Trechos de Orlando, de Virginia Wolf
"Entre a felicidade e a melancolia não medeia espessura maior que a de uma lâmina de faca. "
"Enquanto a fama tolhe e constrange, a obscuridade envolve o homem como um nevoeira; a obscuridade permite que o espírito siga o seu destino, desimpedido."
"Nada, porém, pode ser mais arrogante, embora nada seja mais comum, do que assentar que de deuses só existe um, e de religiões nenhuma outra senão a de quem fala."
“A memória é a costureira, e uma costureira caprichosa. A memória faz a agulha correr para dentro e para fora, para cima e para baixo, para lá e para cá. Não sabemos o que vem a seguir ou o que virá depois. Assim, o movimento mais comum do mundo, como o de sentar-se à mesa e puxar o tinteiro, pode agitar mil fragmentos díspares e desconexos, ora brilhantes, ora embaçados, pendendo, flutuando, mergulhando, tremulando, como a roupa branca de uma família de 14 pessoas numa corda ao vento.”
“Ele descrevia, como todos os jovens descrevem, a natureza, e de modo a comparar o tom do verde precisamente com o que observava (e aqui ele mostrava mais audácia que muitos) a coisa em si-mesma, que acontecia ser uma moita de loureiro a crescer sob a janela. Claro que depois de tudo isso ele não poderia escrever mais. O verde na natureza é uma coisa, o verde na literatura era outra. Natureza e literatura parecem ter uma natural antipatia: aproxime ambas e elas se despedaçam. O tom de verde que Orlando viu agora viciava sua rima e desfazia sua métrica. No mais, a natureza tem seus próprios truques.”
"Procurei a felicidade muitos anos e não a encontrei; procurei a fama e perdi-a; o amor, não o conheci; a vida - e eis que a morte é melhor. Conheci muitos homens e muitas mulheres", continuou, " não entendi nenhum. É melhor que fique aqui em paz, só com o céu por cima de mim."
Virginia Wolf |
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