


Avistado em New Jersey, dezembro de 2024


- São uma experiência psicológica do governo a fim de saberem como seria se um ataque interplanetário assolasse a humanidade. Não gosto desta teoria, acho a menos plausível. Para mim, não faz sentido.

- Alguns dizem que Elon Musk é o culpado. Mas qual seria o interesse dele em fazer isso? Não consigo entender.

- São aparelhos chineses que estão sendo usados para monitorar outros países, em especial os EUA. Lembram-se que durante a pandemia a NASA deu uma entrevista coletiva, dizendo que tinham sido feito avistamentos de OVNIS nos céus americanos? Foi um acontecimento e tanto! Meu marido me acordou de madrugada para assistir ao pronunciamento ao vivo feito pela NASA. Logo em seguida, o Governo e a NASA disseram que se tratavam de “balões meteorológicos chineses.”

- São coisas de outros planetas; são OVNIS (ou UAPS, como estão sendo nomeados hoje em dia). 

A minha teoria: pode ser tudo isso junto e misturado. Tem coisas voando por aí que não são drones, embora ninguém saiba o que elas são. E tem coisas que são drones que estão voando atrás dessas coisas que não são drones, tentando descobrir o que elas são. Pode haver armas químicas. Pode haver algum aparelho de monitoramento – chinês ou de outra nacionalidade – e estão mantendo tudo em segredo para não causar pânico nas pessoas. 

Desejo a todos nós boa sorte, na esperança de que não estejamos vivendo o Independence Day (lembram do filme?).

Há muitos mistérios ultimamente... além dos "drones", temos aviões caindo feito moscas no mundo todo, incêndios fenomenais, enchentes catastróficas e neblinas misteriosas que deixam um pó branco sobre as coisas e causam doenças. Não sabiam? Pesquisem.




sábado, 16 de novembro de 2024

AMARGURA





 

E você descobre

Que está coberta,

Que se afogou

Na maré cheia,

E você entende

Que já é passada

A hora certa,

E que tem vivido

Espremida

Entre as horas alheias.

 

E você percebe

Que sua existência

Pede permissão.

E você se arrasta,

E você se gasta

Por compreensão.

E você se olha,

Não se reconhece,

Não sabe se sobe,

Não sabe se desce.

 

E você se esquece

De como chegou

Aonde chegou,

Não sabe aonde vai,

Se deve ficar,

Pois nem se dá conta

Do que lhe restou.

 

E você assunta,

Você se pergunta

Se valeu a pena,

- Protagonizou

O seu espetáculo,

Ou tem sido apenas

O receptáculo,

O palco cedido

A um outro show?

 

E você se sente

Sempre deslocado,

Os olhos vidrados,

Os lábios colados,

Coração pesado,

O ar rarefeito

O peito abafado.

 

E você se isola,

Pois a solidão

É a única cola,

Uma proteção

Um alívio, um jeito

De cuidar daquilo

Que ainda restou.

 

E você se vê

Em paz, finalmente,

A vida entre os dentes,

Os anos no fim

A vida no fim,

Lembranças em fileiras

Sobre as prateleiras

Empoeiradas

Catalogadas , etiquetadas:

“Aqui jaz o escopo

De uma vida inteira.”

 

 

 

 

 

 



 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

FOFOCA




A fofoca, que muitos consideram apenas como uma conversa informal a respeito da vida alheia (e algumas vezes ela até pode ser considerada com
o tal), também tem o seu lado perverso: Por que alguém passaria tempo de sua própria vida debruçado sobre a vida do outro, procurando por alguma coisa negativa que pudesse aumentar e partilhar? E por que o receptor da fofoca, ao invés de procurar esclarecer os fatos, escolhe acreditar em um fofoqueiro?

A fofoca destrói amizades antes que elas possam crescer e se solidificar. Ela demoniza o caráter de uma pessoa que nem sequer sabe que sua vida está sendo exposta e comentada. E geralmente, a pessoa que destrói a reputação de outra tem como objetivo ficar "bem na foto," "sair por cima" de um conflito ou dar algum tipo de explicação sobre uma decisão que tomou ou um erro que cometeu. 

