witch lady

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quinta-feira, 12 de abril de 2012

BLOGUEIRA, SEM BOBEIRA.










Estou praticamente 'inaugurando' minha existência como blogueira. Vim de um lugar enoooorme, um site de escritores onde os acessos diários a cada texto podiam chegar a mais de duzentos, dependendo do escritor... para mim, uma simples Joana-ninguém, isso é muito. Às vezes, os meus textos chegavam a atingir cento e tantas leituras em poucos dias. Eu tinha textos por lá, mais antigos, com mais de duas mil leituras.

Mas por aqui eu tenho sentido que, apesar de receber menos visitas, as pessoas que acessam meus textos, por incrível que pareça... os leem! Muitas vezes, lá de onde eu vim, eu recebia alguns comentários que não tinham o menor sentido... apenas para que eu fosse até eles e os comentasse também. Todo mundo que escreve gosta de ser lido, e não há nada de ruim nisso! Mas postar um comentário do tipo 'Linda poesia-visite-me' em uma crônica... cáspite! Havia muita disputa por número de leituras, muita intriga... como se alguém fosse receber algum prêmio por ser mais lido.

Havia muitas pessoas maravilhosas lá dentro, e algumas delas continuam lendo-me aqui no blog, e eu sempre as visito. Visito também as que não me visitam por aqui, pois gosto realmente do que elas escrevem. A diferença de postar lá e aqui, é que lá, o número de leituras e comentários era bem maior, e os textos estavam logo ali. Vir a um blog para ler e comentar, se você não é blogueiro, não é muito fácil. Mas aqui é bem mais silencioso, e eu estou gostando muito também. E eu sinto que posso escolher as pessoas que eu gosto de ler com mais critério: tenho minha lista de leituras. Lá, o universo de escritores é tão grande, que a gente acaba se perdendo uns dos outros, algumas vezes. É como se lá fosse New York, e aqui, uma cidadezinha de Minas. Ambas com suas vantagens e desvantagens.

Ontem eu visitei um blog popularíssimo, e muito legal, o da Fal Azevedo, que escreveu o livro "Sonhei que a Neve Fervia." Ela é blogueira há um tempão. Tem postagens com centenas de comentários... mas não é muito fácil alcançar tantas leituras assim em um blog. Mas querem saber? Descobri que nem estou ligando... aqui, eu me sinto menos ansiosa.

Bem, essa minha vida de blogueira está muito divertida! Se um dia eu resolver voltar lá para o site New York, voltarei bem mais leve. Mantendo sempre, é claro, a minha casa de campo na cidadezinha agradável de Minas. Ou talvez a casa para passar temporada seja lá, e aqui acabe virando minha residência fixa.



ABUTRES






As gaivotas cercam os barcos de pesca,
Fazendo festa,
Enquanto aguardam uma refeição.

Mas muitas preferem o mergulho no mar,
Mirando seus objetivos,
Que nadam sob o brilho das ondas.

Mas os abutres, os pobres...
Estes, ficam na areia,
Torcendo para que algo podre
Lhes seja atirado,
Ansiando pelo que sobra das gaivotas
Ou que elas caiam mortas
Sob seus pontiagudos bicos.

Não sabem nadar, 
E seu voar é sem brilho,
Manchas negras contra o céu...

Os abutres
Sempre regojizam-se
Quando uma gaivota morre.




quarta-feira, 11 de abril de 2012

MEDO DE ESCURO





Ela tinha medo de escuro.

A escuridão pegou-a de surpresa, durante uma tempestade, em uma noite na qual o marido estava fora, em viagem. Ali onde morava, a escuridão era total. De repente, após um trovão, enquanto ela se encaminhava para a cozinha a fim de separar velas, fósforos e candelabros - já prevendo o que aconteceria - a luz acabou. E ela viu-se no meio do corredor negro, no meio da escuridão negra. Lá fora, a chuva torrencial.

Por um instante, ela não pensou em nada, sentindo o pânico que rastejava sinuosamente pelo chão, em direção às suas pernas, para subir por elas e agarrá-la totalmente. O coração dava pulos dentro do peito, querendo sair pela garganta, e ela não conseguia mover-se. Um relâmpago clareou tudo por alguns segundos, e ela deu alguns passos em direção à cozinha, aproveitando a breve claridade.

