witch lady

Free background from VintageMadeForYou
Mostrando postagens com marcador A ALMA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador A ALMA. Mostrar todas as postagens

sábado, 16 de novembro de 2024

AMARGURA





 

E você descobre

Que está coberta,

Que se afogou

Na maré cheia,

E você entende

Que já é passada

A hora certa,

E que tem vivido

Espremida

Entre as horas alheias.

 

E você percebe

Que sua existência

Pede permissão.

E você se arrasta,

E você se gasta

Por compreensão.

E você se olha,

Não se reconhece,

Não sabe se sobe,

Não sabe se desce.

 

E você se esquece

De como chegou

Aonde chegou,

Não sabe aonde vai,

Se deve ficar,

Pois nem se dá conta

Do que lhe restou.

 

E você assunta,

Você se pergunta

Se valeu a pena,

- Protagonizou

O seu espetáculo,

Ou tem sido apenas

O receptáculo,

O palco cedido

A um outro show?

 

E você se sente

Sempre deslocado,

Os olhos vidrados,

Os lábios colados,

Coração pesado,

O ar rarefeito

O peito abafado.

 

E você se isola,

Pois a solidão

É a única cola,

Uma proteção

Um alívio, um jeito

De cuidar daquilo

Que ainda restou.

 

E você se vê

Em paz, finalmente,

A vida entre os dentes,

Os anos no fim

A vida no fim,

Lembranças em fileiras

Sobre as prateleiras

Empoeiradas

Catalogadas , etiquetadas:

“Aqui jaz o escopo

De uma vida inteira.”

 

 

 

 

 

 



 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

DIZER A VERDADE, SER VERDADEIRO






Quem diz a verdade a si mesmo é incapaz de mentir a quem quer que seja. 


Vejo muitas pessoas que procuram desculpas para justificar as decisões que elas próprias tomam, sempre apontando outras pessoas como responsáveis pelos seus feitos e escolhas. Tais pessoas não estão seguras sobre suas próprias decisões, e atribuem aos outros o papel de as terem 'forçado' a seguir este ou aquele caminho, pois se nada der certo, poderão atribuir ao outro a culpa pelas suas más escolhas.


Pessoas assim não refletem e nada aprendem, pois jamais admitem terem errado. Dizem-se sempre vítimas das circunstâncias. 


Há pouco tempo, alguém me disse: "Tomei tal decisão porque será melhor para mim e para você, já que você não está mais satisfeita com o meu trabalho." Dei a ela a única resposta que eu poderia ter dado: "Essa é a sua escolha, e a sua decisão. Eu nunca disse tal coisa. Vá em paz e obrigada." Eu quis deixar bem claro a ela que eu nada tive a ver com a escolha que ela mesma fez.


Por que as pessoas não dizem a verdade a si mesmas? 


Quando alguém se afasta de mim de forma tão súbita e sai batendo o pé, eu não pergunto jamais o motivo, nem tento impedi-las; considero um livramento. Afinal, eu rezo todos os dias e peço a Deus que afaste de mim as pessoas falsas, mentirosas e invejosas. Não posso lamentar quando Deus me ouve. 


 



quinta-feira, 18 de julho de 2024

BEM NO MEIO




Havia um anjo

De pés descalços

Que caminhava bem no meio

De um coração quebrado.


Dentro da noite,

Da mais negra noite,

Ele erguia nas mãos

Um pequeno archote.


Mas só ouvia seus passos

Quem calasse a própria dor,

Só encontrava

A luz dos seus braços

Quem não temia o amor.


E bem no meio

Do sol que queimava

Ao meio-dia

Havia o alívio

Da brisa das suas asas.


E todo dia, o anjo passa,

Como todo dia ele passava.

Mas só enxerga

Quem tem a fé de caminhar

De olhos fechados,


Quem acredita que amanhece,

Quem não se esquece

Que um dia, tudo passa,

E que toda escuridão

Se transforma em graça.




quarta-feira, 3 de abril de 2024

EU SÓ TENHO UMA FLOR

 





Eu Só Tenho Uma Flor

 

Neste exato momento,

Eu só tenho uma flor.

Nada existe no mundo que seja meu.

