witch lady

Free background from VintageMadeForYou
Mostrando postagens com marcador ESPIRITUALIDADE NA LATA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ESPIRITUALIDADE NA LATA. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

PEQUENOS MILAGRES

 

 





Eu acredito que vivemos milagres todos os dias, mas depois que eles acontecem, a tendência é duvidarmos deles. Nós,  seres humanos, somos naturalmente incrédulos. Além disso, quando nos atrevemos a comentar esses milagres com os outros, apesar de eles prestarem muita atenção às nossas histórias, depois de ouvi-las eles nos jogam um olhar de incredulidade ou fazem comentários depreciativos ou engraçadinhos a respeito deles, como: “Você tem certeza que não foi só coincidência?”  “Ah, sei... também vi esse filme!” E tais comentários nos desmotivam a falar sobre certas coisas, ou até mesmo nos fazem duvidar que elas realmente aconteceram.

Por isso vou relatar aqui alguns milagres que vivi ou presenciei.

 

1- O Santuário de Bom Jesus dos Montes, em Portugal – Quando visitamos esse local em 2019, algo inusitado aconteceu. Eu e meu marido estávamos em uma lojinha de souvenir, e eu estava indecisa sobre se deveria ou não levar um terço de presente para minha irmã, que tinha perdido um filho há alguns anos, e com ele, a sua fé. Quem me conhece daqui desde 2011 sabe que perdemos nosso querido Ricardo para o câncer.

A música favorita do meu sobrinho – e que eu usei em quase todos os poemas que escrevi para ele e postei no site do escritor no site Recanto das Letras – era “Times like These”, do Foo Fighters.

No momento em que comentei com meu marido que eu não sabia se deveria levar o tercinho para minha irmã ou não, esta música começou a tocar no alto falante da lojinha. Ora, qual a possibilidade de que Foo Fighters toque no alto falante de uma igreja católica tradicionalíssima em Portugal, exatamente no momento em que alguém está pensando se leva ou não um terço para alguém que perdeu a fé porque seu filho morreu? Ainda mais sendo esta música a favorita dele?

 

2- Ganesha – Aqui em Petrópolis existe um santuário chamado Vale do Amor, um belíssimo lugar de difícil acesso entre as montanhas. Lá várias religiões estão representadas em templos e jardins ao ar livre. Estávamos passeando pelo jardim quando passamos diante de uma figura que chamou minha atenção: um ser que era metade elefante e metade menino, rodeado de oferendas de flores, moedas e frutos. Algo me fez parar diante dele, e eu não conseguia seguir adiante. Meu marido voltou, e perguntou-me de quem se tratava. O primeiro nome que me veio à cabeça foi: Ganesha. Só que eu não tinha a menor ideia de quem ele era.

Seguimos o caminho e esqueci a história. Quando chegamos em casa, eu estava procurando um protetor de tela para meu computador no Google, e qual foi a imagem que me apareceu? A mesma que eu tinha visto no Vale do Amor! O menino elefante. Daís resolvi pesquisar mais sobre ele, e descobri a sua história. Basicamente, ele é uma entidade protetora que ao mesmo tempo abre os caminhos da prosperidade. De uma forma ou de outra, a figura me fascina e atrai até hoje, e tenho vários Ganeshas em casa.

Sempre que sinto que as coisas ‘travaram’, eu canto seu mantra e tudo se resolve em alguns dias.

A primeira imagem de Ganesha que adquiri aconteceu desta forma: estávamos em uma loja que vende artigos para jardim, mais ou menos uma semana após visitarmos o Vale do Amor. Eu queria comprar algumas plantas e vasos. De repente, meu marido veio falar comigo: “Você vai gostar do que eu vou te mostrar!” Eu o segui, e ele me colocou diante de uma imagem de... Ganesha!

Depois disso, adquiri várias outras que estão espalhadas pela minha casa toda.

 

3- Chico Monteiro – Há muitos anos, meu marido e eu passávamos pelo Teatro D. Pedro após sairmos do trabalho. Eu estava com muita dor de garganta há vários dias, e mal conseguia falar. Minha garganta estava cheia daquelas placas bacterianas brancas, e os remédios não estavam fazendo efeito. No letreiro do teatro estava escrito: “Só Esta Noite – Chico Monteiro – Médium.”

Resolvemos entrar e assistir a palestra. A palestra foi muito interessante e o teatro estava lotado – tivemos sorte de conseguir dois lugares na última hora. Pouco antes  do término do evento, o palestrante disse que ia fazer uma oração e pediu que quem estivesse doente, ou com familiares em casa que estivessem passando por problemas de saúde, deveria se concentrar e orar junto com ele.

Me concentrei na minha garganta e mentalmente fiz a oração. Ainda nem tinha acabado de rezar quando senti uma sensação de calor na garganta, e senti também as placas de inflamação se soltando (tive que engoli-as). E de repente, eu não estava mais com dor de garganta.

Quando a palestra terminou, entramos na fila para comprar um livro que Chico Monteiro estava vendendo, e diante dele, comentei o que tinha acontecido. Ele sorriu, me deu uma rosa branca e me disse para colocá-la em um vaso com água ao chegar em casa.

Bem, a rosa durou mais de um mês intacta!

