Ao amanhecer do primeiro turno, acordo com um
gosto metálico na boca, cansaço e uma sensação de desânimo. E não, não é covid.
Olho em volta e percebo que as árvores estão no mesmo lugar, os passarinhos
cantam do mesmo jeito e a minha montanha continua lá, onde sempre esteve, muito
antes que eu e minha geração viéssemos a existir. E o céu ainda é essa
imensidão misteriosa – hoje coberta por uma macia névoa branca.
Mas essa sensação terrível já me acompanha há algum
tempo, é como se eu fosse continuamente seguida por alguém me dizendo o tempo todo:
“Não adianta. Essa trégua é temporária.”
Assistindo ao primeiro episódio de O Senhor dos
Anéis na Prime Video, muito me impactou a frase de um personagem, uma "elfa" guerreira:
A cena mostra que ao redor dela havia apenas paz, beleza e
cascatas brilhantes caindo em rios cristalinos. Os outros elfos zombavam dela
porque, desde a última batalha contra os Orcs que aparentemente, tinham sido
derrotados, ela jamais descansava: sempre atenta, sempre de olhos abertos e
coração fechado, esperando por algo que todos consideravam exterminado.
Um de seus amigos elfos diz a ela que já estava na
hora de relaxar, voltar à paz da Terra dos Elfos, afinal, o Mal tinha sido
derrotado. E então ela responde: “Evil never ends. It hides.” (“O Mal não acaba
nunca. Ele se esconde”).
Sinto que estamos vivendo exatamente a mesma
coisa. Temos aí, iminente, o retorno do Mal. Acho que negligenciamos o poder
dele, o tempo todo, achando que por termos vencido uma batalha, tínhamos
vencido a guerra. Acreditamos que o poder vem de Deus, que não deixaria coisas
ruins acontecerem, quando na verdade, a própria Bíblia nos manda orar e vigiar.
Descansamos sobre os louros. Deixamos que o mal comesse pelas beiradas, achando
que jogar “dentro das quatro linhas” com quem sempre rouba no jogo nos faria
vencer. E estamos perdendo. E vamos perder.
Tínhamos que ter chutado o pau da barraca lá
atrás, tínhamos que ter sido mais fortes. Menos falatório e ameaças, mais ação.
Não adianta usar verde e amarelo achando que afirmações como “Brasil acima de
tudo, Deus acima de todos” nos manteriam a salvo. Não dá para ser bonzinho no
inferno, combatendo capetas.
E sabem o que vai acontecer? Bolsonaro vai
perder e Lula voltará à cena do crime. Temos pouco tempo para continuar dando
nossas opiniões, pois dentro em breve, tudo será censurado. Estamos vivendo o
último mês de nossa pseudoliberdade de expressão, que daqui por diante será
censurada, simples e diretamente.
Estamos nos aproximando cada vez mais de
situações como as que vivem outros países – Argentina, Chile, Venezuela, Bolívia,
Nicarágua. Você que ama seus cachorrinhos e gatinhos, esconda-os enquanto pode,
pois logo poderão virar comida na sua mesa. Faça um grande estoque de comida e
papel higiênico: vai precisar. Não se esqueça de comprar velas, fósforos e um
fogareiro para cozinhar.
Acham que eu estou exagerando? Aguardem.