Nada é urgente.

Não há razões para que eu me preocupe.

O vento passa pelos meus ouvidos,

Tão rapidamente, que quando percebo,

Ele já se foi.

 

Mas fica-me esta flor,

A única coisa que eu tenho

E que me pertence, embora não seja minha,

Essa flor entre tantas outras,

A flor para qual eu estou olhando.

 

Se eu desviar meu olhar,

Ela se perde.





 

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

TE OUÇO

 

 





Porque é a vida,

E porque há vindas

E por que há idas...

 

Ninguém escapará

Desse ir e vir,

Ninguém vai ficar...

 

E hoje, eu te ouço,

Ah, voz que não fala,

No som do silêncio...

 

À porta de casa,

No meio da sala,

No meu desalento...

 

Mas mesmo sabendo

De toda a saudade,

Da dor que hoje sei,

 

Eu tudo faria

Ainda uma vez,

E mais outra vez!

 

Porque nessa vida,

Deixar de amar

Por medo da dor,

 

É só covardia,

É um condenar-se

A um vil desamor...

 

 

Hoje, quando penso na Leona, no Aleph, na Latifah e em todos os animaizinhos que tive e que perdi ao longo da vida, sinto muita gratidão porque os céus me deram a honra de cuidar deles aqui, de amparar suas vidas em minhas mãos, e de ter tido a chance de rir muito com eles, desfrutar muitas tardes sentada com eles na varanda escutando as cigarras e os grilos ao chegar da noite, e de poder chegar em casa e ter suas festinhas e demonstrações de alegria só pela minha simples presença.

 

Agradeço por desfrutar de sua proteção, companhia, amor, cumplicidade, e poder ter aprendido tantas coisas através deles e contribuído para a evolução deles como seres espirituais que são. Gosto de imaginar uma casinha azul lá longe, num lugar onde não sei, onde eles todos estão sendo cuidados e me esperam. E mesmo que essa casinha esteja apenas na minha imaginação, é bom ter em mente essa fantasia que me consola e que me ajuda a caminhar sem a presença deles.

 

Fico tão triste quando vejo animais sendo maltratados, principalmente quando são maltratados  por seus tutores, que os espancam, abandonam ou acorrentam! 

 

Minha irmã já recolheu vários desses animaizinhos quebrados, e consertou-os, restaurando a saúde física e emocional deles, cuidando deles até o final de suas vidas. Eu não tenho essa estrutura emocional que ela tem para consertar almas.

 

E ontem ela trouxe aqui em casa o Pipoca, uma dessas criaturinhas quebradas e restauradas, e ele veio para brincar um pouco com o meu Mootley que ainda está enlutado pela perda da Leona, sua amiga há 9 anos. Os dois pareciam já se conhecer há muito tempo, pois a amizade que demonstraram um pelo outro foi instantânea. 

 

Depois que o Pipoca foi embora com minha irmã e minha sobrinha, o Mootley comeu sua ração pela primera vez em duas semanas. Antes, só comia alguns pedacinhos de frango e biscoitos. A presença deles aqui em casa parece ter limpado um pouco a tristeza do ar. Foi bom ter pessoas em volta da mesa, vozes, cãezinhos brincando de novo no jardim. 

 

E assim a gente vai vivendo, e se despedindo da minha Leona. Porque todo adeus causado pela morte é adeus para sempre. Mesmo assim, gosto de pensar na casinha azul.

 


quinta-feira, 22 de junho de 2023

DEUS

 





Deus não está nos rostos que encontro. 

Ele está no rosto para o qual não ouso olhar. 

Deus está no espelho. 

Ele é visto na pequena, quase imperceptível mancha na cor da íris. 

Ele é ouvido no silêncio entre as batidas do coração. 

Ele caminha entre os espaços das minhas próprias passadas. 

Mas se tento enxergá-lo, já não está lá. 

Se tento escutá-lo, se cala. 

Se tento alcançá-lo, eu o perco. 

Um sopro de voz, começo de frase, tentativa de definição, e Ele se foi. 

Ele se vai todos os dias. 

Mas está sempre lá.

Som de asa de borboleta.

A cor azul nos raios do sol.

A gota de chuva evaporada.

