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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Morrer de Fome







Existem várias formas de se morrer de fome. A forma física é dolorida, cruel, inadmissível. Acho simplesmente bizarro que em pleno século XXI ainda haja pessoas que morrem de fome pelo mundo, porque a distribuição de comida é tão injusta. Todos nós cometemos o crime de jogar comida fora, nem que seja aquela sobrinha de arroz no fundo da panela, o pão que endureceu, a comida que foi feita a mais e ninguém comeu e acabou estragando. Somos campeões em desperdício. 

Mas há uma forma de morrer de fome que é mais lenta, talvez fisicamente menos dolorida, mas que mata uma coisa muito mais importante do que o corpo: mata a alma. É quando alguém delimita nossos caminhos, dizendo por onde podemos ou não seguir, a quem adorar e a quem odiar, quanto dinheiro podemos ter, onde podemos morar, e com quem, a quem pertencerá aquilo que produzimos através do nosso trabalho, quais ideias podemos propagar e quais ideias devemos calar sob risco de morte. 

E ficam as pessoas que morrem desta morte vivendo em um inferno em vida, onde a miséria é disfarçada em forma de comida. Porque não é só a fome que traz a miséria. Existe a miséria espiritual, que consiste em termos mordaças sobre a boca, vendas nos olhos, braços amarrados e sonhos castrados.

Morreu Fidel Castro. É claro que isto não vai resolver todos os problemas do mundo. Não morrerão com ele a memória das centenas de milhares de pessoas que ele exterminou, torturou, exilou e baniu do país. Ainda há seus herdeiros, ainda há a sua filosofia egoísta que teima em clamar ser possível dividir tudo por igual, desde que a maior parte fique com eles. Mas em vista de tudo o que vem acontecendo no Brasil, considero a morte de Fidel exatamente neste momento, simbólica.

Tomara que eu esteja certa.

ALELUIA!!!!




Google, O Paaaai






Ainda me lembro de quando eu fazia pesquisas para a escola: primeiro, ia a uma biblioteca e pesquisava o assunto em vários livros diferentes, selecionando (e copiando à mão) as partes que interessavam para a minha pesquisa; depois, chegava em casa e procurava figuras em revistas a fim de ilustrar meu trabalho (piquei muitas revistas das minhas irmãs e levei algumas broncas por isso); depois, passava o material todo a limpo, torcendo para não errar (alguns professores não admitiam qualquer tipo de rasura, e tinha que começar tudo de novo se cometesse algum errinho). Também tinha que fazer uma capa para o trabalho, com letras de imprensa para o título, colorindo com canetas hidrocor. Eu, que nunca tive habilidade para desenho, sofria muito nessa parte.

Levava pelo menos quatro horas para terminar tudo, sem contar a parte da pesquisa, que significava ter que tomar um ônibus, ir até a biblioteca, ficar lá uma tarde inteira e depois tomar outro ônibus para casa.

Hoje em dia, as crianças tem a opção de procurar no Google, e encontram textos, fotos e vídeos com documentários e depoimentos sobre o assunto que desejam aprender. Às vezes, isso pode ser muito negativo – há muita fofoca e mentira na internet – mas para confirmar informações, basta que se procure em vários sites e cruze as informações que encontrou. Também há várias enciclopédias online, além da Wikipedia, uma enciclopédia interativa.

Mas vejo pessoas partilhando posts que propagam mentiras absurdas, sem nem mesmo checar as fontes. Isso só serve para espalhar ódio. Também há os que propagam suas fontes de informações tendenciosas, a fim de confirmar suas teorias, mesmo que o óbvio prove o quanto elas estão erradas.

Mesmo assim, a internet e o Google são excelentes fontes de informação! Por que não aproveitar tais recursos, se eles são mais práticos e muito mais rápidos!

Os livros nos quais estudávamos história não eram totalmente confiáveis – visto a História do Brasil que aprendemos, e que contém informações equivocadas. Hoje mesmo, os livros liberados pelo MEC vem cheios de erros. Da mesma forma, nem tudo o que está online é confiável. Porém, acho um tremendo sinal de atraso considerar que tudo o que está no Google seja mentiroso. Através deste site de busca, podemos encontrar diferentes opiniões sobre o mesmo assunto, e lendo com atenção, tirar as nossas próprias conclusões.

