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segunda-feira, 25 de abril de 2016

Sob as Estrelas

Esta é uma fotografia que eu tirei da lua, há anos. Não dá para ver as estrelas, mas elas estão por ali...






Um aluno cancelou a aula, e eu fui lá para fora. Ainda agorinha eu estava lá, o céu ainda se despedindo do dia, azul-marinho e salpicadinho de estrelas. As primeiras... elas me observavam escondidas entre as folhas das árvores, brilhando no meio do verde escurecido pelo manto da noite criança. 

Eu pensei em minha mãe, em um tempo em que eu era pequenininha e estava lá fora no quintal da nossa pequena casa, numa hora como a de hoje. A paisagem era diferente, mais simples, mais cercada de casas e de gente que chegava do trabalho. Na cozinha, chiava a panela de pressão. Ela me apontava o céu, e mostrando duas grandes estrelas paralelas, dizia: "Aquelas ali são os Olhos de Maria." Depois, apontava um outro grupo, tracejando com o dedo o seu formato, e ensinava: "Veja: aquela é a Chave de São Pedro. Não parece uma chave?" Eu concordava, e ela seguia, apontando então um grupo de estrelas em formato de cruz: "É o cruzeiro do sul. Veja, ali onde ele está  é o sul, e na sua frente está o norte; o sol nasce no leste, e morre no oeste." Eu concordava, repetindo para não esquecer, e ela me apontava uma única estrela, enorme e brilhante: "Aquela é a Estrela D'alva." 

Eu adorava as estrelas! Ainda adoro.

Minha mãe me dizia que podíamos fazer um pedido quando avistávamos a primeira estrela que aparecesse no céu - mas tinha que ser a primeira; bastava declamar o versinho: "Primeira estrela que eu vejo / dá-me tudo o que eu desejo." E então, a gente fazia o pedido.

Eu pedi muitas bonecas Susie, mas só ganhei uma. Pedi bicicletas que só pedalei na imaginação, e uma casa na praia na qual eu morava apenas quando ia dormir. Pedi uma amiga inteligente e bonita, que gostasse de brincar comigo e não me deixasse nunca de lado. Pedi que minha irmã mais velha fosse mais boazinha comigo. Pedi que, quando meu pai chegasse em casa, trouxesse uma porção de chocolates e balas, mas isto raramente acontecia. 

Enfim: eu não ganhei quase nada do que eu pedi naquela época, mas um dia, elas finalmente me escutaram: da janela do apartamento onde eu morava quando me casei, eu via uma faixinha de céu entre os prédios; pedi às estrelas uma casa com quintal, e eu ganhei uma, anos depois. 

Agorinha mesmo, lá no jardim, eu pensei sobre o que eu sentiria falta se eu fosse embora hoje: do meu marido. Dos meus cães. Do meu jardinzinho, que embora não seja o mais belo ou o maior, e nem tenha as plantas mais bonitas e viçosas, é o meu jardinzinho. Eu sentiria falta desta casa, que é como uma extensão de mim mesma. E de mais nada, pois acho que para onde a gente vai, ficamos mais perto das estrelas.


Minha mãe, que me ensinou os nomes populares de algumas estrelas.

3 comentários:

  1. Vim aqui, tomar umas doses de ternura, muito obrigada!

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  2. Adoro ler vc e nao canso de repetir isso...me lembrei de minha avo falando a mesma coisa sobre a primeira estrela... parecia que antes as pessoas paravam para observar nao so estrelas, mas a vida passar...

    Beijos...

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  3. Olá, Ana. Cheguei aqui por uma pesquisa no Google sobre sal grosso ( antigo) e resolvi fuçar mais um pouco pois vi que havia postagem de 2016. Que surpresa agradável ver um blog nos modos antigos, como um blog mesmo, já que o sentido de blog se perdeu nesses últimos tempos! Voltarei mais vezes. ^^

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