A Vida do lado de dentro
Poema escrito por um jovem prisioneiro anônimo.
Ele diz seu número
Ao entrar pela porta
Em suas largas roupas de cor laranja e cinza;
Não sente mais estranheza.
Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra.
Luzes borradas passam pela van da prisão.
De pé no pequeno espaço branco,
Ele olha para a escuridão negra lá fora.
Na janela, ele pode ver sua própria face.
Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra
Ele está no banco dos réus, indiferente,
Enquanto o juiz o sentencia a três anos
Fora de seu campo de visão, sua mãe
De pé, seus olhos transbordando
De lágrimas dolorosas.
Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra
“Você vai se mudar?” Ele pergunta,
Imaginando como ele poderá escolher
Enquanto eles anunciam o divórcio.
Qual deles, ou ambos, ele vai perder?
Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra...
Nenhuma preocupação no mundo,
Ele encontra amigos para ir pescar
Dirige-se ao mar em um barco
Apenas as ondas, o silêncio e o desejo...
Ele gosta daqui.
Este poema, cujo autor desconhecido é um prisioneiro, fala de como ele fez para encontrar um momento bom de sua vida que lhe servisse como válvula de escape. Aos poucos, ele vai mergulhando cada vez mais profundamente, em retrocesso, nos fatos que o levaram até aquele momento e aquele lugar – a prisão – e ele faz o caminho de volta, finalmente encontrando o último momento feliz antes de estar ali.
Este texto foi retirado da revista Speak Up de dezembro, e traduzido por mim. Tentei deixá-lo o mais próximo possível do original, sem modifica-lo demais, fazendo apenas algumas adaptações para que pudesse ser melhor compreendido - inclusive, a pontuação.
Este texto faz parte de um projeto chamado Writers in Prison Network, onde o escritor Hugh Stoddart ensina prisioneiros da Prisão de Brixton, em Londres, a liberar seu lado criativo... e escrever!
Abaixo, o texto original:
Life Inside
He gives his number
As he walks through the door
In his orange and grey baggy clothes
It doesn’t feel strange anymore.
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
Lights blur past the prison van
Upright in the tight white space
He looks out into the back
In the window he can see his face.
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
He stands in the dock, numb,
As the judge sentences him to three years
Screened from view, his mother
Stands, her eyes flooding with painful tears.
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
‘And you moving out?’ He asks
Wondering how he can choose
As they announce their divorce
Which one, or both, will he lose?
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
Not a care in the world
He meets up with his mates to go fishing
Heads out to sea in the boat
Just the waves, the silence and the wishing
He likes it here.
Vale sempre a pena viver e lutar!
ResponderExcluirLinda amiga Ana, amei ler, a mensagem é linda, tens um dom de saber, como professora que és, traduzir perfeitamente!
ResponderExcluirOs versos nos dão a grande dimensão do que é estar em um prisão física, pois a alma/espirito, ah, esse ninguém o aprisiona!
Abraços apertados!
É de louvar o projecto do professor Hugh Stoddart !
ResponderExcluirMuitos dos prisioneiros têm capacidade de dar a volta à sua vida...
Obrigado, ANA, por nos dares a conhecer este esforço de recuperação.
Um beijo.
Original e belo esse projeto, pois aquilo que conseguimos colocar no papel nos traz uma certa libertação, seja em termos de compromissos ou de sentimentos.
ResponderExcluirÉ interessante o caminho que esse prisioneiro seguiu em seus versos. E conseguiu chegar àquele que lhe traduzia um significado feliz. Bjs.
ResponderExcluirSó lhe resta esta alternativa, enquanto espera o tempo passar.
Bjux
Olá, querida Ana
ResponderExcluirTo aqui na minha válvula de escape... todos precisamos...
linda poesia!!!
Bjm fraterno
Olá Ana,
ResponderExcluirUm projeto interessante e louvável.
Mais interessante foi a forma encontrada por esse prisioneiro para poetizar, extravasando a alma e buscando o momento feliz de sua vida, através de um processo de retrocesso. Bacana!
Obrigada, Ana, pela gentil e atenciosa presença em meu recanto durante o ano em curso. Que possamos prosseguir em nossa jornada interativa no ano vindouro.
Desejo-lhe um Natal coberto pelas bençãos do Menino-Deus e com muita paz e alegrias. Um fantástico 2015, com muita inspiração, sucesso, saúde e felicidades.
Que a paz esteja presente no seio da humanidade!
Felizes Festas.
Beijo.