Achei esta imagem no Google. Esta é exatamente a boneca que eu sonhava, com a mesma roupinha e as mesmas botas brancas. |
Eu Era menina ainda. Esperava pelo natal e pela boneca que pedira. Começava a sonhar com ela em meados de setembro, pouco antes do meu aniversário, pois já tinha sido avisada de que a grande boneca que eu sempre sonhara, mais uma vez não chegaria. Quem sabe, no natal? E sonhando, eu a imaginava (e ela era como uma criatura viva). Escrevia-lhe cartas, criava uma personalidade e um nome para aquela boneca que nunca entrou na minha vida. E o tempo demorava a passar.
Embora o Natal parecesse não chegar nunca, esperar e sonhar era o mais gostoso. Instintivamente, eu sabia que não ganharia a boneca, pois ela era cara demais e meus pais não tinham condições de comprá-la para mim, mas nada me impedia de sonhar, e ela já era real, existia em minha mente e nas cartinhas que eu escrevia para ela.
Às vezes, íamos à loja na qual ela estava, exposta ao público, enorme – era quase do meu tamanho – os olhos azuis de vidro fitando um mundo que eu ansiava desvendar. E eu tocava a sua mão de borracha macia, admirava seu vestido e seus cabelos encaracolados.
A moça da loja me disse que ela andava, e que para isso, bastava que colocássemos pilhas e fôssemos puxando-a para frente. Quando minha mãe dizia que tinha que ir embora, eu ia de mãos dadas com ela, olhando para trás até que a boneca desaparecesse entre as muitas pessoas que circulavam pela loja.
O Natal chegava, e a tão sonhada boneca, não; mesmo assim, após o momento de decepção, eu acabava me alegrando com a boneca bem menor que eu recebia. E continuava sonhando com ela, escrevendo-lhe cartas, tornando-a cada vez mais real na minha vida.
Certo dia, ao passar pela calçada da Rua Paulo Barbosa (eu já estava casada naquela época), olho para cima e vejo, na vitrine de uma loja que consertava brinquedos, a boneca que eu sempre sonhara. Continuava com seus olhos azuis fitando o vazio, braços estendidos à frente do corpo, esperando que eu fosse busca-la. Eu estava com minha mãe naquele dia, e ela me disse: “Veja! Agora você tem condições de comprá-la!” Pensei um pouco, e concluí que certas coisas tem seu tempo, e que a boneca, que antes era uma criatura viva e com personalidade definida, agora não passava de uma simples boneca, sem vida e sem magia.
O tempo passou rapidamente depois daquilo – é engraçado, mas nos dias de hoje, em que tudo é muito e os fatos e informações acontecem tão rapidamente que a gente nem tem tempo de assimilar, o tempo parece que se dissolve e é levado pelo vento, junto com pedaços da gente. Lá se foi a minha infância. Lá se foi a minha juventude. Estou entrando na última fase da vida.
A boneca ficou para trás, como um velho amigo de infância por quem passamos na rua e com quem um dia tivemos muito em comum, mas que a vida e suas urgências afastou de nós para sempre.
PS: Meu número de seguidores vai diminuir drasticamente, pois estarei deixando de seguir vários blogs que eu acompanho há muitos anos, desde que entrei nesta plataforma em 2012, e que apesar de serem meus seguidores, jamais entraram em minhas páginas para deixar um comentário sequer. Blogs que decidi seguir porque achei-os bacanas, e também porque eles começaram a me seguir primeiro, e eu acompanhei. Sei que não tenho tido tanto tempo para ler e comentar todos que eu gostaria, mas apesar da falta de tempo e da conexão de internet quase sempre lenta, de vez em quando, eu estou lá. Mas quando alguém que a gente lê e comenta jamais nos lê ou comenta, é porque ou não gosta da gente, ou então não gosta do que escrevemos.
oi Ana,
ResponderExcluirA vida é assim a gente quer uma coisa sonha, e passa o tempo e parece que tudo perde a graça.
Lembro que essa boneca era cara e extremamente linda.
bjokas =)
Amiga Ana, lendo seu texto me senti em minha infância também, com minhas lindas imaginações e não foram realizados os sonhos exatamente porque meus pais também não podiam me dar a boneca ou o brinquedo desejado!
ResponderExcluirAmei ler aqui e deixo um abraço bem apertado!
Que lindo,Ana! E a boneca, lembro bem dela! Mas tuas palavras mais lindas que ela! bjs, chica
ResponderExcluirBoa noite, querida Ana!
ResponderExcluirSabe o que fiz com meu desejo? Comprei uma igualzinha pra filha e me realizei por completo vendo-a brincar... mas tudo enquanto se pode, claro!
Bjm muito fraterno
Ah nossa infância foi muito gostosa. Lembrei da bonequinha ,afinal tinha várias irmãs e amiguinhas. Saudades...
ResponderExcluirOi Ana, tudo bem? Nossa, realmente gostei desse texto. A vida da gente vai se esvaindo, as coisas vão passando. Parece que foi ontem que fiz 15 anos e hoje já estou com 22 anos. Sei que sou jovem, mas essa passagem do tempo me assusta. E se eu chegar aos 30 sem ter feito o que sonhava fazer? Beijos.
ResponderExcluirBoa noite, Ana, a boneca desejada não é mais que um símbolo, não é mesmo?
ResponderExcluirQuis bonecas como muitas meninas e já com 13 anos, ainda trabalhando no bar com meu pai, sem nunca receber nada, um dia me deu 3 cruzeiros, que gastei, sem demora, na Clipper que era na esquina, da rua do bar do meu pai, na compra de l calcinha de renda rosa.
Quando me perguntou o que havia feito com o dinheiro, respondi logo, - Comprei uma calcinha!
Pra mim era tudo que mais queria, já que só recebia a roupa, que a minha madrasta jogava.
Nunca mais me deu dinheiro e eu lhe entregava, todo mês, o meu envelope fechado, quando aos 18 anos, saí de casa e fui trabalhar na Volks, com meu primeiro salário, comprei uma enorme boneca.
Hoje, luto por um sonho que tenho desde nova, mas que, pelo jeito, não conseguirei mais realizar.
O tempo está voando, não dá tempo mais de sonhar, temos mesmo que nos acomodar!
Felizes dias, abraços carinhosos
Maria Teresa