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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

PEQUENOS MILAGRES

 

 





Eu acredito que vivemos milagres todos os dias, mas depois que eles acontecem, a tendência é duvidarmos deles. Nós,  seres humanos, somos naturalmente incrédulos. Além disso, quando nos atrevemos a comentar esses milagres com os outros, apesar de eles prestarem muita atenção às nossas histórias, depois de ouvi-las eles nos jogam um olhar de incredulidade ou fazem comentários depreciativos ou engraçadinhos a respeito deles, como: “Você tem certeza que não foi só coincidência?”  “Ah, sei... também vi esse filme!” E tais comentários nos desmotivam a falar sobre certas coisas, ou até mesmo nos fazem duvidar que elas realmente aconteceram.

Por isso vou relatar aqui alguns milagres que vivi ou presenciei.

 

1- O Santuário de Bom Jesus dos Montes, em Portugal – Quando visitamos esse local em 2019, algo inusitado aconteceu. Eu e meu marido estávamos em uma lojinha de souvenir, e eu estava indecisa sobre se deveria ou não levar um terço de presente para minha irmã, que tinha perdido um filho há alguns anos, e com ele, a sua fé. Quem me conhece daqui desde 2011 sabe que perdemos nosso querido Ricardo para o câncer.

A música favorita do meu sobrinho – e que eu usei em quase todos os poemas que escrevi para ele e postei no site do escritor no site Recanto das Letras – era “Times like These”, do Foo Fighters.

No momento em que comentei com meu marido que eu não sabia se deveria levar o tercinho para minha irmã ou não, esta música começou a tocar no alto falante da lojinha. Ora, qual a possibilidade de que Foo Fighters toque no alto falante de uma igreja católica tradicionalíssima em Portugal, exatamente no momento em que alguém está pensando se leva ou não um terço para alguém que perdeu a fé porque seu filho morreu? Ainda mais sendo esta música a favorita dele?

 

2- Ganesha – Aqui em Petrópolis existe um santuário chamado Vale do Amor, um belíssimo lugar de difícil acesso entre as montanhas. Lá várias religiões estão representadas em templos e jardins ao ar livre. Estávamos passeando pelo jardim quando passamos diante de uma figura que chamou minha atenção: um ser que era metade elefante e metade menino, rodeado de oferendas de flores, moedas e frutos. Algo me fez parar diante dele, e eu não conseguia seguir adiante. Meu marido voltou, e perguntou-me de quem se tratava. O primeiro nome que me veio à cabeça foi: Ganesha. Só que eu não tinha a menor ideia de quem ele era.

Seguimos o caminho e esqueci a história. Quando chegamos em casa, eu estava procurando um protetor de tela para meu computador no Google, e qual foi a imagem que me apareceu? A mesma que eu tinha visto no Vale do Amor! O menino elefante. Daís resolvi pesquisar mais sobre ele, e descobri a sua história. Basicamente, ele é uma entidade protetora que ao mesmo tempo abre os caminhos da prosperidade. De uma forma ou de outra, a figura me fascina e atrai até hoje, e tenho vários Ganeshas em casa.

Sempre que sinto que as coisas ‘travaram’, eu canto seu mantra e tudo se resolve em alguns dias.

A primeira imagem de Ganesha que adquiri aconteceu desta forma: estávamos em uma loja que vende artigos para jardim, mais ou menos uma semana após visitarmos o Vale do Amor. Eu queria comprar algumas plantas e vasos. De repente, meu marido veio falar comigo: “Você vai gostar do que eu vou te mostrar!” Eu o segui, e ele me colocou diante de uma imagem de... Ganesha!

Depois disso, adquiri várias outras que estão espalhadas pela minha casa toda.

 

3- Chico Monteiro – Há muitos anos, meu marido e eu passávamos pelo Teatro D. Pedro após sairmos do trabalho. Eu estava com muita dor de garganta há vários dias, e mal conseguia falar. Minha garganta estava cheia daquelas placas bacterianas brancas, e os remédios não estavam fazendo efeito. No letreiro do teatro estava escrito: “Só Esta Noite – Chico Monteiro – Médium.”

Resolvemos entrar e assistir a palestra. A palestra foi muito interessante e o teatro estava lotado – tivemos sorte de conseguir dois lugares na última hora. Pouco antes  do término do evento, o palestrante disse que ia fazer uma oração e pediu que quem estivesse doente, ou com familiares em casa que estivessem passando por problemas de saúde, deveria se concentrar e orar junto com ele.

Me concentrei na minha garganta e mentalmente fiz a oração. Ainda nem tinha acabado de rezar quando senti uma sensação de calor na garganta, e senti também as placas de inflamação se soltando (tive que engoli-as). E de repente, eu não estava mais com dor de garganta.

Quando a palestra terminou, entramos na fila para comprar um livro que Chico Monteiro estava vendendo, e diante dele, comentei o que tinha acontecido. Ele sorriu, me deu uma rosa branca e me disse para colocá-la em um vaso com água ao chegar em casa.

Bem, a rosa durou mais de um mês intacta!

 

4- Joelho Dolorido – Recentemente procurei três médicos para tentar tratar uma lesão no joelho. Tenho (ou tinha) extrusão do menisco e princípio de artrose. Os medicamentos não surtiram efeito algum, e o trabalho do fisioterapeuta apenas piorou o problema. A dor que eu sentia estava me impedindo de caminhar adequadamente e até mesmo de dormir bem à noite, pois doía quando eu andava, sentava, deitava, enfim – doía o tempo todo, não importava o que eu estivesse fazendo.

E tudo isso começou há apenas alguns meses, quando soubemos que retornaríamos à Itália a fim de batizarmos o Leozinho, filho de Isabela e Leo, de quem fomos padrinhos de casamento também na Itália em 2018. Desde então a dor começou e não ia embora de jeito nenhum.

Na Itália ela também não parou, mas decidi que ela não ia me impedir de fazer nada. Continuei fazendo exercícios todos os dias pela manhã, ignorando a dor. Lá eu andei muito, e quando chegávamos em casa à noite, eu tomava remédios para diminuir a dor.  Mas ela nunca passava totalmente. Então eu decidi fazer uma promessa em todas as igrejas que visitamos: eu entrava, acendia uma vela e prometia que, caso a dor passasse, eu ficaria ajoelhada em uma igreja durante 1 hora.