 

4- Joelho Dolorido – Recentemente procurei três médicos para tentar tratar uma lesão no joelho. Tenho (ou tinha) extrusão do menisco e princípio de artrose. Os medicamentos não surtiram efeito algum, e o trabalho do fisioterapeuta apenas piorou o problema. A dor que eu sentia estava me impedindo de caminhar adequadamente e até mesmo de dormir bem à noite, pois doía quando eu andava, sentava, deitava, enfim – doía o tempo todo, não importava o que eu estivesse fazendo.

E tudo isso começou há apenas alguns meses, quando soubemos que retornaríamos à Itália a fim de batizarmos o Leozinho, filho de Isabela e Leo, de quem fomos padrinhos de casamento também na Itália em 2018. Desde então a dor começou e não ia embora de jeito nenhum.

Na Itália ela também não parou, mas decidi que ela não ia me impedir de fazer nada. Continuei fazendo exercícios todos os dias pela manhã, ignorando a dor. Lá eu andei muito, e quando chegávamos em casa à noite, eu tomava remédios para diminuir a dor.  Mas ela nunca passava totalmente. Então eu decidi fazer uma promessa em todas as igrejas que visitamos: eu entrava, acendia uma vela e prometia que, caso a dor passasse, eu ficaria ajoelhada em uma igreja durante 1 hora.

Mas a dor não passou.

Depois que voltamos para o Brasil, eu estava fazendo alongamentos quando escutei meu joelho fazendo um barulho bem alto, como se estivesse estalando ou quebrando. Até meu marido que estava perto escutou e perguntou: “O que foi isso?” Assustada, respondi: “Meu joelho.” Achando que eu estava para sentir uma dor muito forte, eu baixei a perna devagar (ela estivera esticada em uma cerca em um ângulo de 90 graus durante o alongamento).

Mas assim que pus o pé no chão, percebi que a dor tinha sumido. Isso foi há quase uma semana, e desde então estou bem.

Preciso achar uma igreja tranquila, na qual eu possa ficar ajoelhada durante 1 hora inteira.




 








quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

ENVELHECER É UM PRIVILÉGIO?

 






ENVELHECER É UM PRIVILÉGIO?

 

Antes de fazer esta reflexão, vamos pensar no significado da palavra privilégio; de acordo com o dicionário, privilégio significa “Direito, vantagem, prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento da maioria; apanágio, regalia.” Ou seja, um privilégio é alguma coisa que é legada apenas a poucos. Portanto, envelhecer não é um privilégio, já que a maioria das pessoas envelhece.

 

As redes sociais tem nos ensinado que é bom romantizar situações corriqueiras, como a velhice, a maternidade, a solidão, a família, uma dieta e até nossos fracassos, como sendo algo especial. Se você é velho, isso é uma grande vantagem, pois você chegou à “melhor idade” e se tornou alguém especial. Da mesma forma, se você é jovem, branco, negro, magro, gordo, casado ou solteiro, você está vivendo algo especial – um privilégio.

 

Eu não consigo enxergar a vida como sendo um privilégio, já que estamos todos vivos! A vida para mim é esse grande mistério, pois não tenho ideia sobre de onde ela vem, onde começou, quando terminará, se existe um propósito para estarmos aqui ou se existe algo depois que ela termina. Na verdade, sei tanto quanto todo mundo, ou seja: nada. Tudo o que se afirma a respeito da vida ou da morte é especulação.

 

Mas voltando ao tema ‘envelhecer’, ao escrever este texto tenho 60 anos e quase 3 meses de idade. Não posso dizer que envelhecer tem sido bom, pois com a velhice, chegam várias questões difíceis sobre saúde, finanças (aposentar-se no Brasil significa viver com muito pouco dinheiro), preconceitos, medos, dores físicas e morais. Estarmos velhos é difícil. Porque os mais jovens nos olham de forma diferente, como se a velhice significasse nececessariamente senilidade, incompetência profissional ou ideias ultrapassadas.

 

Mas aqueles que afirmam que o importante é ter uma mente jovem, não entendem que ao pensar desta forma estão jogando fora as experiências acumuladas e a sabedoria adquirida, talvez em troca de procedimentos estéticos que deixam os rostos todos iguais (e que não fazem ninguém parecer mais jovem) e atitudes de adolescentes que não caem nada bem em pessoas mais velhas. Vejo muitas pessoas velhas que querem recuperar o tempo perdido através de relacionamentos com pessoas mais jovens, ou usando roupas inadequadas ao seus corpos, ou frequentando academias não pela saúde física, mas tentando obter os músculos de um fisioculturista. Lamento por eles. Porque ainda não compreenderam que cada idade deve ser vivida quando chega o tempo.

 

Para mim, a velhice é um tempo de reflexão e um certo descompromisso. É claro que cuidar da saúde e da aparência é importante, assim como manter a mente atualizada. Mas perseguir esses ideais desesperadamente como se eles fossem manter você vivo por mais tempo, prolongando uma juventude que já não existe mais, é caminhar à beira do ridículo. É sinal de desespero, não de sabedoria.

 

Eu cheguei à minha velhice. O que eu quero, hoje? Desfrutar daquilo que conquistei em minha juventude: minha casa, meu marido, meus cães, a companhia de algumas pouquíssimas pessoas. Quero ler muito, escrever muito, ouvir boa música, viajar, ou apenas ficar sentada no jardim sem fazer nada. E quero comprar roupas novas (porque eu adoro andar muito bem vestida) e cuidar da minha saúde, mas sem neuras. Não me interessa parecer mais jovem, ser ‘sexy’ ou encher meu corpo de hormônios para focar na sexualidade. Para mim, esse tempo já passou. Sexo é bom quando acontece naturalmente.