Hoje em dia existem muitos livros de papel tendenciosos, escritos a fim de mostrar o que é interessante para esta ou aquela filosofia, e esconder o que não é. Como existem cientistas pagos capazes de provar qualquer teoria – até mesmo a de que maconha faz bem à saúde – existem escritores capazes de provar qualquer teoria que desejem, exercendo seu poder de persuasão e usando palavras bonitas. 
Mas na prática, as coisas podem ser bem diferentes.

Creio que a melhor forma de lidar com essa enxurrada de informações que nos assola diariamente, é usar o nosso discernimento; ler, sem preconceitos, sobre vários assuntos, cruzar informações e tirar conclusões.

Observar cuidadosamente o que se passa em volta, por exemplo, as reações de quem defende isto ou aquilo, pois quando é preciso matar, xingar, ridicularizar ou ameaçar outras pessoas para que uma ideia predomine, é impossível que advenha de tais práticas alguma coisa positiva.

Quem chama o outro de burro ou de ignorante, na verdade está afirmando seu preconceito e sua própria ignorância, pois só admite uma única verdade: a sua. Pessoas assim são pretenciosas e fanáticas. Melhor fugir delas.




quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A Morte Não Mata




A Morte Não Mata


A morte não afasta; até aproxima
Agora  e para sempre, pelo pensamento
O que já está fora e o que ficou dentro,
E que pelo físico se afastaria.

A morte não mata o amor, nem o ódio,
Não se deixa de amar, ou se passa a amar...
Um foi, um ficou, mas se o laço ainda existe,
Não há recomeço, nem mesmo algum pódio.

A morte é apenas janela fechada,
Mas ainda há a casa, e o seu morador
Que guarda a saudade, ou todo o rancor
Daquele que passa por sua fachada.

A morte não mata; o morto não morre,
Pois a sua ausência ainda traz dor
(Quem sabe, alegria, se não houve amor)
Quem fica carrega consigo as lembranças.

Mas e quem se foi – lembrar-se há, ainda,
De quem adorou ou odiou nessa vida?
Eu creio que ‘sim’ é a certa resposta,
Não há mais a chave, mas ficou a porta.






"O amor não mata a morte, a morte não mata o amor. No fundo, entendem-se muito bem. Cada um deles explica o outro."

Jules Michelet







ESPERANÇA





"AS DIFERENTES FORMAS DE DESESPERO SÃO ETAPAS DISTINTAS DE UM MESMO CAMINHO."


A esperança é um estado de espírito que devemos cultivar nesses tempos de dificuldades e confusão.
O pensador espanhol Miguel de Unamuno disse que sempre há um motivo para se ter esperança, "mesmo estando nas mais obscuras aflições, pois das nuvens negras cai a água limpa e fecunda."





Sobre este assunto, o dramaturgo belga Maurice Maeterlinck fez uma interessante reflexão: "A desesperança de baseia no que sabemos, que é nada, e a esperança se baseia no que não sabemos, que é tudo."




Quando nos desesperamos, sentimo-nos vazios, sem ideias nem planos para seguir adiante. A esperança, por outro lado, logo arranja soluções para a situação em que nos encontramos.
Mesmo que seja só por isso, vale a pena ancender uma luz na escuridão.



Do livro Kafka Para Sobrecarregados, por Alan Percy

Sentidos








Eu acho que o amor
É uma briga de sentidos:
Cheiros, sabores, cores, sons
Ecoando em vários tons
Na ansiedade de um par de ouvidos.

Uns pensam que amor é só sentimento,
Volátil, feliz ou sofrível,
Um sentir que ninguém explica
Porque não cabe em ‘sim’ ou ‘não.’
Mas eu acho que amor é carne, alma e sangue,
Um pouco abaixo da loucura
Que se situa na paixão.

Depois, o fogo abranda, e ficam
Entre os gritos, silêncios e meiguices,
As brasas quentes e vermelhas
As mesmas que nos aquecerão
(Meias de lã não bastarão)
Nas noites frias da velhice.





terça-feira, 22 de novembro de 2016

Farelos nos Cotovelos




Quando a gente se casa com alguém – dizem – é que passamos a conhece-lo realmente. Viver juntos na mesma casa deixam expostas todas as manias, fraquezas, medos, dúvidas, qualidades e defeitos. Acho que isso é verdade, embora tenha conhecido casais que viveram juntos uma vida inteira sem sequer atinarem para a verdadeira personalidade do cônjuge. Passaram uns pelos outros sem realmente se olharem.