A chuva fustigava as vidraças. O vento, maldoso, assoviava pelas frestas. Vieram-lhe à mente cenas dos filmes de terror que assistira quando era criança. Disse a si mesma: "Você é uma mulher feita, não há nada na escuridão, apenas o seu medo." Assim, braços estendidos à frente do corpo, conseguiu chegar à cozinha às apalpadelas. E apalpando, abriu o armário. Derrubou algumas caixas de chá até tocar a caixa de fósforos . Também deixou cair a lembrancinha que trouxera da festa de casamento que fora na semana passada, antes de alcançar as velas.

Mãos ainda trêmulas, acendeu um fósforo e localizou o candelabro sobre a geladeira. Dali em diante, pensava, deixaria os três - candelabro, velas e fósforos - sempre ao alcance das mãos. Acendeu a vela, e quando ia virar-se para voltar à sala, onde estava antes, sentiu uma presença muito forte atrás de si. Parou, com o candelabro na mão, sem conseguir virar-se para trás. Um trovão ribombou, fazendo o chão tremer e os copos chacoalharem na cristaleira. Ela fechou os olhos, sentindo o medo voltar. Podia sentir alguma coisa atrás dela, que de vez em quando, tocava seu cabelo.

De nada adiantaria gritar, pois o vizinho mais próximo estava a mais de cinquenta metros, e com aquele temporal, ninguém a ouviria. Decidiu que se ficasse imóvel, aquilo - seja lá o que fosse - iria embora. Fechou os olhos. Um vento que entrou pela fresta aberta do basculante da cozinha apagou a vela. Ela se sentia dentro de um filme de terror, vivendo seu maior pesadelo. Achava que não sobreviveria àquela noite. Começou a rezar, logo ela, que não tinha fé. Prometeu que, se ela conseguisse sobreviver, tornar-se-ia uma católica devota.

Milagrosamente, a chuva começou a diminuir. A luz voltou, piscou algumas vezes e depois estabilizou-se. Ela sentiu os músculos retesados irem se afrouxando aos poucos, e suspirou, aliviada. Ao olhar para trás, deparou com a enorme borboleta Monarca pousada na parede.

Esqueceu-se de todas as suas promessas de fé e dedicação eternas.



O CÂNTARO






Caminha a menina pela trilha assombreada
Em meio a silenciosa floresta cheia de vida
Quando, no meio do caminho, ela tropeça
Em alguma coisa que parece um caco,
Semi-enterrada...

Ele interrompe a caminhada,
E, abaixa-se para ver melhor:
Vislumbra uma coisa branca de cerâmica
E passa a desenterrá-la cuidadosamente
Com uma pedra pontiaguda que encontra:

É um antigo cântaro.
Ela o leva até o riacho
Lavando a lama que o encobre
Até que percebe um brilho de raio de sol
Sobre a sua superfície branca.

Ela logo por ele se encanta,
Levando o rosto junto à abertura,
Produzindo um som disforme com a voz:
"Hoooooooo!"
"Hoooooo!" , Responde o eco.
Ela sorri, pensando ser uma fada a responder-lhe.

Agora, de volta à casa,
Carrega junto ao peito o branco achado.
Pensa em colher flores para orná-lo,
E junto à sua escrivaninha colocá-lo.
Pensa que as pessoas, ao vê-lo,
Hão de admirá-lo;
Afinal, é um cântaro que canta!

Assim, ela o faz; lava-o bem,
Enchendo-o com água pura e fresca,
Botões de lírios e pequenas violetas.

Mas logo chega alguém do mundo adulto,
E ao contemplar o cântaro, abismado,
Demonstra seu escândalo, e resoluto, 
Apanha-o de sobre o móvel, bradando:
"De onde veio isto, ò menina?"

Ao mesmo tempo, apanha-o sem cuidado
Derrama a água e as flores pelo chão
A criança, com os olhos rasos d'água, nada entende,
Mas o adulto explica, paciente:

"Ainda bem que o vi, tivestes sorte!
Pois a urna que tomaste como um cântaro,
Um vaso para as flores,nada mais é
Do que uma urna funerária, e traz má sorte!"

Foi desde então, a partir daquele instante,
Que ela aprendeu a temer a morte.

A LIBERDADE










A Liberdade


A liberdade
É poder escolher livremente
A qual fio
Se deseja ficar preso.


A liberdade
É poder escolher as amarras,
As masmorras
Aonde tu melhor cabes.