E após um desentendimento causado pela fofoca, embora a vítima possa vir a perdoar quem a atacou, a relação nunca mais será a mesma. Porque a confiança morreu. Aquela pequena flor que estava começando a brotar por sobre o muro foi ceifada bem rente ao caule, e em seguida, pisoteada. 

Eu sou uma pessoa bastante sensível - diria até sensitiva - e percebo as energias que estão me rodeando e tentando quebrar meu círculo energético. Eu sei quando algo está errado. Tento negar a mim mesma, mas logo em seguida, alguma coisa que estava escondida vem à tona. 

De repente, uma pessoa que sempre nos tratou bem começa a nos olhar de lado e fingir que não nos vê; Quando é inevitável que nos cumprimente, o faz de má vontade, e mesmo diante de um sorriso, conseguimos perceber que ele não é espontâneo. Quase sempre, há um fofoqueiro de plantão, daqueles do pior tipo: o que inventa mentiras e distorce verdades, apenas porque destruindo uma amizade, terá melhor domínio sobre uma situação. 

Mas quando isso acontece, eu não me preocupo; o universo tem a mania de esclarecer as coisas, mesmo que isso demore. O tempo pode não ter pressa, mas a justiça divina é sempre implacável. E aquele que está pronto a virar-se contra alguém devido a uma fofoca, acabará vendo que fez uma escolha terrível - mas será tarde demais. Porém, sempre fica a lição.







sexta-feira, 6 de setembro de 2024

UM ÚNICO HOMEM



Um único homem controla uma nação com mais de 215 milhões de habitantes. Ele sozinho decide quem fica, quem vai, o que pode ser dito, o que deve ser calado, quem recebe seus salários e quem é bloqueado, quem vai preso por manifestar-se e quem sai da cadeia mesmo sendo criminoso.

Um único homem conduz uma nação inteira a voltar à Idade Média, sem sequer pensar nos milhões de pessoas que necessitam dos recursos que ele bloqueou para trabalhar, anunciar, se informar e expressar seus pensamentos. Um único homem, com um ego que não cabe dentro dele mesmo e que se expande e se arrasta sobre tudo e todos, deixando sua marca gosmenta e fétida sobre a liberdade de expressão de um povo, proclama a si mesmo o dono do país e seu senhor absoluto. E este mesmo homem ainda ameaça colocar a segurança do país em risco e privar crianças e adolescentes de se conectarem com recursos de aprendizagem essenciais.

Ele é culpado? Sim. 

Porém, ainda mais culpados são aqueles que têm o poder de retirá-lo e não o fazem. Aqueles cujos rabos estão presos entre as patas de um ditador egocêntrico. Aqueles que se acovardam e se esquecem do porquê estão ocupando os cargos que ocupam. 

E ainda mais culpados são os que aplaudem freneticamente esse estado de coisas - marionetes de  hienas que não têm a menor ideia sobre o que está acontecendo bem diante de seus olhos.

Enquanto as outras nações evoluem, nós involuímos. 



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terça-feira, 3 de setembro de 2024

DIZER A VERDADE, SER VERDADEIRO






Quem diz a verdade a si mesmo é incapaz de mentir a quem quer que seja. 


Vejo muitas pessoas que procuram desculpas para justificar as decisões que elas próprias tomam, sempre apontando outras pessoas como responsáveis pelos seus feitos e escolhas. Tais pessoas não estão seguras sobre suas próprias decisões, e atribuem aos outros o papel de as terem 'forçado' a seguir este ou aquele caminho, pois se nada der certo, poderão atribuir ao outro a culpa pelas suas más escolhas.


Pessoas assim não refletem e nada aprendem, pois jamais admitem terem errado. Dizem-se sempre vítimas das circunstâncias. 


Há pouco tempo, alguém me disse: "Tomei tal decisão porque será melhor para mim e para você, já que você não está mais satisfeita com o meu trabalho." Dei a ela a única resposta que eu poderia ter dado: "Essa é a sua escolha, e a sua decisão. Eu nunca disse tal coisa. Vá em paz e obrigada." Eu quis deixar bem claro a ela que eu nada tive a ver com a escolha que ela mesma fez.


