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quinta-feira, 30 de abril de 2015

O QUE TEM HOJE NA TV?




Assisto TV todos os dias. Há vários programas que eu gosto, entre filmes, musicais e documentários. Quando eu era criança, havia apenas três canais em nossa casa: a Rede Tupi, a Globo e a TVE. Minha mãe costumava ligar a TVE para que eu assistisse de manhã, antes da escola, e através da apresentadora Bibi Ferreira, aprendi muitas coisas, como combinar sílabas e ler algumas palavras. 

Quando minha irmã se casou, eu gostava de ir até a casa dela para assistir TV quando podia; imaginem só, ela tinha treze canais! Para nós, eram muitos! Hoje em dia podemos ter mais de duzentos canais se quisermos e pudermos pagar por eles. Acho impressionante a velocidade na qual a tecnologia e a televisão cresceram em tão pouco tempo.

Muitas pessoas reclamam da programação atual; concordo que muitos programas não tem qualidade, segundo meu próprio gosto, e por isso mesmo, não os assisto; porém, existem muitas pessoas que os apreciam, ou então eles não estariam no ar.

Existe uma grande polêmica hoje em dia sobre o que é ético ou não na TV, e um certo exagero quanto ao poder que a televisão exerce sobre as pessoas, até mesmo a crença absurda de que, ao assistir casais homossexuais pela TV, as crianças e adolescentes tornar-se-hão homossexuais também! Por outro lado, a exibição forçada, quase compulsiva de casais homossexuais nos canais de TV não ajuda em nada a vencer preconceitos, pois levanta polêmicas entre grupos, dividindo a opinião das pessoas. Se eu fosse homossexual, acho que a última coisa com a qual eu me preocuparia, seria se alguém me aceita ou não, desde que me respeitassem. De nada adianta querer empurrar à força pela garganta dos outros os nossos conceitos, porque o que sempre acontece no final, é que cada um acreditará apenas naquilo que eles mesmos querem.

O dever de educar as crianças e mostrar-lhes a diferença entre certo e errado é dos pais, e não deveria jamais ser atribuído à televisão. Quando as crianças crescem em lares equilibrados, onde existe diálogo e liberdade para fazerem as perguntas que quiserem e obterem respostas adequadas, a televisão não terá nenhum poder. Proibi-las de assistir aos programas não as educará; pelo contrário, apenas as deixará mais curiosas, e elas poderão assistir em casa de amigos, bares, restaurantes, vitrines, internet ou em qualquer outro lugar onde haja um aparelho de TV disponível.

A Rede Globo de TV está completando cinquenta anos de existência, e tenho visto nas redes sociais uma campanha difamatória e desnecessária contra esta emissora, como se ela fosse responsável por tudo de errado que acontece no país e nos lares dos cidadãos brasileiros, quando ela não tem este poder. Não aprecio toda a programação que eles exibem, mas também não acho que devam exibir apenas aquilo que eu acho bom, pois sendo uma empresa, eles precisam de clientes / espectadores. Se existe alguma culpa pela má qualidade de alguns programas, ela está nos espectadores, e não nas emissoras de TV, pois se as pessoas reclamam e continuam assistindo e dando-lhes audiência, nada mudará. 

O Facebook, por exemplo, está salpicado de textos de pessoas reclamando do mau exemplo das novelas. O incrível, é que elas sabem os nomes de todos os personagens e também tudo o que está acontecendo na novela. Se eu perco algum capítulo, é possível ficar sabendo do que aconteceu apenas lendo estes posts. Sim, eu assisto às novelas! E não me idiotizei e nem fiquei mais inteligente por isso. Não passei a trair o marido, não "virei" homossexual, não roubei e não matei. E assisto novelas desde que tinha quatro anos de idade. Por que eu assisto? Porque acho legal. Porque gosto.



NEVE





Teu coração
Nevava sobre as palavras,
Tecias estradas de cetim branco
Sobre as lavas.

Teus olhos choravam riachos
Cristalinos e frescos,
Que espargiam sentidos
Sobre as margens abandonadas.

Ninguém ouvia teu lamento,
A não ser a lua branca,
A não ser  
A madrugada fria...

Na outra margem 
Alguém olhava,
Mas não via,
Não respondia,
Ficava parado 
Sem ver o barco 
Que aos poucos, afundava...

A tua angústia congelava,
A saudade era como uma trava,
De travoso gosto
Entre os lábios...
-Nada trazia,
Só levava.

Teu rosto de cera
Derretia,
Teu peito de fogo
Congelava.

E a neve caía
Em flocos de palavras...



terça-feira, 28 de abril de 2015

SOBRE ESCREVER - dicas de Stephen King





Pensamentos de Stephen King sobre a arte da escrita. Do livro "Sobre a Escrita: A Arte em Memórias."

"A vida não é um suporte à arte; É exatamente o contrário."



"Todas as artes dependem de certo grau de telepatia, mas acredito que  a escrita ofereça a destilação mais pura."


"Escrever é seduzir. Falar bem é parte da sedução. Se não fosse, por que tantos casais começariam a noite jantando e a terminariam na cama?"