A liberdade
É sorrir,
Mesmo sabendo que morres,
E sonhar com o infinito
Que te acolhe.

A liberdade,
Ah, essa vadia,
Que te tolhe e te encanta
Com sua melodia,
Esta, que ninguém canta,

Pois a letra é recitada
Em uma língua desconhecida...

Liberdade,
Oh, ave sacripanta!



A fé remove montanhas?








Algumas pessoas acreditam que a fé remove montanhas. Eu tenho certeza que não.

Mas também estou certa de que a fé poderá nos levar a conseguir a quantidade de dinamite que necessitamos para remover a montanha. Montanhas e obstáculos são corpos sólidos, enormes, e não serão removidos, jamais, apenas com fé.

Mas mesmo quando usamos uma enorme quantidade de dinamite, a montanha poderá ser tão grande e tão sólida, que não conseguiremos removê-la, nem com todo o nosso esforço, mesmo que passemos anos tentando.

Neste caso, a fé nos ajudará a achar um caminho para contorná-la. Ou escalá-la.

Ou quem sabe, a serenidade para convivermos com a montanha, incorporando-a à nossa paisagem diária. Poderemos acabar achando-a bonita. Pode ser até que venhamos a descobrir que ela está ali para proteger-nos do vento e das tempestades. Quem sabe?

Muitas vezes a gente se encontra diante do inevitável. Viver é estarmos sujeitos a mudanças bruscas, a qualquer momento. Nem dá tempo de pensarmos muito, ou de aceitarmos estas mudanças, mas com o tempo, vemos que é a única coisa a ser feita. A vida não esperará que estejamos prontos, mas se soubermos ler os sinais ao longo do caminho, se prestarmos atenção, poderemos estar melhor preparados para o Grande Momento Inevitável - que pode ser a perda de um emprego, uma morte, uma doença.

O que há do outro lado da montanha?

Estamos acostumados a nos acostumarmos. Uma cadeirinha, e pronto: logo nos sentamos nela, e para não perdermos o lugar, podemos permanecer sentados durante toda a festa! Com certeza, não perderemos o lugar, mas perderemos... a festa! Eu acho que a montanha que aparece de repente no meio da nossa vida, pode ter esta função: fazer com que nos levantemos. Fazer com que passemos a agir! Fazer com que, finalmente, FAÇAMOS ALGUMA COISA DIFERENTE.

Ah, mas é fácil? Não. Quem disse que é? Mas eu acredito - tenho fé - de que existe um lugar certo para todo mundo nessa vida. E que, quando não estamos satisfeitos, ou quando a montanha surge, podemos tranquilamente, nos levantarmos e procurarmos outros lugares.

Muitos dizem não terem fé porque não acreditam em Deus. Mas eu acho que podemos ter fé em várias coisas, não necessáriamente em Deus; podemos ter fé na vida, em nós mesmos, na fitinha do Bonfim, na espada de São Jorge (plantinha que muitos acreditam proteger a casa), ou seja lá no que for. Até mesmo no grão de mostarda. Mas acredito que a fé mais importante, é a fé na vida.

Não podemos nos comportar como crianças mimadas. Não podemos esperar que tudo sempre aconteça do jeitinho que queremos, ainda mais agora, nesses tempos de mudanças rápidas. Temos que ter resiliência. Temos de nos adaptarmos ao recipiente que nos contém. Ou procurarmos outro recipiente.

A DIFÍCIL ARTE DE SER






Muitas vezes, as pessoas em quem você depositou sua confiança irão decepcioná-lo. Pessoas que você se acostumou a ver como amigas poderão traí-lo e fazer coisas que você não esperava. A maneira mais rápida de decepcionar-se com alguém - e viver se decepcionando - é esperar atitudes das pessoas, porque elas estão prontas a serem apenas aquilo que é de sua essência. Se você esperou mais, é porque não soube ler nas entrelinhas.

Viver é difícil, quando se perde os detalhes...

Exatamente por isso, há muito tempo não espero nada de ninguém, e jamais me precipito a chamar alguém de 'amigo.' Meus amigos são escolhidos com muito cuidado. Talvez por causa disso, há muito tempo não me decepciono!

