Tinha sido um dia ensolarado de primavera. As pessoas chegavam em casa do trabalho, procurando por seus chinelos e se dirigindo ao banho, as toalhas penduradas no pescoço. Eu podia escutar o ruído da panela de pressão na cozinha: minha mãe preparava o jantar. Eu, adolescente, estava lá fora, observando a noite chegar. O luar estava lindo, branco e enorme, projetando brilhos sobre as folhas de bananeira no quintal dos fundos.
De repente, o vizinho da casa acima da minha ligou o toca-discos em volume alto, e uma música maravilhosa começou a tocar. Atraída pela música, minha mãe veio para o lado de fora e juntou-se a mim: “Que música linda é essa?” Eu, que estivera entretida com a beleza do comecinho de noite, virei a cabeça para trás para olhar para ela e respondi: “Não conheço, mas sei que é a Barbra Streisand cantando.”
Ficamos a duas caladas, desfrutando a beleza daquele momento, no qual a música serviu como se fosse um pó mágico. Uma brisa muito suave soprava, fazendo com que as folhas das bananeiras parecessem dançar ao som daquela música, que alguns dias depois, descobri ser “Memory”, interpretada por Barbra Streisand.
Logo, a canção terminou, e nós duas ainda permanecemos em silêncio por alguns segundos, tomadas pela magia da emoção causada pela música integrada à paisagem, como se precisássemos de tempo para voltar ao mundo real.
Hoje eu escutei “Memory” outra vez; usei-a durante uma aula de inglês, e as memórias daquele fim de dia tão distante voltaram de repente.
Hoje eu sou outra pessoa, e minha mãe já não está mais aqui. Muitos já não estão mais aqui. Mas ficam as memórias.
É engraçada a maneira como uma simples canção pode sacudir momentos adormecidos e trazê-los de volta à vida.
Mais uma aula termina. Olho o texto na tela do computador, onde a última aula preparada ainda figura: palavras, palavras, palavras... às vezes eu me pergunto como elas podem caber dentro da minha cabeça, ocupando um espaço tão importante na minha memória. Penso em todos os anos em que eu estudei arduamente para memorizar tantas regras gramaticais, expressões idiomáticas, phrasal verbs... vocabulário... palavras e palavras...
Penso na forma como elas chegam até a minha boca tão naturalmente, sem que eu tenha que pausar para pensar no que dizer – sendo que a língua que eu ensino não é minha língua materna. Acho que sei infinitamente mais a respeito desta língua estrangeira do que a respeito da minha própria língua!
Eu me recordo de quando comecei a aprender inglês, através de músicas e letras de músicas que vinham em fascículos de uma coleção da Editora Abril: as frases cheias de coisas impronunciáveis, que eu escutava e escutava, repetia e repetia, até que tivesse memorizado as letras e os significados de todas as doze canções que vinham em cada disco de cada fascículo! A maioria delas, eu sei cantar até hoje. É como se a primeira palavra puxasse pela mão todas as outras palavras que vêm depois dela, e elas fossem se alinhando na minha mente e saindo naturalmente. Até hoje é assim: tenho grande facilidade para memorizar letras de músicas em inglês.
São muitos anos aprendendo e ensinando. Agradeço todos os dias pela minha profissão, e pela oportunidade que eu tive de aprender inglês quando as circunstâncias da minha vida eram tão difíceis, e os sonhos, sempre tão distantes. Foi muita força de vontade e perseverança. E de repente, uma coisa mágica acontecia: era como se eu não estivesse aprendendo uma nova língua, e sim lembrando-me dela! As frases que eu não conhecia nas letras das músicas contavam-me sobre seus significados, que mais tarde, eu confirmava nos dicionários.
Ensinar aquilo que eu sei tem sido a principal missão da minha vida. É o que eu escolhi fazer. Não me importo tanto com o quanto eu posso ganhar, o que não é muito, mas a recompensa de ver alguém se comunicando nesta língua, viajando, obtendo sucesso nas entrevistas de emprego e provas de seleção, e saber que existe uma participação minha ali, é o que me move, a minha recompensa.
E a batalha que eu escolho lutar de hoje em diante,
É contra a manada dos meus próprios elefantes.
Expulso-os da sala - desenho mandalas,
Canto mantras que ninguém sequer escuta...