 

Não tive filhos, portanto não tenho netos. Não tenho compromisso com nada. Sou uma pessoa praticamente livre. Construí minha vida para ser assim, para chegar onde cheguei. Não me arrependo de nada, e não quero mais nada, a não ser o que já descrevi acima. As opiniões das pessoas não me preocupam. Não me encaixo nas definições alheias.

 

Não tenho medo da morte, e não lamento a proximidade dela. A proximidade da morte me traz perspectiva. Ela me lembra que tudo acaba, que tudo é finito. E não faz diferença, na verdade, quando eu estiver em meu leito de morte, pensar em alguma coisa que deixei de fazer ou gostaria de ter feito, porque a morte é o selo final, é o cadeado que encerra esta vida, caso haja outra após esta ou caso não haja nada. E se não houver nada, ou se houver alguma coisa, não fará sentido nenhum tipo de arrependimento.





 

 

 

 


 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

MOTIVOS

 



Deve haver algum motivo pelo qual as folhas caem das árvores, mas jamais retornam a elas. E também deve haver um motivo pelo qual os rios correm para o mar, mas o mar jamais devolve aos rios suas águas. E as lagartixas viram borboletas, mas as borboletas nunca voltam a ser lagartixas. E as pupas viram cigarras, mas as cigarras não voltam a ser pupas.

E depois, tudo desaparece.

Dizem que voltamos ao Todo e renascemos transformados em outras pessoas, sem lembranças de quem fomos. Se é assim, então é como morrer totalmente.  Porque jamais voltaremos a ser quem somos. É pior do que se fôssemos apenas a memória de um computador que é frequentemente formatado, não deixando nenhuma memória na máquina. Somos os arquivos irrecuperáveis. O computador fica, mas isso não significa nada, pois ele é reprogramado e vira outra coisa com outra função. Assim, só temos esta vida, pois se houver uma próxima, nós não seremos nós. 

Nada faz sentido. E talvez o sentido seja este.





terça-feira, 8 de julho de 2025

A ÁRVORE

 

 





Quando uma folha cai da árvore,

Ela não volta jamais.

Solta-se,

Desce sinuosamente, pousando no gramado,

Bem devagar.

 

E então, ela acaba de secar.

 

A árvore solta o que está seco,

O que morreu,

O que a intoxica.

Assim, gera  frutos plenos,

Repletos de açúcar

E sem cica.





quarta-feira, 11 de junho de 2025

FREIRAS DANÇANTES, PADRES CANTANTES, PASTORES MIRINS E AFINS

 


 

Não tenho nada contra freiras dançantes e padres cantantes.

 

Bem, se isso fosse totalmente verdade, eu não estaria escrevendo este texto.

 

Não sigo religião nenhuma, embora leia muito sobre quase todas elas – catolicismo, budismo, espiritismo, protestantismo,  hinduísmo, bruxaria, umbanda, e até mesmo satanismo. Porque eu gosto de saber. Gosto de conhecer, mesmo não seguindo. Sigo páginas de pastores, budistas, agnósticos, macumbeiros, enfim, não tenho preconceitos.

 

Meu único problema é com a hipocrisia.

 

Eu acredito que, quando um sacerdote se coloca sob uma denominação religiosa, ele deve seguir o que aquela denominação prega. Freiras maquiadas dando entrevistas em podcasts e dizendo que amam quando as elogiam pela sua aparência, não me parecem confiáveis. Padres cantantes cheios de botox, que viram influencers e passam a se vestirem com calças apertadas e roupas caríssimas de marca, também não me parecem confiáveis. Budistas que descriminam este ou aquele grupo de pessoas por causa de suas preferências políticas, não seguem os preceitos do budismo. Pastores que exigem que seus fiéis façam 'pixes' altíssimos em suas contas, não me parecem honestos. Talvez essas pessoas sejam ótimas, mas não nasceram para o sacerdócio. Poderiam ser excelentes filósofos, escritores, influencers... mas padres, monges, pastores e freiras, não.

 

Acredito que todos já viram algum trecho em vídeo daquele pastorzinho fake que não conhece a  Bíblia fazendo pregações - chega a ser bizarro. O moleque foi criado para ser uma máquina de arrancar dinheiro de otários. E como tem otários dispostos a contribuir com esses absurdos! Cada fala dele é uma encenação, algo ensaiado exaustivamente. Fizeram uma lavagem cerebral na criança e criaram um monstro.

 

Por isso, não sigo nenhuma religião. Cada uma é uma coleção de absurdos abençoados por um deus que não existe e jamais existirá na minha vida. Porém, a cada um o direito de fazer o que quiser, só não tentem me converter a nada. Prefiro essa minha religiosidade solitária– que também não pretende converter ninguém - praticada dentro da minha casa e em meu jardim. Gosto da oração que sai do coração todos os dias, da gratidão sincera pelas mínimas coisas, da vela acesa apenas pela luz que ela propaga, do incenso que queima pelo seu perfume. Gosto daquele deus que habita dentro de mim e que não me entrega nada, a não ser a mim mesma, a não ser a natureza, a não ser a paz de uma noite bem dormida.

