witch lady

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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quando eu Olhar Para Trás



Daqui a muitos anos, quando eu estiver pronta para despedir-me desta vida, não darei importância a coisas que geralmente são consideradas importantes : "Quanto você ganhou? Que países visitou? Quantos 'amigos' teve? Quantos vestidos usou? A quantas festas compareceu? Quantas vezes foi fotografada? Ficou famosa? Ficou rica? Quantos amantes teve? Foi 'vencedora?' Foi admirada?"

Daqui a muitos anos, nada disto terá importância. E o que ficará?

Quero que fiquem as tardes ao sol de inverno, quando sentei-me em meu jardim com meu marido e meus cães. Quero lembrar-me da minha juventude, quando eu corria ao sabor do vento - eu sempre amei o vento - e meu corpo era flexível e leve. Quero lembrar-me dos doces de abóbora, sorvetes, xícaras de chá com torradinhas e biscoitos, o bolo que deu certo, as poesias que escrevi, meu livro (ou livros), todos os livros que li e adorei, cujas mensagens ficaram no coração.

Quero lembrar-me dos pores de sol, da chuva, dos animais, da natureza, enfim, com toda a sua generosidade.

Quero lembrar-me dos filmes que me fizeram chorar (de tristeza ou de alegria), mas que despertaram  em mim emoções, como na velha canção do Roberto. Quero estar feliz, pois as despedidas que se deram, terão, finalmente, um reencontro.

Daqui a muitos anos, quando eu olhar para trás, existe um pensamento que eu quero que esteja comigo, naquele último minutinho antes de deixar este mundo:" FOI BONITO!"

quinta-feira, 24 de maio de 2012

LINDAS!...



Lindas, elas nos olhavam,
Com suas faces planas
E cheias de cores...

Algumas perfumadas,
Outras neutras,
Mas todas, absolutamente lindas!

Centenas delas, 
Espalhadas
Diante de nossos olhos abismados
De tanto encantamento,

Descobrimos que são alegres, as orquídeas,
Elas gostam de brincar carnaval!




PENSAMENTO




Eu às vezes vou longe 
No meu pensamento,
Tão longe, que não há tempo
Para patentear
As coisas que eu invento.

Meu pensamento corre livre e solto,
Além da língua,
Que não o freia
Por isso, meu pensamento
Não morre à míngua,
Nem sob as pontas agudas
De outras línguas.

OUÇA...



Existe uma canção...

Ouça, faça silêncio,
Apure os ouvidos,
Cala essa voz imensa!

Existe uma canção
Assim, que passa,
Entre o sopro do vento
E o ruído fino da água...

Uma canção macia
Que atravessa o dia
E que nem mesmo à noite
Silencia!

Automarketing - artigo


Automarketing

Automarketing pode ser definido como "conjunto de estratégias e ações que preveem o desenvolvimento, o lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor", no caso... o próprio indivíduo envolvido na ação. (fonte: Yahoo Respostas)

O marketing existe desde que o comércio existe.  Ele é necessário para que um produto torne-se conhecido pelo público, e que atraia consumidores ou usuários. Todo mundo já comprou algum produto porque o interesse por ele foi despertado através de uma propaganda vista na TV, jornal, revista ou outro meio de comunicação. É claro, o marketing também tem seus exageros, ao tentar convencer-nos de que alguns produtos perfeitamente descartáveis são essenciais à sobrevivência. Daí, precisamos usar  o nosso poder de discernimento e bom-senso.

Algumas pessoas consideram antiético fazer propaganda de si mesmo, mas pensem bem: em uma entrevista de emprego, por exemplo, precisamos destacar as nossas qualidades pessoais e qualificações profissionais para o emprego desejado, ou jamais o obteremos! Precisamos fazer a nossa propaganda, e hoje em dia, existem cursos para que as pessoas aprendam a se promover.

