witch lady

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segunda-feira, 30 de abril de 2012

85 Anos é Muito Tempo...



Na tua idade, cabem quase duas de mim. Daria, nesse tempo, para uma pessoa da minha idade ter vivido quase duas vezes! 

Hoje eu fiquei me lembrando de quando eu era pequena - e os irmãos maiores já trabalhavam - e você ficava me contando histórias de sua vida quando era criança. Falava do colégio interno, de como foi difícil ser órfã de mãe aos quatro anos, das casas por onde passou e foi mal tratada, e das que foi bem tratada. Me contava dos dias de visita de seu pai - meu avô no colégio interno, e dos doces que ele levava e você tinha que repartir entre todas as outras meninas, sobrando só um pedacinho de nada para você. Falava das visitas de Getúlio Vargas a Petrópolis, e de como as meninas do colégio interno iam ficar olhando a rua, para vê-lo passar, e acenavam para ele.

Você me contava de um namorado chamado Daniel, que usava um terno horroroso, amarelo com xadrez marrom, e que por isso - só por isso - você não quis namorá-lo. Falou de um outro, de família muito rica e tradicional aqui na cidade, que você não quis namorar porque você era muito pobre, e tinha vergonha.

Depois, me falava da primeira vez que viu meu pai passando, de tamancos, marmita debaixo do braço, para ir trabalhar. Você estava na janela, e ele te olhou. Ele era o mais velho de treze irmãos. Você me disse que quando ele ia embora, depois de vocês namorarem, você às vezes 'fugia' para ir dançar.

Você me falava na alegria que foi, para você, quando se casou e mudou-se para a sua primeira casa - sua, não dos outros - e seu pai comprou os móveis, e você começou a formar a sua família - não a dos outros. Você me falava da vida dura que tinha, pois naquela época, não morava quase ninguém no bairro, e não havia ônibus ou paralelepípedos nas ruas; só mato em volta, e quando precisava sair, descia a rua à pé, e subia à pé.

Quando éramos crianças, você não tinha máquina de lavar, nem empregada doméstica; fazia a maior parte do serviço sozinha, e nós, as meninas, ajudávamos quando estávamos com vontade. Mas aos onze anos, você me ensinou a cozinhar, lavar e passar  roupas e cuidar da casa.

Você me levava na Praça da Liberdade para brincar nos balanços e gangorras, e depois, andávamos à pé pela Avenida Koeller. Quando era sexta-feira, muitas vezes nós íamos encontrar meu pai na saída do serviço, e depois, fazíamos compras no supermercado. Lembro-me de você colocando potinhos de danone na nossa mão dentro do mercado, e dizendo: "Come escondidinho!" Era a única maneira de comermos iogurte: no supermercado, com os dedos. Só mais tarde as coisas melhoraram...

Lembro que eu e minha irmã ficávamos sempre doentes ao mesmo tempo: sarampo, rubéola, caxumba, catapora, gripe, hepatite. E lá íamos nós para o médico!... E você acordava durante a noite para ver se tínhamos febre e para dar os remédios.

Lembro do quanto eu era chata demais, e só comia se você contasse uma história. E foi assim que descobri a Branca de Neve, a Bela Adormecida, Os Três Porquinhos, e também as lendas do livro de gramática no qual você tinha estudado no colégio interno: A Lenda do Uirapuru, da Vitória Régia, do Rouxinol, da Índia Potira, dos animais falantes. Lembro-me do livrinho e disquinho do patinho Feio que você comprou para mim, e da musiquinha que me fazia chorar: "Que bom, seria ter uma família / mamãe, papai, irmãos, juntinhos a mim..."

Eu jamais me esqueço de uma vez que você assinou para mim a revista Nosso Amiguinho, que recebi durante dois anos, e onde aprendi muitas coisas interessantes. Tenho até hoje os livros de Inglês sem Professor e os dicionários grossões de Português que você comprou para mim, lembra? As pessoas vendiam de casa em casa, e a gente pagava à prestação.

