Antigamente, a palavra "lar" imediatamente nos invocava imagens de nosso cantinho preferido em casa, aconchego, segurança. Um lugar no qual poderíamos estar à vontade, totalmente desprovidos das máscaras sociais que precisamos, muitas vezes, usar durante o dia. Ah, o lar! O lugar mágico onde podíamos nos entregar a um bom livro, receber os amigos, fazer uma boa refeição...
Ultimamente, quando uma mulher é classificada como sendo 'do lar,' várias críticas surgem: entendem que ela é submissa, dependente, alienada. É preciso estar engajada em algum movimento. É preciso ser livre, emancipada, e 'do bar.' Bem, que cada um viva a vida da forma que escolher, mas o que eu sinto, é que as pessoas estão deixando que escolham por elas, e nem percebem.
A maioria das pessoas vivem em dois pontos extremos: ou aqui, ou lá. E quem não estiver onde estamos, merece todo o nosso desprezo, a nossa crítica e também todas as acusações. Acho isso triste, porque o que deveria ser importante, não é a preocupação com rótulos, as classificações que surgem a todo momento nas redes sociais, baseadas na idiotia que rege uma minoria não-pensante e que lastra como vírus contaminando cabeças antes sensatas. O importante, é aprender a ler nas entrelinhas daquilo que tentam nos fazer engolir, e deixar de ter tanto medo de julgamentos alheios. É importante ter coragem para dizer 'não' quando necessário, sem medo de parecer ridículo, já que os inteligentes e sensatos estão fazendo um papel muito feio.
Eu me sinto triste quando percebo que nos dias de hoje, muitas mulheres consideram uma desonra cuidar de uma casa, cozinhar ou ficar em casa tomando conta das crianças. Que mal há nisso? Façamos as nossas escolhas baseadas naquilo que realmente queremos, e não no que nos impõe! Após anos lutando contra a ditadura do mundo masculino, as feministas acabaram caindo em uma armadilha muito pior e ainda mais difícil de se livrarem: a ditadura feminista.
Todo extremismo é sinal de medo, vontade de cercar-se de muros e carapaças que evitem que arranhem a superfície de nossas convicções - pois não estamos, realmente, convencidos de que elas estão certas. Sejamos 'do lar' ou 'do bar', ou ambas as coisas, mas sem que para isso precisemos massacrar quem fez uma escolha diferente.
Um poema:
Correntes
Eu tiro tuas correntes,
E elas caem, pesadas
Rudes e enferrujadas
Sobre os dedos dos teus pés.
Conserto as asas quebradas
Ensinando-te a voar,
Te mostro a mesa de bar,
E o grito na garganta.
Te faço ter esperança
Desejando a liberdade,
Te ajudo a fazer alarde
E a mirar tua arma.
Mas depois que eu te deixar,
Jamais serás como eras:
A ave que antes cantava,
Gritará como uma fera!
Te levarei onde eu for,
E o amor que aprendeste
Será visto como um elo
Da tua antiga corrente!
Odiarás tua casa,
Teu espelho, teu irmão,
Mordendo, sem distinção,
Quem tentar chegar mais perto...
E quando tu perceberes,
estarás em um deserto,
Não mais lembrarás teu nome
(No teu ventre, uma outra fome...)
Estou sem definiçao...nao sou do bar, mas tbm nao sou do lar, pois batalho pra dar um futuro melhor para meu filho...adoro a profissao que escolhi,mas...confesso...tem dias que so queria ser do lar,podendo ficar quieta em casa na companhia do meu filho... na verdade so quero ser eu mesma...e podendo ser o que quiser e na hora que quiser...o resto é discurso pronto em um mundo totalmente perdido em questao de respeito a opiniao e escolhas alheias...
ResponderExcluirBeijos...
Gente, também sou 'do lar' mas trabalho pra caramba, embora o faça em casa - sou professora particular. Adoro meu trabalho e acho que seria bom se toda mulher tivesse uma atividade que permitisse que ela pagasse suas próprias contas, o que acho é que está havendo um certo exagero, um preconceito enorme contra as que são a favor do lar como eu. Já vi mulheres comentando no Face coisas horríveis sobre donas de casa, sendo que donas de casa são mulheres iguais a elas. E os comportamentos... meu Deus...
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ResponderExcluirOi, Ana, seu segundo e terceiro parágrafo estão perfeitos, aliás toda a crônica! Eu não sinto tristeza dessas pessoas que valorizam trabalhar fora e desprezam um trabalho absolutamente necessário, que engrandece. Cuidar do lar, dos filhos não é trabalho fácil. Eu também dei muita aula de artes e arte sacra em casa, em escolas, associações etc e tal. E era mostrado na televisão em programas específicos. E ainda tinha encomendas das lojas ( dos shoppings) e particulares. E tenho meu atelier em casa. Épocas trabalhei pra caramba. Mas tem gente assim, Ana, que seguiu uma moda o que é valorizado não é o trabalho, e sim sair para trabalhar. Esse SAIR virou a coisa mais importante do mundo para as mulheres. Parece que ficam mais seguras, mais valorizadas. Penso que a valorização tem de ser como ser humano e bendita são as que encontram sua realização num trabalho e na sua vida afetiva. Ageração de meus filhos é que começou na valorização dessa coisa que falamos. E estou pouco ligando porque eu me considero realizada e feliz. Tenho o privilégio de fazer o que gosto, e de ganhar, também, meu dinheiro. Onde? Não interessa.
Assino embaixo do teu texto, belamente pensado e escrito. Do Face? To fora.
Beijos pra você, gosto muito de suas crônicas. Cruzes, olha o tamanho que ficou!