E, se por um acaso, alguém tenta me ferir, eu sempre penso no porquê de eu ter atraído aquela situação para minha vida, pois sei que somos todos responsáveis pelo que entra e sai de nossas vidas. Responsabilizar outras pessoas pelo mal ou pelo bem que nos acontece é irresponsabilidade. E, assim como eu atraio certas situações, posso também repelí-las, caso sinta-me infeliz com elas. Abrir e fechar portas são atividades corriqueiras da vida. Não sou de reclamar. Não cultivo autopiedade. Não acho que eu seja uma pobre vítima a quem alguém possa estar ferindo sem nenhuma razão, e nem me vejo como estando indefesa diante das situações que a vida apresenta.

Se alguém me desagrada, tenho algumas alternativas:

-Responder à altura. O que faço, quando acho que vale à pena. Principalmente se eu estiver indo em defesa de alguém que amo, e que foi, inadivertidamente, atingido pela sujeira que me jogaram.

-Ignorar. Isso eu faço quando nem vale a pena o aborrecimento. Ou então, dependerá de meu senso de humor no momento... 

-Conversar e tentar resolver a situação - quando a pessoa em questão for muito importante para mim.

Viver é estar exposto. É ser alvo. Viver não é para os frágeis. Todos nós, um belo dia, teremos que cruzar pântanos. É quase impossível passar por um sem ser respingado pela lama que lá está. Mesmo assim, prefiro cruzar meus pântanos a estagnar à beira da floresta, lamentando-me pela lama do caminho.



Eu Hoje Amanheci Pensando...





Ao abrir dos olhos,
Uma lembrança veio,
E outra, e mais outra...

Uma voz, um sonho,
Um sentir tristonho,
A saudade intensa
E que não descansa...

Ah, vida, por que,
Diga de uma vez,
Por que vem, assim,
A saudade em mim?...

O melhor seria
Não sentir, não ver,
Eu me esqueceria,
Não... não esqueceria!

Pois você passou
Como um raio afoito,
Um rasgão de luz
Pelo céu da tarde...

E deixou de si
Uma vida breve,
Uma vida inteira,
Uma vida ...



terça-feira, 10 de abril de 2012

Aparência









Tantos rostos, tantas faces
A vagar por estas ruas
Entre as minhas e as tuas!...

Vem o tempo, muda a cara,
Mas aquela coisa rara...
Nem o tempo a envelhece!

Aparentemente, a mente
Se disfarça muito bem
Entre caras, entre bocas...

E as veras emoções
Disfarçadas de intenções,
Ah, são poucas, muito poucas...

Quem me dera ter na face
O olhar surpreendido
De quem enxerga um bom disfarce!

Pois quem sabe, a minha face
E a tua, se mesclassem
Sublimando toda classe!




Olhe em Volta!






Estive pensando nas vezes em que as pessoas se entristecem por não se darem ao 'trabalho' de olhar para o que está em volta delas. Elas não sabem o quanto minam o próprio poder de viver e crescer, ao dizerem coisas como "Não sou capaz..." ou "Eu seria mais feliz se..." Acredito que o mundo é um lugar muito bem planejado - pelo menos, na ideia original, e que existe um lugar e um motivo para todos que estão aqui. Quem sabe, eu não tenha nascido para ser uma cantora rica e famosa, mas tenha uma missão de vida que está aliada a algum outro talento? E quando gasto meu tempo tentando seguir caminhos que não são meus, tudo o que ganho é frustração e tristeza... que acaba virando uma revolta contra a vida!

Mas como consigo descobrir meus talentos? Um dia, li uma frase que dizia que, um talento se revela quando, ao fazermos alguma coisa, sentimos tanto prazer, que nós o faríamos de qualquer maneira, mesmo que de graça. Concordo com esta frase em parte, pois na vida, todos precisamos ganhar dinheiro. Se não conseguirmos ganhar dinheiro através de um talento, isto não significa que devemos deixá-lo de lado. Existem maneiras para que possamos conseguir fazer aquilo que amamos e que nos realiza, e ao mesmo tempo, ganharmos o dinheiro que precisamos através de algo que fazemos para nossa sobrevivência; mas o ideal, é que consigamos alinhar nosso talento ao nosso ganha-pão... mas a vida nem sempre corresponde ao que acreditamos ser o nosso 'ideal.' Afinal, do quê nós realmente sabemos?