Por que as pessoas não dizem a verdade a si mesmas? 


Quando alguém se afasta de mim de forma tão súbita e sai batendo o pé, eu não pergunto jamais o motivo, nem tento impedi-las; considero um livramento. Afinal, eu rezo todos os dias e peço a Deus que afaste de mim as pessoas falsas, mentirosas e invejosas. Não posso lamentar quando Deus me ouve. 


 



quinta-feira, 18 de julho de 2024

LUA MINGUANTE

 




Seja o que for, vai embora

Se a lua se faz minguante.

A alguns, deixa mais fortes

E a outros, claudicantes.


É como a água que busca

No solo, consolação

Após uma tempestade

Se infiltrando pelo chão.


A terra fica mais fértil

E a colheita, mais farta

Mas algumas pobres almas

Se afogam na função.


Seja o que for, sempre volta

Àquele que o criou

Sem precisar de escolta

Na força de quem mandou.








quarta-feira, 3 de abril de 2024

EU SÓ TENHO UMA FLOR

 





Eu Só Tenho Uma Flor

 

Neste exato momento,

Eu só tenho uma flor.

Nada existe no mundo que seja meu.

Nada é urgente.

Não há razões para que eu me preocupe.

O vento passa pelos meus ouvidos,

Tão rapidamente, que quando percebo,

Ele já se foi.

 

Mas fica-me esta flor,

A única coisa que eu tenho

E que me pertence, embora não seja minha,

Essa flor entre tantas outras,

A flor para qual eu estou olhando.

 

Se eu desviar meu olhar,

Ela se perde.





 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

VERDADES




Alguns falam de doçura,

Desconhecem

O regurgitar das abelhas,

O mel que se transforma dentro delas,

Dentro das casas de cera.


Falam do luxo do escargot

Sem que se lembrem

De que, antes de serem servidos,

Não passavam de lesmas.


Sendo assim, não julguemos

Os processos que passamos,

Aceitemos

O vômito divino que somos

E o tempo que vivemos

Nos arrastando

Deixando rastros pegajosos

No rosto das folhas.




 


 




 



terça-feira, 7 de novembro de 2023

SEM VOCÊ

 


 

Há uma palma que não segura,

Está vazia de tudo,

Cheia de finos fiapos de nada

Que esvoaçam entre os dedos.

 

Há um copo sem lábios,

As margens intactas,

O líquido, segredo intocado,

No fundo daquela taça.

 

Há um caminho sem passos,

Vazio de quem o seguia.

Há uma fileira de pedras

Que leva a uma casa

Sem alegria.

 

Há um não haver constante

Que se estende pela noite

E encontra a luz do dia.

 

Raios de sol o dissolvem,

Mas a paz é temporária,

Simples alegoria.

 

E eu sigo, tropeçando

Entre sonhos imprecisos,

Versos bruxuleantes

E palavras vazias.

 



 

 



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

NUNCA MAIS

 

 

 

E veio a inundação,

Invadiu a casa onde eu morava

E me trancava,

Levando consigo tudo o que se escondia

Em meus porões.

O medo venceu a surpresa,

E de repente,

Eu não tinha mais nada

– Sequer a mim mesma.

 

E quando se foram as águas,

Passei vários dias raspando a espessa

Camada de lama.

Dormi ao relento, sob as estrelas,

Pois não me restou sequer uma cama.

 

E foi assim que descobri o sopro da brisa, ao ar livre,

E a chuva fresca lavou toda a noite da minha alma,

Levando-a na correnteza das suas águas.

 

O brilho das estrelas enfeitou minha dor,

E ao sol da manhã, sequei minhas mágoas.

 

Na casa, então vazia de tudo,

Eu entrei descalça,

Deixando as janelas abertas, as portas escancaradas.

Os passarinhos cantaram nas calhas

Enquanto as folhas dançaram

No piso da sala.

