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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

AMARGA








Era a cena de um filme na TV – A Praia do Futuro, com o nosso Wagner Moura. Na cena em questão, um rapaz bem jovem – que no filme interpreta o irmão mais novo do personagem de Wagner Moura – pega uma motocicleta sem autorização do proprietário e sai pelas ruas da Alemanha. Vai parar em uma boate, onde , na cena seguinte, ele está dançando com uma estranha a quem ele beija na boca, enquanto bebe e fuma (e o local sugere o consumo de outras coisitas mais...). A cena me deixou triste, com um sentimento de vazio. Comentei: “Que coisa vazia!”


Pensei nas centenas de pessoas que se “divertem” daquela forma hoje em dia: dançando, em transe, ao som de música extremamente alta e repetitiva, as batidas compassadas funcionando como as batidas de um martelo sobre uma bigorna, os organismos regados a energéticos com bebidas alcoólicas e drogas. A música é o que menos importa. Ninguém está ali para ouvir música, mas para exorcizar seus demônios (ou para invocá-los). Impossível conversar e conhecer alguém em um ambiente assim. Me lembrei que quando eu tinha aquela idade, a gente dançava diferente. Pulávamos, fazíamos passos sincronizados, nos divertíamos... e se bebêssemos, seria apenas uns golinhos para ficarmos mais ‘alegres.’
Sem perder o senso. As músicas que escutávamos tinham letras.


A cena continua, e os dois terminam encostados a um muro em uma parte deserta da cidade, onde transam. Minha sensação de vazio aumentou. Na cena, chega o dono da motocicleta e leva o menino com ele, deixando a menina sozinha, de madrugada, em uma parte deserta da cidade, a fim de encontrar o caminho de casa sozinha.

Ao meu comentário (Que coisa vazia!), responderam: “Você está amarga! Eles só estão se divertindo.”


É. Eu estou amarga. Porque quando eu olho para fora, pela minha janela, as coisas que eu vejo me deixam assim. Não é falso moralismo, nunca fui moralista na minha vida, mas há coisas demais acontecendo e eu sinto que não estou conseguindo acompanhar a lógica de todas elas. Atrasada demais para os novos tempos? Eu às vezes me pergunto se essa coisa que eu sinto se chama evolução ou involução; afinal, não estou acompanhando o que a maioria chama de evolução, e por isso, sou considerada amarga. Não consigo aceitar algumas coisas que tentam me empurrar garganta abaixo.


Que cada um seja feliz à sua maneira, mas eu me pergunto se essa gente é feliz mesmo. Afinal, o que é felicidade? É essa coisa psicodélica, drogada, superficial e barulhenta, essa mania de não pensar muito em nada, mas seguir o que a maioria está fazendo sem discernir se é bom ou verdadeiro? Ser feliz é não olhar jamais para dentro de si mesmo, a fim de não ver e nem escutar quando os corações sangram? Ser feliz é entrar na passeata para simplesmente conseguir boas fotografias para colocar na rede social? É encher a cara até vomitar? Porque se for, então eu não quero ser feliz; se for, eu então sou amarga, a mais amarga e retrógrada das pessoas.




3 comentários:

  1. Eu me acho quadrada em um mundo redondo.
    Vejo pessoas vazias se preenchendo de nada,prazeres momentâneos que não mudam suas vidas.
    Estamos vivendo esse tempo e não é fácil olhar para isso nem em filmes.
    Por isso que muita coisa não muda, pq falta atitude por falta das pessoas, falta amor próprio, auto valorização, falta consciência, falta paz, humanismo, dignidade, amor, amizade.
    Vivemos um tempo de faltas...

    bjokas =)

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  2. Tb me sinto assim. Amargos ou não [não me vejo assim] não compreendo e não tenho vontade alguma de compreender estes novos tempos. Disseste bem: Que cada um seja infeliz como desejar ...

    Beijão

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  3. Amiga Ana, gostei de ler aqui, não julgo nada e nem ninguém, mas não consigo entender certas coisas como diversão, mas como fuga, pois tenho netos adolescentes e eles não fazem média com diversões assim, portanto não é amargura, é não se identificar, não me identifico também.
    Bom texto!
    Abraços apertados!

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