Acho importante cultivarmos sempre alguma magia... existe uma coisa mágica na vida que faz com que ela seja ... uma mágica experiência! Mas para que possamos sentir e viver esta magia, a magia das coisas que acontecem, precisamos fazer uma coisinha bem simples, da qual frequentemente nos esquecemos: olhar em volta. Ser feliz agora. Com o que eu tenho. Desejar mais, mas sem nunca maldizer o que já tenho. Há tanta gente que odeia a casa onde mora, a cidade , o trabalho que faz... e passa tanto tempo cultivando essa negatividade, que não pensa em mais nada! O outro vira sempre o inimigo, o depositário de todas as frustações... quando tudo o que cada um vive, tem a ver consigo mesmo!...

Quando projeto no outro a culpa pelos meus problemas, é porque existe alguma coisa EM MIM que eu não estou conseguindo enxergar (talvez nem sequer esteja tentando). Eu não estou olhando para dentro de mim. Também não estou olhando em volta, para a vida, para as oportunidades que passam por mim, me olhando de soslaio, e que deixo escapar sem nem sequer esticar um braço na direção delas. Eu mesma faço isso de vez em quando... quando percebo, o momento passou. Acho que é um vício maldito da condição humana, mas ele precisa ser extirpado. Bem, o primeiro passo, é percerbermos o que estamos fazendo, e reverter o círculo vicioso.

Tenho tentado. Quero conseguir.


Inocência










A inocência 

Deixou o mundo

No último trem

Da fantasia.




Levou consigo

Muita alegria,

E um bom pedaço

Da tal magia.




Ouvi dizer

Que atrás de si

Ela esticou

Um longo fio...




E deu-lhe o nome

De esperança,

(Só a alcança

Quem acredita).





segunda-feira, 9 de abril de 2012

OUTONO







Dos goles que tomo

Da vida

Os melhores

E mais longos

São no outono.




Ah, semi-sono burlesco,

Entre folhas ressecadas

E brotos por nascer!

Tanto a se dizer,

Nada a se antever,

Nem verão!...




O outono

É o sono da vida,

Sono leve, desejado

Depois de um verão cansado...

Versos Gratuitos





De dentro de mim, jorram versos,

Palavras que vem de minha alma

E que se derramam, de graça,

Pelo vasto espaço cibernético.

Mas sei, quando alguém me cobrar

Um dia, pelos versos que faço,

Para eu ter direito ao espaço,

Restar-me há uma saída:

Em brancas folhas de papel

Hei de derramar minha vida,

Esquecendo-a pelos bancos

Das praças, parques e igrejas...

Talvez venha a chuva, e as lave,

Levando-as na correnteza,


Talvez venha o sol e as queime,

Desbotando-as, com certeza...

Ou, quem sabe, alguém as leia

Guardando-as dentro de um livro?

Se for este seu último abrigo,

Terei, finalmente reunidas

As partes de minha vida.


Como o Dia







Assim, despede-se o dia
Do seu tempo de viver:
Entre laranjas , vermelhos,
E um raio de sol a morrer...

Um último grito de pássaro,
Cigarras no meio do mato
Cantando a não mais poder...

Despede-se o dia, sem dores,
Sem saudades ou temores,
Por trás daquela montanha,
Ele apenas adormece.

Vem a noite, ele se entrega
Ao seu escuro abraçar,
Sem receios do que é negro,
Sem desejos de brilhar.

Desperta o dia, sem planos,
Sem caminhos tracejados,
Entre amarelos, vermelhos,
Mil tons de um lindo rosado...

Desperta o dia, entre os risos
De um coral de passarinhos
Quer chova, quer faça sol,
Erguem voo de seus ninhos.

Vem o dia, vai-se o dia, 
Chega a noite, vai-se a noite...
Os rosados e amarelos,
Os laranjas e vermelhos,
E os pretos cravejados,
E a lua nacarada,
E eu aqui, ao teu lado...




