ESTAS MÃOS.
Poema de Cora Coralina, de seu livro "Meu Livro de Cordel"
Olha para estas mãos de mulher roceira,
esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas, sem trato e sem carinho.
Ossudas e grosseiras.
Mãos que jamais calçaram luvas.
Nunca para elas o brilho dos anéis.
Minha pequenina aliança.
Um dia, o chamado heróico emocionante:
- Dei Ouro para o Bem de São Paulo.
Mãos que varreram e cozinharam.
Lavaram e estenderam roupas nos varais.
Pouparam e remendaram.
Mãos domésticas e remendonas.
Íntimas da economia, do arroz e do feijão da sua casa.
Do tacho de cobre.
Da panela de barro.
Da acha de lenha.
Da cinza da fornalha.
Que encestavam o velho barreleiro e faziam sabão.
Minhas mãos doceiras... jamais ociosas.
Fecundas. Imensas e ocupadas.
Mãos laboriosas.
Abertas sempre para dar, ajudar,unir e abençoar.
Mãos de semeador...
Afeitas à sementeira do trabalho
Minhas mãos raízes procurando a terra.
Semeando sempre.
Jamais para elas os júbilos da colheita.
Mãos tenazes e obtusas,
Feridas na remoção de pedras e tropeços, quebrando as arestas da vida
Mãos alavancas na escava de construções inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulher que nunca encontrou nada na vida.
Caminheira de uma longa estrada.
Sempre a caminhar.
Sozinha a procurar o ângulo prometido, a pedra rejeitada.
Poema enviado por Celso Panza. Obrigada!
Uau! Que lindo e tocante! Mãos de quem viveu, sofreu... lindo!
ResponderExcluirParabéns pela postagem e pelo bloguinho tão gostoso.
rsrs não pude deixar de rir com seu comentário. Era esse mesmo o espírito do "peludinho" rsrs.
Abração esmagador e lindo dia.
Um blogue de muita qualidade com o traço de seu estilo suave. Abraço. Celso
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