Imaginem a seguinte cena (e acredito que quase todos já passaram por isso):

Você está na escola. A professora faz uma pergunta à qual você sabe a resposta, pois é um aluno aplicado e estudou o assunto; mas sua mãe ensinou-lhe a virtude da modéstia e da humildade, que significa, entre outras coisas, dar a vez aos outros para que eles se destaquem, e evitar mostrar o que sabe. Bem, voltando à sala de aula: silêncio na classe. Você sabe a resposta, e ela queima na ponta de sua língua, mas  precisa ser modesto. Você vê o colega pesquisando apressadamente a resposta no livro, sem que o professor veja, e de repente, ele levanta a mão e dá a resposta – que você sabia o tempo todo por mérito, e não por ter ‘colado.’ Assim, excesso de humildade e modéstia também faz mal. E que mal!

Todos nós precisamos demonstrar confiança no que fazemos, ou jamais obteremos a confiança das outras pessoas quanto aos nossos serviços e capacidades, mesmo que sejamos muito bons! E no mundo competitivo em que vivemos (não estou aqui afirmando que concordo com a competição desenfreada na qual estamos inseridos, apenas cito-a como um fato), necessitamos, literalmente, aparecer!

E todos nós sentimos esta necessidade, seja ela em um contexto profissional ou pessoal. Até mesmo você, que escreve um blog, ou jamais o escreveria.

Não há nada de errado com a autopromoção, desde que ela não venha acompanhada de exageros e presunção. Pensemos em um contexto, digamos, mais ‘caseiro:’ quando faço um bolo de chocolate e ele fica delicioso, sirvo-o aos meus alunos ou convido alguém para comê-lo. Fiz algo que eu acho que ficou bom, e desejo partilhá-lo… os elogios que possam fazer à minha criação, farão com que eu me sinta feliz e orgulhosa, e se alguém disser: ‘Falta um pouco mais de açúcar,” mesmo que eu não concorde, com certeza eu pensarei sobre o assunto e tentarei acertar na próxima vez.
Até hoje, eu não consigo compreender a lógica das pessoas que dizem ser contra o automarketing. Elas consideram errado demonstrar apreciação por uma coisa que elas mesmas criaram. Bem, cada um tem o direito de pensar como quiser, mas eu prefiro o automarketing à falsa modéstia.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Violão




A Voz do cantor
Erguia-se, veloz
Ziguezagueando
Entre as cordas e acordes
Do violão.

perfeita harmonia,
A combinação
De voz, flauta, violão
E poesia!

No Dia Seguinte...



A noite foi longa e muito escura,
E os fantasmas passeavam,
Arrastando suas correntes longas e pesadas
Pela madrugada,
fazendo sangrarem as lembranças
Das feridas que eu já pensava
Cicatrizadas.

A noite foi tão dolorida,
A vida gritando entre as batidas
Das horas que, cruelmente,
A engolia...
Foi uma noite longa, longa,
Que deixou a alma cheia de sombras.

Mas no dia seguinte,
O sol surgiu, como sempre,
Os pássaros cantaram sobre os galhos,
A neblina dissipou-se com o avanço da manhã,

E os carros passaram,
Os trabalhadores começaram seu dia
Com sons de marteladas
E risos que soavam entre os serrotes
Que cortavam, em pedaços, a faina do dia.

A noite, de repente, pareceu-me distante...

O Que eu Ganho?



"Poesia é 'fria!'
Não dá futuro,
Não faz dinheiro!"

E o que eu ganho?

Talvez, o direito de estar entre os anjos
Ou de andar no inferno
Sem temer os demônios,
Todos os dias!

Ou quem sabe, a poesia traga
Um pouco de sentido
A algumas vidas que doem?...

Mas o que EU ganho,
É com certeza, o direito
À liberdade de expressão
Ao que, de outro modo,
Sufocaria o coração.

A poesia
É o meu direito de ser:
Brega,
Romântica,
Sarcástica,
Quântica,
Bombástica,
Triste, alegre, viva, morta,
Louca perigosa!