"Mesmo que um escritor caia nas graças de um ou dois críticos influentes, ele sempre carrega a reputação inicial consigo, como uma respeitável mulher casada que teve uma adolescência rebelde. Algumas pessoas nunca esquecem, simples assim, e boa parte da crítica literária serve apenas para reforçar um sistema de castas tão antigo quanto o esnobismo intelectual que o alimenta."


"Cada livro que se pega para ler tem uma ou várias lições, e geralmente os livros ruins tem mais a ensinar do que os bons."


"Se você quer ser escritor, tem duas coisas a fazer, acima de todas as outras: ler muito e escrever muito. Que eu saiba, não há como fugir dessas duas coisas, não há atalho."


"Ser emocionalmente atingido pela combinação de grande história com grande escrita - ser humilhado, na verdade - faz parte da formação necessária a todo escritor. Nem sonhe em humilhar alguém com a força de sua escrita até que você tenha sofrido isso na pele."


"Nós lemos para experimentar a mediocridade e a podridão indiscutíveis;
essa experiência nos ajuda a reconhecer esse tipo de coisa quando ela começa a se infiltrar em nosso próprio trabalho e a nos livrar dela. Também lemos para nos compararmos aos bons e aos grandes, para ter uma noção de tudo o que pode ser feito. E também lemos para ter contato com diferentes estilos."



"Se você quer ser um escritor bem-sucedido, a rudeza deve ser a penúltima de suas preocupações. A última deve ser a sociedade e o que ela espera de você. De qualquer forma, se você pretende escrever com a maior sinceridade possível, seus dias como membro da sociedade estão contados."


"Quando você escreve, você quer se afastar do mundo, não quer? Claro que quer. Quando você escreve, está criando seus próprios mundos."


"Agora vem a grande pergunta: sobre o que você vai escrever? E aí vem a grande resposta: sobre o que você quiser. Qualquer coisa... desde que você conte a verdade."


"O trabalho de ficção é encontrar a verdade dentro da rede de mentiras da história, e não se comprometer com a desonestidade intelectual em busca de grana. Além disso, irmãos e irmãs, não funciona."


"Vocabulário não é o mesmo que sentimento."


"...Quero que você entenda que minha crença básica sobre a criação de histórias é que elas praticamente se fazem sozinhas."


"Histórias não são camisetas promocionais ou joguinhos de videogame. Histórias são relíquias, parte de um mundo pré-existente ainda não descoberto. O trabalho do escritor é usar as ferramentas que tem na caixa para desenterrar o máximo de histórias que conseguir, tão intactas quanto possível."


"O enredo é tosco, mecânico, anti-criativo. O enredo é, penso eu, o último recurso do bom escritor e a primeira escolha do idiota. A história do enredo está propensa a ser artificial e dura."  


"Eu me apoio mais na intuição, e consigo isso porque meus livros se baseiam em situações mais do que em histórias."


"E por que se preocupar com o final? Para que ser tão controlador? mais cedo ou mais tarde, todas as histórias chegam a algum lugar."


"A descrição pobre deixa o leitor confuso e míope. A descrição exagerada o enterra em detalhes e imagens. O truque é encontrar um bom meio-termo. A descrição começa na imaginação do escritor, mas deve terminar na do leitor."



segunda-feira, 27 de abril de 2015

MINDFULNESS - O LIVRO DE COLORIR



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Mindfulness - O Livro de Colorir - Terapia antiestresse para pessoas ocupadas
Emma - Farrarons
Editora Best Seller - 2015


Você se lembra dos seus cadernos de desenho da infância? Ou consegue sentir o cheiro do álcool do mimeógrafo, que tinham aquelas folhas distribuídas pela professora no final da aula, com desenhos para colorir? Lembra-se das suas caixas de lápis de cor, canetinhas hidrocor e das suas aquarelas? Sente falta do prazer que tinha ao pintar e desenhar?



Você pode reviver tudo - ou quase tudo - através desta interessante publicação. Enquanto pintamos os desenhos, deixamos que a mente se torne leve e vague sem destino. Podemos pintar enquanto estamos aguardando o atendimento médico, ou ao falarmos ao telefone; podemos pintar nos intervalos das aulas ou do trabalho, ou antes de dormir. Podemos deixar para terminar mais tarde, se não tivermos mais tempo de continuar pintando. Podemos escolher outro desenho aleatoriamente, a qualquer momento, e começar uma nova pintura. O único objetivo deste livro, é não ter objetivos. Ele nos tira do ritmo alucinante da vida diária, e nos convida a desacelerar...


Há muitos outros livros seguindo o mesmo estilo, como os de Joanna Basford. De qualquer forma, não importa qual deles você escolha. Pegue aquele cujos desenhos o atraiam mais. Escolhi um pequeno, de nível mais fácil, para começar. Há alguns sobre mandalas, outros maravilhosos com intrincados desenhos de castelos e jardins.

Parece que as pessoas finalmente descobriram o quanto é importante dedicar algum tempo a, simplesmente, não fazer nada muito importante, e ao mesmo tempo, exercitar o lado lúdico, que anda tão negligenciado. Acho que todo mundo precisa brincar mais! A criatividade e a paz de espírito agradecem. Sendo assim, pegue suas canetinhas, lápis de cor, aquarelas e tintas, escolha um desenho e divirta-se!

