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quarta-feira, 7 de junho de 2017

António Aleixo






Do lindo blog de Maria Dilar, o "Luares de Agosto." Não pude deixar de compartilhar.


Glosa

Se Deus te deu, com certeza
Tanta luz, tanta pureza, P'rò meu destino ser teu
Deu-me tudo quanto eu queria
E nem tanto eu merecia...
 Que feliz destino o meu!

Às vezes até suponho
 Que vejo através dum sonho
 Um mundo onde não vivi.
 Porque não vivi outrora
 A vida que vivo agora
 Desde a hora em que te vi.

Sofro enquanto não te veja
 Ao meu lado na igreja,
 Envolta num lindo véu
. Ver então que te pertenço,
 Oh! Meu Deus, quando assim penso
 Julgo até que estou no céu.

É no teu olhar tão puro
Que vou lendo o meu futuro
 Pois o passado esqueci;
 E fico recompensado
 Da perda desse passado
 Quando estou ao pé de ti.

Poema de António Aleixo, em "Este Livro que Vos Deixo."





Também de António Aleixo:




Os Vendilhões do Templo

Deus disse: faz todo o bem 
Neste mundo, e, se puderes, 
Acode a toda a desgraça 
E não faças a ninguém 
Aquilo que tu não queres 
Que, por mal, alguém te faça. 

Fazer bem não é só dar 
Pão aos que dele carecem 
E à caridade o imploram, 
É também aliviar 
As mágoas dos que padecem, 
Dos que sofrem, dos que choram. 

E o mundo só pode ser 
Menos mau, menos atroz, 
Se conseguirmos fazer 
Mais p'los outros que por nós. 

Quem desmente, por exemplo, 
Tudo o que Cristo ensinou. 
São os vendilhões do templo 
Que do templo ele expulsou. 

E o povo nada conhece... 
Obedece ao seu vigário, 
Porque julga que obedece 
A Cristo — o bom doutrinário. 





Não Creio nesse Deus

Não sei se és parvo se és inteligente 
— Ao disfrutares vida de nababo 
Louvando um Deus, do qual te dizes crente, 
Que te livre das garras do diabo 
E te faça feliz eternamente. 

II 

Não vês que o teu bem-estar faz d'outra gente 
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra? 
E tu não queres p'ra ti o céu e a terra.. 
— Não te achas egoísta ou exigente? 

III 

Não creio nesse Deus que, na igreja, 
Escuta, dos beatos, confissões; 
Não posso crer num Deus que se maneja, 
Em troca de promessas e orações, 
P'ra o homem conseguir o que deseja. 

IV 

Se Deus quer que vivamos irmãmente, 
Quem cumpre esse dever por que receia 
As iras do divino padre eterno?... 
P'ra esses é o céu; porque o inferno 
É p'ra quem vive a vida à custa alheia! 





António Fernandes Aleixo OB (Vila Real de Santo António, 18 de fevereiro de 1899 — Loulé, 16 de novembro de 1949) foi um poeta popular português.

Biografia (fonte: Wikipedia)
Considerado um dos poetas populares portugueses de maior relevo, afirmando-se pela sua ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos, António Aleixo também é recordado como homem simples, humilde e semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.
No emaranhado de uma vida cheia de pobreza, mudanças de emprego, emigração, tragédias familiares e doenças, na sua figura de homem humilde e simples houve o perfil de uma personalidade rica, vincada e conhecedora das diversas realidades da cultura e sociedade do seu tempo. Do seu percurso de vida fazem parte profissões como tecelão, polícia e servente de pedreiro, trabalho este que, como emigrante, exerceu em França.
De regresso ao seu Algarve natal, estabeleceu-se novamente em Loulé, onde passou a vender cautelas e a cantar as suas produções pelas feiras portuguesas, atividades que se juntaram às suas muitas profissões e que lhe renderia a alcunha de «poeta-cauteleiro».
Faleceu vítima de uma tuberculose, a 16 de novembro de 1949, doença que tempos antes havia também vitimado uma de suas filhas.







6 comentários:

  1. Bom dia Ana, a rosa, encheu-me os olhos de beleza...linda demais.

    Parabéns pela escolha dos poemas, nunca havia lido algo desse poeta, confesso que fiquei encantada com a maestria dos versos.

    Tenha um abençoado dia
    Bjss1

    ResponderExcluir
  2. Olá,Ana,boa tarde,bacana o compartilhamento,poeta português Antonio Aleixo,também 'Não Creio nesse Deus', belos dias,abraços!

    ResponderExcluir

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