A resposta para sempre calada.

Jamais o que pensamos, jamais o que esperamos, jamais.

Acho que Deus ri de nós. 

Mas isso é suposição, e Ele se afasta.

Deus? 

-Está quente, está morno, está frio...





segunda-feira, 29 de maio de 2023

SE VOCÊ PUDESSE VOLTAR NO TEMPO E DIZER ALGO A SI MESMO, O QUE DIRIA?




Esta pergunta faz parte de uma aula que eu criei. As respostas que recebi foram variadas. Mas deixo aqui a minha própria resposta:

Se eu pudesse voltar atrás e dizer algo a mim mesma, eu diria o seguinte:


a) Não acredite em tudo o que as pessoas dizem sobre a vida, sobre você, sobre as suas capacidades, sobre o que você pode/não pode ou deve/não deve fazer. Algumas decisões devem ser pessoais, e basear a vida tomando como definitivos os resultados das experiências alheias, é limitar-se voluntariamente e tornar-se insatisfeito e inseguro.

b) Vista o que gostar, sem se preocupar tanto com a moda ou com o que os outros vão pensar. A moda é estar bem dentro da roupa que você gosta. Ponto.

c) Cuide do seu corpo – exercite-se, coma direito, durma bem, faça checkups de vez em quando. Isso pode evitar muitos problemas na idade avançada. É claro que algumas doenças virão, independentemente do quanto você se cuida (meu sobrinho morreu de câncer aos 24 anos, e ele se cuidava muito), mas pelo menos você saberá que fez o melhor, e evitará ou amenizará a maioria delas.

d) Escreva. Não importa se ninguém vai ler, escreva para você. É a melhor forma de terapia. Escreva diários, cartas, poemas, crônicas, histórias. Publique seus contos, crônicas e poemas se quiser, mesmo sabendo que dificilmente você vai virar escritor só porque escreve. As cartas, envie-as se achar apropriado (ou mesmo se não achar apropriado, pois estas são as que você mais precisa dizer às pessoas). Os diários, queime todos eles. Ou guarde em algum lugar secreto para ler mais tarde e ver o quanto aquela pessoa que os escreveu não tem mais nada a ver com você.

e) Não dê espaço a pessoas tóxicas na sua vida. Tem gente que não adianta: não toma jeito, não melhora, nunca vai gostar de você, nunca vai ter uma atitude positiva que seja a respeito do que você é. Algumas pessoas jamais vão aceitar você, e quanto mais cedo você compreender isso, melhor será, pois assim, não passará anos da sua vida se importando ou se magoando com elas.

f) Descubra o que você quer fazer da sua vida. Seu trabalho tem que ser algo que você goste, e embora o dinheiro seja muito importante, se você se basear apenas nele ao escolher uma carreira, ela será curta, pois você vai adoecer e morrer antes e deixará todo o seu dinheiro para outras pessoas desfrutarem. Que seu trabalho possa oferecer a você algum tempo livre para curtir a vida, dinheiro para pagar pelas suas curtidas e muita, mas muita satisfação pessoal.

g) Jamais inveje ninguém. Toda inveja é um certificado de incompetência que você entrega a si mesmo. Se você passar mais tempo amando a si mesmo e se valorizando, ao invés de se comparando e competindo com os outros, não será uma pessoa amarga e infeliz. O problema não é o que o outro está realizando, mas o quanto você ama a si mesmo e deseja realizar. 

h) Não queria ser mais do que você pode. Esse papo “coach” de “Você pode ser tudo” é uma idiotice enorme. Você não precisa fazer coisas estúpidas, como  andar sobre brasas, subir montanhas durante tempestades ou dizer frases de efeito repetidamente para conseguir ser feliz e bem sucedido. Foque nos seus talentos naturais e você tende a se dar bem na vida. Ninguém pode ser tudo, tem coisas que são para a gente, e outras que não são. 

i) Desconfie de quem te elogia demasiadamente. Desconfie de quem diz que vai realizar o sonho da sua vida. Desconfie de quem diz que você pode confiar neles cegamente. Desconfie de quem sempre procura por você apenas quando precisa de alguma coisa. Desconfie de quem se vitimiza. Enfim, desconfie sempre. Confie só se valer a pena. Observe. Ouça. Desmistifique. 

