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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Manuel Bandeira - Desencanto





Poema de Manuel Bandeira


Desencanto




Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias - amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nesses versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

-Eu faço versos como quem morre.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Órfãos







Aos dez, vinte, trinta ou cinquenta,
Se os pais morrem, somos órfãos.
Ninguém por nós.
Nada de suco de laranja,
Se tivermos um pesadelo à noite.
Por mais velhos ou frágeis,
Os pais são ícones de proteção,
São uma imagem de força
Na vida de seus filhos.

E um dia, eles se vão,
Partem naquela rua, na contramão da vida,
Ficam fechados para sempre
Naquela caixa de madeira,
As mãos cruzadas sobre o peito,
Um terço entre os dedos.

E nós,
Ficamos órfãos.


Intensivos e Imersões






A moça perguntou-me, após os primeiros dias de aula:

-Eu quero saber qual o meu nível de inglês. Enfim, o que eu preciso melhorar!
-Eu já disse: você é nível intermediário, e estou totalmente focada nos pontos de gramática que você necessita melhorar, que são principalmente (repeti o que havia dito durante a avaliação). Também estou focando no vocabulário que você precisa para melhorar sua fluência. Já conversamos sobre isso na avaliação.

Ela não pareceu convencida. Na aula seguinte, veio com novidades:

-Veja! Inscrevi-me em um curso de imersão no final de semana!

E começou a desfiar todas as vantagens que um curso de imersão traria. O preço por um simples final de semana? Pelo menos, doze vezes o preço da minha mensalidade. Tentei não demonstrar meu ceticismo, e aguardei. Na aula seguinte, ela veio toda animada, mostrar-me uma linda pasta bege plastificada, com toda pompa e circunstância, decorada com um interessantes brasão dourado; dentro da pasta, em páginas timbradas, uma avaliação formal do seu nível de inglês, os pontos gramaticais que ela precisava melhorar e sua classificação: nível intermediário.

Peguei a minha humilde avaliação, e comparei com a que ela havia trazido: dizia exatamente a mesma coisa, apenas a apresentação não era tão luxuosa. Acho que, pensando no dinheiro que havia gasto, desconcertada, ela ainda desfiou-me as vantagens do curso: professores nativos (embora  uma delas fosse brasileira), um ambiente tranquilo e voltado ao ensino (exatamente como aqui em minha sala de aula), hospedagem confortável e... bem, não conseguiu pensar em mais nada.

Se você tem dinheiro - bastante dinheiro - para pagar por um curso de inglês de imersão, tempo disponível e um nível de inglês que varie entre intermediário e avançado, não deixe de fazê-lo! Mas um simples final de semana não lhe proporcionará vantagem alguma. 

Quanto aos cursos de inglês intensivo, pense bem: você não aprenderá em um ou dois meses o que poderia aprender em um ano. Não mesmo! Poderá ter uma base para começar um curso regular, mas ninguém - eu tenho certeza absoluta, pois já lecionei em cursos que oferecem esta modalidade - sai de um curso intensivo falando inglês fluentemente - muitas vezes, sequer sairá falando inglês. Mas se você já fala inglês, apenas anda um pouco 'enferrujado' e deseja praticar para uma viagem, obterá bons resultados.

Observo os alunos de nível básico que me chegam, sempre com muita sede ao pote: "Quantos horários disponíveis você tem?" Peço-lhes que se acalmem, tomem horários regulares - duas horas por semana - alguns acreditam em mim, enquanto outros, insistem em fazer duas ou três horas ao dia, mesmo após eu informar-lhes que isto não fará com que falem inglês fluentemente em um mês. Passados um ou dois meses, os mais apressados acabam desistindo, e perdem  o que conquistaram.

O ideal para que se aprenda inglês, segundo a minha própria experiência como ex-aluna e atualmente, como professora, é:

-Duas horas de aula por semana, no mínimo, e três horas, no máximo. Isto se você for aluno de nível elementar. Se for intermediário ou  avançado e quiser apenas 'desenferrujar', quanto mais horas, melhor.

-Sempre revisar, após a aula, todo o conteúdo que foi dado. Fazer as tarefas de casa, não deixando que elas se acumulem.

-Ouvir música, assistir a filmes com áudio e legendas em inglês, ler artigos, enfim, jamais perder a chance de praticar fora da sala de aula.