Não creio que a vida deva ser uma luta,
Mas um jardim que eu mesma escolho plantar.
Eu olhei para o jardim em meu retorno sem escolta,
E esse mesmo jardim, sorrindo, me olhou de volta.
Escrevi ontem o poema acima. Ele explica a mim mesma - como se resumisse parte da minha nova história. Muitas coisas aconteceram em minha vida nos dois últimos anos, e a maioria delas foi muito boa, pois mesmo que algumas tenham começado de forma aparentemente ruim, trouxeram-me ao momento atual.
Para começar, eu nunca antes em toda a minha vida, tinha sido engajada em causas políticas. Para mim, o mundo da política era apenas um lugar do qual eu queria distância e que, portanto, ignorava. Mas nosso país foi caminhando em uma direção cada vez mais perigosa, e chegou um momento (tenho certeza que muitas pessoas como eu e que também se engajaram na mesma causa também sentiram a mesma coisa) em que foi impossível simplesmente ignorar, deixar pra lá, como eu sempre fazia. Eu olhava as coisas acontecendo na Venezuela, comparava com o ritmo do que ia por aqui e pensava: estamos indo pelo mesmo caminho.
E eu não queria aquilo para mim. Não queria que o Brasil mergulhasse naquele mesmo caos - e já estávamos mergulhados até o pescoço, faltando pouco para sufocarmos de vez. Daí, me envolvi em coisas pesadas, pois a política é algo pesado e cheio de negatividade. Paguei caro pela minha escolha, mas ao mesmo tempo, consegui ajudar a maioria das pessoas a parar aquele processo medonho no qual vínhamos caminhando. Acho que a vida é assim: existem momentos em que precisamos desarrumar a casa, hastear bandeiras, gritar, bater panelas; mas existem momentos em que precisamos acender um incenso e rezar, simplesmente.
Depois do objetivo alcançado, senti falta da minha paz de espírito. Minha intuição me disse: "Agora chega. Você fez a sua parte. Vá cuidar de você e esqueça o assunto, pois não é mais responsabilidade sua." E fui procurar outras coisas, sem saber bem o quê. Sentia que antes precisava me limpar daquela energia, e assim, acabei encontrando um curso de terapias holísticas que me despertou para muitas coisas em relação à minha espiritualidade, tão negligenciada; com ele, vieram as aulas de tarôt e as dezenas de livros sobre espiritualidade que passei a devorar, sem contar com os livros antigos que reli. Também abri um canal no Youtube, o Espiritualidade na lata. Escolhi este nome porque procuro sempre falar de uma forma breve e direta sobre aquilo que experiencio.
Também cheguei a alguns canais no Youtube que estão sendo de grande importância para mim; é isso: quando a gente muda a estação, as ondas certas nos chegam. Entre eles, estão o canal Escola Esotérica, que já recomendei aqui antes, e a minha mais recente descoberta (já citado em um de meus vídeos): Life By Lufe. Amo!!!
Estes canais se harmonizam perfeitamente a esta minha nova busca. Deixo aqui um dos vídeos do Life by Lufe, onde você poderá encontrar dicas sobre harmonização de ambientes, decoração, espiritualidade e grandes viagens espirituais. Só estou recomendando porque realmente gosto, está me fazendo muito bem assistir. Não conheço ninguém nesses canais, nunca conversei com eles e eles nem sabem que eu existo - e provavelmente, continuarão sem saber. Meu único interesse, é propagar essa energia vibrante e positiva que eles passam. Eis um dos vídeos. Impossível não amar.
Eu, sentada na cadeira da cozinha olhando desanimada para um prato de comida. Eu sabia que minha mãe tinha misturado abóbora amassada no feijão, e eu não gostava de abóbora. Eu era muito pequena, e me lembro que precisava de ajuda para me sentar na cadeira e também para sair dela. Me lembro de tudo: o prato de comida na minha frente, eu choramingando; minha mãe de costas para mim, indo da pia ao fogão, o rádio ligado na Rádio Difusora.
A menina da vizinha gritava: “Aninha! Vem brincar!” Meu coração dava um pulo, mas minha mãe olhava para trás: “Só depois que terminar de comer!” Era assim todos os dias.