TRAUMAS





D. Aldair era nossa vizinha de muro, ou seja, para falarmos com ela, bastava chegarmos até o muro e chamá-la. Éramos realmente muito próximos: meus pais, com seus cinco filhos, e ela e o marido, com seus seis. As idades (dos filhos, que eram tantos) regulavam umas com as outras. Ou seja, eu era amiga das duas filhas menores, minha irmã do meio dava-se bem com a filha do meio e minhas duas irmãs e meu irmão mais velhos gostavam de conversar com os filhos mais velhos dela.
Desde que eu nasci eu a tive como vizinha. Não me lembro de um dia sequer em que nós precisamos e não a encontramos. É claro, nós, crianças, tínhamos as nossas brigas. Mas logo ficava tudo bem.
Dona Aldair tinha seus agregados esporádicos. Caridosa, viva recolhendo pessoas em sua casa, que ela colocava para dormir no sótão.
O sótão era grande, escuro e empoeirado, cheio de coisas misteriosas, antigas, e também de retalhos coloridos que às vezes pegávamos para fazer vestidos de boneca (dona Aldair era costureira). Eu e minha irmã adorávamos quando ela precisava sair e pedia que minha mãe olhasse as duas meninas mais novas, pois nós íamos para a casa dela, que era a única vizinha nas redondezas que tinha um telefone naquela época, e ficávamos passando trotes e brincando de assombração.
Um dos agregados de D. Aldair foi um rapaz mudo, chamado Carlos. Ele apareceu do nada, e através de seus "Ahhs e Hãns" deu a entender que estava com fome e não tinha lugar para passar a noite. Claro, Dona Aldair acolheu-o em sua casa e deu-lhe morada no sótão. Em troca, ele varria o chão, lavava a cozinha e consertava o telhado. Nas horas vagas, Carlos lia gibis. Tinha pilhas deles.
Minha irmã logo se entendeu com ele, e conseguiu comunicar-se o suficiente (cada um do seu lado do muro) para descobrir algumas coisas interessantes; por exemplo, Carlos não tinha pai. Os dois eram da mesma idade. Os dois eram fãs do Pato Donald.
Carlos era geralmente alegre e engraçado, a não ser em uma ocasião: Roberto Carlos 'bombava' naquele tempo, e tanto minhas irmãs quanto as filhas de D. Aldair tinham muitos discos de vinil do Roberto. Toda vez que alguém tocava a música "Traumas", Carlos chorava.
Eis o que me lembro da letra, embora não tenha certeza que esteja correta, afinal, eu tinha uns seis anos naquele tempo:
"Meu pai um dia me falou
Pra que eu nunca mentisse
Mas ele também se esqueceu
De me dizer a verdade
Da realidade do mundo
Que eu ia saber
Nos traumas que a gente só sente
Depois de crescer.
Falou dos anjos que eu conheci,
Do delírio da febre que ardia
No meu pequeno corpo que sofria
Sem nada entender.
Minha mulher em certa noite
Ao ver meu sono estremecido
Falou que os pesadelos são
Algum problema adormecido.
Durante o dia a gente tenta com um sorriso disfarçar
Alguma coisa que na alma
Conseguimos sufocar.
Meu pai tentou encher de fantasia
E enfeitar as coisas que eu via
Mas aqueles anjos agora já se foram depois que cresci.
Na minha infância agora tão distante
Aqueles anjos no tempo eu perdi.
Meu pai sentia o que eu sinto agora depois que cresci.
Agora eu sei o que meu pai
Queria me esconder
às vezes as mentiras
Também ajudam a viver.
Talvez um dia pro meu filho
Eu também tenha que mentir
Pra enfeitar os caminhos
Que ele um dia vai seguir..."

Nós, cruéis como toda criança, gostávamos de cantar as primeiras estrofes, só para ver o Carlos chorar.
Um dia, Dona Aldair descobriu que Carlos não era mudo, e que fugira de casa. Seu pai não tinha morrido. Ele tinha inventado aquela estória toda, talvez para para ajudar a si mesmo a viver, como dizia a música, enfeitando seus caminhos. Quem sabe, a verdadeira estória de sua vida fosse muito mais triste...
Logo, Carlos estava tagarelando normalmente. Assim como veio, ele sumiu um dia, carregando consigo seus gibis e seus traumas, e nunca mais voltou.









À Noite










À noite



À noite,
Quando vagam os espíritos
Pela casa silenciosa,
Sinto-me em paz.
Nada têm a me dizer,
Apenas observam,
E nunca me condenam.

Sinto sua presença esvoaçante
De pura transparência suave
A roçar minha alma.
nada temos a dizer,
Apenas nos sentimos
E, sobrepostos,
Convivemos.

À noite,
Quando bebo de mim mesma
Até a embriaguez
Me reconheço,
E sei que não careço
Nem de ti, nem de ninguém.
Amém!


**

Mínimos Poemas









Trança

A trança dos cabelos
Da bela jovem
Desciam pelos seus ombros,
Pesava-lhe o futuro.

_ o_ o _


Um cão

Um cão cheirava o ar,
Como a entrever presságios
O pelo arrepiava,
Um uivo se preparava...