-Ir a todas as aulas, ser assíduo, principalmente enquanto estiver  assimilando as estruturas básicas da língua. Neste período, não desista do curso, custe o que custar; se, ao chegar ao nível intermediário, você desejar fazer uma pausa, tudo bem; mas não o faça durante o nível elementar, ou terá que recomeçar do zero.

-Segure a sua ansiedade! 'Recuperar o tempo perdido' tentando ocupar várias horas de aula por semana, mais as horas que já dedica ao trabalho e à família, não dará certo, e será um fator desmotivador, já que você não desistirá do emprego e da família para ter mais horas livres e poder descansar; desistirá do inglês!

-Se tem amigos estudando inglês, converse com eles e pratique. 

-Fuja das armadilhas dos cursos que prometem 'cursos rápidos de inglês para viagem', pois eles apenas o ensinarão frases básicas de conversação, mas como as respostas que obterá em conversações reais podem ser inúmeras, suas frases prontas não o ajudarão muito em contextos reais de conversação. Se pretende viajar com algum conhecimento da língua que possa lhe ser realmente útil, comece a estudar com, pelo menos, seis meses de antecedência. E seja assíduo e participativo. Cumpra todas as tarefas. Enfim, dedique-se!

-O trabalho de um professor não surtirá efeito se você não fizer o seu. Inventar desculpas para o dever de casa que não foi feito não significa enganar o professor, e sim, enganar a si mesmo.

Lembro-me de que quando eu fazia meu preparatório de inglês, trabalhava o dia todo, de segunda à sexta, e também aos sábados pela manhã; tinha a casa para cuidar e pilhas de tarefas caseiras de inglês para fazer toda semana. Eram páginas e mais páginas de provas simuladas e redações dificílimas, textos enormes a ler e interpretar e páginas e mais páginas de gramática no livro. Fazia tudo no domingo de manhã; acordava ás sete e ficava até meio-dia estudando e fazendo minhas tarefas. Portanto, quando a gente quer realmente obter um bom resultado, não existem desculpas.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Última Fileira




Daqui,
Da última fileira,
Junto á porta aberta,
Dá pra ver a rua,
A calçada,
O canteirinho de flores
Perto do banco da praça.

Daqui, assisto ao filme
Sem sentir falta de ar,
Sem ser atrapalhada
Ou atrapalhar.

Daqui,
Da última fileira,
Posso usar chapéu,
E até cartola, se quiser!

Masco minha goma,
Faço minha bola,
E até arrisco 
Um telefonema...

Não tem problema,
Se eu tiver que ficar
Sempre aqui,
De bobeira,
Na última fileira!


Chuva Fresca





Cheiro de terra molhada,
No talo vergado
A gota pesada.

Barulho de chuva,
A pobre saúva
Presa
Na correnteza.

A calha que escorre
Água dos telhados
Bueiros bem cheios...

Aroma tão fresco,
Aroma tão verde,
O cheiro da chuva
A alma desnuda...

A tarde lavada,
Na xícara, o chá
Vidraça fechada.

A Bela Adormecida - Adélia Prado





Adélia Prado - A Bela Adormecida


Estou alegre, e o motivo
Beira secretamente à humilhação
Porque aos 50 anos,
Não posso mais fazer curso de dança,
Escolher profissão,
Aprender a nadar como se deve.
No entanto, não sei se é por causa das águas,
Deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
Ou se é por causa dele que volta
E põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
Se você vai ao pasto,
Se você olha o céu,
Aquelas frutinhas travosas,
Aquela estrelinha nova,
Sabe que nada mudou.
O pai está vivo, e tosse,
A mãe pragueja sem raiva na cozinha.
Assim que escurecer, vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?
Minha alma nasceu desposada
Com um marido invisível.
Quando ele fala, roreja,
Quando ele vem, eu sei
Porque as hastes se inclinam.
Eu fico tão atenta que adormeço
A cada ano mais.
Sob juramento lhes digo:
Tenho 18 anos. Incompletos.






Cartões





Abro a gaveta, e lá no canto
Cartões de antigos natais
E aniversários.
Tua letra caprichada, teu nome assinado,
Desejos de saúde e felicidades,
Lindas palavras...

Fico pensando no que sentias
Enquanto, com carinho, os escrevias...

Abro-os com todo cuidado e zelo,
E vão caindo, sobre os pelos
Dos meus braços,
Um fino pó de passado,
Em purpurinas multicoloridas.