Bem, e quem sabe, as editoras tenham conseguido uma maneira de continuar lucrando através dos livros impressos; afinal, ninguém conseguiria produzir um livro destes em formato e-book! 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Plantar




Entrego ao jardineiro as plantas que compramos ontem. Juntos, discutimos os melhores locais para plantá-las. Ontem, ao caminhar pelo mercado enquanto as escolhia, deparei com algumas que pareciam estar ali já há algum tempo, ressecadas, a terra tão estorricada que parecia grãos de pedra. Sinto pena das plantas que são colocadas no mercado e jamais recebem um pouco de água. Acabam morrendo de sede, ninguém as compra. São seres vivos; custava alguém jogar nelas um pouquinho de água?

Peguei os vasos com as plantas que escolhi e coloquei no carrinho. Penso que estas tiveram mais sorte, pois neste exato momento, estão lá fora, sendo plantadas na terra fresca. Espero que elas possam viver e que as flores possam desabrochar sem medos.

Fiquei pensando - quem escreve sempre pensa demais sobre as coisas, e às vezes, acaba fazendo associações meio absurdas entre elas -:  Às vezes, a gente fica lidando com a vida da mesma maneira que os funcionários do mercado lidam com as plantas: colocamos as coisas lá na prateleira, e as esquecemos. Murcham os sonhos, murcham os planos daquelas viagens que há anos gostaríamos de fazer, murcham as intenções de melhorar, mudar, aprender algo novo. As plantas secam e morrem, e quando finalmente nos lembramos delas, vamos até os vasos nas prateleiras e só encontramos folhas ressecadas. Esquecemos de aguar as coisas mais importantes de nossas vidas, e fica tarde demais para voltar atrás. Sejamos mais cuidadosos com nossas sementes e mudas. Sejamos mais dedicados àquilo que queremos plantar.


SENTIDO OCULTO






Há muitas coisas escondidas sob as vigas,
Sob os sorrisos, sob as lápides e as vidas,
Há sempre algo que ninguém nunca notou,
Nunca sentiu, ouviu, ou viu, ou riu, chorou.

Há mais que apenas os sentidos que nos tocam,
Ou que tocamos, e dizemos, e amamos,
Há mais debaixo do por cima que mostramos
E que tentamos esconder - ah, triste sina!

Há mil paisagens sob os riscos das pupilas
Que cegos, nunca vislumbramos, nunca vemos...
Há sob o tato dos meus dedos, superfícies
Muito a dizer por entre as coisas que eu não disse...

E sob a vida, sob a morte, sob tudo,
Há um sentido mais profundo que o oculto
O qual nós nunca tocaremos nessa vida...
-Quem sabe noutra, se ela for mais dolorida?




DURA







Às vezes
Preciso ser dura
A fim de guardar
Minha ternura.

Às vezes
(E frequentemente)
A cicuta se torna
A única cura.

Às vezes
O favo é amargo,
O mel é bravo,
A alma, escura.

Às vezes
O fel da palavra
Serve de trava
À pior loucura.





segunda-feira, 20 de abril de 2015

Imenso Mar




Somos gotas esquecidas
Jogadas n'alguma praia
Por uma onda distraída.

Tentamos permanecer,
Queremos sempre brilhar
E jamais evaporar...

Sobre as pedras, nós ficamos
Marcamos, com sal, as rochas
-Onda leva ao Oceano...

E a resposta que buscamos
É voltarmos a cair
No imenso mar, gotejando.




JORGE LUIS BORGES - POEMAS E PENSAMENTOS






Alguns poemas e pensamentos de Jorge Luis Borges


A CHUVA

A tarde bruscamente se aclarou,
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo frequentou.
Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
que não existe mais. A umedecida
tarde me traz a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não é morto.





"Fazer o bem ao teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens."


O SUL

De um dos teus pátios ter olhado
as antigas estrelas,
e do banco da sombra ter olhado
essas luzes dispersas
que a minha ignorância não aprendeu a nomear
nem a ordenar em constelações,
ter sentido o círculo da água
na secreta cisterna,
o cheiro do jasmim, da madressilva,
o silêncio do pássaro a dormir,
o arco do saguão, a umidade
- essas coisas talvez sejam o poema.






"Nunca releio o que escrevo. Prefiro viver em função do futuro."


Por vezes à noite há um rosto
Que nos olha do fundo de um espelho
E a arte deve ser como esse espelho
Que nos mostra o nosso próprio rosto.






"Eu não falo de vingança nem de perdão, o esquecimento é a única vingança e o único perdão."