 

Gosto do Deus que me ampara e protege do mal, principalmente do mal que existe dentro de mim mesma, pois é através dele que o mal que vem de fora pode encontrar um caminho até mim. E quando o mal consegue penetrar, esse deus me ensina a me limpar, e ele volta exatamente para aquele que o enviou.

 

Minha religião?

 

O sol, a chuva, a natureza, os bons livros, as orações ditas no silêncio da minha casa, os animais, a solidão escolhida conscientemente e que só é quebrada quando eu quero.

 

O que isso me traz?

 

Paz. Exatamente o que o mundo me tira.

 



terça-feira, 3 de junho de 2025

O QUE É A VIDA?



Em setembro farei sessenta anos. Mas quando penso na vida, me sinto como se tivesse quinze ou dezesseis, porque apesar de todos esses anos desde que nasci, não consegui entender o que é a vida ou sequer o que move as pessoas a fazerem o que fazem ou serem como são. Não entendo como, dentro de uma mesma casa, criam-se pessoas que se tornarão adultos tão diferentes uns dos outros.

Também não entendo o que faz uma pessoa comparar-se a outra(s), e desejar derrubar alguém só porque essa pessoa sabe fazer algo que ela não sabe, ou talvez seja mais bonita/mais jovem/mais rica, etc..., ou qualquer outra coisa que só a comparação invejosa pode enxergar. 

Eu gosto de pessoas mais inteligentes do que eu; através delas, eu aprendo. Acho fascinante alguém que saiba de alguma coisa que eu não sei. Sempre, desde criança, admirei as pessoas inteligentes e procurei melhorar um pouco, não através da comparação com elas, mas através da inspiração que elas me proporcionam. 

Todo mundo tem um talento especial, todos sabem alguma coisa que podem ensinar e que os tornam únicos. Isso é inquestionável. Mas existem tantos talentos naturais desperdiçados, porque aqueles que deveriam desenvolvê-los estão preocupados tentando ser outra coisa para a qual não nasceram. Alguma coisa que, segundo eles mesmos, os tornaria "melhores" que alguém ou lhes traria alguma projeção. E quando não conseguem, passam a difamar, odiar ou invejar aqueles que possuem tal talento.

O que é a vida? 

Alguns dizem que ela é uma escola, e que cedo ou tarde, todo mundo aprende o que tem que aprender. Outros acreditam em reencarnação, e ainda outros não acreditam em absolutamente nada, a não ser no acaso. E ninguém sai daqui sabendo, de verdade, se está certo. Até hoje, não conheço ninguém que tenha morrido e voltado para contar como é do outro lado - se é que existe um outro lado. Eu acredito que sim, mas não posso afirmar que eu tenho certeza, pois a mente prega peças e nos faz ver o que queremos ver. É como se o cérebro criasse 'provas' que suportassem nossas crenças para que possamos ser mais equilibrados.  

Então, o que é a vida? O que move as pessoas? 

Por que fazemos tantas guerras se seria bem mais fácil e melhor vivermos em paz? Por que estudamos tanto e não aprendemos o que realmente importa? Por que somos competitivos, amargos, invejosos? Por que tantas famílias são desunidas? Por que existem tantas pessoas que, deliberadamente, maltratam animais? 

Por que somos tão cruéis?




 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

FOFOCA




A fofoca, que muitos consideram apenas como uma conversa informal a respeito da vida alheia (e algumas vezes ela até pode ser considerada com
o tal), também tem o seu lado perverso: Por que alguém passaria tempo de sua própria vida debruçado sobre a vida do outro, procurando por alguma coisa negativa que pudesse aumentar e partilhar? E por que o receptor da fofoca, ao invés de procurar esclarecer os fatos, escolhe acreditar em um fofoqueiro?

A fofoca destrói amizades antes que elas possam crescer e se solidificar. Ela demoniza o caráter de uma pessoa que nem sequer sabe que sua vida está sendo exposta e comentada. E geralmente, a pessoa que destrói a reputação de outra tem como objetivo ficar "bem na foto," "sair por cima" de um conflito ou dar algum tipo de explicação sobre uma decisão que tomou ou um erro que cometeu. 

E após um desentendimento causado pela fofoca, embora a vítima possa vir a perdoar quem a atacou, a relação nunca mais será a mesma. Porque a confiança morreu. Aquela pequena flor que estava começando a brotar por sobre o muro foi ceifada bem rente ao caule, e em seguida, pisoteada. 

Eu sou uma pessoa bastante sensível - diria até sensitiva - e percebo as energias que estão me rodeando e tentando quebrar meu círculo energético. Eu sei quando algo está errado. Tento negar a mim mesma, mas logo em seguida, alguma coisa que estava escondida vem à tona. 

De repente, uma pessoa que sempre nos tratou bem começa a nos olhar de lado e fingir que não nos vê; Quando é inevitável que nos cumprimente, o faz de má vontade, e mesmo diante de um sorriso, conseguimos perceber que ele não é espontâneo. Quase sempre, há um fofoqueiro de plantão, daqueles do pior tipo: o que inventa mentiras e distorce verdades, apenas porque destruindo uma amizade, terá melhor domínio sobre uma situação. 