j) Não faça algo apenas porque é isso que todo mundo tem feito. Casar, ter filhos, arranjar um emprego em uma firma confiável, ou seja, ter na cabeça aquela formulazinha de vida aceitável só para agradar aos outros, só para fazer o que é politicamente correto, tradicional, certinho, aceitável... seja o que você achar que deve ser, faça o que quiser da sua vida, mas seja racional e cuidadoso, pois fazer o que quer da sua vida não tem nada a ver com estragá-la. 

k) Não leve desaforo para casa, não engula injúrias, não internalize indiretas alheias. Cuspa-as fora. Pise em cima delas, enterre-as, queime-as, e se achar necessário, responda à altura, pois pessoas folgadas e sem noção são folgadas e sem noção com quem permite que elas sejam. 


Enfim, se eu pudesse voltar atrás, seriam essas as coisas que eu diria a mim mesma. Deve haver mais coisas. Mas no momento, é destas que eu me lembro.






quarta-feira, 19 de abril de 2023

A MINHA ALMA

 

Ilustração de O Livro Vermelho, de Jung


 

A minha alma hoje mora

Na beira de uma estrada

Por onde ninguém passa.

Sentada, ela sempre aguarda

(Mas sem expectativas)

Uma manhã sem auroras.


Às vezes, ela descansa

Na copa de uma árvore

Plantada na encruzilhada.

Num galho, minha cauda enrolada

Assim, meio por acaso,

Me balança sobre o nada. 


A minha alma vã medita

Em uma caverna profunda.

Do fundo, eu enxergo a lua

No céu de uma noite infinita,

Mas embora eu às vezes grite,

O eco não responde.


Minha alma não tem nome,

Mas ela sempre usa o meu.

E ela repete uma prece

Pelo que de mim morreu

Numa entrega abençoada,

De uma dolorida fome.





 


 






quinta-feira, 9 de março de 2023

DOR


 



Dos teus olhos, lágrimas.

Da tua boca, magma.

Algo a se quebrar

No teu diafragma.


 Na palavra, lástima

Devagar, se alastra...

Sobre a pele pálida

Tua dor é vasta.


 Cálido querer

Aos poucos, se arrasta

Ganha a rua, e quer

Se banhar de sol.

 

E no arrebol,

Vida a renascer...

Tecitura fina

(Ainda transparente)

De uma nova rima.






 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

SOL E AREIA



 

 

 

Sol e areia,

Céu como fundo.

 

Nada existe nesse mundo

Que me divida

Ou me distraia de mim mesma.

 

O deserto aqui fora

Reflete

O deserto aqui dentro.

 

Eu me sento, bem no meio

(Me desculpem se não respondo)

À porta, sob o alpendre.

Aprecio, diariamente,

Inúmeros sóis se erguendo

E se pondo.

 

 



terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Da Nuvem


Lembranças e imagens que a nuvem do Google Drive me mandou hoje. Entre essas pessoas, muitas já se foram.

Na primeira foto, estamos na Ilha de Paquetá. Eu tinha, talvez, oito anos - hoje tenho 57. Sou a que está de suéter quadriculado, tomando sorvete, encostada em meu cunhado, que naqueles tempos namorava minha irmã. Casaram-se e têm 3 filhos. Ao lado dele, minha irmã, e ao meu lado, minhas duas outras irmãs mais velhas e meu pai. Atrás de mim, a nossa mãe.

As demais pessoas eram vizinhos ou amigos. Não me lembro de todos.






Minha mãe, sentada com a mão na cabeça; eu, meu cunhado, minha sobrinha Rosane (falecida), minha irmã mais velha e minha outra irmã, perto da cadelinha Susie.


Batizado do meu sobrinho Daniel (hoje com mais de 30 anos de idade). As mesmas pessoas de sempre, a não ser pela Natália, minha sobrinha, irmã do Daniel - a que está no colo da minha irmã. Minha irmã Silvia e meu cunhado foram os padrinhos, e minha mãe, embora ela fosse apenas um pouco mais velha do que eu sou hoje, aparenta mais idade do que eu tenho.



