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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Eu Acho...






Eu acho que  a morte deveria ser encarada com mais naturalidade, desde que somos crianças. Acho que deveria ser matéria de currículo durante toda a vida escolar. As crianças pequenas deveriam ser convidadas a conversar sobre a morte de seus animaizinhos de estimação de uma forma natural, sem dramas, e estimuladas a dizerem como se sentem. Os professores poderiam passar por treinamento psicológico a fim de explicar a morte física, dizendo que ela acontece a tudo e a todos que estão vivos, e que é não apenas inevitável, mas também necessária.

Adolescentes deveriam ser levados em visita a hospitais, onde pudessem conversar com pacientes terminais e participar de programas voluntários. Mais do que apenas "Vovó foi para o céu" e "O cachorrinho está no sítio," deveríamos ser estimulados a conviver com a verdade da morte - não falo aqui de religião - como algo físico e inevitável, pois assim, acho que perderíamos o medo dela, e sentiríamos uma dor mais conformada quando chegasse a hora de nos despedirmos de alguém. Também nos sentiríamos mais estimulados a valorizar a vida e as pessoas que nos cercam, pois teríamos a plena consciência de que um dia elas nos deixarão - ou nós as deixaremos.

Mas a morte é tabu; é considerada a pior coisa que nos pode acontecer. É negada e sublimada durante toda a vida. Construímos um mistério em volta dela,  fantasiamos e enfeitamos a morte. Somos acostumados a acreditar que seremos eternos, que ela nunca chegará, e que - pior ainda - só acontece aos outros. Mas finalmente, quando nos vemos diante dela, crescem o desespero e o medo. Não sabemos lidar com toda a carga que socamos lá para o fundo de nós mesmos durante todos esses anos. O que deveria ser encarado como inevitável e natural, torna-se um trauma, e um drama. A vida perde a cor quando descobrimos que o cachorrinho não foi para o sítio, e que a vovó não está dormindo.

Vemos situações nas quais pacientes com câncer tem a verdade escondida deles. Poderiam fazer alguma coisa que planejassem antes de morrer; uma viagem, se possível, escrever um poema, reconciliarem-se com alguém, enfim... qualquer coisa para que pudessem despedir-se adequadamente, da maneira que desejassem; mas como aprendemos e ensinamos que a morte é horrível, mentimos para eles; dizemos que ficarão bons. Acho isto errado... mesmo assim, compreendo que em vista da maneira como somos educados a respeito da morte, esta pode ser a única forma de agir: negando-a a té o fim.

Dizem que existe vida após a morte, no que eu às vezes creio -não sei se por uma certeza atávica e sublimada, ou se por influência externa, ou até mesmo, fuga -mas às vezes, não; porém, mesmo que tivéssemos absoluta certeza de que isto é possível, em nada nos consolaria da ausência real daqueles que amamos. Porque não existem telefones ou internet para o Outro Lado, e nossas crenças vão de encontro à parede das possibilidades remotas (ou não).

Acho que as UTIs são desumanas, quando nos tiram a liberdade de morrer com dignidade, ligando nossos corpos a aparelhos que inflam ar à força dentro de nossos pulmões. Antigamente, as pessoas morriam em casa, quando chegava a hora delas. Hoje, ficam suspensas por máquinas, até que suas peles cubram-se de feridas e toda a dignidade de seus corpos se extingua. Olhamos para elas, e nem sequer as reconhecemos, não vemos naqueles corpos os corpos que nos sorriam, caminhavam entre nós, eram pessoas.

Cobrimos a morte com um véu de mistério e esperança, quando a morte é apenas... a morte. Pelo menos, para este mundo. E se há um outro, ou outros, não há como estabelecermos contato com ele(s). Acho que precisamos aprender a dizer adeus e seguir em frente. Eu ainda não sei fazer isto.

2 comentários:

  1. Como você, não sei lidar com perdas. E sempre refleti sobre esse tabu e sobre nossa falta de preparo para lidar com a morte. Ela não é objeto de uma conversa saudável, nas escolas e no lar. Digo saudável porque poderiam nos capacitar para prosseguir com desapego. Bjs.

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  2. Ana, também eu não sei lidar com a morte.
    Em dezembro perdemos o filho de uns amigos, um jovem, imortal, portanto. Ainda hoje não aceito, não me conformo. Choro por ele que desapareceu, pelos pais, por mim, pelos meus filhos, pelos meus mais profundos terrores.
    Não sei se a banalização da ideia incontornável da morte ajudaria. Não sei! Sei que nunca estamos preparados.
    E, no meu caso, tenho muito mais medo de perder do que ser perdida.
    Beijo, querida.
    gosto muito da tua escrita.

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