Mas a dor não passou.

Depois que voltamos para o Brasil, eu estava fazendo alongamentos quando escutei meu joelho fazendo um barulho bem alto, como se estivesse estalando ou quebrando. Até meu marido que estava perto escutou e perguntou: “O que foi isso?” Assustada, respondi: “Meu joelho.” Achando que eu estava para sentir uma dor muito forte, eu baixei a perna devagar (ela estivera esticada em uma cerca em um ângulo de 90 graus durante o alongamento).

Mas assim que pus o pé no chão, percebi que a dor tinha sumido. Isso foi há quase uma semana, e desde então estou bem.

Preciso achar uma igreja tranquila, na qual eu possa ficar ajoelhada durante 1 hora inteira.




 








quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

ENVELHECER É UM PRIVILÉGIO?

 






ENVELHECER É UM PRIVILÉGIO?

 

Antes de fazer esta reflexão, vamos pensar no significado da palavra privilégio; de acordo com o dicionário, privilégio significa “Direito, vantagem, prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento da maioria; apanágio, regalia.” Ou seja, um privilégio é alguma coisa que é legada apenas a poucos. Portanto, envelhecer não é um privilégio, já que a maioria das pessoas envelhece.

 

As redes sociais tem nos ensinado que é bom romantizar situações corriqueiras, como a velhice, a maternidade, a solidão, a família, uma dieta e até nossos fracassos, como sendo algo especial. Se você é velho, isso é uma grande vantagem, pois você chegou à “melhor idade” e se tornou alguém especial. Da mesma forma, se você é jovem, branco, negro, magro, gordo, casado ou solteiro, você está vivendo algo especial – um privilégio.

 

Eu não consigo enxergar a vida como sendo um privilégio, já que estamos todos vivos! A vida para mim é esse grande mistério, pois não tenho ideia sobre de onde ela vem, onde começou, quando terminará, se existe um propósito para estarmos aqui ou se existe algo depois que ela termina. Na verdade, sei tanto quanto todo mundo, ou seja: nada. Tudo o que se afirma a respeito da vida ou da morte é especulação.

 

Mas voltando ao tema ‘envelhecer’, ao escrever este texto tenho 60 anos e quase 3 meses de idade. Não posso dizer que envelhecer tem sido bom, pois com a velhice, chegam várias questões difíceis sobre saúde, finanças (aposentar-se no Brasil significa viver com muito pouco dinheiro), preconceitos, medos, dores físicas e morais. Estarmos velhos é difícil. Porque os mais jovens nos olham de forma diferente, como se a velhice significasse nececessariamente senilidade, incompetência profissional ou ideias ultrapassadas.

 

Mas aqueles que afirmam que o importante é ter uma mente jovem, não entendem que ao pensar desta forma estão jogando fora as experiências acumuladas e a sabedoria adquirida, talvez em troca de procedimentos estéticos que deixam os rostos todos iguais (e que não fazem ninguém parecer mais jovem) e atitudes de adolescentes que não caem nada bem em pessoas mais velhas. Vejo muitas pessoas velhas que querem recuperar o tempo perdido através de relacionamentos com pessoas mais jovens, ou usando roupas inadequadas ao seus corpos, ou frequentando academias não pela saúde física, mas tentando obter os músculos de um fisioculturista. Lamento por eles. Porque ainda não compreenderam que cada idade deve ser vivida quando chega o tempo.

 

Para mim, a velhice é um tempo de reflexão e um certo descompromisso. É claro que cuidar da saúde e da aparência é importante, assim como manter a mente atualizada. Mas perseguir esses ideais desesperadamente como se eles fossem manter você vivo por mais tempo, prolongando uma juventude que já não existe mais, é caminhar à beira do ridículo. É sinal de desespero, não de sabedoria.

 

Eu cheguei à minha velhice. O que eu quero, hoje? Desfrutar daquilo que conquistei em minha juventude: minha casa, meu marido, meus cães, a companhia de algumas pouquíssimas pessoas. Quero ler muito, escrever muito, ouvir boa música, viajar, ou apenas ficar sentada no jardim sem fazer nada. E quero comprar roupas novas (porque eu adoro andar muito bem vestida) e cuidar da minha saúde, mas sem neuras. Não me interessa parecer mais jovem, ser ‘sexy’ ou encher meu corpo de hormônios para focar na sexualidade. Para mim, esse tempo já passou. Sexo é bom quando acontece naturalmente.

 

Não tive filhos, portanto não tenho netos. Não tenho compromisso com nada. Sou uma pessoa praticamente livre. Construí minha vida para ser assim, para chegar onde cheguei. Não me arrependo de nada, e não quero mais nada, a não ser o que já descrevi acima. As opiniões das pessoas não me preocupam. Não me encaixo nas definições alheias.

 

Não tenho medo da morte, e não lamento a proximidade dela. A proximidade da morte me traz perspectiva. Ela me lembra que tudo acaba, que tudo é finito. E não faz diferença, na verdade, quando eu estiver em meu leito de morte, pensar em alguma coisa que deixei de fazer ou gostaria de ter feito, porque a morte é o selo final, é o cadeado que encerra esta vida, caso haja outra após esta ou caso não haja nada. E se não houver nada, ou se houver alguma coisa, não fará sentido nenhum tipo de arrependimento.





 

 

 

 


 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

FREIRAS DANÇANTES, PADRES CANTANTES, PASTORES MIRINS E AFINS

 


 

Não tenho nada contra freiras dançantes e padres cantantes.

 

Bem, se isso fosse totalmente verdade, eu não estaria escrevendo este texto.

 

Não sigo religião nenhuma, embora leia muito sobre quase todas elas – catolicismo, budismo, espiritismo, protestantismo,  hinduísmo, bruxaria, umbanda, e até mesmo satanismo. Porque eu gosto de saber. Gosto de conhecer, mesmo não seguindo. Sigo páginas de pastores, budistas, agnósticos, macumbeiros, enfim, não tenho preconceitos.

 

Meu único problema é com a hipocrisia.