 VIVER A VIDA



"Se eu pudesse novamente viver a vida...
Na próxima...trataria de cometer mais erros...
Não tentaria ser tão perfeito...
Relaxaria mais...
Teria menos pressa e menos medo.
Daria mais valor secundário às coisas secundárias.
Na verdade bem menos coisas levaria a sério.
Seria muito mais alegre do que fui.
Só na alegria existe vida.
Seria mais espontâneo...correria mais riscos, viajaria mais.
Contemplaria mais entardeceres...
Subiria mais montanhas...
Nadaria mais rios...
Seria mais ousado...pois a ousadia move o mundo.
Iria a mais lugares onde nunca fui.
Tomaria mais sorvete e menos sopa...
Teria menos problemas reais...e nenhum imaginário.
Eu fui dessas pessoas que vivem preocupadamente
Cada minuto de sua vida.
Claro que tive momentos de alegria...
Mas se eu pudesse voltar a viver, tentaria viver somente bons momentos.
Nunca perca o agora.
Mesmo porque nada nos garante que estaremos vivos amanhã de manhã.
Eu era destes que não ia a lugar algum sem um termômetro...
Uma bolsa de água quente, um guarda chuvas ou um paraquedas...
Se eu voltasse a viver...viajaria mais leve.
Não levaria comigo nada que fosse apenas um fardo.
Se eu voltasse a viver
Começaria a andar descalço no início da primavera e...
continuaria até o final do outono.
Jamais experimentaria os sentimentos de culpa ou de ódio.
Teria amado mais a liberdade e teria mais amores do que tive.
Viveria cada dia como se fosse um prêmio
E como se fosse o último.
Daria mais voltas em minha rua, contemplaria mais amanheceres e
Brincaria mais do que brinquei.
Teria descoberto mais cedo que só o prazer nos livra da loucura.
Tentaria uma coisa mais nova a cada dia.
Se tivesse outra vez a vida pela frente.
Mas como sabem...
Tenho 88 anos e sei que...estou morrendo."




"Todos os caminhos levam à morte. Perca-se."



Não és os Outros

Não há-de te salvar o que deixaram 
Escrito aqueles que o teu medo implora; 
Não és os outros e encontras-te agora 
No meio do labirinto que tramaram 
Teus passos. Não te salva a agonia 
De Jesus ou de Sócrates ou o forte 
Siddharta de ouro que aceitou a morte 
Naquele jardim, ao declinar o dia. 
Também é pó cada palavra escrita 
Por tua mão ou o verbo pronunciado 
Pela boca. Não há pena no Fado 
E a noite de Deus é infinita. 
Tua matéria é o tempo, o incessante 
Tempo. E és cada solitário instante. 






"Dá o santo aos cães, atira as tuas pérolas aos porcos; o que importa é dar."

O Remorso

Cometi o pior desses pecados 
Que podem cometer-se. Não fui sendo 
Feliz. Que os glaciares do esquecimento 
Me arrastem e me percam, despiedados. 
Pelos meus pais fui gerado para o jogo 
Arriscado e tão belo que é a vida, 
Para a terra e a água, o ar, o fogo. 
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida 
Não foi sua vontade. A minha mente 
Aplicou-se às simétricas porfias 
Da arte, que entretece ninharias. 
Valentia eu herdei. Não fui valente. 
Não me abandona. Está sempre ao meu lado 
A sombra de ter sido um desgraçado. 



"Apaixonar-se é criar uma religião que tem um deus falível."






Biografia de Jorge Luís Borges:

Jorge Luís Borges (1899-1986) foi um poeta escritor argentino, considerado uma das maiores expressões literárias de seu país.

Jorge Luís Borges nasceu em Buenos Aires. Sua família viajou para a Suíça em 1914, onde passou a viver até 1919, quando foi viver em Madrid.

De volta à Argentina, começou a publicar poemas de inspiração surrealista. Seu primeiro livro foi “Fervor de Buenos Aires” (1923). Em 1938, tornou-se bibliotecário para ganhar a vida. No mesmo ano, morreu seu pai e sofreu uma lesão que quase o levou
à morte.

Em 1943, publicou uma das suas maiores obras: “O Aleph”, considerado pelo crítico Harold Bloom como uma das maiores obras literárias do ocidente. Na obra, Borges sugere imagens e espelhos onde o real confundia-se com a realidade.

Com a chegada de Juan Peron ao poder, Borges foi demitido e obrigado a sustentar-se com ajuda de amigos, que o indicaram para conferências e palestras. Em 1955, foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional.

A cegueira que lhe acometeu fez com que Borges vivesse em reclusão durante boa parte do fim de sua vida.

Leitor voraz, lecionou literatura inglesa na Universidade de Buenos Aires. Borges foi considerado um dos maiores especialistas da língua inglesa da América Latina.

Casou-se aos 86 anos com sua secretária Maria Kodama. Outras obras poéticas importantes de Borges: “Luna de Enfretante” (1925), Cuaderno de São Martin (1929), Poemas (1922-1943), só para citar algumas. As obras de prosa, vale a pena ressaltar: “Inquisiciones” (1925), “História da Eternidade”(1936), “El jardín de senderos que se bifurcan” (1941).

Borges faleceu em 1986, aos 86 anos, em Buenos Aires.






quarta-feira, 15 de abril de 2015

CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA




Após passar a tarde em um motel com sua amante, enquanto os dois ainda estão na cama, ele liga a TV para relaxar. Assiste aos desmandos do governo, demostrando a sua desaprovação silenciosamente. De repente, não podendo mais aguentar tanta corrupção, ele explode:

-Este governo traiu o País! Prostituiu a moral e os bons costumes! Não se pode mais confiar em ninguém hoje em dia. Eu votei nela! Achei que poderia acreditar naquelas promessas, pois confiei de verdade nelas. Praticamente coloquei minha vida e a vida dos meus filhos em suas mãos...E ela traiu a nação, me traiu!

A amante, após dar uma baforada no cigarro, comenta:

-Prostituta!

