Minha cozinha é o local mais fresco da casa durante o verão, pois há duas portas, uma diante da outra, que mantenho abertas (a não ser quando estou cozinhando, ou o fogão não fica aceso), causando uma contínua corrente de ar. Latifa adora deitar-se ali, nos azulejos frios, sentindo o vento, e só sai já ao finalzinho do dia, quando o calor arrefece.
Numa tarde muito quente, após chegar em casa cansada do calor da rua, deitei-me com ela. Imediatamente, ela virou-se de barriga para cima e encostando a cabeça na minha, dormiu. Fiquei desfrutando daquele momento, sabendo que daqui a alguns poucos anos, ela já não estará mais aqui.
Ao mesmo tempo, descobri minha casa de um ângulo que eu nunca tinha olhado: o teto branco, a parte inferior da mesa, as copas das árvores lá fora, o contato do azulejo gelado contra minhas costas. Senti o vento passando por cima de nós, e fiquei escutando as maritacas que passeavam pela tarde quente. Por um momento, esqueci-me de qualquer compromisso ou responsabilidade: não pensei nas aulas a preparar, no jantar a fazer ou nas teias de aranha que já recomeçavam a surgir no telhado da varanda. Deixei-me estar ali, naquele momento, na companhia daquele cão que confia totalmente em mim, a ponto de dormir em minha presença.
Ana, gosto de visitar todos os seus bolgs, mas este me atrai especialmente, talvez porque eu também ame casas em geral e a minha em particular. Este texto refrescou minha noite, neste verão escaldante que estamos enfrentando. Abraços.
ResponderExcluirPassei um bom momento aqui participando deste conto tão suave e prazeroso de compartilhar.
ResponderExcluirAplausos Ana, parabéns...Beijos.
Ana: Lindo e de ótimo conteúdo! Fiquei pensando em sua casa em minha e até na da Lu Narbot. Realmente um texto refrescante.Os ângulos de nossa casa em que colocamos nossa alma, nossa criatividade, nos trazem momentos de reflexões e sedativos para nossos temores e dores.Viajamos com nossa alma poética em devaneios!
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