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sábado, 11 de outubro de 2014

ENTREVISTA DE MAURICIO AZEVEDO COM ANA BAILUNE

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Muito agradeço ao Maurício, que tornou-me membro da OPB - Ordem dos Poetas do Brasil - e fez de mim a primeira poetisa premiada. Obrigada! Quando você me disse que o prêmio era apenas simbólico, valorizei-o ainda mais.

Entrevista de Maurício de Azevedo com Ana Bailune

1- QUEM É A POETISA ANA BAILUNE?
A poetisa Ana Bailune é a Ana Bailune gente. São exatamente a mesma pessoa, pois tudo o que está em meus poemas eu tiro da minha própria vida e das minhas próprias experiências, com poucas exceções. Mas até mesmo nestas exceções, onde escrevo sobre problemas sociais que não fazem parte do meu contexto de vida, por exemplo, é a Ana Bailune quem escreve. Não existem separações entre a Ana Bailune poetisa e a Ana Bailune. E quem é a Ana Bailune? Pergunta complexa... mas basicamente, sou professora de inglês, trabalho em casa, tenho uma vida simples e muito calma. Adoro minha profissão, pois ela me permite muito tempo livre para cuidar da minha casa, do meu marido e dos meus cães, que são prioridade em minha vida. E é claro, muito tempo livre para escrever também. Quem me conhece pessoalmente sabe que eu não sou tão fluente falando quanto eu sou escrevendo. Sou uma pessoa quieta e só abro a boca quando eu acho que vale a pena. Sou uma pessoa que não precisa de muita coisa para ser feliz. Minha vida é simples. Minha casa é simples. Não tenho medo da solidão, gosto de estar em minha própria companhia e/ou na companhia dos meus cães a maior parte do dia. Não gosto de multidões e barulho. Sinto-me completa em ambientes onde a natureza é abundante, e por isso adoro meu jardinzinho e os bichinhos que vem aqui em casa (pássaros, esquilos, macaquinhos, besouros, joaninhas, borboletas...).
Não faço esforço para escrever. As coisas vão brotando naturalmente, e eu vou colocando tudo no papel (ou na telinha) da maneira como elas surgem. É assim com meus contos, poemas, crônicas, artigos ou qualquer coisa que eu escreva. Não me preocupo em usar palavras rebuscadas ou bonitas, não me importo se o poema rima ou não, se tem métrica ou não, e quando essas coisas acontecem, é naturalmente. Também não reescrevo nada, não reviso meus textos, e sei que muita coisa acaba ficando com erros, mas eu não me importo, pois não faço da escrita a minha profissão; se um dia eu o fizer, haverá profissionais que corrigirão estes erros. Escrever é uma compulsão para mim, e por isso preciso de muitos espaços – tenho vários blogs e meus sites no Recanto das Letras, além de publicar meus livros virtuais (optei pelos virtuais porque não tem custo nem burocracia). 

2- COMO AVALIA A ATUAL POESIA BRASILEIRA ? SENTE UMA EVOLUÇÃO NA MESMA?
Bem, Maurício... na verdade, nunca parei para pensar no assunto. Os poetas atuais que leio são todos da internet. E a internet é a Terra de Ninguém, a Fake City por onde caminham, se encontram e se trombam todo tipo de gente – escritores ou não. Gosto de muitos, e se fosse citar alguém, citaria alguns lá do Recanto ou dos blogs que acompanho, mas prefiro não fazê-lo pois posso esquecer-me de alguém e não quero ser injusta. Mas se houve evolução na poesia? Hum... o que significa essa evolução? Se mais pessoas estão lendo e escrevendo poesia, talvez? Ou você se refere à qualidade daquilo que está sendo escrito? Bem, se você se refere ao primeiro caso, é claro que houve uma evolução. A poesia nunca esteve tão espalhada por aí, em sites e blogs, livros virtuais e de papel, e até mesmo pendurada em árvores. Quanto à qualidade, não me acho apta para avaliar, mas como sempre acontece quando tudo pode ser publicado sem critério, a poesia de hoje é poesia para a gente ler e esquecer – inclusive a minha. Acho que ninguém que escreve hoje em dia ficará para o futuro. Há tanta gente escrevendo, que o futuro de todos os poetas de hoje é o ostracismo, sejam eles bons ou não, e por este motivo, escrever tem que ter como objetivo algo bem maior que a fama ou a notoriedade: o amor pelo que se faz.
Hoje em dia, a gente lê um texto e gosta, adora, comenta... e com pouquíssimas exceções, ele nos marca realmente e voltamos para reler. Quando os poemas estavam apenas nos livros, nós os relíamos várias vezes, descobrindo novas nuances a cada vez. Nós os carregávamos para o banheiro, para a cama, para a fila do banco, o jardim, o consultório médico. Nós os memorizávamos, recitávamos, recomendávamos. Hoje é tudo muito rápido e tudo muito... muito! Por isso criei meu blog Passagem, onde coloco trechos de textos e músicas que eu quero recordar, reler, guardar, partilhar. Ali, eu releio tudo o que eu gosto.

