SAUDOSISMO
Eu tenho uma saudade enorme
De não saber o que eu sei.
Não sei por onde anda
Aquele riso bobo, frouxo
Que eu trazia sempre no rosto
Sem perceber que o que eu pensava ser
Proteção,
Era manejo.
Tenho saudades de sentar-me à mesa
Sem notar os olhares devoradores que hoje vejo,
As palavras tortas e mordazes,
Os tremores de fome sobre os dentes.
Eu caminhava resoluta
À beira dos abismos que me indicavam,
Achando-me segura.
Dizia sempre “sim,” fluentemente,
E negava a mim mesma, veementemente,
Toda ranhura.
Tenho saudades absurdas
Dos tempos em que eu era cega,
Muda,
Surda.


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