 

Eu acredito que, quando um sacerdote se coloca sob uma denominação religiosa, ele deve seguir o que aquela denominação prega. Freiras maquiadas dando entrevistas em podcasts e dizendo que amam quando as elogiam pela sua aparência, não me parecem confiáveis. Padres cantantes cheios de botox, que viram influencers e passam a se vestirem com calças apertadas e roupas caríssimas de marca, também não me parecem confiáveis. Budistas que descriminam este ou aquele grupo de pessoas por causa de suas preferências políticas, não seguem os preceitos do budismo. Pastores que exigem que seus fiéis façam 'pixes' altíssimos em suas contas, não me parecem honestos. Talvez essas pessoas sejam ótimas, mas não nasceram para o sacerdócio. Poderiam ser excelentes filósofos, escritores, influencers... mas padres, monges, pastores e freiras, não.

 

Acredito que todos já viram algum trecho em vídeo daquele pastorzinho fake que não conhece a  Bíblia fazendo pregações - chega a ser bizarro. O moleque foi criado para ser uma máquina de arrancar dinheiro de otários. E como tem otários dispostos a contribuir com esses absurdos! Cada fala dele é uma encenação, algo ensaiado exaustivamente. Fizeram uma lavagem cerebral na criança e criaram um monstro.

 

Por isso, não sigo nenhuma religião. Cada uma é uma coleção de absurdos abençoados por um deus que não existe e jamais existirá na minha vida. Porém, a cada um o direito de fazer o que quiser, só não tentem me converter a nada. Prefiro essa minha religiosidade solitária– que também não pretende converter ninguém - praticada dentro da minha casa e em meu jardim. Gosto da oração que sai do coração todos os dias, da gratidão sincera pelas mínimas coisas, da vela acesa apenas pela luz que ela propaga, do incenso que queima pelo seu perfume. Gosto daquele deus que habita dentro de mim e que não me entrega nada, a não ser a mim mesma, a não ser a natureza, a não ser a paz de uma noite bem dormida.

 

Gosto do Deus que me ampara e protege do mal, principalmente do mal que existe dentro de mim mesma, pois é através dele que o mal que vem de fora pode encontrar um caminho até mim. E quando o mal consegue penetrar, esse deus me ensina a me limpar, e ele volta exatamente para aquele que o enviou.

 

Minha religião?

 

O sol, a chuva, a natureza, os bons livros, as orações ditas no silêncio da minha casa, os animais, a solidão escolhida conscientemente e que só é quebrada quando eu quero.

 

O que isso me traz?

 

Paz. Exatamente o que o mundo me tira.

 



terça-feira, 3 de junho de 2025

O QUE É A VIDA?



Em setembro farei sessenta anos. Mas quando penso na vida, me sinto como se tivesse quinze ou dezesseis, porque apesar de todos esses anos desde que nasci, não consegui entender o que é a vida ou sequer o que move as pessoas a fazerem o que fazem ou serem como são. Não entendo como, dentro de uma mesma casa, criam-se pessoas que se tornarão adultos tão diferentes uns dos outros.

Também não entendo o que faz uma pessoa comparar-se a outra(s), e desejar derrubar alguém só porque essa pessoa sabe fazer algo que ela não sabe, ou talvez seja mais bonita/mais jovem/mais rica, etc..., ou qualquer outra coisa que só a comparação invejosa pode enxergar. 

Eu gosto de pessoas mais inteligentes do que eu; através delas, eu aprendo. Acho fascinante alguém que saiba de alguma coisa que eu não sei. Sempre, desde criança, admirei as pessoas inteligentes e procurei melhorar um pouco, não através da comparação com elas, mas através da inspiração que elas me proporcionam. 

Todo mundo tem um talento especial, todos sabem alguma coisa que podem ensinar e que os tornam únicos. Isso é inquestionável. Mas existem tantos talentos naturais desperdiçados, porque aqueles que deveriam desenvolvê-los estão preocupados tentando ser outra coisa para a qual não nasceram. Alguma coisa que, segundo eles mesmos, os tornaria "melhores" que alguém ou lhes traria alguma projeção. E quando não conseguem, passam a difamar, odiar ou invejar aqueles que possuem tal talento.

O que é a vida? 

Alguns dizem que ela é uma escola, e que cedo ou tarde, todo mundo aprende o que tem que aprender. Outros acreditam em reencarnação, e ainda outros não acreditam em absolutamente nada, a não ser no acaso. E ninguém sai daqui sabendo, de verdade, se está certo. Até hoje, não conheço ninguém que tenha morrido e voltado para contar como é do outro lado - se é que existe um outro lado. Eu acredito que sim, mas não posso afirmar que eu tenho certeza, pois a mente prega peças e nos faz ver o que queremos ver. É como se o cérebro criasse 'provas' que suportassem nossas crenças para que possamos ser mais equilibrados.  

Então, o que é a vida? O que move as pessoas? 

Por que fazemos tantas guerras se seria bem mais fácil e melhor vivermos em paz? Por que estudamos tanto e não aprendemos o que realmente importa? Por que somos competitivos, amargos, invejosos? Por que tantas famílias são desunidas? Por que existem tantas pessoas que, deliberadamente, maltratam animais? 

Por que somos tão cruéis?




 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

O PADRE É POP?

 



 

“Estou pensando em largar tudo,” ele afirmou. E espero que largue mesmo.

Em primeiro lugar, largue a batina. Largue também as convenções sociais e assuma-se como é. Largue a necessidade de validação através de outras pessoas, e largue essa vaidade e esse ego imensos que tomaram conta de você. Largue a imagem de padre que ainda permanece apenas para encher estúdios e lotar shows. Largue da necessidade de postar cada coisinha sobre sua vida pessoal, pois nesse mar de tubarões, o que mais atrai é sangue.

Largue tudo isso, e seja apenas o que é: um excelente escritor e influencer digital. Um ser humano cheio de falhas e defeitos como qualquer um de nós, mas que tenta acertar e se encontrar. Só que ninguém se encontra negando aquilo que é, mentindo a si mesmo e a todo mundo. E nesse Leito do Eterno Desencontro é onde se deitam a depressão, a síndrome do pânico e a ansiedade.

Largue tudo isso. Largue-se. Seja feliz.





terça-feira, 1 de abril de 2025

ESFORÇO




 A vida demanda esforços. Nem tudo vem fácil, mas tudo vai fácil.

Começar nem sempre significa ter tudo prontinho, preparado, com todas as cartas na mesa. A gente começa com o que tem, e pronto. Com o tempo, vamos acrescentando outras coisas, melhorando, crescendo. E de vez em quando poderá haver reveses. Daí a gente volta, respira, olha para o que perdeu, aprende, respira fundo... e recomeça.

