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terça-feira, 29 de abril de 2014

CASAMUNDO



Hoje acordei pensando no mundo como uma casa onde moram todas as pessoas. Cada qual tem a sua função (ou missão, se assim lhe agradar mais). E nenhuma função é mais ou menos importante que a outra. O importante, é seguir o caminho que se estende diante dos pés, todos os dias. 

Alguns moradores desta imensa casa tem como missão ajudar aos que caem a se reerguerem; é uma missão bonita, mas difícil, e não é para qualquer um. É preciso uma abnegação sem medidas, e um coração que seja aberto e elástico. Muitas vezes, é preciso que aquele que se dedica a outros dedique-se cada vez menos a si mesmo, tornando-se completamente altruísta. Acho que esta é uma das missões mais difíceis que existem.

Outros há que vem a este mundo-casa para governá-lo, administrá-lo,  limpá-lo e criar regras sob as quais os direitos e deveres de todos fiquem mais claros. Pelo que tenho visto, a maioria das pessoas falham nesta missão. Mesmo assim, são muito importantes.

Existem pessoas que vem para guiar espiritualmente aqueles que necessitam de uma direção; há muitos enganadores neste campo, pois a espiritualidade é muito mais do que estabelecer regras para os outros seguirem. Uma pessoa espiritualizada entenderá que cada um está aqui por sua própria razão, e não pregará que a sua missão no mundo é a única que vale a pena, e que quem não fizer o mesmo, estará perdido. A pessoa verdadeiramente espiritualizada não imporá aos outros nenhum cargo que eles não possam levar adiante, e nem criticará aqueles que ela acha não serem tão abnegados quanto ela, pois ela sabe que cada um tem o seu tempo, e que estamos em degraus diferentes no caminho da evolução.

Pois nesse mundo também existem aqueles que vieram com a missão de aprenderem a ser independentes, pensar mais neles mesmos, adquirir autocontrole. Crescer também significa exercitar a capacidade de olhar para si mesmo mais do que se olha para os outros, e todo mundo precisará fazer isso um dia. Porque se temos uma vida a ser vivida, não podemos simplesmente negligenciá-la e dedicá-la inteiramente a resolver problemas alheios, pois isto soa como pretensão e fuga de si mesmo.

Em uma casa, todos são importantes: o construtor, o pedreiro, o engenheiro, o faxineiro, o encanador, o decorador, o cozinheiro. E cada um age melhor dentro do seu campo de trabalho. O engenheiro não pode considerar o encanador como inferior a ele só porque não sabe desenhar e não frequentou uma universidade. O encanador tem uma função importantíssima, que é levar a água – fonte de vida – a todos os cômodos da casa.

No mundo há vários profissionais diferentes: médicos, dentistas, cabeleireiros, estivadores, professores, arrumadeiras, políticos, escritores e poetas, etc. Todos eles são importantes. Um poeta não é menos importante que um médico que dedica-se a salvar pessoas na África; apenas tem uma missão diferente neste momento, e a está cumprindo. Mas esta missão também é importante, mesmo que tenha mais a ver com ele mesmo do que com o resto do mundo. Há várias paradas no caminho da vida, e todos passamos por todas elas na hora certa. Não é justo forçar ninguém a fazer algo para o qual não se sente pronto ou não tem inclinação, pois sabemos muito pouco a respeito uns dos outros e a respeito da grandeza da vida e das pessoas. Não é certo limitá-las ou diminuir sua função apenas porque elas estão em um ponto diferente da caminhada, em um estágio diferente da evolução do caminho.

Já pensaram se, de repente, o cozinheiro começasse a construir paredes, o pintor começasse a escrever poemas e o escultor, a cuidar dos doentes apenas porque alguém disse que seria melhor assim? O mundo seria um caos ainda maior! E quem sabe, não seja por isso que estejamos sempre nesse impasse, sem saber para onde ir ou o que fazer: porque conhecemos muito pouco o nosso caminho, deixando o tempo todo que outros o determinem para nós?

Que eu siga o meu caminho e me encontre comigo mesma: é isso  que é importante. Porque há vários espelhos nessa Casamundo, e é importante que nos olhemos neles, sem máscaras, e vejamos o nosso próprio rosto, e não o rosto das outras pessoas. E quando chegar o meu momento de cozinhar para todos, compor música ou cuidar dos que sofrem, estarei lá, inteira, seja nesta ou em outras vidas.


Um comentário:

  1. Gostei muito deste seu texto e concordo inteiramente com tudo que escreveu... Excelente!
    Beijos,
    Élys.

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