Já ouvi falar de casais que se separaram por detalhes bobos, como a pasta de dentes espremida pelo meio do tubo, a tampa do vaso sanitário ‘batizada’ ou levantada, as marcas de pés enlameados no assoalho recém-encerado, os roncos noturnos, os cabelos caídos na pia, a cara sem maquiagem ou cheia de creme pela manhã. Mas eu penso que estes motivos são apenas desculpas para o motivo real das separações: faltou amor. Faltou paciência, tolerância, e acima de tudo, diálogo. Talvez, a compreensão de que ninguém é perfeito.

Viver juntos significa dividir espaços,  respeitar os espaços e os gostos do outro e os momentos nos quais ele precisa estar só.

Porém, para certas coisas, nem todo o diálogo do mundo terá sido suficiente. Por exemplo: meu marido tinha a mania de cortar pão sobre a toalha de mesa, o que me deixava sempre irritada. Eu detestava sentar-me à mesa para o café da manhã (levanto-me muito mais cedo que ele, pois começo a trabalhar às sete, e tomo café da manhã sozinha) e sentir os farelos sob o antebraço, ou vê-los grudados nas mangas das minhas roupas. Depois de pedir, implorar, discutir e brigar, desisti; não havia jeito de fazer com que ele se lembrasse de colocar um prato sob o pão antes de cortá-lo. 

Certa vez, enquanto ele começava a cortar o pão, eu mais que depressa pus o prato sob ele, e meu marido – muito sem graça – passou a limpar com a mão os farelos que tinham caído sobre a toalha antes ... jogando-os, com a cara mais inocente do mundo, no chão da cozinha! Percebi que ele tinha tentado encontrar uma solução rápida e desajeitada para seu problema, e ao invés de ficar brava, comecei a rir. Ele pegou a vassoura e passou a varrê-los.

A partir daquele dia, ele não apenas começou a lembrar-se de colocar o prato sob o pão antes de cortá-lo mais frequentemente (às vezes, ele ainda se esquece), mas também passei a não dar mais tanta importância quando os farelos ficam grudados na minha roupa; ao invés disso, lembro-me daquele dia e começo a rir. Confesso que, quando ergo os braços da mesa e não encontro nenhum farelinho sequer, sinto falta, e penso naquele dia com carinho.

Há tantas coisas boas que ele faz para mim e para nós, e farelos de pão não serão mais motivos suficientes para que comecemos uma discussão. Mas só a maturidade traz este entendimento, e a maioria dos casais separam-se antes disso. 





Poema de Natal - Vinicius de Moraes





Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.




Momento de Paz




O Paraíso
É quando estás em paz,
Envolto em branco
Bem no meio do arco-íris,
Descansando na  serenidade,
Sem querer prender a liberdade.

Estar em paz, é não querer mais nada,
A não ser agradecer pelo que tem,
Pelo que já é, e até
Pelo que jamais poderá ser.

É sentar-se lá fora, sobre a grama,
E fechar os olhos para melhor ver,
Abrir os sentidos,
Sentir no vento os cantos dos pássaros
Vindo, vindo, vindo, vindo...

Se houver chuva caindo,
Multipartir-se com as gotas
E cair junto com elas,
Achando que o dia é lindo,
Lindo, lindo, lindo, lindo...




sábado, 19 de novembro de 2016

VIDA







Sons de cristais que brindam,
Sons de cristais que quebram:
Assim tem sido minha vida
Nos caminhos que me levam.

Sonhos e pesadelos,
Vontade de despertar
Ou de dormir para sempre
E nunca mais acordar.

Cheiro de flor e mato,
Cheiro de asfalto quente:
Eu sigo, aceitando os fatos
No meio de tanta gente.

Ora triste, ora contente,
Assim como todo mundo
Que vai procurando um rumo
Entre o raso e o profundo.