Agradecimento à Lia



A Lia mandou-me este lindo presente há alguns dias. Olhem só que graça!

É isso que incentiva a gente  a continuar, a ir em frente, e a suportar as pedradas...

Muito obrigada, Lia! Já tinha te agradecido, mas agora eu finalmente formalizo este agradecimento.

Agradeço muito também às pessoas que tem me procurado para fazer as pazes comigo. Explico: há algum tempo, houve um grande mal-entendido em outro espaço virtual, quando algumas pessoas juntaram-se em um grupo e praticaram um ataque em massa contra mim, tudo devido a um grande mal-entendido que eu acredito, tenha sido devido à fofocas.

Estas pessoas tem me procurado, e os mal-entendidos estão sendo desfeitos e esclarecidos, e um novo recomeço marca nossos relacionamentos, graças a Deus! Finalmente... sinto-me bem melhor assim. Obrigada a estas pessoas. Tenho certeza de que de agora em diante, conviveremos virtualmente em paz.

Bem, receber estes dois presentes - o selo da Lia e os emails destas pessoas - deixou-me realmente grata e muito feliz.

E para todos que me visitam, também deixo meu carinho, gratidão e admiração. Para todos vocês, 


terça-feira, 22 de maio de 2012

Perdi!



Jamais me esquecerei daquela tarde,
Em que a esperança que eu sustentava
Abandonou-me.

Jamais esquecerei a dor que nasceu
No momento exato
Em que me foi negado
Tudo, tudo o que eu queria!

Restava-me chorar - e eu o fiz,
Abraçada aos passos
De quem jamais caminharia...

Restaram-me as palavras engasgadas,
E eu as entornei, a todas,
Por sobre páginas e páginas,
Ou certamente, eu morreria...


Te Amo


Te amo tanto, e sei o quanto és breve,
Por isso, não te peço que fiques,
Nem que me leves,
Pois tua essência é volátil, leve,
Tua presença, um privilégio
Que eu não posso reter.

Te amo tanto, e a minha dor é fina,
Transparente, ferina,
Pois perder-te é meu destino
Que eu não desafio,
E nem tento retirar
A ponta do punhal que testa
Meu coração infeliz.

Te amo tanto, e assim, deixo-te livre,
Pois se te prendo, a tua essência foge
Para todo sempre, de mim...
Sei que a saudade senta-se comigo
Silenciosa , a observar-me,
A esperar a hora derradeira
Em que serei, para sempre e mais um dia,
A sua fiel hospedeira.




A SENTINELA - um conto



Ela morava justamente na fronteira entre os dois países, sendo que eram países  inimigos, e ela nascera justamente no país sem liberdade; ela nem sequer sabia porque, mas desde que se recordava de si mesma, entendia que seu mundo estaria limitado àquela fronteira. Só poderia ir até ali. Jamais saberia o que havia do outro lado. Ouvia falar em liberdade e melhores condições de vida. Era como viver em um mundo fora do mundo.

Às vezes, ela ficava horas sentada nos degraus da porta da cozinha, olhando as cercas de arame farpado e as sentinelas, em ambos os lados da cerca, que iam e vinham, de um lado para o outro, o dia todo. Eram todos iguais, ou pelo menos, assim lhe parecia.

Tinha ouvido falar de um local aonde havia um buraco na cerca, por onde, de vez em quando, alguns conseguiam passar para o outro lado. Ninguém sabia porque o buraco jamais fora consertado ou vigiado com mais vigor; o fato é que ele estava ali, e que todos sabiam de sua existência. Dizia-se que para fugir por aquele buraco, era preciso juntar muito dinheiro. Mesmo assim, não havia nenhuma garantia de segurança.