_o_o_


Sonhos

Matéria esgarçada,
Tão frágil, tão pó,
A dos meus sonhos!...

_o_o_


Confidências

Contei-lhe um segredo,
Soprei-o até seus ouvidos...
Mas o vento, que me ouvia escondido,
Espalhou-o.

_o_o_








O que nos Aguarda?






Dormi mal... fruto dos muitos chocolates que ingeri ontem e nos dias que antecederam a Páscoa. Para completar o quadro, acordei às quatro da manhã com minha cadelinha chorando na porta da sala. Levantei-me para ver como estava, e ela andava de um lado para o outro, aflita, choramingando sem parar. Apertei os seus ouvidos, tentando identificar alguma dor, e com algodão embebido em álcool, limpei-os, mas não achei nada de anormal. Dor de ouvido descartada, fui verificar o canil; será que tinha algum bicho por lá? Negativo... Apalpei-lhe as costas. Nenhuma marca ou calombo que indicasse picada de algum inseto ou aracnídeo. Acho que ela pode ter tido um pesadelo... estava muito nervosa, respiração ofegante, andando de um lado para o outro.


Bem, fiz-lhe um pouco de companhia, dei-lhe leite morno para beber e ela se acalmou. Voltei para a cama às cinco da manhã, e levantei-me às seis. Verifiquei meus emails, e daqui a pouco, estarei preparando minha primeira aula do dia.


Pelo menos, isto é o que planejo fazer, porque, na verdade, não sei o que me aguarda. Você sabe? 

Lidar com a imprevisibilidade da vida nem sempre é agradável. Planejei dormir uma boa noite de sono, e não pude. Claro, em parte, por consequência de meus próprios atos. Há muito, decidi que fazer planos muito rígidos é o mesmo que submeter-se à constantes frustrações. Planos devem ser traçados, mas sempre com certa abertura, e compreensão de que, nem sempre, aquilo que planejamos se dará como queremos. A vida pode nos surpreender logo ali, ao virarmos a esquina.


Lembro-me de algumas vezes em que aquilo que eu planejei, tomou caminhos completamente diferentes, e do quanto eu me lamentei, na época. Para logo depois, compreender que, se as coisas tivessem saído exatamente como eu tinha planejado, teriam sido um desastre... a vida e sua imprevisibilidade me salvaram de mim mesma.

Por isso mesmo, por pior que sejam as coisas, acho que é sempre bom acreditar em uma sabedoria maior, que nos guia no caminho certo sempre que o permitirmos.



sábado, 7 de abril de 2012

Não Ser Amado







Não ser amado

Não ser amado é a mais profunda agonia
De um coração que está sozinho a ruir.
Não ser amado é como não existir.

Não ser amado é ser qual planta num vaso,
Sem ser regada, sem perfumar, sem florir.
Não ser amado é como não existir.

Não ser amado é ser mendigo na noite
Que estende a mão em um inútil pedir.
Não ser amado é como não existir.

Não ser amado é estar diante do nada,
Tornar-se mudo, não desejar, não sorrir.
Não ser amado é como não existir.

Não ser amado é ser um féretro só,
Que é sepultado sem que rezem por si.
Não ser amado é como não existir.



Minha Mãe, Velhinha!








MINHA MÃE, VELHINHA!


Ninguém fica pra semente,
Mas sempre é surpreendente
A meneira como a velhice
Se esconde, atrás da gente,
E não mais que de repente,
Pula bem na nossa frente!

Minha mãe está velhinha,
E nos olha, entre as ruguinhas,
E algumas dores recentes...

Sob as roupas coloridas,
Pulserinhas e colares,
Cabelo penteadinho
E perfume de alfazema,
A minha mãe entra em cena.

Não quer saber de doutores,
E nem de tomar remédios...
A memória, já falhando,
Lembra sempre as coisas boas,
Mas também se esquece, à toa!

Quanto tempo 'inda lhe resta
Para que ela permaneça
Nesta vida, nesta festa?

A idade não é nada,
Pois existe muita gente
Que à flor da vida, é levada!

E quem sabe, eu possa ir antes,
E ela ainda permaneça
Por aqui, por muito tempo?

A resposta?
Está no vento...



Parceiros

CINCO QUILOS

        No seu conceber, Cinco quilos me separam da esbelteza. Cinco passos, até que eu seja O 'eu' Que você deseja.   Cinco meses, ...