Antes de sair, ele entrega a ela algumas notas. Dinheiro que deveria ter sido poupado para levar as crianças e a esposa em uma viagem que ele vinha prometendo há anos. Após deixar a amante em uma esquina, para no posto de gasolina para reabastecer. Ao conferir o troco, percebe que o frentista deu-lhe dez reais a mais por engano. Enfia tudo na carteira, pensando: "Hoje é meu dia de sorte!" Coloca um CD pirata para relaxar no engarrafamento, enquanto pensa nos direitos dos trabalhadores que estão sendo violados.

Uma blitz de trânsito o faz parar, e pede para ver os documentos. Ele pensa na carteira de habilitação vencida e nas muitas multas por excesso de velocidade e estacionamento proibido que não pagou. Entrega a carteira de motorista, mas antes tem o cuidado de colocar uma nota de cinquenta no meio. O policial abre a carteira e vê a nota:

-Está tentando me subornar, senhor? Acha mesmo que pode?

Desconcertado, ele balbucia:

-N-não senhor! Eu não tinha visto a nota aí... eu...

O policial debruça na janela do carro, olhando-o por cima dos óculos:

-Trezentos e eu deixo o senhor ir.

Ele encara o policial, e suando frio, puxa duzentos e cinquenta reais da carteira, entregando tudo ao policial. Dá partida no carro, e pelo retrovisor, vê que o policial acena para ele. Morrendo de raiva, chega ao escritório. Em sua mesa, uma pilha de licitações. Ele sequer olha para elas, pois já sabe qual empresa será escolhida. Pensa na gorda comissão que receberá, e no motel de luxo que poderá pagar para sua amante na próxima vez.

À noite, chega em casa e encontra a esposa às voltas com a preparação do jantar e as crianças, ainda vestindo as roupas que usou no trabalho, enquanto varre a casa recolhendo os brinquedos espalhados pela sala. Ele a abraça, e olhando nos olhos dela, declara-se:

-Senti saudades, amor. Pensei em você o dia todo.

Depois, pega uma cerveja na geladeira e senta-se em frente a TV, mal falando com as crianças. Não move um dedo para ajudar a esposa. Após o jantar, liga para o seu melhor amigo:

-Aquela partidinha de pôquer ainda está de pé? Amanhã é sábado e eu não preciso acordar cedo. Vamos?

O amigo concorda. Ele bate a porta atrás de si, dizendo a esposa que precisa voltar ao escritório pois ocorreu um imprevisto. Ela nem tem tempo de protestar. Ele chega à casa de jogos clandestina e perde o salário de um mês inteiro, mas nem se importa, pois lembra-se da "comissão" que receberá na semana seguinte e também na aposentadoria ilícita que seu amigo político está preparando para ele. 

À mesa de jogo, a conversa gira em torno da política e da corrupção. Alguém precisa fazer alguma coisa! Um dos amigos menciona a passeata de protesto na manhã de domingo. Ele promete que vai estar lá.




segunda-feira, 13 de abril de 2015

Pedido




Li o título de uma postagem em um blog que perguntava: "Você tem algum pedido a fazer?" Pensei: tenho sim. Achava que não, mas tenho.

Existe uma canção antiga na qual alguém pergunta: "Se Deus tivesse um nome, qual seria, e você O chamaria por Seu nome se estivesse frente a frente com Ele em toda a Sua Glória? O que você perguntaria se tivesse apenas uma pergunta?" 

Não sei se faria uma pergunta, pois os espaços das minhas perguntas são pequenos demais para captar e conter a essência das grandes respostas; se as formulasse, continuaria com minhas perguntas e mais a sensação de estupidez completa por não ter entendido as respostas. Prefiro ficar somente com as minhas perguntas. Quem sabe um dia elas não respondam a si mesmas?

Acho que eu faria um pedido: não: faria dois. Ou um que pudesse virar outra coisa. Primeiro eu pediria a Ele que fosse paciente com os homens. Ou então, se Ele não pudesse, pediria que aniquilasse com a gente de uma vez, de maneira misericordiosa, ou seja, rápida e indolor. Ou talvez eu tivesse piedade Dele e  não pedisse nada. Quem sabe, eu apenas me sentaria ao Seu lado em silêncio e enxugaria suas Divinas lágrimas?


Corpo






A casa é como um corpo em volta do corpo. Assim como o corpo abriga a nossa alma, a casa nos abriga. Somos a alma da casa. Eu às vezes sinto uma preguiça enorme de fazer as coisas, e quando estou assim, eu não me forço; talvez sejam as energias da casa que estão pedindo mais sossego, menos agitação. Logo depois - sempre acontece - parece que me baixa um "Caboclo Faxinador" e começo a tirar tudo do lugar e limpar. É como se a casa acordasse de um longo sono, ou como se ela e eu fossemos parte de uma orquestra que deve tocar afinadamente.

No momento, estamos bem no meio de um sono. A alma da casa quer sossego. Quer silêncio e pouco movimento. Quando eu tento ir contra essa energia, forçando-me a dar conta de uma pilha de roupas ou varrer todo o quintal, o meu corpo reage: começo a suar, minhas mãos e pés incham e minha respiração torna-se ofegante. Se estou com vontade de limpar, tudo flui sem que eu me canse muito, e de maneira mais rápida... não há inchaço, nem cansaço excessivo. Depois, tomo uma boa chuveirada e ambas - eu e a casa - estamos prontas para o que der e vier.


domingo, 12 de abril de 2015

O ROSTO SOB A FACE







O rosto não mudou; mudou o espelho,
Quando eu nasci, as rugas já estavam lá.
Dormia sob a face de bebê, o velho,
E sob o encantamento da primeira vez
Uma alma já antiga, em desassossego.

