witch lady

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terça-feira, 21 de maio de 2013

A Caixa



Quem sabe, talvez  só precise
De uma caixa que me caiba
Quando chegar lá na frente, 
Diante da porta fechada.

Aqui ficarão os meus sonhos,
As roupas, as modas, a casa,
Amigos, família, parentes,
Cabelos, os pelos, os dentes.

Os ossos, as unhas, os sumos
De um corpo que um dia foi gente,
Lá dentro da caixa fechada,
Entre a eternidade e o nada.

Um brinde, uma gota de fel,
Um copo de cólera e mel...
Ah vida, megera indomada,
Ah, morte, o fim da picada!




segunda-feira, 20 de maio de 2013

Fim de Tarde





Aquele cheiro de carros
Chegando na rua,
Cachorros latindo nos portões,
Pais com os pães pendurados nos dedos,
Mães em roupões e pantufas,
Jantar sobre a mesa.

A novela rolando na TV,
Talheres e copos tilintando,
O cheiro da comida escapando pela janela,
A adolescente no quarto, em frente ao espelho,

Sem pensar em problemas,
Apenas nas novas cores dos esmaltes de unha,
Na prova que teria na manhã seguinte,
Em ser uma estrela num banho de espuma,
E no que contar, amanhã, à amiga.

Conversas chegando nas vozes dos ventos,
As ruas vazias, tão cheias de lua,
E de repente, alguém chega à janela,
Olha as estrelas, respira fundo,
Planeja o outro dia,
Silencia.

Era assim.

Orgulho, Cobiça, Competição - Desabafo






Tenho visto o orgulho , a cobiça e a competição deixarem seus rastros pelo mundo, separando amigos, destruindo lares, causando verdadeiros tsunamis na vida das pessoas. Tenho visto pessoas que pensam que ter a última palavra é mais importante do que manter um relacionamento saudável com as pessoas que as cercam. Vejo e lamento. 

Existe nas pessoas um desejo de vingança que extrapola a convivência. Aquele ressentimento que ficou lá no passado é cuidadosamente cultivado por anos e anos, até que haja uma oportunidade de vingança; e mesmo que as coisas tenham mudado, que a vida tenha dado mil voltas e que as pessoas tenham crescido, a vingança é alimentada todos os dias, à sangue e lágrimas.

Existem algumas pessoas que só ficam felizes e só se sentem seguras quando acham que tem 'o controle da situação,' ou seja, o domínio sobre as demais. Usam como lema, o conceito 'Dividir para dominar,' e só ficam felizes quando conseguem seu intento.

Existem pessoas que não tem dentro de si um pingo, uma única gota de gratidão por quem as ajudou em algum momento na vida, e nem sequer conhecem o significado da palavra gratidão.

E o mundo fica mais cinzento, e as relações, cada vez mais corroídas, até que se chega a um ponto em que não há mais volta. O importante, para estas pessoas nocivas, não é ver o bem do outro, não é cooperar para que todos possam ser felizes e darem-se bem uns com os outros, e sim ver a desordem, o desentendimento, a desconfiança espalhados por todos os lugares!

E quem ganha com isso?  Elas pensam que ganham, mas todos perdem. 

A fofoca, a inveja, a competição, as mentiras, o orgulho e a cobiça são as bases morais destas pessoas. É com imensa tristeza que eu vejo coisas ruins, coisas péssimas acontecendo no mundo, e eu penso, "Meu Deus, será que eles não enxergam o que estão fazendo? Como podem se colocar como ícones de moral e exigir perfeição dos outros, se eles mesmos agem como agem?"

O que importa, é colocar uma fotografia sorridente nas redes sociais, a fim de demonstrarem que suas vidas são perfeitas e felizes, quando na verdade, está tudo uma merda. O que importa, é 'ir pra balada,' o que importa, é curtir e ser curtido, compartilhar e ser compartilhado, enquanto espalham o preconceito, a má vontade e a falácia!

Lembro-me que, ao final do ano de 2011, vi um desses astrólogos/tarólogos/adivinhos/e sei-lé-mais-o-que em um programa de TV que dizia que 2012 seria o ano em que as máscaras cairiam; fiquei com aquela frase na cabeça, nem sei porque, mas hoje, eu entendi. Assim como também entendi toda aquela parafernália de fim de mundo que encheu a mídia; é que o mundo acabou mesmo, e nós nem percebemos!