3- POETISA, PRESUME-SE QUE PARA SER UM BOM POETA É INDISPENSÁVEL  BASTANTE LEITURA.., NÃO SÓ DE POESIAS, MAS EM GERAL. .ACHA QUE A ATUAL POESIA BRASILEIRA REVELA ESTA PRÁTICA?
Com certeza. É o que digo aos meus alunos de inglês: quer aprender a falar? Pratique! Quer aprender a escutar melhor? Pratique! E quer aprender a escrever melhor? Pratique! Leia e escreva! Há anos, alguém comentou em um texto meu: “Eu nem sequer leio poetas famosos, pois não quero que digam que meus poemas são baseados nos poemas de alguém.” Achei aquilo muito idiota. Mas respondendo à sua pergunta: Acho que não... de uma maneira geral, acho que as pessoas não leem. E ainda leem menos hoje do que antigamente.

4- A INTERENT DEU UMA ABERTURA IMENSA A PUBLICAÇÃO DE POESIAS. ACHA QUE QUALIDADE E QUANTIDADE ANDAM ACOMPANHADAS?
É como diz o Oswaldo Montenegro em sua canção “Todo mundo tá falando”: “Todo mundo tá falando de guerra / todo mundo tá falando de paz / todo mundo tá falando segredos / todo mundo tá falando demais.” E todo mundo quer falar. “Por telefone, por e-mail, por Orkut, por site e por Facebook ninguém para de falar.”

5-  QUAIS OS POETAS QUE INFLUENCIARAM OU CONQUISTARAM A SUA ADMIRAÇÃO?
Com certeza, Cecília Meireles e Fernando Pessoa são meus favoritos.

6- A POESIA ESTÁ DISTANTE DAS ESCOLAS BRASILEIRAS. PODEMOS DIZER QUE ESTA AFIRMAÇÃO É VERDADEIRA?
Acho que sim. E tem muitas coisas boas distantes das escolas brasileiras, que hoje em dia, aprovam alunos que não tem base, criando um futuro caótico, povoado de analfabetos funcionais.

7- POETISA, SEMPRE FOI FRANCA AO EXPOR SUAS OPINIÕES SOBRE ARTE E POESIA. COMO AVALIA RECEPÇÃO DE SUAS OPINIÕES?
Sabe que nunca avaliei?

8- SUA POESIA É  MUITISIMO ELOGIADA PELA PERFEIÇÃO E TAMBÉM  CORREÇÃO DO IDIOMA. ACHA QUE  UTILIZAR CORRETAMENTE A LINGUA É FUNDAMENTAL PARA O POETA?
É mesmo? Eu não sabia. Mas fico com o Patativa do Assaré, que disse que é melhor escrever errado as coisas certas do que escrever certo as coisas erradas.

9- EM QUE MEDIDA A PUBLICAÇÃO EXCESSIVA DE POESIAS NA REDE BENEFICIA OU PREJUDICA O POETA?
Acho que não ajuda nem prejudica. Como eu disse, publicar hoje em dia é fácil, e se for em formato e-book, é grátis. Posso ter cem livros publicados, mas quem os leu? Publico por vaidade. Gosto de ver eles todos ali, juntinhos no meu leitor de livros virtuais. Se fosse viver do que publico, morreria de fome.

10 -  TEMOS NO BRASIL UMA VERTENTE ACADEMICA QUE FECHA  A POESIA EM  UMA REDOMA. ELES DECIDEM QUEM SÃO OS BONS POETAS...SENTE ESSE PRIVILEGIO AO POETA QUE POSSUI CONTATO MAIOR COM A MIDIA?
São um bando de idiotas ao cubo. Danem-se. Como é que alguém pode ter a pretensão de querer decidir para os outros o que é bom ou ruim? No fim das contas, esses acadêmicos acabarão dentro de uma caixa de madeira como todo mundo, e serão enterrados ou sepultados vestindo seus fardões. 

11- CASO FOSSE PRESIDENTE DO PAÍS QUE MEDIDA TOMARIA EM FAVOR DA POESIA?
Em primeiro lugar, eu pararia de roubar do povo e transformaria a verba que ficaria disponível em comida e educação, pois semianalfabetos famintos não leem nem fazem poesia. Depois, eu facilitaria o acesso aos livros e à cultura.