Mas quando isso acontece, eu não me preocupo; o universo tem a mania de esclarecer as coisas, mesmo que isso demore. O tempo pode não ter pressa, mas a justiça divina é sempre implacável. E aquele que está pronto a virar-se contra alguém devido a uma fofoca, acabará vendo que fez uma escolha terrível - mas será tarde demais. Porém, sempre fica a lição.







terça-feira, 3 de setembro de 2024

DIZER A VERDADE, SER VERDADEIRO






Quem diz a verdade a si mesmo é incapaz de mentir a quem quer que seja. 


Vejo muitas pessoas que procuram desculpas para justificar as decisões que elas próprias tomam, sempre apontando outras pessoas como responsáveis pelos seus feitos e escolhas. Tais pessoas não estão seguras sobre suas próprias decisões, e atribuem aos outros o papel de as terem 'forçado' a seguir este ou aquele caminho, pois se nada der certo, poderão atribuir ao outro a culpa pelas suas más escolhas.


Pessoas assim não refletem e nada aprendem, pois jamais admitem terem errado. Dizem-se sempre vítimas das circunstâncias. 


Há pouco tempo, alguém me disse: "Tomei tal decisão porque será melhor para mim e para você, já que você não está mais satisfeita com o meu trabalho." Dei a ela a única resposta que eu poderia ter dado: "Essa é a sua escolha, e a sua decisão. Eu nunca disse tal coisa. Vá em paz e obrigada." Eu quis deixar bem claro a ela que eu nada tive a ver com a escolha que ela mesma fez.


Por que as pessoas não dizem a verdade a si mesmas? 


Quando alguém se afasta de mim de forma tão súbita e sai batendo o pé, eu não pergunto jamais o motivo, nem tento impedi-las; considero um livramento. Afinal, eu rezo todos os dias e peço a Deus que afaste de mim as pessoas falsas, mentirosas e invejosas. Não posso lamentar quando Deus me ouve. 


 



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

NUNCA MAIS

 

 

 

E veio a inundação,

Invadiu a casa onde eu morava

E me trancava,

Levando consigo tudo o que se escondia

Em meus porões.

O medo venceu a surpresa,

E de repente,

Eu não tinha mais nada

– Sequer a mim mesma.

 

E quando se foram as águas,

Passei vários dias raspando a espessa

Camada de lama.

Dormi ao relento, sob as estrelas,

Pois não me restou sequer uma cama.

 

E foi assim que descobri o sopro da brisa, ao ar livre,

E a chuva fresca lavou toda a noite da minha alma,

Levando-a na correnteza das suas águas.

 

O brilho das estrelas enfeitou minha dor,

E ao sol da manhã, sequei minhas mágoas.

 

Na casa, então vazia de tudo,

Eu entrei descalça,

Deixando as janelas abertas, as portas escancaradas.

Os passarinhos cantaram nas calhas

Enquanto as folhas dançaram

No piso da sala.

 

 

.

 

.

 

.

 

 

Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi. Porque,

 

 

Nunca mais não é "Te vejo daqui a alguns dias,"

Nunca mais não é "Vou ali e já volto,"

Nunca mais não é como "Um dia nos reencontramos para um café,"

Nunca mais é bem depois que se acabaram 

A esperança e a fé.

 

Nunca mais não é "Talvez um dia,"

E de nada adianta rezar mil Padre Nossos

Ou Ave-Marias,

Porque nunca mais é acaboufim,

Até que se perceba

Que nunca mais é um rio de amor jorrando

Sem um mar que o receba.

 

Nunca mais é como uma lápide sobre o peito,

Que vai doer por muito, muito tempo,

Até que se aceite, de fato,

Que nunca mais é cadeado,

Nunca mais é para sempre,

É fato consumado.

 

 

 

 



segunda-feira, 11 de setembro de 2023

TE OUÇO

 

 





Porque é a vida,

E porque há vindas

E por que há idas...

 

Ninguém escapará

Desse ir e vir,

Ninguém vai ficar...

 

E hoje, eu te ouço,

Ah, voz que não fala,

No som do silêncio...

 

À porta de casa,

No meio da sala,

No meu desalento...

 

Mas mesmo sabendo

De toda a saudade,

Da dor que hoje sei,

 

Eu tudo faria

Ainda uma vez,

E mais outra vez!

 

Porque nessa vida,

Deixar de amar

Por medo da dor,

 

É só covardia,

É um condenar-se

A um vil desamor...

 

 

Hoje, quando penso na Leona, no Aleph, na Latifah e em todos os animaizinhos que tive e que perdi ao longo da vida, sinto muita gratidão porque os céus me deram a honra de cuidar deles aqui, de amparar suas vidas em minhas mãos, e de ter tido a chance de rir muito com eles, desfrutar muitas tardes sentada com eles na varanda escutando as cigarras e os grilos ao chegar da noite, e de poder chegar em casa e ter suas festinhas e demonstrações de alegria só pela minha simples presença.

 

Agradeço por desfrutar de sua proteção, companhia, amor, cumplicidade, e poder ter aprendido tantas coisas através deles e contribuído para a evolução deles como seres espirituais que são. Gosto de imaginar uma casinha azul lá longe, num lugar onde não sei, onde eles todos estão sendo cuidados e me esperam. E mesmo que essa casinha esteja apenas na minha imaginação, é bom ter em mente essa fantasia que me consola e que me ajuda a caminhar sem a presença deles.

 

Fico tão triste quando vejo animais sendo maltratados, principalmente quando são maltratados  por seus tutores, que os espancam, abandonam ou acorrentam! 