E essas pessoas sentam-se nas poltronas, em suas casas, na hora do jantar, e ficam apontando para a TV, para os políticos desonestos, e falando em qual seria a melhor punição para eles, quando na verdade, elas ficariam muito felizes se pudessem estar lá aonde eles estão, fazendo as mesmas coisas ou até pior!

Me desculpem se eu hoje estou pessimista, mas é assim que eu estou enxergando as coisas neste momento. E a pior coisa (ou talvez seja até bom), é a gente sentir na pele, literalmente, as coisas que estão acontecendo em volta da gente, e não poder fazer nada para mudá-las, pois as pessoas são idiotas e não enxergam, e nem aprendem através das lições que a vida aplica. As coisas estão desmoronando, literalmente, e ninguém nem percebe quando foi que tudo começou, e o que seria preciso para fazer isso parar!

Sinceramente, não vejo saída. É cada um pensando em si, em como lucrar mais, em como enganar o outro, em como dominar, dar ordens, colocar pessoas contra pessoas, fofocar, inventar mentiras para manipular vidas, e depois... bem, depois, elas vão lá para a sua igreja, centro, sinagoga, mesquita e sei-lá-mais-o-que, e de olhares compungidos, pregam o perdão, a bondade e a caridade.


Família





“Família é prato difícil de preparar”

(de “O Arroz de Palma”, de Francisco Azevedo)

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.




E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.



Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.

Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.



O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini; Família à Belle Meunière; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.

Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.


Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. 


Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.


domingo, 19 de maio de 2013

QUEBRAR-SE






Quebrar-se

Não sabia ser inteira; partia-se
Sempre que alguém partia!
E ao quebrar dos laços,
Apenas a alma doía!

Ah, a impermanência
Na qual ela vivia!
Quebrava-se sempre
Que alguém partia...

A vida emendava os pedaços,
Juntava os traços,
fazendo colchas de mil retalhos,
Amarrava as lembranças
Em um triste feixe...

E ela, sozinha,
Fragmentava-se,
Cortava-se,
Quebrava-se
Em mil saudades,
Ao final de cada dia!

Ah, se ela soubesse
Manter-se inteira,
Reconstruir-se,
Costurar-se!...

Quem sabe, até mesmo
Doesse menos
Cada partida,
Cada quebrar-se!

E as memórias
Juntavam-se todas
Aos pés da moça,
Em frente ao fogo,
Sobre o tapete,
Entre as paredes,
Sob as cortinas
E as cobertas,
Na fronha lisa
Quase sem sonhos...

De madrugada,
Alguém partia,
E ela fechava os olhos
Ainda tonta de sono,
Ainda transida de medo,
Até que um dia - bem de repente
Ela partiu.


Uma Menina




Uma menina


Ramo de flor preso na mão,
Ela estava quieta,
Estanque entre o passado
E o futuro.

Tinha medo de que
Um movimento
Desmanchasse a realidade,
Tinha medo da saudade.

Em volta, o tempo crescia,
Mudava,
Envelhecia,
Mas não a menina!

Na pele do braço,
Uma palavra tatuada,
Na menina dos olhos,
Uma imagem bordada.

Pintura da alma
Em cores suaves e calmas,
Uma menina frágil e forte
Que o vento desmancharia,
Mas jamais destruiria!

Seu pó de menina
Ficaria para sempre
Voando pelas estepes,
Ao sabor do vento,

E sua voz encantada
Seria ouvida
Pelo transeunte que tivesse
Uma alma
De olhos azuis.

*

Imagem: um presente de Lady Laura, a quem dedico esta poesia.



A BORBOLETA





A borboleta

As asas ainda úmidas,
Amarrotadas e tímidas
Que devagar, desdobrava
E secava no beijo da brisa...

As cores nacaradas
Aos poucos, reveladas,
As anteninhas esticando-se,
As patinhas esfregando...

Alçou voo num raio de sol,
E se foi, recém-nascida,
Transformada
Em alguma coisa
Bem melhor que uma lagarta


MENTIRA





Mentira


A tua estrela brilha,
Mas é tão fria,
Só de mentira!...

O teu olhar
De superfície lisa
E escorregadia,
De quem carrega apenas
Ironia!