Pensando na vida, me lembrei de quando comecei a trabalhar de casa: eu dou aulas de inglês, e tinha acabado de sair de um curso após quatro anos de trabalho e dedicação e zero reconhecimento por parte dos meus empregadores. Antes, tinha trabalhado por seis anos em um outro curso do qual saí pelos mesmos motivos. 

Estava tão insatisfeita, que deixei tudo para trás, saí cheia de dívidas e sobrevivi do seguro desemprego durante alguns meses. Eu acordava cedo e ia para a varanda da minha casa enrolada em um cobertor, ainda no escuro, e esperava o sol nascer. Lá eu pedia a Deus ou a alguém que estivesse me ouvindo que me mandasse uma resposta. Não tinha a menor ideia sobre o que iria fazer da minha vida.

Meu desgosto com a profissão era tão grande, que pensei em deixar de ser professora de inglês. Porque os cursos exigiam formação disso e daquilo, cursos de business English, aulas fora do ambiente do curso. E não queriam financiar nada, nem pagar melhor por isso.

E finalmente, após quase cinco meses, alguém escutou as minhas preces. Uma ex-colega de trabalho me ligou, me oferecendo um aluno. Minha insegurança atravessou o caminho e foi logo dizendo 'Não!' Afinal, eu não tinha computador, não tinha material, não tinha um local. Mas mesmo assim, ignorei meu bom senso e decidi aceitar o aluno. E ele me trouxe outro aluno, que me trouxe outro, e outro... comprei meu primeiro computador - um Positivo basiquinho que paguei durante um ano e que durou três anos - acrescentei uma impressora, montei uma salinha de aula em um quarto de hóspedes que foi transferido para o segundo andar da casa. Mais tarde, comprei um computador melhor. Isso começou no ano de 2001.

Continuei dando as aulas em casa, na minha salinha de aula, e às vezes eu tinha muitos alunos, às vezes, poucos, mas sempre tinha.

Veio a pandemia, e perdi todos - eu disse TODOS - os alunos que eu tinha. Ninguém mais podia sair de casa. Foi então que um aluno me sugeriu dar aulas pela internet. É claro que meu bom senso foi logo dizendo 'Não!' Você não tem uma boa conexão de internet, não sabe usar os aplicativos, etc, etc..., mas ele (o aluno) resolveu me ajudar e me ensinou. E aos poucos, meus alunos foram voltando e novos foram se juntando. Coloquei uma conexão melhor, e recomecei.

Já tive alunos na Itália, Canadá e até na Suécia. Não há limites para o trabalho online.

E lá se vão quase 21 anos dando aulas em casa - cinco pela internet. Nunca me arrependi de ter saído do mercado de trabalho convencional. Mas eu tive que começar. E comecei apenas com algumas folhas de papel e uma máquina de escrever velha. Era o que eu tinha. Mas eu também  tinha conhecimento e boa vontade, e nenhum medo de trabalhar.

Aprendi que muitas vezes (quase sempre) a gente vive uma vida ruim por termos medo, por acharmos que o que temos é tudo o que podemos ter. Nos vitimizamos, nos colocamos para baixo e jogamos obstáculos em todas as oportunidades que aparecem. Mas eu tive coragem, e tive pessoas que me ajudaram: o apoio do meu marido para deixar o emprego, a indicação de um aluno por minha colega, a boa vontade de um aluno ao me ensinar a trabalhar pela internet. A todos eu sou grata.


O que não adianta, é alimentar o medo, a preguiça, o desânimo e as desculpas esfarrapadas que inventamos para nós mesmos.




quinta-feira, 20 de março de 2025

QUANDO O INUSITADO NOS VISITA

 

 




Sempre apago meus e-mails – recebidos e enviados, lixeira e spams. Isso economiza espaço no Google, e por isso venho fazendo isso desde sempre. Porém, mesmo que eu não os apagasse, o próprio Google os apagaria de tempos em tempos.

 

Na última sexta-feira, ao tentar acessar meus e-mails do computador, percebi que minhas duas contas do Google tinham sido desvinculadas. Deu um trabalhão para consertar tudo: coloca impressão digital, troca senha, recebe código no telefone... enfim, consegui normalizar as coisas.

 

Mas ao acessar minha caixa de “enviados” a procura de um e-mail que eu enviei a um de meus alunos, ela estava lotada de e-mails que enviei nos anos de 2007 a 2013! Até mesmo minha aluna que trabalha na área de T.I me afirmou que a chance de algo assim acontecer é... nenhuma. E-mails tão antigos, após apagados, não retornam do além.

 

Bem, por curiosidade, fui olhar o que eles continham. Embora os anexos tivessem se perdido, as mensagens e trocas de e-mails ainda estavam lá. E foi uma enxurrada de lembranças me assolando de repente. Havia e-mails concernentes à perda do meu sobrinho em 2011, respostas a comentários que recebi aqui no Recanto das Letras, inclusive de pessoas que já se foram, como Cássia da Rovare e Kathleen Lessa. Muitas lembranças. Havia até mesmo e-mails trocados com desafetos daquela época.

 

Como eu não acredito em coincidências, fiquei me perguntando o porquê destes e-mails terem surgido assim, tão de repente.

 

Existem coisas que a gente acha que superou, só que não. Fiquei algumas horas relendo alguns daqueles e-mails. Pelas minhas contas, são mais de duas mil mensagens! Por que o passado pulou na minha frente desse jeito? Será que existe alguma coisa (ou alguém) que estou negligenciando? Alguma lição que a vida esfregou na minha cara, mas eu não aprendi?

 

Sigo relendo aqueles e-mails. O mais estranho, é que eu já nem me lembrava mais da maioria daquelas pessoas e acontecimentos. Rever uma dor muito grande, como a perda do meu sobrinho e a perda meus dois cães logo em seguida, me deixou um tanto pensativa. Já não dói mais; o tempo tratou de curar as feridas. Mas ficaram muitas lembranças que estavam trancadas lá no fundo da minha memória antes da releitura daqueles e-mails. Eu tive que trazê-las para fora, limpar a casa. Foi como encontrar um velho computador anos depois de ele ter sido descartado, e ver que ele ainda funciona, e que tem muitas coisas na memória.