Não sei de onde eu vim, não sei quem me fez,
Mas sei, sou ferramenta em algum emprego;
Meu ferro foi malhado por martelo prisco,
Alguém me espeta pregos para ver se eu sinto
E o disco da memória se esqueceu de mim.

Mas sou tal substância; subsisto assim,
Emerjo sempre limpa das imensas fossas.
Minha alma verdadeira se revela aos poucos
Sob as camadas finas que se tornam grossas
E as marcas dos chicotes sobre as minhas costas.


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Guy Consolmagno - O Astrônomo do Vaticano




"Dentro em breve, as nações recorrerão aos alienígenas para sua salvação."


Com mestrado no MIT e pós-doutorado em Harvard, o padre Guy Consolmagno é um dos astrônomos do Vaticano. Nesta entrevista em que relembra a conturbada relação histórica entre ciência e religião, ele defende ambas com a mesma paixão.

Por que o Vaticano tem um observatório astronômico?

O observatório mostra ao mundo que a Igreja apoia, ativamente, a ciência. Isso é importante não só como resposta às pessoas que rejeitam a Igreja por achar que ela é, de alguma forma, anticiência, mas também para mostrar às pessoas da Igreja que a ciência deve ser encorajada. Nas palavras do Papa João Paulo II, a verdade não contradiz a verdade. Num sentido mais profundo, além de servir como ponte entre os mundos da Igreja e da ciência, nosso observatório ajuda os crentes a apreciar as glórias da criação, como uma forma de louvar o Criador. E isso significa fazer ciência de verdade, saber como o Universo realmente funciona, e não apenas presumir que já sabemos tudo. Uma pessoa só pode ser cientista se tiver um grande senso de humildade: para poder abarcar cada problema admitindo, desde o início, “eu não sei, vamos descobrir”.

Como era a relação entre ciência e religião quando o observatório foi criado?

O fim do século XIX, quando a versão moderna do observatório foi restabelecida pelo Papa Leão XIII, foi um período em que muitos, na cultura popular, acreditavam que ciência e tecnologia (com frequência confundidas, como ocorre até hoje) guardavam a promessa de resolver todos os problemas humanos e responder a todas as questões; poderiam algum dia até substituir a religião. Trata-se de um grave mal-entendido sobre o que é a ciência e como ela opera, mas continua a ocorrer hoje. Geralmente, as pessoas que querem fazer da ciência um substituto da religião não são cientistas!

Qual a posição do observatório em relação a Galileu Galilei?

A história da Igreja e de Galileu é, na verdade, muito complicada. Houve momentos em que ele foi altamente apoiado por alguns dentro do Vaticano; em outros, foi condenado. Ele tinha amigos e inimigos poderosos. Há muitos bons livros sobre Galileu e o fato de poucos deles concordarem sobre os motivos que levaram a Igreja a agir como agiu nos mostra que as motivações para o infame julgamento de 1633 não estão muito claras. Eu mesmo não entendo! Mas certamente é mais complicado do que a versão popular.

Como evoluiu a relação entre ciência e religião? Como é hoje?


Na verdade, entre cientistas e entre aqueles que trabalham na Igreja, a relação é excelente. Muitos cientistas são frequentadores assíduos da Igreja. E mesmo os cientistas que são ateus (e eles não são, de forma alguma, a maioria) não têm problemas com os cientistas religiosos. O “conflito” é inteiramente uma criação daqueles, de ambos os lados, que são ignorantes da ciência ou da religião. Com frequência, eles agem desse jeito por medo; e, algumas vezes, esses medos são compreensíveis. Pessoas fizeram muitas coisas ruins em nome da religião. Mas suprimir a religião não as impediria de fazer coisas ruins. Muitas outras também usaram a tecnologia que a ciência apoia de forma ruim. E deter a ciência não interromperia esse abuso.

A posição do Vaticano sobre a Teoria da Evolução de Darwin mudou ao longo dos tempos. Como o senhor analisa essas mudanças?

Não há, nem nunca houve, uma posição oficial do Vaticano sobre a Evolução. Certamente, ao longo dos anos, houve quem levantasse suspeitas sobre a teoria, mas em oposição àqueles que tentavam usá-la como um substituto para a religião — àqueles que, na verdade, estavam dizendo “nós podemos explicar a origem da vida, então não precisamos de Deus”. (A premissa dessa frase não é ainda verdade; e, mesmo se fosse, a segunda parte não logicamente segue a primeira!). Papas só falaram sobre a Evolução em duas ocasiões diferentes (Pio XII, em 1950, e João Paulo II, em 1996). Em ambas as vezes, eles afirmaram que não há nada de errado em explorar as formas pelas quais Deus age, desde que se reconheça que toda a criação é, no fim, o resultado da vontade de Deus. E que o aspecto sobrenatural da alma humana não é algo que possa ser atribuído ao acaso.