CÉUS DE ANA BAILUNE - EM HOMENAGEM À CHICA













quinta-feira, 17 de novembro de 2016

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

OBAMA



"A pessoa que convive com o medo da violência não se importa se está sendo ameaçada por um paramilitar de direita ou um terrorista de esquerda; ela não se importa se é ameaçada por um cartel de drogas ou por uma polícia corrupta. Ela se importa apenas com o fato de estar sendo ameaçada e de que sua família não pode viver e trabalhar em paz. É por isso que nunca haverá segurança verdadeira a não ser que foquemos nossos esforços no combate a todas as fontes de medo nas Américas. É isso o que farei como presidente dos Estados Unidos."



"A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou outros tempos. Nós somos aqueles por quem estávamos esperando. Nós somos a mudança que procuramos."



"Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que te avisem quando você erra."




"Podemos não ser capazes de deter todo o mal no mundo, mas eu sei que a forma como tratamos uns aos outros é inteiramente nossa. Eu acredito que apesar de todas as nossas imperfeições, estamos cheios de decência e bondade, e que as forças que nos separam não são tão fortes como aqueles que nos unem."





"O dinheiro não é a única resposta, mas ele faz a diferença."




"Todo homem está tentando viver à altura das expectativas do seu pai ou de compensar os erros do seu pai."




Lembrança de um Dia Feliz - e Outras Lembranças






Não sei por que eu fui me lembrar deste dia logo hoje, que está chovendo e faz frio. Mas de repente, ele me surgiu lá do baú das coisas perdidas, quem sabe, trazido à tona pelas gotas pesadas de chuva que caem umas sobre as outras, e que eu - enquanto esperava por meu aluno - olhava da janela. 

Era uma tarde de verão. Minha mãe tinha um irmão por parte de mãe que morava em São Paulo, de cuja existência ela só ficou sabendo depois de adulta. Ele às vezes costumava nos visitar, e quando vinha, dormia no sofá da sala, e trazia alguém com ele: uma das filhas ou sobrinhas. Eu gostava muito do Tio Eugênio. Ele fumava muito, e vivia tossindo. Toda vez que ele tossia, colocava a mão sobre o coração e respirava fundo, os olhinhos caídos, e dizia: "Meu coração vai falhar a qualquer momento..." Na verdade, ele viveu bastante, embora pudesse ter vivido bem mais se não fumasse tanto. 

Naquele dia, ele estava lá em casa. Estava sol e muito calor, e eu e minha irmã, que estávamos usando biquines, brincávamos de correr uma atrás da outra pelo quintal  levando baldes de água que jogávamos uma na outra de surpresa. Acho que eu tinha uns dez anos, se muito... não aconteceu nada de especial naquele dia. Não existe nada que eu gostaria de deixar registrado, algo que alguém tenha dito ou feito que justifique uma crônica como esta. Não existe nenhuma mensagem construtiva em nada disso. 

Minha mãe era viva, e jovem. Depois da correria e dos baldes d'água, houve um café da tarde à mesa da cozinha, preparado por ela. 

Eu me lembro dos meus pés descalços e da lama no quintal. Lembro-me do contato gelado da água em meu corpo e de minha mãe ralhando: "Vocês vão pegar um resfriado!" Lembro do Tio Eugênio encostado à parede, do lado de fora da casa, observando nossa brincadeira. Eu me lembro do sol brilhando, o céu azul, os cachorros (tínhamos muitos) correndo para tentar escapar das rebarbas da água. E minha mãe disse; "Aproveitem e reguem as plantas do canteiro para mim!" E a gente ficava na frente do canteiro, de modo que a água caísse nele quando a jogávamos uma na outra. 

Também me lembrei, enquanto escrevia, das guerras de lama, mamona e limão que fazíamos com os colegas na rua. Só bem mais tarde ficamos sabendo que mamonas eram plantas venenosas, e que os limões podem manchar a pele em contato com o sol. Mas no nosso tempo, isso não acontecia; Deus poupa as crianças, os bêbados e os loucos. Sobrevivemos ao Ki-suco - uma bebida feita de química, aromatizantes artificiais, corantes e conservantes. A língua ficava roxa ou rosa quando bebíamos, dependendo do sabor escolhido. Sobrevivemos ao açúcar, que era propagandeado na TV como sendo uma fonte de energia para as crianças. Nós comíamos doces que ficavam pegando poeira sobre o balcão do bar do 'seu' Manoel, e comíamos do pão que era embrulhado com folhas de papel de pão que ele cuspia no dedo para separar umas das outras. E nós sobrevivemos. 