 

Muitas perguntas que não foram respondidas naquela época continuam sem respostas, o que me leva a concluir que algumas coisas não são para a gente ficar sabendo. O que vai embora tem que ir embora. A gente precisa soltar, porque nunca mais vai voltar. A dor precisa ir, mas as coisas que ela nos ensina precisam ficar.




 



segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

AQUELAS CIDADEZINHAS À BEIRA DA ESTRADA

 





Capim, capim, capim. Algumas árvores ressecadas. Chão de barro, poeira, poeira, poeira. Calor. Calor infernal, impossível de ser suportado por qualquer pessoa normal. Várias casinhas em péssimo estado de conservação. Elas são pequenas, muito pequenas e muito sujas. As janelas estão quebradas, e dá para ver que em algumas delas ninguém mora. Quem morou ali, e por que as abandonou? Será por causa do calor?

Em alguns trechos, há mais verde. Colinas se estendem até onde os olhos alcançam, salpicadas de manchas brancas: vaquinhas. As vaquinhas se escondem do sol do meio-dia amontoadas sob as árvores. As casinhas aqui parecem mais alegres, embora o calor seja igualmente insuportável. As cercas brancas de madeira servem também para enfeitar.

Olho para os animais e sinto uma pena enorme deles, por terem que viver ali. Às vezes, aparece um cachorrinho magro, cambaleando, entregue à própria sorte. Não há água ou comida à vista. Não podemos parar para acudi-los. O que fazer? Colocá-los todos dentro do carro e trazê-los  para casa? Alguns são atropelados e mortos. Passamos por um grupo de urubus que devoravam um gato.

As pessoas sentam-se às portas dos pequenos bares em ruínas que parecem que vão desmoronar a qualquer momento. Olham a estrada. As mãos estão estendidas sobre as próprias pernas em uma atitude de submissão. Muitos usam camisas abertas de tecido encardido, e outros apenas shorts. Nós passamos, e eles nos encaram.

Calor, calor, calor. O vapor que sobe do chão é visível aos olhos. Aposto que as cervejas que tomam ficam quentes em menos de cinco minutos. Resta-lhes os copinhos de cachaça.

Ao longo da rodovia, eles vendem de tudo: panelas de barro, mariolas, enfeites para jardim de gosto duvidoso, água, bananas, pipocas, biscoitos de polvilho, redes de dormir. Debaixo do sol escaldante, eles exibem suas mercadorias. Minha vida e a deles são dois pontos totalmente distantes. Olho aqueles rostos sabendo que nunca mais os verei, e eles me olham de volta.

A estrada se estende diante de nós. Passamos por trechos onde as casinhas são melhores – as portas e janelas são feitas de alumínio galvanizado, e tem até  quintalzinho com cerca. Mas apesar do capricho, fico pensando no quanto a vida dessas pessoas é sacrificada, no quanto elas devem trabalhar em locais longínquos, as conduções que precisam tomar para chegar ao trabalho e depois novamente em casa. Eu olho as ruazinhas paralelas que se estendem mato adentro. Algumas, de chão de terra, desaparecem entre a poeira, o calor, o matagal e as colinas. Lá longe, quase se perdendo de vista, às vezes  dá para ver que existe uma cidade, pois há telhados e prédios baixos. Apesar do ar condicionado do carro, o sol bate nas pernas. Faz calor, calor, calor.

Ele me pede um gole d'água, e eu estendo a garrafa. “Estamos quase chegando à BR. Preste atenção nas placas.” A apenas algumas horas fica a nossa casa. Nosso paraíso verde nas montanhas.

Mas há um engarrafamento, e precisamos ir mais devagar. Uma longa fileira de carros brilhando ao sol na nossa frente. A cor do ar é cinza. O céu azul é encoberto por uma camada de poluição. Os prédios e casas em ruínas estão pichados, e as janelas, quebradas. As ruas paralelas são escuras e desertas, e me fazem pensar que talvez o inferno seja assim, uma estrada de asfalto quente bem no meio do nada.

As pessoas esperam nos pontos de ônibus, os rostos desanimados. Algumas mulheres carregam sombrinhas. Pessoas  passam em suas bicicletas que deslizam sob o sol. Penso: como eles conseguem, meu Deus?

Ali, uma pequena escola. Um condomínio de prédios que tem até piscina bem ali, no meio daquela feiura. Fábricas, mercados, uma universidade em construção. O rei dos móveis. O rei dos autos. O rei das plantas. O rei das carnes. Depois, um trecho de estrada reta, reta, reta, até cansar. Nada em volta, a não ser o mato seco pronto para pegar fogo. O calor parece querer nos agarrar, e aceleramos.

Penso que não suportaria viver em um lugar tão quente e tão poluído. Sou do mato. Sou do frio das montanhas. Talvez aquelas pessoas pudessem pensar da mesma forma se vissem onde moramos: “Como eles conseguem viver no meio dessa friaca? Deus me livre! Olhem, não tem um supermercado pertinho! E essa chuva toda, que horror!”

Finalmente, vemos a placa: “Petrópolis.” Suspiramos, aliviados. A subida da serra está a apenas alguns minutos. Apesar de fazer calor também, é um calor diferente, que não sufoca, que não ameaça. Um calor verde. Tem cheiro de plantas, de água escorrendo, e o céu é azul brilhante. Cigarras acompanham a nossa subida. Pássaros e saguis parecem comemorar a nossa chegada. E quando passamos pelo centro da cidade, uma tempestade de verão desaba, aguando tudo, refrescando as plantas, e percebemos que o termômetro do carro desceu 14 graus desde que começamos a nossa jornada.

Lar, doce lar. Não, isso não é um cliché. Mas se for, é o melhor cliché do mundo.




terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O QUE É ISSO, MINHA GENTE?

 




Desde novembro de 2024, estranhos fenômenos tem sido avistados nos céus do mundo. Tudo começou em New Jersey, Estados Unidos, onde luzes, orbes e aparelhos não identificados (batizados como drones por falta de um termo mais adequado) cruzam os céus da cidade sem a menor intenção de permanecerem anônimos. As pessoas os fotografam e filmam, postando tudo nas redes sociais, e se indagam a respeito do que tais coisas poderiam ser.