Ah, no que se resume a vida!...



                                                        

O Tom





Às vezes não é fácil
Achar o tom 
Entre tantos tons
E tantos matizes.

Não é tão simples,
Achar o que nos descreve,
O que nos define,
E algumas pessoas
Passam a  vida toda procurando
Sem encontrar.

As cores são tão lindas,
Mas nem todas elas
Conseguem me pintar.
Misturas, loucuras,
Aquarelas e querelas
Gotas de tinta
Tons pastéis e tons cruéis.

E eu sigo assim,
fazendo artes 
Com os meus pincéis.



As Aulas






Sábados de manhã. Eu dava aulas de inglês para meus dois sobrinhos, a Dany e o Ricardo. Saudades daquele tempo... ano? Entre 2006 e 2008, se não me engano. O Ricardo às vezes chegava um pouco atrasado, e cheio de histórias para contar. A Dany, sempre pontual e disciplinada. 

Eu perdia a conta das vezes em que ele - o Ricardo - me interrompia. Era mais ou menos assim: eu começava:

-Well, gente, hoje nós vamos falar sobre as formas de futuro, 'will' e 'be going to.' Pay attention: we use will to talk about general predictions, and... (eu notava os olhos do Ricardo, divagando...).

-Tia, só um instantinho: você viu o filme de ontem, blá, blá, blá...

E lá se ia boa parte da aula de inglês... às vezes, ele me pedia para ajudá-lo com a letra de alguma música; outras vezes, as perguntas eram diferentes; ele queria fazer vestibular, e me pedia dicas de como escrever melhor; eu passava algumas redações para ele fazer em casa, e depois, corrigia e dava algumas dicas. Para a correção, ele vinha sozinho, durante a semana.

Depois das aulas de inglês, eu ia encontrar meu marido no trabalho para almoçarmos, e os dois iam cada um para sua casa. Mas descíamos a rua juntos, a pé, até o ponto do ônibus no Retiro. O lugar é bonito, e as conversas, eram animadas. Sinto saudades de nós três, às vezes sentados juntos naquele último banco, o maior do ônibus, conversando sobre as coisas da vida. Sinto saudades dos tempos em que sonhar era fácil, pois nenhum de nós tinha sequer ideia sobre o que o futuro nos traria dentro em breve.

Momentos únicos, que ficarão para sempre.


BARRINHAS

domingo, 7 de abril de 2013






Minuto


Perdem-se horas
A compreender
A importância
De um minuto


Um por-de-sol,
Nuvens rosadas
Cores mutantes
Que nada duram...

Desabrochar 
De cada flor
O azul do céu
E seus matizes...

Perdem-se dias
A compreender 
A importância 
De um momento...

Eles se vão,
Não voltam mais,
Ficam os ecos
Entre as paredes...

-Morrem de sede
Enchendo potes!


Shakespeare




Soneto LXX

Se te censuram, não é teu defeito,
Porque a injúria, os mais belos pretende;
Da graça, o ornamento é vão, suspeito,
Corvo a sujar o céu que mais esplende.


Enquanto fores bom, a injúria prova
Que tens valor, que o tempo te venera,
Pois o verme na flor gozo renova,
E em ti irrompe a mais pura primavera.


Da infância os maus tempos pular soubeste,
Vencendo o assalto ou o assalto distante;
Mas não penses achar vantagem neste


fado, que a inveja alarga, é incessante.
Se a ti nada demanda de suspeita,
És reino a que o coração se sujeita.





Soneto XXXV

Não chores mais o erro cometido;
Na fonte há lodo; a rosa tem espinho.
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto fez seu ninho.


Erram todos; eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar.


Os sentidos traíram-te, e o meu senso
De parte adversa, é mais teu defensor,
Se contra mim te escuso, e me convenço


Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.







sábado, 6 de abril de 2013

O Polêmico Clodovil Hernandes





Frases de Clodovil Hernandes - Amado por muitos, odiado por muitos, polêmico, politicamente incorreto, sem papas na língua, controverso, enfim, uma pessoa que deixou sua marca no mundo, e que aprendi a admirar e odiar desde meus tempos de infância.











"Já sei que vou ser assediado o tempo inteiro em Brasília, porque as pessoas pensam que eu sou um idiota, que vou lá fazer frescura na Câmara. Não. Viver é um ato político."





Em bate-boca com a deputada Cida Diogo, em 10/05/2007 - "Eu tenho culpa que ela nasceu feia, gente?"






