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Eu, com essa velha mania de ler tudo o que me cai às mãos, acabei descobrindo a resposta para a pergunta acima em um saco de pão, enquanto tomava meu café da manhã.
Lembro-me de quando eu era criança, e bastava anoitecer para que o capim melado que cobria o morrinho ao lado de minha casa, e também as copas das árvores e demais plantas, ficassem cheios de luzinhas piscando; eu às vezes tinha a impressão de que as estrelas tinham descido do céu para brincar de esconder na Terra.
Com o tempo, essas criaturinhas foram desaparecendo aos poucos, e presentemente, quando eu vejo um, chamo quem estiver perto para partilhar do meu encanto, tal a raridade desses bichinhos nos dias de hoje.
Lendo o texto no saco de pão, fiquei sabendo que as luzes dos vagalumes servem para atrair as criaturas do sexo oposto, para que possam acasalar. Porém, o texto explica que “Infelizmente, os vagalumes estão ameaçados de extinção pela forte iluminação das cidades, pois quando entram em contato com essa forte iluminação, sua bioluminescência é anulada, interferindo fortemente na reprodução, podendo até serem extintos."
A luz artificial sobrepujando a luz natural e verdadeira.
O que li me fez pensar: nos dias de hoje, há luzes artificiais demais, não apenas nas grandes cidades, mas nos corações das pessoas. E essas luzes brilham com tal fulgor – embora sejam falsas – que acabam ofuscando as luzes verdadeiras, aquelas que brilham devagar e que verdadeiramente iluminam ao invés de ofuscarem.
Na internet, que foi um dos melhores inventos do século, e que teve sua utilidade contaminada por pessoas oportunistas e de má índole, vemos isso o tempo todo: bandidos sendo fotografados ao lado de crianças sorridentes, meninas expondo seus corpos como se fossem mulheres adultas e estivessem à venda, baleias Azuis navegando pelo mar cibernético e afogando incautos, notícias falsas criando pânico e alimentando o ódio. E os vagalumes verdadeiros ficando cada vez mais ofuscados.
O brilho dos vagalumes servia para que eles se agrupassem e descobrissem seus parceiros, garantindo assim a sua sobrevivência. Por isso, eles todos brilhavam na medida certa, a fim de não causar ofuscação a nenhum deles. Mas hoje, a necessidade de destacar-se e de brilhar – achando-se no direito de escurecer e ofuscar quem estiver em volta – e a falta de senso de quem segue e aplaude tais comportamentos, está causando uma triste – e quem sabe, irrevogável - inversão de valores. De repente, as coisas que as pessoas da minha geração cresceram aprendendo que eram erradas, tornam-se certas e são praticadas em plena luz do dia. A falta de respeito impera. A falta de carinho, solidariedade e paciência para esperar sua vez sem passar sobre ninguém que esteja na frente também. Nas grandes empresas, estimula-se a competição, e tudo o que for feito em busca de sucesso e promoção é considerado empenho e dedicação.
Triste momento esse no qual vivemos.
Por isso, quando a noite chega, eu gosto de ir lá para fora e ficar olhando a mata que existe em frente à minha casa. Ouvindo o cricrilar dos grilos e os pios das corujas, eu firmo o olhar até que eu veja uma luzinha piscando, brincando de esconder com outra luzinha em volta da copa de alguma árvore. Daí, eu respiro fundo, pois sei que enquanto elas estiverem lá, haverá esperança.