 

Minha irmã já recolheu vários desses animaizinhos quebrados, e consertou-os, restaurando a saúde física e emocional deles, cuidando deles até o final de suas vidas. Eu não tenho essa estrutura emocional que ela tem para consertar almas.

 

E ontem ela trouxe aqui em casa o Pipoca, uma dessas criaturinhas quebradas e restauradas, e ele veio para brincar um pouco com o meu Mootley que ainda está enlutado pela perda da Leona, sua amiga há 9 anos. Os dois pareciam já se conhecer há muito tempo, pois a amizade que demonstraram um pelo outro foi instantânea. 

 

Depois que o Pipoca foi embora com minha irmã e minha sobrinha, o Mootley comeu sua ração pela primera vez em duas semanas. Antes, só comia alguns pedacinhos de frango e biscoitos. A presença deles aqui em casa parece ter limpado um pouco a tristeza do ar. Foi bom ter pessoas em volta da mesa, vozes, cãezinhos brincando de novo no jardim. 

 

E assim a gente vai vivendo, e se despedindo da minha Leona. Porque todo adeus causado pela morte é adeus para sempre. Mesmo assim, gosto de pensar na casinha azul.

 


sexta-feira, 8 de setembro de 2023

OSHO E A RESILIÊNCIA

 

 

 

 

OSHO E A RESILIÊNCIA

 

Por que será que eu nunca ouço as mensagens - ou, se as ouço, não acredito nelas? Porque às vezes, aquilo que elas trazem vai de encontro ao que desejamos que aconteça, então tentamos distorcer as mensagens que as vida nos dá a fim e nos preparar para certos eventos.

 

Há poucos dias caiu em minhas mãos o livro de Pema Chodron Palavras Essenciais, que fala sobre resiliência, sobre deixar ir, sobre a importância de aceitar aquilo que a vida nos traz, seja "bom" ou "ruim", e sempre aprender algo através daquilo. E eu li o livro vagarosamente, talvez porque eu, instintivamente, sabia que ao finalizá-lo, teria que colocar em prática aquilo que li. E foi a mais pura verdade. Tive que provar a mim mesma que havia entendido a mensagem do livro.

 

Em uma das mensagens, ela diz:

 

"A vida é uma boa professora e amiga. Se pudéssemos perceber, veríamos que tudo está sempre em transição. No fim, nada é como sonhamos. Esse estado descentralizado e indefinido representa a situação ideal. Nesse ponto, não estamos presos a nada e podemos abrir o coração e a mente além de qualquer limite. Essa é uma situação sem agressividade, muito frágil e aberta."

 

Todo o livro é sobre deixar ir, sobre a importância da aceitação. E Eu apenas li, sem perceber o que estava se preparando em volta de mim, achando tudo lindo e maravilhoso - afinal, o que eu mais pedira estava acontecendo. Mas é muito fácil concordar com uma bela mensagem quando tudo está correndo exatamente (mesmo que aparentemente) da maneira que queremos. Mas quando tudo desmorona, não é tão fácil assim aceitar e seguir em frente.

 

E após a minha aparente perda, ao tentar obter uma mensagem com o tarô de Osho, por três vezes seguidas saiu-me esta mensagem: 

 

 

 

DEIXANDO IR

 

“Tirar esta carta em uma leitura é o reconhecimento de que alguma coisa acabou, de que algo está se completando. Seja o que for - um emprego, um relacionamento, um lar que você amou, qualquer coisa que possa tê-lo ajudado a definir quem você é - é hora de deixar para trás, permitindo qualquer tristeza que surja, mas sem tentar se agarrar ao que se completou. Alguma coisa maior está esperando por você: há novas dimensões a serem descobertas. Você ultrapassou o ponto a partir do qual não há volta, e a gravidade está cumprindo a sua função. Não resista: isso significa libertação”.

 

E algumas pessoas me disseram: "Nada é em vão. confie."

 

Aos poucos, estamos emergindo. A dor está se transformando em uma doce saudade, cheia de gratidão pelas memórias lindas que construímos nesses nove anos de convivência. Ela nos ensinou muito: a amar, a ter paciência, a aproveitar cada minuto do dia, a rir sem limites. Um simples cão pode nos ensinar tantas coisas, e vale por anos de terapia, se prestarmos atenção. E eu prestei. Disso eu não me culpo: estive com ela a maior parte do meu tempo nesses nove anos, sentei-me com ela na grama, brinquei com ela, fiz de tudo para tê-la ao nosso lado como um membro da família, dando-lhe conforto, segurança, amor, ótima comida, casinha muito confortável e limpa, os melhores cuidados veterinários possíveis, acesso ao interior de nossa casa. Ela nunca foi excluída.

 

Pouquíssimas vezes estivemos fora nestes muitos anos, e todas as vezes, fizemos com que nossos cães fossem cuidados por pessoas de confiança que vinham aqui para passar a noite e cuidar deles durante o dia, para que não ficassem sós durante muitas horas. E essas pessoas mandavam-nos fotos e vídeos que nos asseguravam de que eles estavam bem. Nunca deixei meus cães abandonados. Não carregamos qualquer tipo de culpa em relação a eles.

 

Hoje tentamos reconstruir nossas vidas nesse novo formato, dando mais carinho ao nosso cãozinho que ficou. Estamos construindo novas memórias junto com ele, criando novos momentos juntos, tentando continuar da melhor forma possível. E vamos conseguir, já conseguimos antes. Sabemos o caminho. Eu aprendi a entrar e a sair desse labirinto.