Às vezes, ela ouvia tiros, e as pessoas murmuravam pelos cantos: "Pegaram eles!" Mas ninguém dizia quem eram eles. Noutras ocasiões, após um momento de tensão, em que senhoras torciam as saias dos aventais em apreensão, a pequena vila parecia quedar-se em expectativa durante alguns minutos. Ninguém o fazia de forma muito óbvia, mas ela percebia que, de vez em quando, os olhares se dirigiam, fugidios, para o norte, onde (diziam) encontrava-se o tal buraco na cerca. Após vinte e cinco minutos, se nenhum tiro fosse escutado, a tensão parecia dissolver-se, e cada qual voltava aos seus afazeres, alguns com lágrimas nos olhos, mas felizes. Alguém murmurava: "Eles conseguiram!"

Assim, o tempo foi passando, e transformando a menina em uma linda moça. Todos os dias, ela ordenhava as cabras, cuidava do terreno em volta de sua casa, levava a refeição na cama para sua avó, ajudava a mãe nos afazeres da cozinha. Enquanto isso, o pai trabalhava na roça.

Sempre que podia, ela se sentava na mesma escadinha na porta da cozinha, mordiscando um fio de capim, e olhando as sentinelas que passavam e que eram sempre iguais.

Um dia, ela percebeu que algo estava errado. Estava sendo observada. Notou que a sentinela que caminhava do outro lado da cerca estava olhando para ela. Pela primeira vez, viu em uma das sentinelas algum traço humano. Ele tinha dois olhos. Dois olhos bem grandes. A boca que se abria em um sorriso para ela. Sem querer, a dela abriu-se em um sorriso para ele.

Assim, todos os dias, a moça passou a ansiar pelo momento de sentar-se nos degraus da porta da cozinha, e sua vida passou a ter um novo sentido. Trazia no coração um sentimento novo, que a deixava alegre, mas ao mesmo tempo, lá dentro dela, crescia também um medo fininho... porque ela sabia que, se eles continuassem se olhando daquela maneira, algo mais teria que acontecer.

Um belo dia, ela percebeu que ele tinha nas mãos um pedaço de papel. Viu quando ele o enrolou em uma pedra, e aproveitando-se da distração da sentinela que tomava conta do lado da cerca onde ela estava, jogou a pedra por cima do arame farpado. Ela esperou um momento, até que sua sentinela lhe desse as costas novamente, e como quem não quer nada, caminhou vagarosamente até o local onde estava a pedra e, bem depressa, inclinou-se e pegou -a, enfiando-a no bolso da saia rapidamente.

Do outro lado da cerca, a sentinela fingia fazer o seu trabalho de vigiar.

Ela trancou-se no banheiro da casa, abriu o bilhete enrolado na pedra e leu: "Encontre-me hoje à noite junto ao buraco da cerca."

E quando a noite caiu, ela esperou que todos na casa dormissem e, no silêncio que dominava a escuridão após o toque de recolher, ela envolveu-se em uma capa preta e foi até o buraco da cerca. Chegando lá, ela esperou. Quase meia hora depois, ela o viu aproximar-se.

Ele estava vestido com sua habitual farda de sentinela, e quando ele passou pelo buraco da cerca e a tomou nos braços, as estrelas pareceram cintilar mais forte.

Passaram a encontrar-se ali quase todas as noites, e então, iam para uma caverna ali perto, onde ficavam juntos até pouco antes do amanhecer. A vida dela passou a ter um novo sentido. Tudo o que fazia passou a ter um propósito: ordenhava as cabras com alegria, cantava, enquanto varria o terreno da casa, e até mesmo as tarefas de que menos gostava, passaram a ser mais fáceis para ela. Tudo porque estava amando.

Um dia, ela sentou-se como sempre, nos degraus da porta da cozinha, e ficou esperando por sua sentinela. Mas ele não apareceu. Nem no dia seguinte, nem depois, nem nunca mais.