A descoberta do bóson de Higgs (a partícula que dota de massa todas as demais e estaria na origem de tudo) deixa menos espaço para Deus?

Me desculpe, mas isso é uma bobagem! A despeito do que pode ter sido inferido do título do livro que descreve a partícula (“A partícula de Deus”, de Leon Lederman), a partícula não tem nada a ver com Deus, exceto como uma manifestação da criação e, dessa forma, indiretamente, um reflexo do Criador.

Então qual é a sua resposta para o biólogo Richard Dawkins (autor de “Deus, um delírio”), quando ele fala do “Deus das lacunas”, ou seja, do Deus que só existe nas áreas que a ciência ainda não conseguiu explicar e que vai ficando encurralado à medida que a ciência avança, como no caso da descoberta do bóson como partícula derradeira?

Acho correto rejeitar a ideia do “Deus das lacunas”. Deus não é uma explicação para toda parte da ciência que ainda não sabemos. Isso rebaixa Deus ao status de apenas mais uma força natural, em vez de o maior e definitivo sobrenatural autor do Universo capaz de evoluir para o que vemos hoje. Ser um ateu significa que você deve ter um conceito muito claro do Deus que você tem certeza de que não existe. Em muitos casos, o “deus” em que os ateus não acreditam é uma versão de “deus” na qual eu também não acredito. O Deus do amor que eu conheço e amo, o Deus das orações, das escrituras e dos sacramentos, esse é um Deus que eu experimentei e que eles, aparentemente, não.

O senhor acredita em vida alienígena? Como a Igreja lida com a perspectiva da descoberta de vida inteligente em outros planetas?


Essa é uma pergunta que aparece a toda hora, que as pessoas vem fazendo há séculos. E a resposta é que não sabemos. Não há uma política “oficial” sobre o assunto, nem deve haver. Não temos ainda nenhum indício concreto de vida fora da Terra, mas, certamente, seria idiota tentarmos estabelecer limites para o que Deus pode ou não ter criado. Teremos que esperar para ver! Enquanto isso, trata-se de uma maravilhosa questão para pensarmos, não porque poderemos dizer algo definitivo sobre as almas dos aliens, por exemplo, mas porque, ao fazer essa pergunta, podemos alcançar uma compreensão mais profunda sobre o que as nossas almas e a nossa salvação realmente representam.

Como o senhor vê o futuro da relação entre ciência e religião?

Nós fazemos ciência porque somos seres humanos com motivações humanas.... cães e gatos não fazem ciência. Essas motivações incluem curiosidade, desejo de saber, vontade de entender e um deleite em participar do Universo. Eu acredito, e acho que muitos cientistas também pensam da mesma forma, que essas motivações são, em última análise, religiosas. Mas pessoas ignorantes sempre vão tentar criar conflitos em nome de seus próprios objetivos pessoais. Pessoas sábias sempre saberão como ignorá-los.

fonte: O Globo (online)






quarta-feira, 8 de abril de 2015

QUERIA






Queria poder tecer a beleza
Com agulhas de tricô mágicas,
Que desafiassem minha falta de jeito,
Minha falta de dom,
Meu tom pretensioso
(Às vezes jocoso)
De dizer o que digo.

Queria enxergar além,
Para bem dentro do meu umbigo,
Para bem fora das minhas órbitas
Longe e perto de mim,
Pegar no ar a beleza...

-Tristeza!
Pois sei que minhas palavras
Não lavram os campos das almas...
No máximo, semeiam ideias
Que morrem de impacto
Às falésias de minhas falácias.

No final, às traças
O que melhor de mim houver,
Memórias e essências,
Restos da tecitura
De uma obscura mulher.


The Logical Song - Supertramp







The Logical Song
(A canção Lógica)   SUPERTRAMP


When I was young
(quando eu era jovem)
It seemed that life was so wonderful
(Parecia que a vida era tão maravilhosa)
A miracle, oh it was beautiful, magical
(Um milagre, ela era linda, mágica)
And all the birds in the trees
(E todos os pássaros nas árvores)
Well they'd be singing so happily
(Bem, eles cantavam tão felizes)
Oh, joyfully, playfully, watching me
(Tão contentes e brincalhões, me observando)
But then they sent me away
(Mas então eles me mandaram para longe)
To teach me how to be sensible
(Para me ensinar a ser sensato)
Logical, oh responsible, practical
(Lógico, responsável e prático)
And they showed me a world
(Então mostraram-me um mundo)
Where I could be so dependable
(Onde eu poderia ser tão confiável)
Oh, clinical, intellectual, cynical
(Clínico, intelectual, cínico)

There are times when all the world's asleep
(Há horas em que todo o mundo está adormecido)
The questions run too deep
(As questões correm tão profundamente)
For such a simple man
(Para um homem assim tão simples)
Won't you, please, please, tell me what we've learned
(Por favor, por favor, não me dirá o que aprendemos,)
I know it sounds absurd
(Sei que isto soa absurdo)
But please tell me who I am
(Mas por favor, diga-me quem eu sou)

Now watch what you say
(Agora, cuidado com o que diz)
Or they'll be calling you a radical
(Ou chamarão você de radical)
A liberal, oh fanatical, criminal
(Um liberal, fanático, criminoso)
Oh, won't you sign up your name
(Assine seu nome)
We'd like to feel you're
(Gostaríamos de sentir que você é)
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable
(Aceitável, respeitável, apresentável, um vegetal)

