Fatos reais; tive a ideia de escrever sobre essas coisas após um post no blog da amiga Ivone- Levitar em Brancas Nuvens- , que li há alguns dias.
Quem nunca viveu alguma coisa inexplicável, algo que todos consideram fantástico ou sobrenatural? A maioria das pessoas já passou por coisas assim, mas prefere calar, pois teme a incompreensão e o escárnio dos descrentes. Por este motivo, estes pequenos milagres cotidianos acabam ficando perdidos na estrada da nossa história, desvalorizados, morrendo de sede no meio da pista... e quando não sabemos valorizá-los ou escutá-los, eles vão se tornando cada vez mais raros, até desaparecerem por completo; é como alguém que bate insistentemente à uma porta, mas como ninguém vem abrir, acaba desistindo e indo embora.
Minha vida, assim como a vida de muita gente, está salpicada por estes fatos considerados 'sobrenaturais' - mas que eu considero apenas percepções normais que todo mundo tem, mas alguns não dão atenção ou importância.
Lembro-me de quando meu pai faleceu, quando eu tinha 22 anos; meses antes, eu tivera um sonho com um homem acompanhado de um menino que vinha à minha casa; ele me dizia que em breve, eu perderia alguém da família. Depois que meu pai morreu, quando eu sonhava com ele, aparecia-me sempre acompanhado por este homem ou pelo menino - ou ambos. Em um dos sonhos, vi meu pai subindo os degraus da casa, cansado (ele sofria do coração, e antes de morrer, precisava parar várias vezes para descansar quando subia escadas). Perguntei-lhe o que estava fazendo ali, e ele me respondeu que estava visitando; perguntei-lhe: "Mas se você está morto, como pode estar cansado?" O homem que o acompanhava respondeu minha pergunta: "Ele não está mais nesta vida, mas continua sendo a mesma pessoa, com as mesmas manias que sempre teve."
Meu avô também sempre me aparecia em sonhos acompanhado de um menino. Certa noite, sonhei que batiam à porta da sala, e era ele. Eu estava um pouco assustada, pois abrir a porta ao avô morto há anos não é um fato corriqueiro. Mas ele chegou como sempre fazia; sentou-se à mesa da cozinha, e eu, criança de novo, sentei-me ao colo dele. Ele me perguntou se estava tudo bem e se precisávamos de alguma coisa. Respondi:"Está tudo bem. A única coisa que precisamos, é do inventário da casa pronto. Já faz dez anos que começamos." Ele ficou pensativo, e decretou que cuidaria daquilo. Uma semana depois - após dez anos tentando finalizar o inventário - o advogado chamou minha mãe ao seu escritório, e pedindo mil desculpas pela demora, entregou a ela o inventário pronto. Coincidência?...
A morte de minha mãe também foi cheia de eventos e sonhos que a precederam, como já narrei aqui neste blog. E o pior ano de minha vida deu-se após um sonho com um eclipse solar, onde eu abria o portão da casa a um misterioso estranho, que no sonho pensei tratar-se de algum aluno do qual não me lembrava bem - um rapaz alto e negro - e imediatamente, o dia escurecia. Eu perguntei a ele se era um eclipse, e ele respondeu: "Não; é o fim do mundo." Os eventos que se seguiram foram terríveis, e duraram um bom tempo.
Por incrível que pareça, às vezes aparece um besouro grande, de antenas longas e enormes, que emite um chiado horrível. Ele tem asas listradas, e gosta de serrar com o ferrão galhos finos de árvores. Tenho pavor deste bicho, pois quando ele aparece, sempre morre alguém.
A maioria das coisas estranhas que me vem, vem através de sonhos. Mas às vezes, também há alguns pressentimentos, que se confirmam ou não. Às vezes eu digo coisas para as pessoas que eu não sei de onde eu tiro; elas simplesmente vem à minha cabeça. Imediatamente após dizê-las, eu me arrependo. Acho que é muita irresponsabilidade afirmar coisas assim sobre as pessoas! Mas ao mesmo tempo, eu sinto que se eu digo, é porque elas precisam saber. Certa vez, disse a uma amiga, que acabara de perder o emprego que ela seria readmitida; eu não queria falar aquilo, mas 'saiu...' ela me olhou de um jeito estranho, dizendo que era impossível, pois já tinha assinado a demissão. Logo no dia seguinte à noite, ela disse que a diretoria chamou-a e deu-lhe o emprego de volta.
Às vezes, quando converso com uma pessoa pela primeira vez, sinto uma atração ou repulsa imediatas. Não é sempre, mas quando acontece e eu ignoro, algo importante (muito bom ou muito ruim) acaba acontecendo entre aquela pessoa e eu, dependendo se o sentimento é de antipatia ou simpatia. O problema, é que eu nem sempre levo meus instintos em consideração...
Dois anos antes de ficar sabendo da doença de meu sobrinho Ricardo - um câncer que o levou em um ano - chegou-me um aluno, também chamado Ricardo, que sofria de um tumor cerebral inoperável. Era sempre emocionante estar perto dele. Certa vez, após uma chuva, olhamos para a vidraça da janela e havia dezenas de pirilampos pousados nela. Interrompemos a aula, e fomos olhar para eles mais de perto. Eles piscavam suas luzes verdes... foi um momento mágico...
Nós conversávamos muito sobre viver e morrer. Já no finalzinho, pouco antes de ele parar de vir às aulas, telefonou-me dizendo que tinha se casado e estava muito feliz. Uma semana depois, ele morreu. Eu ficava pensando: "Por que comigo? O que fez com que este rapaz procurasse logo a mim para ser sua professora? O que faz um paciente terminal desejar aprender inglês?" Durante sua missa de sétimo dia, a mãe dele me disse que eu tinha sido muito importante para ele, e que nossas conversas ajudaram-no muito. Anos depois, durante a doença do meu sobrinho, lembrei-me daquele outro Ricardo, e achei que tudo tinha sido uma preparação...
Às vezes eu fico sentada lá fora no jardim, pensando em todas essas coisas. Nessas horas, acredito que há mesmo um motivo para tudo o que acontece, uma sequência de eventos, e que nada ou muito pouco em nossas vidas é aleatório. Mas a rotina me leva de volta à roda viva dos eventos planejados, onde não há ligações cármicas ou momentos mágicos e inexplicáveis; a vida "real", onde cada um precisa trabalhar para sobreviver e agarrar-se a qualquer coisa que pareça mais sólida. Daí, acho que passou.
Até que acontece de novo.