As histórias corriam sempre, e eram murmuradas em segredo. Foi assim que ela ficou sabendo de uma sentinela do país vizinho que fora morta em um tiroteio, quando algumas pessoas do seu país tentavam entrar no país vizinho.

Enquanto ela definhava, a barriga lhe crescia. Passou a usar vestidos largos, e já que estava muito magra, não foi difícil esconder a gravidez até o final. Deu à luz sozinha no pasto, nas primeiras horas da manhã. Enquanto ainda sofria as dores, um grande meteoro caiu ali perto, uma  impressionante bola de fogo que cruzou os céus e foi vista por todos., deixando no solo um enorme buraco.

Após descansar um pouco, recompondo-se do susto que levara com o cair do meteoro,  a moça pegou seu bebê no colo e olhou para ele pela primeira vez. Chorou de emoção e de saudades, ao ver no rosto do menino, os mesmos olhos de sentinela fitando-a.

Embrulhou a criança em seu avental e levou-o para casa.

Até hoje, todos ainda ouvem falar na história da mulher que, durante um passeio matinal pelo pasto, viu quando um anjo desceu do céu em uma grande bola de fogo e pôs um bebê sobre o capim. Por causa deste milagre, as fronteiras entre os dois países foram finalmente abertas, e as sentinelas, dispensadas.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Existe Alguma Coisa Com as Árvores...



Existe alguma coisa com as árvores... quando o vento passa pelas folhas, ele busca segredos na clorofila. Cheias de vida, elas se doam aos pássaros, ao céu, às bromélias e aos homens. Doam sombra, doam vida.

Toda vez que eu olho para uma árvore, eu sinto reverência, não importa se ela é uma grande árvore frondosa e antiga ou apenas uma criaturinha de finos galhos, tentando sobreviver. As árvores tem alma, e isto é inegável!


Adoro estar junto a elas!

As árvores conhecem os segredos da vida, e por isso, são silenciosas...



O INVERNO em MIM



Meu inverno
Tem algo por dentro
Que não me deixa congelar...
É uma chama que queima,
Uma fogueira que insiste
Em existir
Através das noites mais frias...

Meu inverno
É um estado de escolha,
A estação branca de minha vida,
Onde a claridade me ilumina
E o gelo  me preserva,
Até que o sol volte.

Meus pés são frios,
Mas meu coração quente
Não me deixa morrer.

PARA MILENA

                                    


Querida e delicada flor,
De pétalas feridas
Sob tua corola, caídas...
Cadê teu perfume?

Querida e delicada flor,
Não deixe desbotar
A tua linda cor...
Que o tempo te cure!

Cadê a tua chuva, flor,
Cadê teu viço?
Acreditas, realmente
Nesse sumiço?

Querida e delicada flor,
Tua alma grita,
Mas o tempo urge,
A vida assume...

Aquilo que ficou é teu,
Ninguém mais tira,
Você sorriu, você viveu,
Aquilo tudo é teu!

Querida e delicada moça,
Seca tuas lágrimas,
Pois o teu cravo
Não quer te ver assim!

Acredita em mim,
Ele te olha,
E a cada lágrima caída,
Ele se desfolha...

Flor delicada, e tão querida,
Amar faz parte da vida,
Morrer faz parte da vida...
Chorar faz parte da vida...

Querida e delicada flor,
Vá lá para fora,
Tenta ver a beleza escondida
Pelas lágrimas de agora!

Eu Posso



Eu posso passar, tentando não ver
A beleza que me cerca,
O gato na cerca,
O passarinho que dá um voo rasante
Sobre os meus sonhos.

Posso fechar os olhos
Ao azul do céu,
Á miríade das formas e cores das nuvens,
Posso tapar os ouvidos
Quando ouvir o riacho que sussurra.

De cabeça baixa, eu passo
(E eu posso passar)
Ignorando tudo, negando a beleza...
Mas o que fazer,
E como não me render
Quando ela cai da árvore e se esparrama no chão
Bem na minha frente,
Sem palavras,
Aos meus pés?