O mesmo batizado. Vemos agora o meu outro cunhado, de barba, o Tiaguinho, meu sobrinho (hoje todas essas crianças têm mais de 30 anos de idade) E de pé à direita, a minha falecida sobrinha - a mesma que aparece bem pequenininha na segunda foto.



Aniversário. Nem me mais lembro quem são algumas dessas crianças.



As fotos nos ajudam a lembrar sobre a passagem do tempo, o quanto essa vida é breve, o quanto todos nós estamos fadados a desaparecer. Na foto abaixo, eu, nos dias atuais, durante o trabalho.

Antes da pandemia...




...depois da pandemia. Décadas em dois anos.


Ficam os bons momentos também, as coisas que valem a pena ser lembradas.

Porém, é incrível a gente perceber o quanto os relacionamentos mudam, as pessoas se afastam, crescem, vão embora, morrem... e isso se chama vida.
Na foto abaixo, meu falecido sobrinho e sua namorada. Ele já estava bastante doente aqui.




A história da nossa família começou aqui.
São meus pais.




E só Deus sabe quando ela terminará.








 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

SOLTA



Eu deixo meus olhos livres

Na paisagem da montanha.

Foco no pôr do sol, 

Presto atenção no vento 

Que passa brincando entre as lâminas

Do gramado. 


Guardo bem dentro de mim 

Tudo o que me constrói,

Deixando do lado de fora

As opiniões, os conceitos 

E as malfadadas setas.


Decidi que não sou alvo,

Mas sim a flecha certeira

Que mira nas nuvens, nas estrelas,

Nas gotas de chuva que formam  alvos

Dentro dos plácidos lagos.


O meu pensamento volátil

Me salva dos robustos monstros,

Me eleva por cima das ruínas

Onde se mexem as criaturas

Que catam no lixo da vida

Seu alimento.


Não acho que eu seja melhor,

Apenas fiz minha escolha

Baseada em equidade:

Um caminho mais vazio, por fora das bolhas,

Bem longe daquilo que chamam

De  vida em sociedade.


Não peço a ninguém que me entenda,

Muito menos, que me sigam;

O meu caminho é o mais difícil,

É só para quem não tem medo

De adormecer sozinho

No degredo.


Ah, criaturas que se mexem

Envoltas em suas ataduras!

Se ao menos olhassem as costas

Que me voltam, nas junturas,

Descobririam, estupefatas,

O nascer das próprias asas!








quarta-feira, 21 de setembro de 2022

EU

 




Eu tenho passado por mim

Inúmeras vezes

Ultimamente.

Estanco meu passo de repente

Fitando a minha imagem que passa,

E ela segue seu caminho

Indiferente.

 

Às vezes, não me reconheço,

Embora eu saiba que ela

Sou eu.

Mas ela vive em outro tempo,

O qual não mereço

E ao qual não mais pertenço.

 

Fantasmas seguem seus passos,

Mas ela, cansando-se deles,

Joga-lhes algumas migalhas,

Tralhas do inconsciente,

Que  eles, de joelhos,

Colhem  pelo chão.

 

Eu tenho dela saudades,

Mas sei que é um amor platônico

-Sempre foi, sempre tem sido,

Sempre será,

Pois os passos de quem fui

Jamais voltam no caminho,

Não olham para trás.

 

Eu tenho passado por mim

Inúmeras vezes

Ultimamente,

E quando eu me olho, compreendo

Que preciso aprender

A me esquecer,

A me deixar ir.




 

 

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ELA




Ela era uma nuvem que passa e ninguém vê,

Um poema épico que ninguém jamais leu,

Escrito à sangue no coração de Deus.


Uma pena soprada por um vento em desatino,

Folha temporã caída da árvore do destino,

Fruta  tão doce que ninguém colheu.


Ela era uma passagem bem no meio do tempo,

Que levava do Nada à Plenitude,

Mas que muitos temiam como a finitude.


Ela tinha cores claras e sempre discretas

Que compunham suas vestes na dor e na festa,

No rosto,  o mesmo riso ante o sol e a tempestade.


Ela não compreendia o que era saudade,

Pois nuvem que passa se derrete e vira rio,

E o frio se transforma novamente em verão.