Quando chovia muito, nós andávamos pela enxurrada da rua, água pelos tornozelos, e costumávamos também tomar banho numa sobra de água da antiga CAEMPE que corria bem ao lado do portão da nossa casa, em um bueiro aberto e comprido. Nunca soubemos se aquela água era limpa. Imaginem, naqueles tempos tinha tanta água em Petrópolis, que sobrava e era jogada fora.

Eu abraçava cachorros e gatos que raramente tomavam banho. Tinha galinhas, porquinhos da índia e hamsters. Brincava com besouros, joaninhas, lagartas, formigas e borboletas. Fazia bolinhos de terra. Minha vida não era lá muito higiênica, se comparada à vida das crianças de hoje, mas eu era feliz. 

Por que eu fui lembrar de tudo isso? Sei lá. Acho que estou ficando velha mesmo.




Natal Com Crise






🌝



Todo ano é sempre a mesma coisa: fechamos nossos olhos, e quando os abrimos novamente, vemos uma loja com decoração de natal, e daí pensamos: "Nossa, como o ano passou rápido!"

Apesar da crise, não posso dizer que este ano tenha sido ruim para mim. Poderia ter sido melhor, mas dentro do contexto atual do país - e do mundo - até que não foi ruim. Porém, ele foi ruim para uma porção de gente que perdeu seus empregos, e eu sinto muito por todos eles. Deve ser horrível ter esse caminho longo em frente, quando não sabemos o que fazer para abastecer os tanques para poder seguir adiante. Há famílias passando necessidades. Há pais desempregados, se perguntando o que farão para sustentar seus filhos. 

Mas creio que as coisas vão melhorar no próximo ano. Precisamos dar um crédito ao novo governo ao invés de ficarmos torcendo para que dê tudo errado. 

Mas com crise ou sem crise, logo será natal. Todo mundo tem em casa a árvore de natal com os enfeites antigos, e não custa nada arrumá-la bem bonita e colocá-la em um lugar de destaque da casa. Acho que ela é um sinal de esperança e fé. Não podemos jamais perder a fé em nós mesmos. E se não houver dinheiro para os presentes, podemos escrever cartinhas, desenhar cartões, fazer uma fornada de biscoitos e decorá-los para dar de presente. E se não tivermos uma roupa nova para a noite de natal, podemos pegar as antigas e lavá-las e passá-las bem, acrescentando um lenço colorido, um cinto ou uma bijuteria. Quem tiver habilidades, poderá bordar alguma coisa, quem sabe...

No lugar do amigo oculto, podemos brincar de outra coisa, como um jogo que possa divertir a todos e tornar a noite mais alegre. Acho que a noite de natal não deve ser deixada de lado.

Em 2012, minha mãe estava em coma no hospital. Foi um natal muito triste para mim, sem comemorações - eu nem aceitei convites, pois minha tristeza poderia contaminar a alegria das outras pessoas. Fiquei em casa. Mas montei minha árvore de natal, e fiz minhas orações como sempre faço. Na noite de ano novo, eu estava mais triste do que nunca, e logo de manhã, recebi a notícia de que ela tinha morrido. Mesmo assim, não consigo pensar nas festas de final de ano como ocasiões tristes. 

Faltam algumas pessoas à mesa - minha mãe, meu pai, meu sobrinho. Amigos de infância. Mas eu ainda estou sentada à mesa, e também meu marido e todas as pessoas que ainda estão por aqui. E existem centenas de motivos pelos quais eu devo ser grata; para começar, agradeço porque há uma mesa. Porque há pessoas. Não estamos passando fome, nem frio. E estamos juntos.


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Se Você me Deixar







Se você for embora,
Não vai levar consigo um pedaço meu,
Não me fará andar pela rua, entre o breu,
Nem ficarei cheirando a tua camisa usada.

Não, não vou ficar aqui, te esperando voltar,
A cama desfeita, a luz apagada,
A chorar, encharcando a fronha onde eu bordei
Teu nome com tanto zelo, no meu travesseiro.

Se você for embora,
O tempo vai passar, e eu vou te esquecer
(Mas escolha ir embora sem jamais morrer)
Pois o vento e a chuva levam tudo o que fica
E o teu nome vai embora na enxurrada, a escorrer...