Nó na Garganta



Ontem fomos dar uma caminhada no final da tarde, e passamos pela nossa antiga casa, hoje totalmente reformada, bem diferente do que era quando moramos lá. Pintada de um verde fortíssimo (até dói os olhos, mas gosto é gosto), ela ganhou mais um andar. Minhas roseiras foram todas removidas: a branca, a laranja, a cor-de-rosa, a rosa chá e a vermelha. A casa ficou muito boa e funcional, mas lamentei pela destruição do jardim e dos canteiros que nós cuidávamos com tanto carinho. Faltam plantas.

De repente, olhei e percebi que eles conservaram os balaustres da cerca, e imediatamente, lembrei-me do Aleph, meu cão, a cabeça enorme para fora, entre os balaustres, latindo para a rua. E foi como se todas as lembranças que estavam presas em algum lugar, de repente, desaguassem.

Revi os dias nos quais eu me deitava na rede da varanda (hoje, coberta por telhas; antes, por uma pérgula onde crescia um Bunganville cor-de-maravilha) e o Aleph deitava-se  sob a rede, dormindo de roncar. Lembrei-me de mim mesma, podando as roseiras, arrancando o capim dos canteiros, limpando as grades das janelas. Recordei as noites de sábado, nas quais nós íamos para fora e nos deitávamos no chão de cimento do jardim, olhando estrelas e conversando, até a madrugada. O quintalzinho dos fundos, onde eu tomava sol.

Hoje, moro em uma casa bem melhor que aquela, mas vivi tantas coisas boas ali... impossível não sentir saudades do que foi bom! Confesso que deu um nó na garganta ao lembrar-me de tudo o que vivemos naquela casa.

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ VIU SEU PAI?



Assisti, novamente, a este maravilhoso filme, estrelado por Colin Firth - meu ator predileto. Ele conta a história de um filho que retorna ao lar, a fim de assistir ao pai - que sofre de cancer de intestino em fase terminal. Ele redescobre e reavalia seu relacionamento com o pai durante vários momentos de suas vidas , na infância, adolescência e fase adulta. Percebe o quanto os julgamentos que fazia sobre o pai, muitas vezes, obscureceu-lhes o relacionamento. Lembra-se das vezes em que saíram juntos para acampar, dos piqueniques e jantares de família nos quais sentia-se ofuscado pelo brilhantismo do pai, e pela necessidade deste (quase doentia) de estar sempre em evidência e parecer simpático.

Descobre até que tem uma irmã, fruto de um caso amoroso do pai com uma prima de sua mãe, que durou muitos anos.

O filme é muito honesto, até o ponto no qual, durante uma conversa com uma namorada, ele admite que odeia seu pai (quem nunca odiou, nem que fosse por apenas um segundo, o pai ou a mãe, que atire a primeira pedra).

O filme tem cenas lindas e emocionantes, até o ponto de, sem perceber, você se ver chorando enquanto assiste.  No final, o que fica, o que realmente permanece da relação dos dois, é o amor. O grande amor que o pai sentia por ele, e ele, pelo pai. Um amor percebido, talvez, um pouco tarde em sua vida, mas nunca tarde demais. A cena mais tocante, em minha opinião, é justamente a última:

Ele está só no jardim da casa, após a família espalhar ali as cinzas do pai. E de repente, ele pensa: "Quando foi a última vez que você viu seu pai?' Não durante a doença, que o transformava e desfigurava a cada dia, mas a última vez em que esteve com ele e ele ainda era ele mesmo. E então, lembra-se de uma cena na qual os dois, juntos, instalavam um lustre na sala de estar. Uma cena corriqueira, mas marcante, pois fora a última vez em que o vira com saúde.

Daí, ele recorda o dia em que despediu-se dele para ir estudar em outra cidade. O abraço, antes de ir. E a cena vai mudando, e o menino que abraçava o pai, transforma-se no homem que ele é então, e a cena dos dois abraçados em uma despedida final, é simplesmente maravilhosa.

