Assim estão sendo vistos os que ficam nas filas por combustível ou comida. Isso é justo? |
Tenho lido vários posts de pessoas criticando aqueles que estão ficando nas filas em busca de combustível ou comida. Alegam que desse jeito, os caminhoneiros não conseguirão mudar a situação do país. Acho este pensamento bastante ingênuo, visto que o objetivo deles não é mudar a situação do país, e sim a sua própria situação.
Não quero dizer com isso que a greve deles não seja válida. Estão lutando pelos seus objetivos. Mas também creio que lutar por seus objetivos é algo bom, até o momento em que se começa a prejudicar pessoas inocentes por causa disso. Paralisar um país inteiro durante tanto tempo, quando a economia está agonizante, as portas do comércio e das indústrias estão se fechando e muitos estão sem trabalho, é egoísmo. Fizeram suas reivindicações, algumas foram atendidas, outras não. Que descontinuem a paralisação, pelo menos até que as pessoas tenham tempo de respirar!
Não acho que temos o direito de julgar quem está nas filas nos postos de gasolina; muitos precisam de combustível para ir ao trabalho! Empregos não são fáceis de se conseguir por aqui, e arriscar-se a perder o seu a fim de colaborar com causas de outras pessoas, é no mínimo, burrice. Alguém aí já viu algum caminhoneiro ser solidário à greve dos professores ou dos metalúrgicos? Não, certo? Claro, a causa não era deles.
E como criticar aqueles que passam horas nas filas em busca de comida para alimentar suas famílias? Muitos têm crianças em casa, idosos ou pessoas em convalescença, que precisam comer. E mesmo que este não seja o caso, passar fome pela causa alheia não é uma opção muito inteligente.
Também vi comparações entre o povo do Japão, que após o tsunami, limitou suas compras para que houvesse o suficiente para todos, e o povo brasileiro; nossa cultura não é esta. Aqui, infelizmente, vivemos em uma selva, e é cada um por si. Se eu ceder a minha vez, ao invés de fazerem o mesmo, vão me jogar para fora da fila e pisar na minha cabeça. Não concordo com isso; gostaria que fosse diferente, mas é assim que é.
Acho que não dá para viver sonhando que estamos em Shangri Lá. Nós estamos no Brasil. Nosso contexto é lutar diariamente pela nossa sobrevivência. Ainda temos muito o que aprender a respeito de política, solidariedade, respeito e empatia.
Assistindo a um vídeo da TED recentemente, o palestrante Dylan Thomas diz uma frase muito interessante: empatia não é o mesmo que concordar. Que saibamos ser mais empáticos, mesmo com quem age ou pensa diferentemente daquilo que julgamos certo, mesmo que não concordemos com eles, pois cada um tem seus motivos.
Quem fica na fila por gasolina, teme ficar sem combustível em um momento de necessidade; quem fica na fila da comida e até paga mais caro por ela, tem medo de passar fome, ou de deixar sua família passar fome.
Os caminhoneiros não estão nem um pouco preocupados com isso.