Gosto de deixar limpas e perfumadas todas as casas das quais eu me mudo. Costumo acender um incenso, percorrer os cômodos e ir me despedindo. Penso que a nova família que irá ocupá-la, gostará de encontrar a casa limpa, sem poeira ou lixo, o chão brilhando, os banheiros lavados. Mas eu nunca levo panos de limpeza usados ou vassouras velhas; jogo tudo fora.
A única vassoura que me acompanha desde que me casei é uma antiga, feita de crina de cavalo (naquela época, era comum que colchões e vassouras fossem feitos dos pelos desses pobres animais, e ninguém parava para pensar no assunto...). Só sei que a vassoura tem quase vinte e cinco anos hoje, e está perfeita. Dela, eu não me separo. Ela já viu muitas vassouras novas chegarem cheias de pompa e circunstância, se achando as tais, e irem embora, jogadas no lixo ao se tornarem inúteis, enquanto ela permanece firme e forte, as cerdas perfeitas, o cabo de ferro pintado de vermelho já descascando aqui e ali, mas firme no lugar. Ela foi a única que eu trouxe comigo do apartamento onde moramos quando nos casamos e mais tarde, da antiga casa.
Ainda na casa antiga, em ocasião na qual fazíamos obras no banheiro, me lembro de um dia em que antes de sair de casa, avisei ao pedreiro: "Se precisar varrer pó de cimento do chão, por favor, use a vassoura de piaçava. Não use minha vassoura de pelo para varrer sujeira de obra, OK?" Ele concordou comigo, e fui sair, tranquila.
Quase tive um ataque de nervos quando, ao voltar, encontrei-o varrendo cimento úmido com minha vassoura de estimação! Já quase gritando, me lembro de dizer: "Mas eu não avisei para não usar a minha vassoura para fazer este tipo de serviço?!" Ele nem se abalou: "Era a que estava mais perto no momento." Arranquei minha vassoura das mãos dele, e "cantando pneus," fui para o tanque lavá-la antes que o cimento secasse. Nunca mais ele tocou na minha vassoura.
Hoje, aos quase cinquenta anos de idade, eu às vezes penso se esta será a nossa última casa, se nós moraremos nela até o fim da vida ou se acabaremos nos mudando para um apartamento menor, sem escadas ou jardim e mais fácil de limpar e cuidar quando ficarmos mais velhos. Bem, seja qual for a resposta, a vassoura estará conosco, e será com ela que varrerei meu alpendre pela última vez - esteja onde estiver.
Gosto demais dos seus escritos...parece que existe uma especie de magia em cada descriçao... gosto muito mesmo do "que" e de "como" vc escreve...
ResponderExcluirBeijos...
Que lindo!
ResponderExcluirAmei ler você Ana!
Um abraço e felizes dias na casa nova.