At night when all the world's asleep
(À noite quando todo o mundo está dormindo)
The questions run so deep
(As questões correm tão profundamente)
For such a simple man
(Para um homem assim tão simples)
Won't you please, please tell me what we've learned
(Por favor, por favor diga-me o que aprendemos)
I know it sounds absurd
(Eu sei que isto soa absurdo)
But please tell me who I am
(Mas por favor, me diga quem eu sou)
Who I am, who I am, who I am
(Quem eu sou, quem eu sou, quem eu sou)



terça-feira, 7 de abril de 2015

Gotejando




Choveu muito aqui no domingo, no finalzinho da tarde. Deitada atravessada na cama, enquanto meu marido assistia a algo na TV, eu de repente comecei a prestar atenção nas gotas de água que se formavam nas pontas das telhas e iam engordando até cair. O vento fustigava os galhos do cedro, e passava zumbindo pela greta da janela. Lembrei-me de que, quando eu era pequena, adorava fazer exatamente aquilo quando chovia: deitar na cama e ficar olhando as gotas caindo das telhas, o céu de chumbo por trás. O pensamento vai longe... quando nos damos conta, ele está muito além das gotas, e as memórias é que começam a engordar e cair.

Passei pelo tempo. O telhado é outro, a casa é outra, minha aparência é outra -estou bem mais velha. Mas a chuva é a mesma: é a água que evapora do chão, lagos, rios e mares, e volta a cair. Em outra casa, em outro tempo, uma menininha que estava dormindo despertou, olhou o mundo e voltou a dormir.


A Culpa Nunca é Minha




Observo muito algumas coisas que vem acontecendo em redes sociais. Uma delas, é a mania que algumas pessoas tem  de sempre tentar encontrar um bode expiatório para as mazelas do mundo. A culpa nunca é nossa, é da Globo, é dos políticos, é dos Estados Unidos. Alguém tem que dar um jeito. Mas não nós. Não somos pagos para isso. Eles que são, que resolvam tudo, e que assumam todas as culpas.

Vejo também muita intolerância. As pessoas tem publicado ou compartilhado coisas horríveis sem nem sequer tomarem cinco minutinhos do seu tempo a fim de verificar a  veracidade do que partilham; dia desses vejo um post afirmando, como se fosse um artigo retirado de um site de notícias, que um deputado famoso estava tentado aprovar não apenas o aborto, mas a licença maternidade para as mulheres  praticantes. Fui ao link, e ao olhar o site por alguns minutos, achei-o estranho; pesquisei no Google durante dois minutos apenas e descobri que o 'jornalista' do tal site não existe. Trata-se de um espaço fake cuja especialidade é difamar pessoas famosas como se estivesse escrevendo textos de humor sobre elas, mas dando um tom de seriedade às notícias para que as pessoas mais ingênuas acreditem e espalhem as fofocas. E nem mesmo após eu ter comentado sobre a inveracidade da notícia, a pessoa que a postou a apagou. Ficou lá, e o político em questão foi submetido ao ódio e às pragas rogadas por todos que não gostam dele.

A Rede Globo de televisão é outro alvo: ela é "culpada" de incentivar o homossexualismo, como se o homossexualismo fosse algum tipo de doença transmissível por satélite. "A culpa é da Rede Globo! Não assistam! Vamos boicotar!"  Ora, se existe ou não exagero naquilo que é mostrado, a solução é uma só: mudar de canal, se não estiver gostando!  A mim não incomoda. Existem coisas que não podem ser mais ignoradas ou encobertas, pois fazem parte do dia-a-dia de todos. Quem não gosta, que ao menos respeite. 

As fábricas de vídeo games e brinquedos tornaram-se as responsáveis pelo aumento da violência; se a criança tem um revólver de plástico, isto significa que ela crescerá e se tornará um bandido. Antigamente, todos os meninos brincavam com armas de plástico e espadas de mentirinha, e a violência nem chegava aos pés do que é hoje. Porém, antigamente os pais eram mais severos. Eles sabiam dar limites aos filhos e mostrar o que era certo e o que era errado. Hoje, se um dos pais for pego dando uma palmada em um filho, poderá perder a guarda deste ou até mesmo ser preso!

 Não há mais revólveres de plástico; as armas hoje são verdadeiras. Às vezes elas projetam balas, e noutras, palavras.



segunda-feira, 6 de abril de 2015

ONDE MORAM AS NUVENS











ALGUÉM






Alguém que não me conhece
Tenta contar minha história:
Escolhe lindas palavras
(Muito embora, equivocadas),
Arranhando, em longas páginas,
Com as unhas, uma face
Onde pensa desenhar
Esboços da minha alma;

Espalha-os,  feito estrelas
Salpicadas num céu negro:
Ah, linhas desordenadas!

Os cometas passam feito
Mil luzes de fogo e água,
E com eles, passam sombras
De uma vil face borrada...
E eu aqui, mãos sob o queixo,
Cotovelos sobre o muro,
Observo o céu noturno
Que de mim, não me diz nada.





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A fofoca, que muitos consideram apenas como uma conversa informal a respeito da vida alheia (e algumas vezes ela até pode ser considerada co...