Até que ela pegava o livrinho de histórias e colocava em cima da mesa. Ela o abria e ia mostrando as figuras, enquanto tirava a colher da minha mão e ela mesma passava a enchê-la de comida e leva-la à minha boca trancada: “Olha o aviãozinho!” Mas eu não queria saber de aviõezinhos. Eu queria o final da história, que eu já conhecia de cor.
Minha mãe ralhava: “Se quiser que eu conte, abra bem a boca e engula a comida!” Vencida, eu obedecia, e enquanto ela ia virando as páginas e contando a história, eu engolia dezenas de aviõezinhos sem perceber. De repente, ela raspava o prato vazio com a colher: “Acabou! Viu só? Agora pode ir brincar!”
E eu ia brincar, ainda com bigodes de aviõezinhos na boca, carregando fadas, castelos, reis, rainhas e princesas na imaginação.
Um dia, ela me trouxe uma cartilha: “Senta aqui. Vamos aprender a ler!” Eu tinha quatro anos e meio. Ela colocou o lápis em minha mão, segurando-a e me ajudando a cobrir as letras “A” na linha pontilhada algumas vezes. Depois, me instruiu: “A é a letra do seu nome. Agora vá cobrindo os pontinhos até terminar a página toda.” E eu gostava daquilo!
Aos cinco anos, já sabia ler e escrever muito bem. Cobrira pontinhos suficientes para chegar até a lua. Peguei o gosto pela leitura e também pela escrita, pois bem pequena, já arriscava umas histórias.
Mas eu cresci, e meu sonho de ser escritora foi se esvaindo, como a comida do prato que entrava em minha boca através dos aviõezinhos. Meus escritos foram lançados por aí, em milhares de aviõezinhos – a maioria muito pouco lidos. Mas o prazer de escrever me alimenta. Sem estes aviõezinhos, a minha alma tem fome.
A verdade era quase óbvia; estava na falta de concordância verbal evidente em quase todas as suas falas, nas datas equivocadas, nos diplomas inexistentes para mestrado em Harvard e também na cronologia impossível de suas histórias. Estava no tom de voz exagerada e falsamente sofrido durante a palestra da TED e nos relatos de vida desencontrados, na fala compulsiva de quem fingia demonstrar a não vitimização usando a vitimização para justificar-se (sou negra, mulher, pobre e venci na vida).
Porém, aquela era exatamente a mentira que eles estavam procurando para exaltarem e justificarem suas causas: a mulher pobre, negra, sofrida, excluída, que através de força de vontade e muita luta, dá a volta por cima e vai fazer doutorado em Harvard.
E a mentirosa foi entrevistada, exaltada, premiada cinquenta vezes, aplaudida por artistas lacradores, e até mesmo teria sua incrível biografia exibida em um filme.
Só que não.
Uma leve arranhada na superfície (que ninguém teve a coragem de dar, talvez porque a mentira lhes estava sendo útil e colaborava com a causa que defendiam) foi o suficiente para desmascarar a farsante. E a verdade é assim: uma vez que ela vem à tona, nunca mais poderá ser ignorada.
E a atriz Global lacradora Taís Araújo, em ato de falsa nobreza e humildade, ainda teve tempo de negar interpretar o papel de Joana D’arc por não se achar negra o suficiente para tal.
Ontem à noite, andando pelas cercanias do Youtube, ainda deparei com uma outra moça (atriz Global também, para variar) que justificou a atitude da professora, alegando que se não fosse assim, uma mulher pobre, negra, etc, etc como ela, jamais teria alcançado a notoriedade que alcançou; ainda se referia aos brancos (em extrema atitude de preconceito e falta de respeito) como “A branquitude.” Daí eu me pergunto: qual a vantagem de se alcançar notoriedade através de uma mentira tão horrorosa???
É isso, minha gente.
O caso da professora deveria ser analisado por psiquiatras, pois pode se tratar, realmente, de um problema mental sério. Se nenhum problema psicológico for detectado, acho que ela deveria ser afastada do seu cargo e punida pela mentira que propagou, pois não está apta a servir de modelo aos seus alunos.
Mas toda essa história nos serviu para uma coisa: provar a necessidade de verificar notícias antes de espalhá-las a torto e a direito. Escolher analisar histórias antes de decidir acreditar nelas. Depois de ver quanta gente ‘inteligente’ e poderosa foi enganada facilmente por uma mentira tão mal contada e de verificação tão simples, dá para entender melhor o poder de uma mentira bem contada.