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terça-feira, 29 de setembro de 2015

50



Quando eu era criança, eu escutava todo mundo falando que o mundo deveria acabar de vez no ano 2000. Lá pelos idos de mil novecentos e setenta e poucos, o ano 2000 era algum lugar improvável em um futuro distante que talvez nunca chegasse. Lembro-me de um dia em que minha irmã - uma delas - chegou em casa na hora do almoço, dizendo que o mundo acabaria quando o planeta Marte se chocasse com a Terra. Naquele momento, eu, que nem sequer sabia o que era um planeta, imaginei uma bola caindo do céu e se espatifando de encontro ao solo de terra batida do nosso quintal. Não entendi como aquilo poderia fazer o mundo acabar. Nem sabia direito o que significava 'acabar.'O mundo deixaria de existir, e ficaríamos todos suspensos no espaço?

Bem, mas só por curiosidade, perguntei a minha mãe: "Mãe, quantos anos eu vou ter no ano 2000?" Ela fez as contas e respondeu: "35. Por que?" Não respondi, e fiz outra pergunta: "35 é nova ou velha?" Ela, que já passava dos 40, sorriu e me respondeu que 35 era mais-ou-menos. Fiquei calada, perdida em meus pensamentos, imaginando que se, afinal de contas, eu fosse uma velha de 35 anos, não tinha importância nenhuma morrer esmagada por Marte.

Mas o ano 2000 chegou, e o mundo não acabou. E vi que 35 anos não era velha. 50 anos sim, era velha. Por causa de um sonho que tive naquela época, fiquei achando que eu morreria aos 42. Porém, cheguei aos 42 vivinha da Silva, e nem sinal da Dona Morte. Infelizmente, aos 46 anos, perdi uma pessoa em minha família que era muito jovem, e compreendi que a morte era bem democrática quanto àqueles a quem ela escolhia para levar, não tendo preconceito de raça, classe social ou idade.

De vez em quando eu me olhava no espelho e me perguntava: "Por que ele, e não eu?" Bem, uma pergunta idiota para a qual não existe resposta... mas como eu ia dizendo, 50 anos é que deveria significar ser velha, e bem velha.

Hoje completo meus 50 anos de vida, e mais da metade do que tenho para viver já se foi. E completar 50 anos de idade me fez perceber que não é nada diferente de ter 49, 48 ou 47. Olhando uma de minhas fotos de três ou quatro anos atrás, vejo que nem mudei tanto assim, a não ser o corte de cabelo... e que sentir-se velha é uma questão de escolha.

Às vezes eu me sinto como se tivesse 120 anos, e mesmo quando eu era ainda bem jovem, na casa dos vinte, sempre me sentia bem mais velha do que eu realmente era, não sei porque. Mas outras vezes eu penso no quanto continuo gostando das coisas que eu tanto gostava, e que não mudei tanto assim nesse aspecto.

Meus ídolos envelheceram. Ver Brian May e Roger Taylor, membros do Queen, na apresentação do grupo no Rock in Rio deste ano, serviu para lembrar-me de que a velhice também é bastante democrática, e chega para todo mundo.

Ou seja: 20, 30, 40 ou 50, estamos aqui pra isso. 

Caramba.




10 comentários:

  1. Ana, querida amiga :

    Li com toda a atenção as reflexões que nos permites ler hoje.
    Muito assertivas, acrescento.
    Mas já fiz 80 em Novembro passado e cá estou teimosamente !
    Por vezes, até me julgo um adolescente...
    Temos que pensar sempre positivo para erguermos uma barreira intransponível ao pessimismo.
    Vivamos cada dia de cada vez e mantenhamos os sonhos.
    Quando já não tivermos sonhos e projectos estamos a caminho do fim.

    Um beijo.

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  2. Pois é Ana, cá estamos no ano 2015 e o mundo não acabou, nem saímos fazendo como a personagem de uma musica que saiu beijando até a boca de ninguém de devia,rsrs. Belo relato da visão de uma criança que logo se mistura ao sentimento de perdas que tanto ainda nos incomoda. Mas que a vida segue e temos que entender esta louca seleção de quem vai partir. Às vezes se revolta mesmo com este técnico com suas escolhas a lá Dunga.
    Mas hoje é dia de falar de coisas belas e gostosas como flores, bolos, sucos, vinhos e Champanhe.
    Uma linda data e viva o hoje o agora com toda arte, pois poesia já é toda você. Eu vou trombando no numero 6 e feliz da vida.
    Carinhoso abraço amiga lá dos anos 2010.
    Bom lhe ver completando mais um ano com sua alegria e arte.
    Parabéns e felicidades sempre.
    Obrigado pela amizade neste bons anos.
    Bju de paz amiga.

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  3. Parabéns, parabéns!
    Ainda outro tanto, outros possíveis 50 para se viver.
    Importa viver e bem!
    Para nós nascidas lá pelos anos 60/70 era tão longe, tão ficção científica o ano 2000 e cá estamos.
    Felicidades!

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  4. Pois foi, Ana...com a escrita, acabei por não te FELICITAR !...
    Ainda vai a tempo, não vai ?
    Então, um beijo especial.

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  5. Olá, querida Ana
    Que vc seja ricamente abençoada em seu novo ano de vida!
    Bjm festivo

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  6. Que bela reflexão, eu também penso que, velhice é coisa que nem sempre podemos definir em idade cronológica, e eu que tenho 66 completados em março e nem por isso me sinto muito diferente do que gostava antes e gosto ainda hoje, as marcas do tempo até que estão sendo generosas para comigo e será contigo também!
    Amei ler, me lembro bem do quanto as pessoas falaram em fim do mundo, sempre houve isso, ainda bem que não acabou e nem acabará, ainda bem!
    Amiga, linda a sua idade, tens mais é que curtir e comemorar, meus parabéns, muita saúde e vitalidade, que essa data se repita por muitos bons anos ainda!
    Abraços bem apertados!

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  7. Pois é minha amiga, eu tinha a mesma impressão que você. Eu achava que no ano 2000 teríamos carros voadores e prédios de fiberglass... tipo aquele filme "O Caçador de Androides". Mas hoje 15 anos depois não vi nada disso, e o tempo não para. Só é velho quem se sente assim.
    Eu também estou na faia dos 50 e me sinto com 10 anos a menos.

    Felicidades querida por completar meio século!
    Bacios

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  8. Parabéns Ana, que seja sempre muito abençoada e surpreendida a cada nova etapa da sua vida, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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  9. O tempo é implacável mesmo. Mas ele tb nos trás a maturidade e com ela a possibilidade de novas escolhas ... Gosto disto ...

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  10. Olá, Ana.
    É mesmo relativa velhice; um cliente meu me disse, faz algum tempo, que se "chegasse" ao 70, estaria muito bom; dias deste encontrei-me com ele, que me disse, marotamente: "estou com 70", mas espero ir aos 90... ou até mais um pouco.
    Abraços.

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