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sexta-feira, 27 de março de 2015

Quintalzinho




Quando eu era pequena, a nossa casa tinha um quintalzinho de terra. Não era muito grande, mas eu me lembro de que minha mãe plantava canteirinhos sob as janelas da frente e nós, crianças, plantávamos couve, alface e cheiro verde na lateral da casa. Na parte de trás, meu pai costumava plantar abóboras que se esparramavam e tomavam quase todo o espaço, e em um terreno baldio, plantei mudas de flores que ganhei de uma vizinha, e fiz um pequeno jardim. Sempre que eu chegava da escola, ia lá para molhar as plantas e afofar a terra. 

Havia dois abacateiros por perto, que tinham sido plantados por meu avô. Eu me encostava no tronco e ficava olhando o sol passar pelas folhas... certa vez, meu pai, que era serralheiro, construiu um recipiente de ferro e colocou-o na ponta de um bambu comprido, e nós colhemos muitos abacates depois daquilo. 

Eu gostava daquele canto da casa, no terreno baldio. Era úmido e silencioso, e a terra preta de boa qualidade garantia lindas floradas de cravos, azaleias, margaridas, beijos e bocas-de-leão. Mas um dia, ao mexer na terra, acabei desenterrando uma grande aranha, de aspecto apavorante. Depois daquilo, eu nunca mais fui ali, e o jardinzinho ficou abandonado, cobrindo-se de mato. 

Hoje, pensando naquilo, arrependo-me de ter abandonado meu jardinzinho porque não soube conviver com a possibilidade de deparar com as aranhas que viviam nele. Aprendi que é preciso ter coragem para viver e enfrentar os perigos que existem pelos jardins da vida, mas também a compreender que, em alguns jardins, existem tantos perigos sob as flores, que é melhor abandoná-los.



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