"As mulheres ficaram muito ordinárias, ficaram vulgares, cheias de silicone, e hoje em dia as mulheres trabalham deitadas e descansam em pé. A gente não pode concordar com esse tipo de coisa."






"Não me importo com o que falam pelas minhas costas. Meu traseiro não tem ouvidos."






"As donas de casa me adoram porque sabem que eu vim de baixo. Vivi a história da Cinderela. E pobre gosta mesmo é de luxo."






Na Câmara: "Eu não sei o que é decoro com um barulho desses enquanto a gente fala. Parece um mercado! Isso aqui representa o País.






"Tudo que me mandarem, eu faço. Em curral alheio, boi é vaca." 







Sobre a reforma do gabinete: "Dinheiro é uma questão de cada um de nós. Eu só consigo viver no meio da beleza."






"Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor de rosa choque."




sexta-feira, 5 de abril de 2013

Coisas que Não se Explicam

imagem: lagoa de Abaeté - Google


Ainda me lembro de minha primeira viagem de avião, há 18 anos. Eu fui acompanhando meu marido para Salvador, Bahia,  a convite de seu chefe , esposa e filha. Meus maiores sonhos naquele tempo eram: viajar de avião e conhecer Salvador, e consegui as duas coisas ao mesmo tempo! Era uma conferência sobre comércio da qual eles iam participar, e por isso, nós, as três mulheres, tivemos muito tempo livre para explorar Salvador, seus shoppings, praias e principalmente, o Pelourinho.

Quando o avião pousou em Salvador, o cerimonial da conferência tinha contratado uma porção de baianas em trajes típicos, que nos recepcionaram com colares de flores , pacotinhos de cocadas e as inevitáveis fitinhas do Bonfim; aliás, eu trouxe um rolo delas para dar de presente quando voltei. Bem, logo na entrada, eu me senti 'em casa!' 

Quando chegamos ao hotel, que fica na Praia Vermelha, fui até a varanda e olhei para baixo: o mar se estendia aos meus pés, e parecia que o hotel era construído dentro da água. O tempo todo, eu tinha aquela sensação de ter chegado em casa. Naquela mesma varanda, no último dia, chorei feito criança na hora de voltar. Sabia que raramente teria a oportunidade de estar ali de novo.

Enquanto caminhávamos pelas ladeiras do Pelourinho, que naquela época acabara de ser reformado, eu entrava e saía daqueles sobrados, suas lojinhas e igrejas, e parecia, não que eu estivesse conhecendo tudo pela primeira vez, mas refazendo um caminho. Não gosto de calor, mas o calor não me incomodou nem um pouco, estranhamente.

Mas a impressão mais forte, foi quando fomos todos juntos conhecer a Lagoa de Abaeté. Chegamos ao alto de uma colina, e olhamos a lagoa lá em baixo. Uma linda vista. Depois, descemos as dunas e fomos ver de perto. Quando chegamos lá, onde as lavadeiras costumavam trabalhar, de repente eu tive uma sensação fortíssima de déjà vu. Tive  a certeza absoluta de que aquela não era minha primeira vez naquele lugar. Olhei em volta, e até os cheiros começaram a vir na minha cabeça, mas eu não sabia de onde. Tive sentimentos de conversas que tinha tido ali, embora as palavras não viessem à mente. A luz da tarde refletindo na lagoa era a luz de uma outra tarde.

De repente, olhei para um prédio que havia ali - se me lembro bem, era o Museu Casa das Lavadeiras, mas pode ser um outro prédio - e sabia que se o circundasse, encontraria um tanque. E disse isso ao meu marido. Fomos andando até a lateral do museu, e lá estava o tanque!

Senti também uma incrível empatia com o povo, e achei que foi mútuo, pois quando pedíamos informações na rua, as pessoas se desviavam de seu caminho a fim de nos levarem aonde queríamos chegar. Foi assim com o Elevador Lacerda. Naquele dia, eu estava mau-humorada por algum motivo que não me lembro, mas quando chegamos lá em baixo, um dos vendedores ambulantes olhou para mim e disse: "Sorria! Você está na Bahia!" Na mesma hora, o mau humor se foi, e eu pensei: "É... estou em casa!"

Ouvi dizer que hoje Salvador está bem diferente do que era na época em que a visitei: violenta, mal-cuidada. Espero que não.

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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...