 

 



quinta-feira, 31 de agosto de 2023

SEJA O QUE FOR


SEJA O QUE FOR

Seja o que for, vai passar; se estiver vivendo momentos felizes – e geralmente, eles não vêm com etiquetas luxuosas, mas trazem elementos como um passeio à pé com o cachorro, tomar café com pão de tardinha na mesa da cozinha, rir de um filme engraçado, escutar música ao anoitecer, ou simplesmente, chegar ao supermercado e poder comprar a sua comida – aproveite, viva, valorize. Uma voltinha no shopping, comprar uma roupa nova, encontrar amigos, estar com pessoas que você gosta – tudo isso é o que menos valorizamos enquanto estamos vivendo.

E se você estiver passando por momentos ruins que parecem infindáveis, e a dor de vivê-los for quase insuportável, causando aquele aperto de ansiedade no plexo solar e fazendo com que seu primeiro pensamento ao acordar seja sobre o que te machuca, seja o que for, vai passar. Um dia, passa.

Já vivi várias ocasiões muito difíceis que eu achei que nunca fossem acabar. Mas elas acabaram. Um dia, acordei me sentindo menos triste. E desde então, fui melhorando até poder sorrir de novo de verdade. É assim com todo mundo. Basta que não nos agarremos à dor, mas que deixemos ela se curar quando chegar o momento. Acho até que a cura é uma reação química do organismo, ele precisa se curar para que a vida possa continuar. Talvez seja algo hormonal. Mas é que às vezes nós não achamos justo que estejamos bem quando aquele ser que tanto amamos nos abandonou ou morreu.  Olhamos as fotos daquela criatura que parecia tão saudável, tão bonita, e dá uma sensação de que aquilo simplesmente não pode ter acontecido.

Mas quanto mais cedo aceitarmos que aquilo aconteceu, melhor.

Gosto de assistir a filmes ou vídeos ou ler livros que retratem o que estou sentindo, pois assim é mais fácil aceitar a realidade de que não é só comigo, mas que é parte da vida. Isso me ajuda. E é claro, escrever, escrever, escrever... colocar para fora o que estou sentindo. Ajuda a dimensionar melhor os acontecimentos. Ajuda a aceitar.

Dificilmente achamos alguém que nos ouça nestas ocasiões. As pessoas não querem saber de tristeza. As pessoas só querem “ser felizes” o tempo todo. A dor alheia as faz lembrar das próprias dores que elas nunca têm a coragem de enfrentar, mas que socam lá para o fundo de si mesmas, negam, selam o pacote com um sorriso amarelo, daqueles de rede social,  e fingem que está tudo bem. Mas não é culpa delas. Cada um tem a sua forma de reagir. E como é assim, melhor nem procurar alguém para desabafar; as pessoas não estão dispostas a ouvir.

Escreva. Fale sozinho, reze, pague um analista (embora eu não goste da ideia de ter que pagar para ser ouvida, prefiro escrever). Mas viva seu luto até o final. Não deixe que tentem “te alegrar.” As pessoas que fazem isso não sabem o quanto são inadequadas. Melhor que te deixem em paz. E se estiver muito, mas  muito difícil, se o tempo for passando e você sentir que não dá para sair dessa sozinho, procure ajuda profissional, tome remédios (alguém me disse isso, e ela está certa). Só sei que um dia, o sol brilha de novo. Um dia, a dor passa e ficam as boas lembranças.

Já passei por isso muitas vezes, e cada vez é única, o sentimento é diferente, a dor pode ser mais ou menos intensa, mas o desfecho tem sido o mesmo: passa.








segunda-feira, 14 de agosto de 2023

MEU PAI

 

Minha irmã me mandou esta foto. Eu não tinha.



MEU PAI

 

 

Meu pai era um homem humilde. Sempre trabalhou, desde os 14 anos de idade. Sendo o irmão mais velho entre treze irmãos, precisava ajudar nas despesas da casa. 

 

Meu pai só estudou até a quarta série primária, mas tinha um talento nato para a matemática: era capaz de fazer grandes contas "de cabeça" sem errar. Se tivesse tido a oportunidade de estudar, talvez tivesse se tornado um arquiteto, engenheiro ou professor de matemática. Trabalhava como serralheiro, e amava a sua profissão. Porém, apesar de ser um dos melhores serralheiros da cidade, não sabia cobrar pelos seu serviços, e sempre acabava ganhando muito pouco e trabalhando muito. Mas penso que para ele, o trabalho era mais importante do que o dinheiro. Teve a chance de ter um negócio próprio, e algumas pessoas ofereceram-lhe sociedade, mas ele nunca se interessou. 

 

Meu pai era conhecido no bairro como sendo um pai severo: nossos amigos meninos morriam de medo dele, e na rua, todas as crianças o respeitavam. Porém, nunca conheci alguém que não gostasse do meu pai, e não me lembro de alguma vez vê-lo metido em alguma briga ou confusão, ou sendo mal-educado com alguém. Acho até que, por ser gentil demais, as pessoas às vezes abusavam de sua boa vontade.

 

Nós, como filhos, também o respeitávamos (acho que eram tempos em que respeitar os pais não era uma escolha: as crianças simplesmente sempre faziam isso, e não conheciam outro tipo de comportamento. Bem diferente dos dias de hoje).