Enquanto isso, o Governo dos Estados Unidos, apesar de declararem não ter a menor ideia do que se trata, tenta acalmar a população, dizendo que as luzes, orbes e drones não apresentam perigo. Ora, como eles podem afirmar tal coisa se eles sequer sabem o que são aquelas UAPS (unidentified anomalous phenomena)?




E enquanto a NASA e o Governo dos Estados Unidos fazem cara de paisagem, e os incrédulos riem daqueles que estão inseguros a respeito daquelas coisinhas luminosas (algumas, maiores que um SUV) pairando sobre suas casas enquanto eles dormem, a coisa começa a se espalhar pelo mundo; há avistamentos no Canadá, Inglaterra, Índia, China e em vários outros países – inclusive, no Brasil.

A coisa já se tornou lugar comum. Ninguém ouve falar muito sobre isso na mainstream media. As informações mais exatas estão nos canais do YouTube. Minha imaginação, que não se contém, inventou algumas teorias, e outras eu peguei em canais do YouTube.


- São drones de países inimigos dos Estados Unidos. Contém armas químicas, e por isso não estão sendo derrubados; se o fossem, espalhariam doenças desconhecidas por todo o país. A origem? Quem sabe, a China, quem sabe o Irã. Isso explicaria os aparelhos físicos, mas não explicariam as luzes e orbes...


Avistado em New Jersey, dezembro de 2024


- São uma experiência psicológica do governo a fim de saberem como seria se um ataque interplanetário assolasse a humanidade. Não gosto desta teoria, acho a menos plausível. Para mim, não faz sentido.

- Alguns dizem que Elon Musk é o culpado. Mas qual seria o interesse dele em fazer isso? Não consigo entender.

- São aparelhos chineses que estão sendo usados para monitorar outros países, em especial os EUA. Lembram-se que durante a pandemia a NASA deu uma entrevista coletiva, dizendo que tinham sido feito avistamentos de OVNIS nos céus americanos? Foi um acontecimento e tanto! Meu marido me acordou de madrugada para assistir ao pronunciamento ao vivo feito pela NASA. Logo em seguida, o Governo e a NASA disseram que se tratavam de “balões meteorológicos chineses.”

- São coisas de outros planetas; são OVNIS (ou UAPS, como estão sendo nomeados hoje em dia). 

A minha teoria: pode ser tudo isso junto e misturado. Tem coisas voando por aí que não são drones, embora ninguém saiba o que elas são. E tem coisas que são drones que estão voando atrás dessas coisas que não são drones, tentando descobrir o que elas são. Pode haver armas químicas. Pode haver algum aparelho de monitoramento – chinês ou de outra nacionalidade – e estão mantendo tudo em segredo para não causar pânico nas pessoas. 

Desejo a todos nós boa sorte, na esperança de que não estejamos vivendo o Independence Day (lembram do filme?).

Há muitos mistérios ultimamente... além dos "drones", temos aviões caindo feito moscas no mundo todo, incêndios fenomenais, enchentes catastróficas e neblinas misteriosas que deixam um pó branco sobre as coisas e causam doenças. Não sabiam? Pesquisem.




terça-feira, 22 de outubro de 2024

O TUCANO

O Tucano


O TUCANO

 

Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me enroscar no sofá após o café da manhã e assistir a um filme. 

 

Mas de repente, o silêncio da manhã entrecortado pelo canto manso dos passarinhos é quebrado ao meio: ouço sabiás gritando no gramado. Vou lá fora a fim de entender o motivo daquela gritaria, e deparo com a seguinte cena: Sobre o gramado, os pais tentam salvar seu bebê, que está sendo atacado por um tucano.

 

Os tucanos não eram aves que apareciam por aqui há alguns anos, e não sei qual o motivo para estarem se tornando cada vez mais abundantes. Chegam a bicar minhas vidraças, e há alguns dias, pude filmá-los em um momento, digamos... íntimo. Uma cena rara para ser apreciada por um humano como eu. Eles não são medrosos. Às vezes, eu os pego me observando pela janela do quarto. Enquanto eu regava o jardim em um dia quente, um deles pousou no ipê amarelo, me olhando. Imediatamente entendi o que ele queria, e suavizando o jato da mangueira, passei a jogar-lhe água - e ele sacudia as penas, abria as asas e crocitava feliz. Foi uma cena mágica, e durou alguns minutos, até que satisfeito, ele alçou voo.

 

Mas voltando à cena do jardim, eu me vi em um impasse: deveria interferir na natureza? Tive que pensar rápido, e saí de casa para salvar o pequeno pássaro. O tucano não voou, permanecendo aos meus pés, me olhando com aquele olhinho redondo, a cabeça virada para me enxergar melhor. Ainda deu alguns passos na minha direção, e pensei que fosse me atacar, mas acho que ele avaliou suas chances e chegou à conclusão de que não tinha muitas chances contra mim. Daí ele pousou no muro e nós começamos um diálogo, onde ele disse:

 

-Aí, moça, pode soltar o meu café da manhã, por favor? As crianças estão me esperando em casa. Tenho bocas, digo, bicos a sustentar.

 

Entre as minhas mãos, encostado ao meu coração, a presença macia e quente do sabiá me pedia o contrário. Respondi:

 

-Sinto muito, colega, mas não vai dar. Você não se envergonha de raptar bebês de ninhos alheios?

 

Ele não se fez de coitado, e retrucou:

 

-Madame, os bem-te-vis também fazem isso, as corujas, os jacus, os macaquinhos e esquilos que você acha tão engraçadinhos também. Vai passando esse passarinho aí, por favor. As crianças estão esperando.

 

-Sem chance. Sinto muito, amigo, mas não vai rolar. Sem ressentimentos, mas você vai ter que caçar em outro lugar, não aqui no meu jardim. Olha, eu gosto de você, te entendo muito, mas prefiro acreditar que você só come ervas e frutas, então vamos fingir que isso não aconteceu. Ok? Olha, vou te dar outra coisa para levar para seus filhotes!

 

Dizendo aquilo, corri na cozinha - sempre com o bebê aconchegado na palma da mão - e peguei uma banana, descasquei-a e joguei-a no gramado para ele, que me olhou novamente com aquele olho redondo e comprido ao mesmo tempo. Descendo do muro, ele pegou o pedaço de banana no gramado e soltou-o em seguida, indignado. Me olhou mais uma vez e então voou para longe sem se despedir.

E eu fiquei lá, em pé na chuva, sem saber o que fazer com aquele passarinho.

