Quando eu me casei, há vinte e quatro anos, ganhei de presente do meu sogro um abajur que, apesar de não ser peça de designer, eu muito gostava. Era encontrado em lojas populares, e tinha lâminas de vidro na cúpula com desenhos delicados de flores. Mas o que eu mais gostava nele, era a praticidade: bastava que eu o tocasse, e ele acendia. Quando tocado pela segunda vez, a intensidade da luz aumentava, e uma terceira vez, a luz ficava bem forte.
Eu o mantinha em minha mesa de cabeceira, desfrutando de sua praticidade durante a noite quando precisava levantar-me para usar o banheiro. Certo dia, ao varrer o chão, sem querer derrubei-o com o cabo da vassoura, fazendo com que fosse ao chão e se espatifasse em vários pedaços pequenos (era todo feito de vidro). Não sei porque, tive uma reação que eu nunca tivera antes em relação a um objeto: chorei muito de frustração por tê-lo quebrado.
Chorei tanto, que meu marido ficou preocupado, trazendo-me um copo de água com açúcar para eu me acalmar. Até hoje, não compreendi o porquê daquela reação exagerada a um objeto que não era caro ou difícil de encontrar; mesmo assim, não comprei outro igual.
Ontem, ao usar o forno de microondas, coloquei o alimento a ser aquecido em um prato de louça azul que eu adorava, e que já tinha usado no forno várias vezes. Mas ontem, enquanto o forno estava ligado, ouvi um forte ruído, e ao abri-lo, deparei com o prato rachado ao meio... Não sei o motivo, mas imediatamente lembrei-me do abajur que quebrei há tantos anos...
E cheguei a algumas conclusões:
Acho que, naquela época, minha vida andava tão conturbada, que eu só precisava de um pequeno motivo para chorar. Tantas coisas estavam rachadas, que a quebra do objeto representou a quebra de muitas outras coisas - mais tarde, realmente aconteceu. Mas ontem, o prato rachado deu-me uma sensação diferente: senti que era como se a vida, através daquele objeto, estivesse me dizendo que estava na hora de recomeçar: jogar fora os cacos e renovar-me. Renovar minha casa e a maneira como tenho interagido com ela. Abrir portas e janelas, queimar incensos, chamar os anjos para que eles entrem e levem com eles os fantasmas que cismo em manter aqui.
Compreendi imediatamente a mensagem enquanto jogava fora as duas metades daquele prato azul.
Quando um objeto se quebra - dizem - é porque algo precisa ir embora: um pensamento ruim, uma má energia, um hábito que está nos prejudicando. No meu caso, sei exatamente do que se trata...
Olá!
ResponderExcluirBelíssimo texto, um desabafo seu que me fez desabafar tanta coisa por aqui também, agradeço que tenha compartilhado conosco.
Um abraço querida Ana.
que belo texto,obrigado por compartilhar
ResponderExcluirque belo texto,obrigado por compartilhar
ResponderExcluirEu nunca tive um abajur, mas digamos que meu abajur também se quebrou. Fiquei tão emocionado com meu objeto quebrado que me estranhei, nunca fui muito apegado a objetos ou a bens materiais, chorei como um bebê, como há muito eu não chorava, senti uma dor esquisita, uma sensação ruim. Resolvi então buscar na internet algo a respeito do que eu sentia, encontrei seu texto, enquanto o lia as lágrimas rolavam, quando terminei a leitura alguns segundos depois as lágrimas secaram, suas palavras me consolaram e abriram minha mente para ver o que eu tanto queria esconder de mim mesmo, não dá para negar nossos sentimentos, devemos ser sinceros com nós mesmos. A sua experiência de vida me ajudou muito hoje, tive muita empatia com essa história, só tenho a lhe agradecer. Gratidão!
ResponderExcluiré incrível o que as palavras provocam dentro da gente, é como se uma porta se abrisse, é como enxergar uma luz no final do túnel,é incrível,como sentimos fluem através das palavras ...por isso Jesus é o verbo:a palavra, que liberta!
ResponderExcluiradorei vou compartilhar e terá seu nome ok?
ResponderExcluirestou arrasada e foi assim comigo agora a pouco...talvez
por isso esteja tão sensível
Bem interessante seus relatos Ana, opor aqui algumas coisas andaram quebrando, coisas simples , nada de peças de estimação, mas eu cuido logo de joagar sal grosso em cima dos cacos, receita de uma cigana, tudo a ver com seu relato. Adorei !]Bjs!
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