 

Meu pai passou rapidamente por esse mundo: aos cinquenta e poucos anos teve um enfarto, e então descobriu que tinha uma doença no coração. Depois daquilo, viveu até os sessenta e dois anos e teve que se aposentar mais cedo do que desejava. Seu trabalho era pesado, e ele não podia mais carregar suas grades e portões de ferro. Talvez hoje houvesse um tratamento para o problema dele, quem sabe.

 

Quando ele morreu, eu estava no trabalho. Eu tinha 22 anos. Me lembro da última vez que o vi, naquele mesmo dia, na hora do almoço. Nós almoçamos juntos - eu sempre almoçava em casa. Ele estava bem alegre. Tinha vindo do mercado, onde comprou um saco de biscoitos, arroz, feijão, farinha, açúcar, café, óleo de soja, batatas. Ele fazia questão de manter a casa abastecida, pois tinha medo de morrer e deixar a mim, única filha ainda solteira,  e à minha mãe desamparadas. Bem, nós almoçamos e ele disse: "Vou jogar cartas agora." Saiu pela porta da cozinha e nunca mais entrou.

 

Ele costumava jogar cartas na casa de uns amigos do bairro quase todos os dias. 

 

De uma coisa eu me lembro bem daquele último almoço: pela primeira vez em anos, eu olhei para ele de verdade: vi suas mãos segurando o garfo e levando a comida à boca. Vi sua camisa aberta no peito (estava calor) e percebi seu cabelo branco penteado para trás. Vi ele desaparecer pela porta pela última vez, sem saber que seria a última, e tive uma sensação estranha. Mas fui trabalhar.

 

Algumas horas depois, quando eu já estava no trabalho, choveu. Houve uma enchente em Petrópolis. Ficamos todos ilhados no centro da cidade, e carros não passavam. Naquela hora, meu pai morria, sem que a ambulância conseguisse chegar até aonde ele estava. Era Fevereiro de 1986.

 

Lembro-me de minha irmã entrando na loja onde eu trabalhava depois que a água baixou: estava branca e descabelada. Logo percebi que havia algo errado. Ela disse: "É o pai. Ele passou mal." E eu respondi: "Ele morreu, não é?" Ela disse: "É."

 

E foi assim.

 

Meu pai foi uma pessoa como tantas outras que veio a esse mundo e se foi quase em branco, quase sem ser percebido. A maioria de nós vivemos e morremos desse jeito. Dá uma sensação de que a vida é besta, mas a vida é só a vida. E a maioria de nós chegamos e saímos daqui sem jamais entender o que ela é. Outra parte fica tentando ensinar aos outros o que é a vida, pois acreditam-se "Iluminados" ou "escolhidos." Mas na verdade, sabem tanto quanto ou até menos que nós.

 

Melhor viver cada dia da melhor forma possível, sem muitos sobressaltos ou pretensões, aceitando com resiliência o que a vida nos traz - modificando uma coisa ou outra, quando possível, mas aceitando o que não pode ser mudado e tentando se divertir um pouco no meio disso tudo.

 

 

 

 




quarta-feira, 5 de julho de 2023

ABANDONE A ESPERANÇA

 

 

 

ABANDONE A ESPERANÇA

 

Em seu livro "Palavras Essenciais" Pema Chödrön nos diz que do outro lado da esperança está o medo, e que onde há esperança há também o medo. Uma coisa não existe sem a outra.

 

Talvez seja o caso de não ter esperanças, e sim, fé, essa palavrinha tão pequenininha e difícil de se entender (e que não tem nada a ver com religiosidade, embora possa estar presente nela). A gente joga tudo no Universo, que sabe de tudo muito melhor do que a gente, e espera - mas sem ter esperanças. 

 

A gente apenas aguarda sabendo que existe uma inteligência por trás de todos os acontecimentos, e que não somos queridinhos mimados de ninguém para pensarmos que apenas por desejarmos que algo aconteça, acontecerá. A gente aguarda com paciência, mas mantendo sempre uma boa dose de maturidade e resiliência, pois é impossível manipular o futuro.

 

No final, seja qual for o resultado, só nos resta agradecer e aprender. 

 

 



quinta-feira, 22 de junho de 2023

DEUS

 





Deus não está nos rostos que encontro. 

Ele está no rosto para o qual não ouso olhar. 

Deus está no espelho. 

Ele é visto na pequena, quase imperceptível mancha na cor da íris. 

Ele é ouvido no silêncio entre as batidas do coração. 

Ele caminha entre os espaços das minhas próprias passadas. 

Mas se tento enxergá-lo, já não está lá. 

Se tento escutá-lo, se cala. 

Se tento alcançá-lo, eu o perco. 

Um sopro de voz, começo de frase, tentativa de definição, e Ele se foi. 

Ele se vai todos os dias. 

Mas está sempre lá.

Som de asa de borboleta.

A cor azul nos raios do sol.

A gota de chuva evaporada.

A resposta para sempre calada.

Jamais o que pensamos, jamais o que esperamos, jamais.

Acho que Deus ri de nós. 

Mas isso é suposição, e Ele se afasta.

Deus? 

-Está quente, está morno, está frio...





Parceiros

DESVER

  Ninguém poderá desver O que foi visto, Ou desescutar aquilo Que lhe foi dito Sem deixar cair do rosto Os próprios olhos Sem cobrir de lama...