Ela era o ‘sim’ que se escondia no ‘não’,

O doce reencontro após um amargo adeus,

A canção das estrelas em lenta escansão.


E ela sempre passava, e passando, ninguém via,

Ela era a eternidade vivendo em um só dia,

Era o som da palavra que ninguém ouvia.


E até hoje ela passa, e passando, se vai

Entre passos, poemas, e letras, e estradas,

Deixando as pegadas que nós, distraídos,

Com os pés, apagamos, até não restar nada.








sábado, 13 de agosto de 2022

Gatinho

 



Ele está lá, todos os dias. Tem donos, mas eles trabalham o dia todo e ele fica sozinho em casa, e parece que ele não gosta de ficar sozinho. E ele sobe naquele muro altíssimo (só de olhar, dá uma angústia e um medo enorme de que ele possa cair) e vem aqui para a parte dos fundos do meu quintal, tentar ser adotado por mim e pelos meus cães. Porém, meus cães não gostam nada da ideia, e querem trucidá-lo em pedacinhos.

Ele olha para os meus cães e dá seus doces miados, como a dizer: "Olhem sou um cara legal, deixem eu ficar e seremos amigos!" Mas sua estratégia não funciona. Ontem tirei-o de dentro da casa dos cães (por sorte, eles não o viram, não estavam lá). Temo pela vida dele. À noite, eu e meu marido pegamos ele no colo e descemos a rua para entregá-lo aos donos, mas ninguém estava em casa. Deixei-o no portão, do lado de fora da casa. Ele ficou lá sentadinho, olhando a gente ir embora, e meu coração soltou um fio que ficou preso entre suas patinhas.



O gatinho caminha sobre a altura do muro,

Tão branco o seu pelo

Ele mia, delicado, e em doce apelo,

Esfrega o corpinho branco entre as grades.


Os cães ladram, lá de baixo,

Mas ele não quer contenda.

O gatinho só quer alguém

Que o acolha e compreenda.


E ele anda o dia inteiro

Sem descanso, de lá pra cá

De cá pra lá , de canto em canto,

Por toda a extensão do imenso

Muro branco.


Seus miados angustiados

Encontram-se com a lua que surge

Na curva da rua, entre os montes.

Pobre gatinho branco,

Que chorou o dia todo

E entrou na noite sem sequer

Um acalanto!

Suas patinhas macias que cobriram todo o muro

De lá pra cá,  de cá pra lá

De canto em canto

De tanta solidão, perderam o encanto...


E eu o vi, mas fingi indiferença

Não por mal-querença, mas por proteção,

Para que ele não terminasse

Sua vidinha tão doce

Na boca de um cão.


Gatinho  branco, não posso te oferecer o que procuras,

Mas eu queria poder

Tê-lo em meus braços,

Para fazê-lo dormir sossegado,

Ronronando tranquilo, de olhos fechados,

Ao saber-se amado...




terça-feira, 19 de julho de 2022

O OUTRO NAO TE DEFINE

 






A excessiva preocupação em estabelecer uma imagem ou ideologia que vá ao encontro daquilo que as demais pessoas pensam ser correto é uma espécie de escravidão voluntária. Vejo pessoas que se consideram diferentes tentando desesperadamente serem aceitas e respeitadas por outras pessoas que nasceram em épocas diferentes, aprenderam conceitos diferentes e que não estão preparadas (ou dispostas) a compreender e aceitar certas mudanças dos tempos. E como elas vêm tentando provocar essa aceitação? Através da agressividade e da vitimização. Não percebem o quanto estão, elas mesmas, se desqualificando através dessa atitude. Tudo o que tenta opor-se forçadamente a uma ideia ou crença, apenas cria mais resistência. Somente através da compreensão, que é um processo que leva muito tempo e até mesmo, algumas gerações, existe a possibilidade de mudanças reais e duradouras.

Existem muitas características em mim mesma que algumas pessoas não compreendem ou aceitam. Na escola, sofri muito bullying por ser considerada fora dos padrões; não era rica, bonita, audaciosa ou arrojada como as demais meninas. E após a escola, o processo continuou.

