Leona: ganhei de presente de um de meus alunos |
Há campanhas para tudo nos dias de hoje. De uma hora para outra, “Somos Todos...” alguma coisa. Alguns dias depois, não somos mais. Mudamos a foto de perfil nas redes sociais para mostrar nosso apoio e nosso repúdio a várias causas diferentes: somos contra/a favor de políticos e partidos políticos, ajudamos a salvar as baleias e as criancinhas com fome na África (mas quando uma criança com fome nos aborda na rua, fazemos cara de paisagem e dizemos: “Hoje eu não tenho...”). Mas nas redes sociais, é bonito protestar. É bonito defender. Está na moda.
Hoje, mais uma vez, vou abordar a causa dos cães abandonados e seus protetores. Acho muito bacana proteger animais abandonados; o problema, é quando isto se torna uma obsessão, e o ato de proteger vira acumulação. Daí, quando a pessoa se dá conta de que a responsabilidade que assumiu está muito além das suas forças, ela quer dividi-la com alguém, e tenta fazê-lo incutindo nos outros o sentimento de culpa: “Você tem que adotar um cão! Não compre, adote!”
Mootley: comprei em uma pet shop. Conheci o criador e chequei sua reputação. |
É preciso que nos conscientizemos. Seria muito bom se, ao olhar para um cachorrinho bonitinho, a pessoa pensasse também que esse cachorrinho vai crescer, e vai precisar de assistência veterinária, vacinas, ração, um local para ficar e muito carinho; ele vai precisar de alguém que cuide dele quando nos ausentarmos, e seria muito bom se ele fosse castrado para que não procrie além da nossa capacidade de cuidar dele e de suas crias. Mas não é o que acontece: as pessoas acham que cachorros são objetos descartáveis, sem sentimentos ou necessidades. Basta abrir o portão de casa... e nos livramos deles! Ou então, se formos bonzinhos, nós os deixaremos no portão de alguém ou amarrado a um poste em frente a uma pet shop ou clínica veterinária, dizendo: “Não se preocupe! Alguém vai levar você para casa.”
Essas coisas acontecem porque não existem leis severas neste país que punam quem faz isso. A culpa pelos cães abandonados não é dos criadores de cães de raça, mas dos criadores de caso.
É fácil ver fotografias nestas campanhas de adoção mostrando cadelas matrizes macilentas e doentes a fim de demonstrar que cães não devem ser comprados. Algumas vezes, me pergunto se todas aquelas fotografias são, realmente, de cadelas matrizes.
Mas, se pararmos de comprar os cães de raça que são vendidos pelos criadores, qual será o destino dessas centenas de milhares de animaizinhos? Ah, isso não importa, desde que as pessoas adotem os cães de rua. É a elitização canina!
E os protetores bradam: “Os cães de pet shops e criadores não precisam de donos, apenas os cães de rua! Que todas as raças caninas sejam extintas, e todos os seus cruéis criadores, presos e proibidos de exercerem seu trabalho! Assim, as pessoas passarão a adotar os cães abandonados que nós recolhemos nas ruas e não temos mais onde colocar.”
E quanto àqueles que abandonaram estes cães nas ruas? Por acaso, se começarmos a adotar todos os cães de rua do mundo, eles vão parar de abandoná-los? Não! Isto acabará incentivando o comportamento destas pessoas cruéis e irresponsáveis! A única maneira de parar ou pelo menos, diminuir isto, é criando leis mais fortes, mexendo nos bolsos delas, e fazendo campanhas de conscientização.
Todos falam da crueldade de alguns criadores, como se todos eles fossem cruéis, quando na verdade, não é assim. Porém, não falam da crueldade dos abandonadores de cães, que o fazem porque, ou não se importam, ou têm certeza de que os animais serão recolhidos. Falam da crueldade dos criadores de cães de raça, mas não dizem nada sobre a crueldade que acontece em alguns canis públicos e até nos canis de algumas ONGS, onde cães passam fome, adoecem, morrem e comem uns aos outros. Mas isto significa que todas as ONGS são ruins? Não! Assim como não significa que todos os criadores de cães sejam ruins.
É bonito ajudar os animais; é necessário, incontestavelmente necessário. Mas se eu quiser recolher cães de rua, devo entender que a responsabilidade sobre eles é minha. Assim como se eu quiser comprar um cão de raça, a responsabilidade em checar as suas origens também é minha. Temos o direito de fazer escolhas, responsavelmente, sem nos sentirmos culpados.
Quem quer comprar um cão de raça, deve investigar sua origem; deve exigir conhecer os pais, visitar o local de onde ele vem, e checar a reputação do criador. Encontrando alguma irregularidade, contatar a polícia ou a associação protetora.
Mas enquanto existir no mundo essa névoa de sentimento de culpa pairando sobre todos, e essa mania de achar que, após criarmos problemas, as outras pessoas tem que nos ajudar a resolvê-los, não haverá nenhuma solução. Estamos engatinhando nos degraus da evolução, e sinto que ainda não subimos quase nada. Só começaremos a subir quando nos tornarmos responsáveis pelos nossos atos.
Meus falecidos Rottweilers, Latifah e Aleph: ela, nós ganhamos; ele, nós compramos de um criador. O rapaz que nos vendeu o Aleph tornou-se nosso amigo e nos visitava de vez em quando para ver o cão. |
A sua lucidez. o seu senso crítico é de fazer inveja amgiga Ana. Não é atoa que você incomoda a tantos.
ResponderExcluirAssino em baixo mais uma vez.
Sempre tive cães e já tive gatos, papagaio e maritacas. Hoje só tenho um canário já idoso.
Optei por não ter mais criações em casa. Não tenho mais condições de me dedicar a esta responsabilidade, por isto não me atrevo mais. Sou veterinário e sei como tudo isto funciona. Hoje tudo é moda, faça isto, não faça aquilo. Por mim quero que todos vão se danar. Faço o que quero e não faço o que não quero. Tudo em torno de uma enorme hipocrisia discursiva. Querem salvar o mundo? Salvem. Querem salvar os animais? Salvem. Querem acabar com a fome? Acabem. Querem ressocializar marginais? Ressocializem. Querem encontrar Jesus? Encontrem. Mas por favor: "ME DEIXEM EM PAZ"! Não quero mais nada disto. #simplesassim ...
Amiga Ana, de novo aqui lendo e assinando embaixo, bem como disse o nosso amigo em comum, o Paulo.
ResponderExcluirEu não tenho mais animais de estimação, já tive muitos, desde que meus filhos eram pequenos, mas com toda a responsabilidade que isso exigiu, os comprei, escolhi-os do jeito que queria, os amei, cuidei, hoje não quero mais, mas cuidei deles até quando morreram por idade e nunca por descuido meu.
Viajo quando quero sem ter mais com que me preocupar.
Sem culpas, não sou ativista, sigo a vida como ela me apresenta.
Amei ler aqui, deixo abraços apertados linda amiga!