Fez-me lembrar da última vez em que eu vi meu pai: eu estava em meu horário de almoço, sentada à mesa da cozinha. Minha mãe terminava alguma coisa no fogão. Ele chegou, colocou sobre o armário um pacote de biscoitos - estava muito animado naquele dia - e sentou-se para almoçar. Dizia que, após o almoço, estaria jogando cartas na casa de uns amigos vizinhos. Eles sempre jogavam juntos. Lembro-me que, naquele dia, olhei para ele realmente, pela primeira vez em muito tempo. O que ficou mais marcado em minha memória, foi sua mão segurando o garfo. E depois, ao terminar, ele disse algumas coisas das quais não me lembro e despediu-se. A porta fechando-se atrás dele, disso eu me lembro. Naquela tarde,depois de algumas horas apenas, ele teve um derrame e morreu.

Aquela foi a última vez em que vi meu pai.


Amores Perdidos



Deve haver um paraíso
Um purgatório e um inferno
Para onde vão todos os amores que morrem...

Os que estão no paraíso,
Aguardam a ressureição;
Os que estão no purgatório,
Aguardam o perdão;
Os que estão no fogo do inferno,
Aguardam o esquecimento.

Onde está o seu amor,
Aquele, que você perdeu?

A PROFECIA




Entro na lojinha que fica no fundo da galeria, e que vende produtos naturais, livros, incensos, sinos de vento, fontes, e todas aquelas coisinhas absolutamente inúteis e bonitinhas. Fico alguns bons minutos olhando as capas dos livros, lendo os resumos, até que decido levar cinco de uma vez. Pego os incensos que, originalmente, fui comprar, e vou para a fila do caixa. O processo todo demora uns vinte e cinco minutos.

Chego do lado de fora, e chove torrencialmente. É claro, não tenho guarda-chuva! Espero um pouquinho, junto às outras dezenas de pessoas que como eu, olham para o céu em busca de uma resposta sobre o que fazer: ficar ali, esperando indefinidamente, ou atravessar a rua? Atravesso a rua. Felizmente, os motoristas estão bonzinhos e me deixam passar.

Entro na importadora de um conhecido, para comprar um guarda-chuva. Opto por um que tem fundo cinza-escuro e uma imagem do Garfield em preto, e também a carinha do Garfield nas cores originais no final do cabo. Saio pela calçada da Dezesseis de Março, toda feliz, com meu guarda-chuva novo do Garfield. Adoro aquele gato patife!

Chego ao ponto de ônibus, e as pessoas estão amontoadas sob o abrigo que não abriga ninguém, e junto-me a elas, enquanto a chuva fustiga-nos sem piedade. Mantenho o guarda-chuva aberto, tentando proteger a mim mesma e algumas pessoas que estão perto de mim.

Chega uma senhora bem idosa, aparentando uns setenta e cinco, oitenta anos de idade. Reparo que ela é muito elegante: colarzinho de pérolas, óculos-borboleta, suéter laranja, cabelos loiros e curtos, muito bem penteados em cachos comportados. Ela é bem pequenininha, e meu guarda-chuva cobre o dela.

Puxa assunto comigo:

"Que chuva, não?"
"É..."    O que mais eu responderia? Ela não desiste:
"Enquanto isso, do outro lado do país, seca...é  tsunami, vulcão, desabamento de prédio, tromba d'água..."
"Ô, coisa horrível, mesmo..."
"Mas não podemos ir contra os designos de Deus... é o final dos tempos, que estamos vivendo."

Pensei que para ela, não faria muita diferença. Afinal, já estava bem avançada em anos. Olho para o lado, tentando verificar se meu ônibus está entre os que acabam de chegar. Quando olho para onde a senhora estava, ela tinha ido embora. Ou teria sumido?

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