12 - FALE UM POUCO SOBRE OS SEUS LIVROS E A EXPERIENCIA COM  A OBRA DIGITAL.
Meus e-livros poderiam muito bem não terem sido escritos. Não fizeram a menor diferença para minha vida de poetisa ou para a cultura no país. Estão lá, e pouco vendem. Acho que as pessoas que podem ter alguma chance no mundo digital, são os já consagrados ou os muito sortudos e além disso, os que sejam realmente bons demais (e tenham aquela estrela brilhando sobre eles). Mas como eu disse, é divertido. É uma massagem no ego. Escrevo por algo bem acima do dinheiro ou da fama. Escrevo para salvar a minha alma.

13 - POETISA ANA BAILUNE...FALE TUDO O QUE DESEJAR SOBRE POESIA.
Posso dizer que eu adoro. É a minha vida. Por isso, é maior que eu mesma.






9 comentários:

  1. Bem, eu nem preciso dizer que gostei porque seria redundância, mas eu gosto de comete-las quando acho necessário.

    Já escrevi vários textos sobre a poética da Ana e devo parabenizar Mauricio Azevedo por nos presentear com essa entrevista, dando espaço pra gente saber mais sobre essa poeta da nova literatura.

    Ana não se já disse, mas repito: você nasceu poetando minha amiga e eu sou sua fã.
    parabéns pelas respostas coesas - gosto imenso de sua transparência.

    abraços de amiga e fã

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  2. Olá,Boa noite,Ana
    Parabéns pela premiação , por ser membro da OPB e pela bela entrevista, perguntas e respostas inteligentes, o que não poderia ser diferente...concordo plenamente que escrever tem que ter como objetivo o amor pelo que se faz, logicamente amparado por uma indispensável leitura e saber, ao menos, sem erros crassos, a língua corrente...também, não concordo com avaliações desses acadêmicos , pessoas que não sabendo de nada têm opinião sobre tudo, pois nada soa mais artificial que a avaliação onde não devia haver imperativo exatamente porque, ninguém é melhor do que ninguém , onde é tudo muito rápido e a fusão de estilos bem diversificados…cada um ao seu jeito, modo e tempo...e ao contrário de ti, "Não existem separações entre a Ana Bailune poetisa e a Ana Bailune" , apesar de eu não ser poeta, existe um abismo imenso entre o FelisJunior, blogueiro que escreve e o Felisberto Junior, apesar que , escrevendo, moldei completamente o sentido de minha vida de forma benigna ,deixou de ser não mais angustiante...
    Parabéns ,novamente, e obrigado pela oportunidade de poder te conhecer um pouco mais...obrigado pelo carinho, belo domingo,beijos!.

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  3. Olha Ana,
    aprecio sua sinceridade e pensamentos viu...
    a questão de número 2 revela bem isto...
    de resto vc tem razão em muitas coisas e é uma prazer estar aqui nesta postagem...
    namastê!

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  4. Que maravilha de entrevista, parabéns.
    Beijo Lisette

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  5. Olá, Ana.

    Li e reli, a sua entrevista.
    Parabéns, pelo Premio. E principalmente, pela clareza de pensamento.
    E depois de ler a sua entrevista, continuarei a ser um rabiscador de caracteres. Parabéns, para você. Sempre.

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  6. Olá, Ana.
    Parabéns a você e aos poetas que se dedicam a literatura por amor ao que faz, acima de tudo. Com certeza um prêmio muito merecido. Abraços.

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  7. Ana, parabéns pelo prêmio, que tem significado especial. Suas colocações mostram o que nos passa, comumente, em seus escritos, como a autenticidade, o amor às palavras, a competência. Reconhecimento, nem mesmo os considerados grandes, obtiveram em vida. E são lidos por serem conhecidos e frequentemente divulgados. Sou contra a crítica porque critérios técnicos não avaliam sensibilidade e retorno do leitor. Aliás, como não há estímulo à leitura de poesias, muitos afirmam não gostar delas, por puro desconhecimento da emoção/reflexão/prazer ... que podem proporcionar. Eu a admiro e sempre aplaudo seus versos. Bjs.

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  8. Ana só quero te aplaudir, você merece e muito, muito mesmo. Um marco neste mundo virtual, bjos Luconi

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  9. Parabéns Ana, pelo prêmio e por fazer parte da OPB Ordem dos Poetas do Brasil.
    Ana te admiro e respeito muito, pela sensibilidade e leveza dos teus versos, cada frase, cada poesia te revela nas linhas que, generosamente, nos oferece. Sou imensamente grata e desejo sempre muito, muito sucesso, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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