O relógio que está na parede de minha sala de aula |
"Quem disse que eu me mudei?
Não importa que a tenham demolido:
A gente continua morando na velha casa em que nasceu."
Mario Quintana
Em minha salinha de aula, existe um relógio de parede no qual está escrito: "Home is where your story begins", ou seja, "O lar é onde sua história começa." Apaixonei-me pelo relógio na mesma hora em que o vi. Há um ninho de pássaros, representando o lar, e acima destes dizeres, o velho cliché (velho, mas verdadeiro): "Home, Sweet Home."
Algumas pessoas não dão importância à casa. Uma conhecida minha me disse certa vez que "casa é coisa de caramujo ou tartaruga." Bem, então acho que preciso descobrir a qual destes grupos eu pertenço! Enquanto alguns veem na casa apenas um lugar para dormir, outros fazem dela um lar, um refúgio onde recuperam as forças, exercitam sua criatividade e andam descalços. Principalmente, um lugar onde guardam as lembranças.
Minha casa é um lar, e sinto-me muito bem dentro dela. Tão bem, que não me sinto nem um pouco presa ou desconfortável por trabalhar em casa e raramente poder sair. E embora a minha história não tenha começado nesta casa, ela continua aqui. Ela me conhece bem. Suas paredes sabem dos meus humores, já me viram rir e chorar muitas vezes, e também guardam as passagens de pessoas que foram importantes em minha vida e que já se foram. Às vezes, quando penso neles, eu me lembro: "Sentaram-se aqui," ou então "Passaram por este corredor" e também "Olharam por esta janela."
Quando eu me sento lá fora e olho para a minha casa lá do jardim, eu sinto vontade de entrar nela. Acho muito bom quando alguém gosta da casa onde mora e sente-se bem dentro dela. Não sou apegada a bens materiais, e sei que um dia, cedo ou tarde, terei que ir embora daqui, pois ela é grande e tem escadas demais para que um casal de idosos viva bem nela. E quando isso acontecer, eu sei que eu vou chorar, mas vou fechar a porta e levar comigo o lar que ela foi para mim.
Desejarei que seus novos moradores tenham por ela o mesmo carinho que eu tenho, e que preservem todas as árvores do jardim - algumas, plantadas por nós. Guardarei comigo as lembranças dos dias felizes que vivi aqui, e eles servirão como incentivo para reconstruir o meu lar em outro lugar que, com certeza, já está aguardando a minha chegada, lá no futuro...
Gosto desse aconchego do lar, sou parecida com você neste sentido, amo minha casa e também sei que em dia vou ter de mudar...as escadas, o espaço será enorme demais para um casal de idosos. Bjs e aplausos pelo belo texto.
ResponderExcluirVivi uma vida fugindo Ana, nunca pude gostar de nada, pois logo estava mudando. Esta casa foi construída, pensando na família, filhos e netos, já fugi daqui 3 vezes.
ResponderExcluirSó agora, que não tenho mais os filhos é que estou começando a criar raízes, perdendo o medo de morar sozinha e começando a sonhar para melhorar o espaço.
Justo agora, as pessoas ficam me aconselhando a alugar um imóvel e sair daqui, abandonando a casa.
E, eu fico pensando, será que estou errada em querer ficar?
Não é apego material, acho que é da vontade de Deus que eu fique aqui, enquanto a saúde me permitir, pois quando não der mais para ficar, vou para um asilo.
Você tem histórias e valores de família, que admiro muito Ana, obrigada pelo lindo texto, abraços carinhosos
Maria Teresa
Do relógio e suas frases e seu ninho até a tua frase ao olhar para a casa "eu sinto vontade de entrar nela" tudo me emocionou.
ResponderExcluirUm texto tão vivo quanto tua casa.
beijo!
Gostei muito desse seu texto, emociona, não pelo apego, porque não é apego, é amor, carinho, uma história de vida. Também quero permanecer na minha casa (apartamento). Aqui guardo muitas recordações de vida. Foi aqui que fui amadurecendo e mais: meus pais moravam no ap do lado. Recordação dupla.
ResponderExcluirbeijo!