Lágrimas copiosas
Copiadas de algum folhetim,
Desses antigos,
Reprisados nos canais Cult.

Quantas fantasias,
Todas rasgadas!...
Nem sequer serviriam
Ao final cansado
De algum carnaval!



Um Novo Dia






Texto enviado por e-mail pela Fraternidade Francisco de Assis, centro espírita Kardecista localizado em Petrópolis. O autor não é mencionado.

Um Novo Dia



Um novo dia e, com ele, novos desafios. Para alguns, vai ser como todos os
outros, a mesma rotina de sempre, mas, para outros, alguns problemas de
longa data ou que surgirão. Seja como for, precisamos tentar acertar, a
fazer a coisa que, para nós, parece ser a certa. A única coisa que não
podemos nos esquecer é que não estamos aqui para sofrer, mas, sim, para
acertarmos na nossa caminhada, fazermos o possível para que ela seja
tranquila e que todos os problemas que surgem são para ser vencidos. 


Hoje, o
dia está chuvoso e triste. O sol está encoberto, mas sabemos que ele está aí
no mesmo lugar em que sempre esteve e que, a qualquer momento, vai surgir e
iluminar e aquecer novamente. O mesmo acontece com nossa vida, temos alguns
momentos de dor, de sofrimento e de indecisão, mas sabemos que os momentos
de alegria e de felicidade são maiores, bem maiores. Vamos tentar passar por
este dia encoberto da melhor maneira que conseguirmos, tomar decisões, mesmo
que não tenhamos certeza de que são as certas, mas agir para que a
felicidade volte a nossa vida. Tentar afastar do nosso lado, tudo e qualquer
pessoa o que nos faz sofrer.


 Escolher o que fazer com a própria vida é uma
escolha, uma decisão de cada um. Precisamos tentar ser bons, amigos e
perdoar sempre, só não podemos nos deixar humilhar e ser magoados com atos
ou palavras. Somos, todos, filhos de um Deus que nos ama e que só quer o
nosso bem e, para qualquer decisão que tomarmos, precisamos sempre acreditar
que nunca estamos sós e que o caminho certo, mesmo que demore, vai chegar,
mesmo que de voltas e voltas, está aí para que o encontremos. Vamos ser
felizes e tentar caminhar em paz.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Ninguém Nasceu de Óculos, Mas...


Estou na idade em que os braços vão ficando cada vez mais curtos; as letrinhas começam a embaralhar-se umas às outras, e brincam de esconder por trás das linhas - que andam estranhamente embaçadas. Como é que pode ficar assim, tão 'nublado', numa simples folha de papel?

Adiei, mas não teve jeito: assumi os óculos. Tive que assumir. Já estava ficando constrangedor, corrigir as composições dos alunos esticando o braço e segurando a folha por baixo da  lâmpada. E logo eu, que sempre enxerguei tão bem!

Mas até que nem foi tão cedo; tem gente muito mais nova que eu usando óculos há tempos! Eu já tenho 47. nada mal... é como eu disse para o meu marido: daqui para frente, não vai melhorar nada... fisicamente, é ladeira abaixo. A lei da Gravidade - esta dama impiedosa - começa a fazer mostrar sua força. Os cabelos brancos cismam em dominar os pretos, brotando a intervalos cada vez menores entre uma tintura e outra. God damn it! 

Mas tenho notado algumas coisas boas: ando um pouco - eu disse um pouco - mais paciente. E bem menos ansiosa também. Afinal, compreendi que o que não nos mata, nos deixa mais fortes. E que de nada adianta lutar contra o inevitável: a idade chega para todo mundo, e se até a Meg Ryan envelheceu, por que não eu?!


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Alma Invisível






Alma Invisível


Havia alguns lírios brancos brotando bem junto ao muro,
E sobre o mármore escuro, um retrato já apagado
Tão amarelado rosto, onde se via um sorriso
Cedo levado da vida sem piedade, sem aviso...

Havia um vaso de flores sobre a lápide, murchando,
Como se  alma e  perfume,  alguém os fosse levando
O lume da vela acesa a queimar, tal qual as dores
Fincadas dentro do peito como os caules das tais flores...