Sei que o que sempre houve morrerá aqui,
Porque a vida seguirá, e o tempo não para
Para contarmos o tempo, nem ao sentirmos saudade...

Porém, há uma grande verdade que o futuro assiste,
Ao olhar para trás, lembrar você há de deixar-me
Mesmo que só às vezes, tremendamente triste...




No link abaixo, eu cantando Tim Maia








What a Mess!







I look around
And I find out
I'd rather not open my eyes.

For what I see, 
I think the world is ending,
And there's no way to disguise it.

What a damn mess!
It seems that chaos
Has come, at last!

I rest my head
Upon my hand
And watch what's left
Go down the drain...




PRA LÁ DO MEIO DA ESTRADA






Dizem que quem passou dos quarenta está na meia idade. Pode ser, pois hoje em dia, alguém com 40 anos chega a viver além dos oitenta com saúde e disposição; mas, aos 51, estamos virando o Cabo da Boa Esperança – alguém aí conhece quem tenha 102 anos? Meia idade é metade da vida, e já estou além. Pra lá do meio da estrada.

Eu olho tudo o que está acontecendo no mundo hoje em dia, e penso nos momentos em que estou dedicada a uma intensa faxina da casa: as coisas fora dos seus lugares, panos e esfregões espalhados pela casa, garrafas de desinfetante, cera líquida e lustra móveis pelos cantos. A poeira por trás dos móveis aparece, e insetos mortos e secos parecem embalados por ela. Pode ser que baratas e demais insetos, sentindo-se desalojados, passem a correr pela casa, espalhando pânico e desejando manter seus esconderijos.

 A casa está em seu momento mais caótico, e se chegar uma visita, provavelmente não terá onde sentar-se. 

Mas quando a faxina termina, parece que a casa ganha vida nova: as coisas limpas, perfumadas e em seus lugares. Dá gosto andar pelos cômodos e pensar: “eu que fiz,” e imaginar desfrutar de tudo com a pessoa amada.

O mundo está num estado caótico. Acho que estamos vivendo momentos de transição. Vemos coisas acontecendo das quais até Deus duvida (e acho que Ele deve estar apavorado com as coisas que andam acontecendo por aqui). E o que torna tudo ainda mais difícil, é a não aceitação de tais transições por pessoas que desejam manter tudo como está, indo contra o bom senso. Ao invés de analisarem tudo sob uma nova ótica, continuam usando a velha (ca)ótica de sempre, indo contra tudo, sendo contra tudo, não importa o quanto as mudanças sejam necessárias – o que prevalece para estas pessoas é o orgulho ferido, a vingança, a incitação ao ódio, a incoerência. 

Eu prefiro ver essa bagunça como uma fase necessária, antes que a casa fiquei limpa e arrumada. Gosto de dar uma chance aos acontecimentos antes de ir contra eles. Nem sempre as minhas escolhas e preferências são as escolhas e preferências da maioria, e quando isso acontece, devo respeitar os fatos, sem torcer contra, sem querer que dê tudo errado, sem espalhar pânico, boatos e maledicências. As bestas do Apocalipse estão soltas, e correm pelo mundo, nascendo das linhas de blogs, sites e jornais, no formato de crônicas inflamadas e muitas vezes, mentirosas.

Eu já tenho mais que a metade do meu caminho andado. E quando eu paro para pensar, dou graças a Deus por isso. Tenho pena dos que estão chegando agora, e que serão adultos daqui a alguns anos. Sinto muita pena por essa idiotice que grassa por todo o planeta, pelos jovens que são manipulados como marionetes pelas mãos egoístas de quem só quer ver o circo pegar fogo a fim de defenderem seus interesses pessoais.

Tenho horror ao discurso pronto e repetitivo que sai de suas bocas quando eles cometem o sacrilégio de abri-las e dizerem o que os outros pensaram por eles. Causam-me asco os clichés incansavelmente repetidos, que nem fazem mais sentido, que não se encaixam mais em lugar nenhum. 

Espero que eu esteja certa, e que esta bagunça seja apenas uma fase de transição, e que logo as coisas se ajeitem e as pessoas se acalmem. De qualquer forma, não estarei aqui para ver como tudo ficará, e ao olhar em volta, dou graças por isso.




Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...