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sábado, 17 de setembro de 2022

BIBELÔ

 



 

Todo dia eu amanheço,

Solto meu canto de dor.

Há quem diga que é alegria,

Há quem diga que é amor.

 

Pulo de lá para cá,

Olho de cá para lá

A paisagem limitada

A que alguém me condenou.

 

Minhas unhas, tão pequenas,

Crescem mais do que deviam,

Enrolam-se feito um fio

Na prisão das minhas penas.

 

Crime algum eu cometi,

Mas fui sempre condenado,

E me deixaram aqui

Esquecido, malcuidado...

 

A minha pequena história

Se arrasta sem piedade,

Não tenho nenhuma saudade,

Já que nunca tive vida...

 

Jamais haverá saída

Para tanta solidão!

Pois enquanto os outros voam,

Só mingua meu coração...


Por minha pequena ração

Diária, jamais serei grato...

Queria colher lá no mato

Aquilo que eu desejasse.

 

Meus sonhos são sobre um dia

Que alguém mais distraído,

Deixaria a porta aberta

E eu, então, escaparia!

 

Todo dia, a mesma sina,

Arremedo de alegria,

Pois alguém prendeu meu canto

Nessa sala tão vazia!

 

Sou um mero bibelô,

Objeto articulado

Sem futuro, sem passado,

Vítima da vaidade

 

Ou quem sabe, da crueldade,

De alguém frio e covarde

Que me usa para alívio

Da sua infelicidade?

 



 

3 comentários:

  1. Quanto custa a liberdade Ana?
    Um perfeito grito contra a crueldade nua e crua.
    Abraços no feliz fim de semana.

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  2. Um pássaro quer voar pelo céu, livre e sem entraves. Na gaiola é como se lhe cortassem as asas. Um hino à liberdade. Gostei muito.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

    ResponderExcluir
  3. O título me chamou. Adoro a palavra "bibelô". Mas, já nos primeiros versos, reparei do que se tratava.
    Tenho verdadeira agonia em ver qualquer animal preso, mas, especialmente, pássaros. Tenho um quintal, com sabiás, canários, coleirinhas, pardais, tico-ticos, e tantos outros que chegam para se alimentar e repousar. É uma verdadeira festa e, mesmo nos dias de maior stress, consigo parar e sossegar, só de sentir a companhia deles. Tenho muitos, e todos soltos.
    É difícil até comentar a sua poesia, Ana, tal é o nó na garganta. Mas é um grito de indignação necessário. Abraços.

    Marcio.

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