Havia alguém que rezava, dizendo palavras secas
Molhadas pela torrente de lágrimas tão profusas,
Confusas palavras ditas à sua falecida musa,

Que a ele observava, alguém que não era visto
E que de angústia penava por ser alma invisível
A vagar eternamente num limbo incompreensível.



O Pequeno Príncipe




Trecho de "O Pequeno príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry

(...)
Ele sorriu com tristeza.

Esperei muito tempo. pareceu-me que ele ia se aquecendo de novo, pouco a pouco.
-Meu querido, tu tiveste medo...

É claro que tivera. Mas ele sorriu docemente.

-Terei mais medo ainda esta noite.

O sentimento do irreparável gelou-me de novo. E eu compreendi que não podia suportar a ideia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.

-Meu bem, meu quero ainda escutar o teu riso...
Mas ele me disse:
-Faz um ano esta noite. Minha estrela se achará justamente em cima do lugar onde caí o ano passado...
-Meu bem, não será um sonho mau essa história de serpente, de encontro marcado, de estrela?
Mas não respondeu à minha pergunta, e disse:
-O que é importante, a gente não vê...
-A gente não vê...
-Será como a flor. Se tua amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas a estrelas estão floridas.
-Todas as estrelas estão floridas.
-Será como a água. Aquela que me deste parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembras-te como era boa?
-Lembro-me...
-Tu olharás d enoite as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim. Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão todas tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...

Ele riu outra vez.

-Ah! Meu pedacinho de gente, meu amor, como eu gosto de ouvir esse riso!
-Pois ele é o meu presente... será como a água...
-Que queres dizer?
-As pessoas tem estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são os guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém...
-Que queres dizer?
-Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!

E ele riu mais uma vez.



-E quando te houveres consolado ( a gente sempre se consola) tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão maluco. Será uma peça que te prego...
E riu de novo.

-Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem...
E riu de novo, mais uma vez. Depois, ficou mais sério:
-Esta noite, tu sabes... não venhas.
-Eu não te deixarei.
-Eu parecerei sofrer... eu parecerei morrer. É assim. Não venhas ver. Não vale a pena...
-Eu não te deixarei.




Mas ele estava preocupado.
-Eu digo isto... também por causa da serpente... É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto.
-Eu não te deixarei.
Mas uma coisa o tranquilizou:
-Elas não tem veneno, é verdade, para uma segunda mordida...

Essa noite, não o vi por-se a caminho. Evadiu-se sem rumor. Quando consegui apanhá-lo, caminhava decidido, a passo rápido. Disse-me apenas:
-Ah! estás aqui...
E ele me tomou pela mão. mas afligiu-se ainda:
-Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu parecerei morto e não será verdade.
Eu me calava...




-Tu compreendes. É longe demais. Eu não posso carregar este corpo. É muito pesado.
Eu me calava.
-Mas será como uma velha casca abandonada. Uma casca de árvore não é triste...
Eu me calava.
Perdeu um pouco da coragem. Mas fez ainda um esforço:
-Será bonito, sabes, Eu também olharei as estrelas. Todas as estrelas serão poços com uma roldana enferrujada. Todas as estrelas me darão de ber...
Eu me calava.
-Será tão divertido! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...
E ele se calou também, porque estava chorando...
-É aqui. Deixa-me dar um passo sozinho.




E sentou-se, porque tinha medo.
Disse ainda:
-Tu sabes... minha flor... eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingênua! Tem quatro espinhos de nada para defendê-la do mundo...

Eu sentei-me também, pois não podia mais ficar de pé.

Ele disse:
-Pronto... Acabou-se...
Hesitou ainda um pouco, depois ergue-se. Deu um passo. Eu... eu não podia mover-me.

Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna. permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarinho como uma árvore tomba. Nem fez sequer barulho, por causa da areia.

(...) Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim... E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos...



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Oboé





Oboé

A nota vibrou em cada nervo,
Entre cada pulsação,
Enchendo os espaços entre os ouvidos
E o coração.

Um sustenido,
Se enrodilhando, sofrido,
Pingo de lágrima
Caído do oboé.

A noite ouviu,
A música ascendeu às estrelas
Que cintilaram azuis e brancos,
No toque suave e gentil
Das notas retintas...

-Como foi possível
Fazer soar tanta tristeza
De um oboé?



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O TUCANO

O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...