Enquanto eu dei importância a tais pessoas que não me davam a importância que eu merecia, minha vida esteve travada e limitada. Até tentei modificar-me a fim de agradar as pessoas que me cercavam, o que, após algum tempo, causou-me frustações (porque quanto mais você cede o espaço que deveria ser seu aos outros, mais espaço eles ocupam e menos  o valorizam) e eventualmente, ressentimento. Quando dei por mim, não sabia mais onde minha vontade começava e a vontade deles terminava. E naquele momento em que finalmente dei por mim, meus relacionamentos tinham sido praticamente arruinados pela falta de limites e de amor próprio da minha parte. Porque quando você muda, as pessoas não mudam junto; elas passam a enxergar você como uma ameaça, uma espécie de criatura ingrata, revoltada, esquisita.

Ter a coragem de dar um basta pode significar que você vai se tornar alguém bastante solitário, e que alguns relacionamentos não vão ser jamais recuperados. Mas viver a vida toda tentando ser aceito ou respeitado, seja através do servilismo ou da agressividade, é uma perda de energia e de vida imensurável. Hoje, penso que cada um deve ser como é, sem se importar se está agradando ou não aos outros. E ninguém vai agradar a todos.

Talvez, através de uma atitude agressiva, você consiga intimidar ou calar uma meia dúzia de pessoas, mas não se iluda ao pensar que elas mudaram, ou que de repente passaram a respeitá-lo, pois elas estão apenas guardando (e acumulando) seu ódio para mais tarde, para quando tiverem a oportunidade de expressá-lo com mais veemência. E quando essa hora chegar – e ela vai chegar – vai ser uma explosão muito mais violenta e perigosa, pois será inesperada. Melhor deixar que cada um seja como é, pois só assim não seremos pegos de surpresa.

Se nem mesmo Jesus Cristo foi aceito ou compreendido por todos, morrendo a morte mais violenta, injusta e dolorosa  de sua época, por que se iludir pensando que pode modificar o mundo e o coração das pessoas através de gritos e de agressividade? Melhor é viver a própria vida, e compreender que ninguém é uma coisa só, e que existem muitas formas de ser uma boa pessoa e ser feliz, mesmo sem agradar a todos.

Por outro lado, quem sabe essa importância que você acha que os outros estão dando ao que você é ou deixa de ser esteja mais em você mesmo do que neles? Quem sabe, essa visão de que os outros só enxergam em você aquilo que, bem lá dentro de si mesmo, você mais teme, não esteja causando a maior parte desse sentimento de inadequação que você carrega sobre os ombros?

Lembre-se: quando alguém se apresenta como sendo seu salvador ou seu libertador, existe uma grande chance de que ele esteja apenas tentando salvar a si mesmo, e não se sinta forte o bastante para isso. Ele precisa de alguém que o deixe seguro a respeito dele mesmo. Ele projeta nos outros a sua própria necessidade de salvar-se e aceitar-se, e de se sentir aceito. Na verdade, ele se sente tranquilo ao saber que existem pessoas que ele pode dominar e manipular, pois elas acham que precisam dele enquanto é ele quem precisa delas. Vemos isso o tempo todo no mundo, nos mais variados contextos - até mesmo nas guerras. Cria-se uma necessidade para que se venda uma solução.






 




segunda-feira, 18 de julho de 2022

AINDA FALTAM ALGUNS DETALHES



Ainda faltam alguns detalhes para terminar meu cantinho do banquinho e deixá-lo mais aconchegante, mas está ficando bacana. Coloquei dois vasos com lavandas para dar cheirinho e espantar as formigas, repintei minhas decorações de jardim antigas e pretendo ainda decorar mais em volta - as coisinhas que eu comprei só chegam daqui a alguns dias. 

Mas já pude "inaugurar" no domingo de manhã.


A foto aí em cima é da "vista" do banquinho. Sempre muito bem acompanhada pelos meus dois cãezinhos.



Simplesmente amo decorar jardim com pedras de rio. Essa é parte do meu caminho que leva ao banco. O jardineiro meu ajudou a colocar a ideia (Pinterest) em prática.

Eis porque ando tão ausente das redes...


.

.

.








 

Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...