 

 

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Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi. Porque,

 

 

Nunca mais não é "Te vejo daqui a alguns dias,"

Nunca mais não é "Vou ali e já volto,"

Nunca mais não é como "Um dia nos reencontramos para um café,"

Nunca mais é bem depois que se acabaram 

A esperança e a fé.

 

Nunca mais não é "Talvez um dia,"

E de nada adianta rezar mil Padre Nossos

Ou Ave-Marias,

Porque nunca mais é acaboufim,

Até que se perceba

Que nunca mais é um rio de amor jorrando

Sem um mar que o receba.

 

Nunca mais é como uma lápide sobre o peito,

Que vai doer por muito, muito tempo,

Até que se aceite, de fato,

Que nunca mais é cadeado,

Nunca mais é para sempre,

É fato consumado.

 

 

 

 



segunda-feira, 11 de setembro de 2023

TE OUÇO

 

 





Porque é a vida,

E porque há vindas

E por que há idas...

 

Ninguém escapará

Desse ir e vir,

Ninguém vai ficar...

 

E hoje, eu te ouço,

Ah, voz que não fala,

No som do silêncio...

 

À porta de casa,

No meio da sala,

No meu desalento...

 

Mas mesmo sabendo

De toda a saudade,

Da dor que hoje sei,

 

Eu tudo faria

Ainda uma vez,

E mais outra vez!

 

Porque nessa vida,

Deixar de amar

Por medo da dor,

 

É só covardia,

É um condenar-se

A um vil desamor...

 

 

Hoje, quando penso na Leona, no Aleph, na Latifah e em todos os animaizinhos que tive e que perdi ao longo da vida, sinto muita gratidão porque os céus me deram a honra de cuidar deles aqui, de amparar suas vidas em minhas mãos, e de ter tido a chance de rir muito com eles, desfrutar muitas tardes sentada com eles na varanda escutando as cigarras e os grilos ao chegar da noite, e de poder chegar em casa e ter suas festinhas e demonstrações de alegria só pela minha simples presença.

 

Agradeço por desfrutar de sua proteção, companhia, amor, cumplicidade, e poder ter aprendido tantas coisas através deles e contribuído para a evolução deles como seres espirituais que são. Gosto de imaginar uma casinha azul lá longe, num lugar onde não sei, onde eles todos estão sendo cuidados e me esperam. E mesmo que essa casinha esteja apenas na minha imaginação, é bom ter em mente essa fantasia que me consola e que me ajuda a caminhar sem a presença deles.

 

Fico tão triste quando vejo animais sendo maltratados, principalmente quando são maltratados  por seus tutores, que os espancam, abandonam ou acorrentam! 

 

Minha irmã já recolheu vários desses animaizinhos quebrados, e consertou-os, restaurando a saúde física e emocional deles, cuidando deles até o final de suas vidas. Eu não tenho essa estrutura emocional que ela tem para consertar almas.

 

E ontem ela trouxe aqui em casa o Pipoca, uma dessas criaturinhas quebradas e restauradas, e ele veio para brincar um pouco com o meu Mootley que ainda está enlutado pela perda da Leona, sua amiga há 9 anos. Os dois pareciam já se conhecer há muito tempo, pois a amizade que demonstraram um pelo outro foi instantânea. 

 

Depois que o Pipoca foi embora com minha irmã e minha sobrinha, o Mootley comeu sua ração pela primera vez em duas semanas. Antes, só comia alguns pedacinhos de frango e biscoitos. A presença deles aqui em casa parece ter limpado um pouco a tristeza do ar. Foi bom ter pessoas em volta da mesa, vozes, cãezinhos brincando de novo no jardim. 

 

E assim a gente vai vivendo, e se despedindo da minha Leona. Porque todo adeus causado pela morte é adeus para sempre. Mesmo assim, gosto de pensar na casinha azul.