 

Minha cabeça oscilava entre o sabor do heroísmo e o do arrependimento; afinal, eu tinha interferido na natureza e prejudicado o tucano. Peguei uma caixa de sapatos, que eu forrei com papel alumínio por causa da chuva, e coloquei o bichinho dentro dela, prendendo a caixa no comedouro que mantenho em uma árvore. A  mãe não o abandonou, passando a cuidar dele na caixinha. Ele já era grandinho e com penas, embora ainda estivesse aprendendo a voar.


A Luisa

 

Deixei os cães presos do lado de trás da casa por dois dias. Hoje de manhã antes de começar minhas aulas eu os soltei, achando que o passarinho já tinha ido embora, já que ontem a caixa estava vazia. Havia apenas alguns caroços de frutas e pedrinhas lá dentro. Acho que foram um "presente" da mãe em agradecimento. Porém, ao soltar meus cachorros, a Luiza (minha cachorrinha) encontrou o pássaro e começou a correr atrás dele, que gritava desesperadamente. Gritei, igualmente desesperada, e acabei salvando a vida dele pela segunda vez. A mãe a tudo assistia, apavorada, piando no galho da árvore. O pestinha ainda não voa.

 

Agora ele está lá no jardim, correndo atrás da mãe para comer suas minhocas, e meus pobres cachorrinhos vão ter que ficar sem acesso ao jardim até que ele aprenda a voar. 

 

O tucano não apareceu por aqui depois daquilo. Mas ele é meu amigo, e sempre acaba voltando e trazendo a família. Espero que ele tenha aceito minha sugestão de fingir que é vegetariano quando estiver por aqui.

 

 

Ana Bailune





 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

FOFOCA




A fofoca, que muitos consideram apenas como uma conversa informal a respeito da vida alheia (e algumas vezes ela até pode ser considerada com
o tal), também tem o seu lado perverso: Por que alguém passaria tempo de sua própria vida debruçado sobre a vida do outro, procurando por alguma coisa negativa que pudesse aumentar e partilhar? E por que o receptor da fofoca, ao invés de procurar esclarecer os fatos, escolhe acreditar em um fofoqueiro?

A fofoca destrói amizades antes que elas possam crescer e se solidificar. Ela demoniza o caráter de uma pessoa que nem sequer sabe que sua vida está sendo exposta e comentada. E geralmente, a pessoa que destrói a reputação de outra tem como objetivo ficar "bem na foto," "sair por cima" de um conflito ou dar algum tipo de explicação sobre uma decisão que tomou ou um erro que cometeu. 

E após um desentendimento causado pela fofoca, embora a vítima possa vir a perdoar quem a atacou, a relação nunca mais será a mesma. Porque a confiança morreu. Aquela pequena flor que estava começando a brotar por sobre o muro foi ceifada bem rente ao caule, e em seguida, pisoteada. 

Eu sou uma pessoa bastante sensível - diria até sensitiva - e percebo as energias que estão me rodeando e tentando quebrar meu círculo energético. Eu sei quando algo está errado. Tento negar a mim mesma, mas logo em seguida, alguma coisa que estava escondida vem à tona. 

De repente, uma pessoa que sempre nos tratou bem começa a nos olhar de lado e fingir que não nos vê; Quando é inevitável que nos cumprimente, o faz de má vontade, e mesmo diante de um sorriso, conseguimos perceber que ele não é espontâneo. Quase sempre, há um fofoqueiro de plantão, daqueles do pior tipo: o que inventa mentiras e distorce verdades, apenas porque destruindo uma amizade, terá melhor domínio sobre uma situação. 

Mas quando isso acontece, eu não me preocupo; o universo tem a mania de esclarecer as coisas, mesmo que isso demore. O tempo pode não ter pressa, mas a justiça divina é sempre implacável. E aquele que está pronto a virar-se contra alguém devido a uma fofoca, acabará vendo que fez uma escolha terrível - mas será tarde demais. Porém, sempre fica a lição.







segunda-feira, 9 de setembro de 2024

PALAVRAS CORTADAS

 




Nos dias de hoje, ao assistir vídeos no YouTube ou Instagram, vemos muitas pessoas cortando palavras para não serem pegas pelo monitoramento de redes. Não se podem mais dizer palavras como morte, suicídio, eleições, pandemia, nazismo, vacinas e muitas outras, que apesar de serem desagradáveis, são importantes.

A cada dia, mais palavras são incluídas nessa lista, e acredito que dentro em breve tentarão cortar alguma letra do alfabeto também. Juntamente com essa nova moda de proibir palavras, também tornou-se prática desmonetizar canais, excluir contas e redes sociais, banir pessoas do país , proibir provedores de internet e até mesmo cortar os salários de senadores – coisa que nos meus quase 59 anos de idade eu nunca vi, nem mesmos nos tempos da ditadura.

Mas parece que ninguém (ou muito poucos) percebem aonde essas coisas estão nos levando aos poucos. É como uma doença mortal que chega devagar, instala-se silenciosamente e, mesmo diante dos primeiros sintomas, nós a ignoramos. Quando finalmente alguém decide realmente fazer alguma coisa, é tarde demais. Ela já tomou todo o corpo, e a cura é impossível.

Dizem  que existe um propósito para tudo isso, e que cada pessoa – mesmo as que detestamos -  é importante no curso da vida; se assim for, quem sabe o propósito não seja abrir os olhos dos que sofrem de cegueira voluntária? Talvez somente através do sofrimento aprendamos a importância de acordar em um país livre, e somente  perdendo a nossa liberdade aprenderemos a valorizar o direito de podermos falar sobre qualquer assunto, mostrar uma opinião e tornarmos nossos pensamentos públicos, mesmo que seja apenas como uma forma de desabafo, sem nos preocuparmos em sermos presos, exilados ou termos as nossas contas em redes sociais canceladas.

Na história das religiões o diabo é importante. Quem sabe, na história do Brasil ele também seja?






terça-feira, 3 de setembro de 2024

DIZER A VERDADE, SER VERDADEIRO






Quem diz a verdade a si mesmo é incapaz de mentir a quem quer que seja. 


Vejo muitas pessoas que procuram desculpas para justificar as decisões que elas próprias tomam, sempre apontando outras pessoas como responsáveis pelos seus feitos e escolhas. Tais pessoas não estão seguras sobre suas próprias decisões, e atribuem aos outros o papel de as terem 'forçado' a seguir este ou aquele caminho, pois se nada der certo, poderão atribuir ao outro a culpa pelas suas más escolhas.