 


quinta-feira, 31 de agosto de 2023

SEJA O QUE FOR


SEJA O QUE FOR

Seja o que for, vai passar; se estiver vivendo momentos felizes – e geralmente, eles não vêm com etiquetas luxuosas, mas trazem elementos como um passeio à pé com o cachorro, tomar café com pão de tardinha na mesa da cozinha, rir de um filme engraçado, escutar música ao anoitecer, ou simplesmente, chegar ao supermercado e poder comprar a sua comida – aproveite, viva, valorize. Uma voltinha no shopping, comprar uma roupa nova, encontrar amigos, estar com pessoas que você gosta – tudo isso é o que menos valorizamos enquanto estamos vivendo.

E se você estiver passando por momentos ruins que parecem infindáveis, e a dor de vivê-los for quase insuportável, causando aquele aperto de ansiedade no plexo solar e fazendo com que seu primeiro pensamento ao acordar seja sobre o que te machuca, seja o que for, vai passar. Um dia, passa.

Já vivi várias ocasiões muito difíceis que eu achei que nunca fossem acabar. Mas elas acabaram. Um dia, acordei me sentindo menos triste. E desde então, fui melhorando até poder sorrir de novo de verdade. É assim com todo mundo. Basta que não nos agarremos à dor, mas que deixemos ela se curar quando chegar o momento. Acho até que a cura é uma reação química do organismo, ele precisa se curar para que a vida possa continuar. Talvez seja algo hormonal. Mas é que às vezes nós não achamos justo que estejamos bem quando aquele ser que tanto amamos nos abandonou ou morreu.  Olhamos as fotos daquela criatura que parecia tão saudável, tão bonita, e dá uma sensação de que aquilo simplesmente não pode ter acontecido.

Mas quanto mais cedo aceitarmos que aquilo aconteceu, melhor.

Gosto de assistir a filmes ou vídeos ou ler livros que retratem o que estou sentindo, pois assim é mais fácil aceitar a realidade de que não é só comigo, mas que é parte da vida. Isso me ajuda. E é claro, escrever, escrever, escrever... colocar para fora o que estou sentindo. Ajuda a dimensionar melhor os acontecimentos. Ajuda a aceitar.

Dificilmente achamos alguém que nos ouça nestas ocasiões. As pessoas não querem saber de tristeza. As pessoas só querem “ser felizes” o tempo todo. A dor alheia as faz lembrar das próprias dores que elas nunca têm a coragem de enfrentar, mas que socam lá para o fundo de si mesmas, negam, selam o pacote com um sorriso amarelo, daqueles de rede social,  e fingem que está tudo bem. Mas não é culpa delas. Cada um tem a sua forma de reagir. E como é assim, melhor nem procurar alguém para desabafar; as pessoas não estão dispostas a ouvir.

Escreva. Fale sozinho, reze, pague um analista (embora eu não goste da ideia de ter que pagar para ser ouvida, prefiro escrever). Mas viva seu luto até o final. Não deixe que tentem “te alegrar.” As pessoas que fazem isso não sabem o quanto são inadequadas. Melhor que te deixem em paz. E se estiver muito, mas  muito difícil, se o tempo for passando e você sentir que não dá para sair dessa sozinho, procure ajuda profissional, tome remédios (alguém me disse isso, e ela está certa). Só sei que um dia, o sol brilha de novo. Um dia, a dor passa e ficam as boas lembranças.

Já passei por isso muitas vezes, e cada vez é única, o sentimento é diferente, a dor pode ser mais ou menos intensa, mas o desfecho tem sido o mesmo: passa.








quinta-feira, 10 de agosto de 2023

VENTANIA

 






Voam os telhados dos casebres

Deixando nus os meninos adormecidos.

Caem as árvores enormes,

Tombam, simplesmente: aceitam seus destinos.

Em desatino, gira a ventania,

Carrega consigo o que estiver no caminho:

Os vasos de barro arrumados sobre o muro,

As calhas e as telhas,

As folhas secas (e algumas verdes),

As roupas indefesas que secavam no varal,

Tão calmamente...

As sementes que aguardavam serem plantadas,

As cortinas das casas.

 

E a natureza apenas faz o que é preciso,

Não julga, nem tem ressentimento;

Leva com o vento o que tem que ser levado.

De tudo o que é velho, nos destitui

Para que ela possa 

continuar.

 



 

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