Pessoas assim não refletem e nada aprendem, pois jamais admitem terem errado. Dizem-se sempre vítimas das circunstâncias. 


Há pouco tempo, alguém me disse: "Tomei tal decisão porque será melhor para mim e para você, já que você não está mais satisfeita com o meu trabalho." Dei a ela a única resposta que eu poderia ter dado: "Essa é a sua escolha, e a sua decisão. Eu nunca disse tal coisa. Vá em paz e obrigada." Eu quis deixar bem claro a ela que eu nada tive a ver com a escolha que ela mesma fez.


Por que as pessoas não dizem a verdade a si mesmas? 


Quando alguém se afasta de mim de forma tão súbita e sai batendo o pé, eu não pergunto jamais o motivo, nem tento impedi-las; considero um livramento. Afinal, eu rezo todos os dias e peço a Deus que afaste de mim as pessoas falsas, mentirosas e invejosas. Não posso lamentar quando Deus me ouve. 


 



terça-feira, 20 de agosto de 2024

COMPRE UMA CAMISETA ROSA, TALVEZ...

 


 

Acabo de terminar uma aula cujo tópico de conversação era o tédio. Eu acho que quando a gente se sente entediado, é hora de mudar. Nem falo de grandes mudanças - embora elas sejam necessárias, muitas vezes - mas de pequenas mudanças no cotidiano.

 

Por exemplo:

 

- Quando estou cansada de um cômodo da casa, eu troco os móveis de lugar, ou pinto a parede de outra cor, troco as capas das almofadas ou simplesmente introduzo no local pequenos objetos que estavam em outros cômodos. Vasos de plantas também dão um novo ar a qualquer ambiente. De vez em quando, troco os tapetes e cortinas de lugar; trago os da sala para o quarto, e vice-versa. 

 

- Eu gosto de experimentar coisas diferentes: restaurantes diferentes, lugares diferentes. Se não faço isso com tanta frequência, é porque meu marido é muito conservador. Ele é o tipo de pessoa que não gosta muito de mudanças. Para ele está tudo bem ir sempre aos mesmos lugares e até mesmo pedir os mesmos pratos de sempre. Mas eu quase sempre peço algo que eu nunca comi. Isso pode ser desastroso, mas também pode ser muito positivo. Foi assim que fiquei conhecendo o risoto de pera com brie do restaurante Mimô, aqui em Petrópolis. 

 

- Gosto também de experimentar roupas que eu geralmente não usaria. Ando aceitando as recomendações das vendedoras e me atrevendo um pouco mais na escolha do que vestir, e tem dado surpreendentemente certo. Se não aceito sempre seus conselhos, pelo menos concordo em experimentar as roupas. De vez em quando, por que não usar uma camiseta rosa choque, ou uma saia verde bandeira?

 

Acredito que até mesmo a depressão - a doença do século - pode ser apenas um caso de tédio não reconhecido: as pessoas estão tão condicionadas a fazerem sempre as mesmas coisas, que acabam ficando deprimidas, mas não conseguem identificar as causas. Quem sabe, ao invés de tomar remédios, uma pequena viagem poderia ajudar? Ou então uma camiseta rosa choque!

 

O tédio das coisas sempre feitas da mesma forma deixa as pessoas chatas. É como aquela pessoa que sempre passa as férias na praia, só porque tem um apartamento lá. Nunca mais vai para outros lugares. Ou veste sempre as mesmas cores. Ou fala sempre dos mesmos assuntos ou sobre si mesmo, sempre citando o passado, porque não se informa sobre o que anda acontecendo no mundo, não lê um livro, não sai de casa, não aprende nada novo ou diferente. Talvez a depressão seja um tédio que saiu do controle, alguma coisa sombria que foi se acumulando ao longo dos anos e que criou vida própria. Daí surge o medo da mudança, a inércia, a sensação de incapacidade. 

 

Quanta diferença pode fazer uma simples camiseta rosa!

 

 

 

 



quarta-feira, 7 de agosto de 2024

ABRA MÃO

 



Paz é um sentimento que só estará do lado de fora, estando dentro. 

Na noite passada eu não dormi. Nem por um segundo. Fiquei pensando no quanto uma pessoa tinha sido injusta comigo, mesmo eu tendo sido o melhor de mim para ela. Mas quase de manhã, vagando pela internet adormecida, encontrei um curto vídeo que me fez lembrar de algo simples e importante: A gente não tem controle sobre os atos alheios. As pessoas são o que são. Nem todo mundo vai gostar da gente. E nem é preciso que gostem! 

O aprendizado está em largar aquilo que não podemos controlar - e não podemos controlar quase nada nessa vida, e aquilo que a gente pensa que controla, é apenas ilusão. De repente alguma coisa acontece e nos mostra que o controle não está, nem jamais esteve, em nossas mãos. No budismo eles ensinam a contemplar; deixar que os pensamentos cheguem e passem. Deixar que a vida traga e leve. E na madrugada, mudei o texto do meu bios no Instagram para: "Abra mão, mas jamais quebre os próprios dedos." E quantas vezes a gente quebra os dedos tentando segurar, tentando reter!

Enquanto eu limpava a casa, logo após terminar as aulas da parte da manhã, um pensamento me veio: "Que tal pessoa encontre a paz, porque está precisando. Preocupe-se com a sua vida, com a sua paz, seja você uma pessoa grata ao invés de tentar tirar das pessoas aquilo que elas não têm para dar. Você está bem; não permita que um acontecimento aleatório, perpetrado por alguém despreparado, abale tanto as suas estruturas."

E então eu senti uma paz enorme, e gratidão porque tenho uma casa para limpar, pratos para lavar, roupas para passar e guardar. E muito mais rapidamente do que eu pensava, terminei todas as tarefas que eu tinha. 

Todo mundo tem o direito de ir embora, mas não é preciso sair batendo a porta. Mesmo assim, sempre haverá quem a bata, pensando que jamais precisará voltar. 




 




 


 


 


 




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DESVER

  Ninguém poderá desver O que foi visto, Ou desescutar aquilo Que lhe foi dito Sem deixar cair do rosto Os próprios olhos Sem cobrir de lama...