Lembro-me dos doces de leite quebra-queixo que você fazia, e que um dia, colocou num embrulhinho para eu levar para a professora na escola, e depois disso, todo dia ela pedia: "Ana, fala pra sua mãe mandar doce de leite!"

Lembro-me de quando você brincava de casinha com a gente; as panelinhas eram latinhas de extrato de tomate, e o fogãozinho, com fogo de verdade, eram gravetinhos no meio de umas pedras. As outras meninas não tinham fogões que acendiam de verdade!

Lembro do quanto você lutou para nos manter em colégio particular. Lembro de você nas filas, esperando para conseguir bolsas de estudo com os vereadores. Lembro de você esperando para falar com a diretora no Colégio Progresso - a Dona Franci - e do quanto ela foi legal, deixando a gente estudar lá tantos anos de graça.

85 anos é muito tempo, e não caberia no espaço deste blog. Mas gostaria muito de dizer que eu me lembro de tudo, de todas as suas histórias, sem as quais eu não teria me transformado em mim. Dos seus cuidados, das suas broncas, das suas surras, dos seus discos do Julio Iglesias, do Roberto Carlos, do Wando, e você dançando e cantarolando pela sala, e mexendo nas panelas enquanto ouvia música, e a casa com cheirinho de cera. 85 anos é muito tempo. 

Mas parece que foi ontem.  Só queria desejar a você um Feliz Aniversário, mãe.

Reflexão Sem Noção




O dia por aqui está escuro como o início de uma noite apocalíptica. O friozinho parece que está finalmente começando a dar as caras... e eu, na área de serviço, passando uma pilhona de roupas. Nossa, acho que nunca deixei acumular tanto! Mas o bom de passar roupa é que a gente começa a pensar em montes de coisas... e algumas das coisas nas quais pensei hoje, são as que seguem:

-Jamais, em nenhum momento de minha vida, eu te desejaria mal. Jamais quereria ver o seu fracasso, e nem ficaria jogando mau agouro sobre quaisquer de seus projetos.

-Eu sempre te receberei de portas abertas, e sempre segurarei a tua mão, não importa o quanto haja de ingratidão.

- Jamais jogaria indiretas contra você; só poderia dizer-te, com sinceridade e muito cuidado, aquilo que eu realmente penso, caso você me perguntasse. E não falaria mal de você 'por trás.' Prefiro fazê-lo 'pela frente.' Acho mais justo.

-Mesmo que eu achasse que você cometeu o maior erro do mundo, eu jamais deixaria de te ouvir. E tentaria entender as suas razões, mesmo que não concordasse com elas. Se eu não conseguisse entendê-las, eu te diria.

Não, eu não sou a Madre Teresa. Não costumo oferecer a outra face. Nunca. Eu só faria tudo isso, por um motivo que talvez você jamais pensasse em considerar. Eu faria isso porque a sua felicidade e a sua vida são muito importantes para mim. 

O motivo pelo qual eu faria isso, é antiquado, careta, clichè.

Eu faria isso porque te amo.

Caixinha de Jóias




Linda,
Continha jóias valiosas.
Ao abrir-se a tampa,
Derramavam-se rubis,
Esmeraldas,
Diamantes,
Ágatas,
Ouro, ouro, ouro...

Jóias valiosas
Que ornavam a vida
Espargindo a existência
Com brilhos e cores.

Um dia,
Apenas
A caixa
vazia.

Para onde foram as jóias?
Quem sabe, um dia?...

Dedos




Retos, em riste,
Tracejando pontos
Torneando,
Contornando,
Pedem silêncio
Apontando.

Espalham o brilho
No lábio seco,
E tecem o pano,
Habilidosos.

Com a ponta,
Testam a água,
Apertam botões,
Cutucam mentes.

Fazem um sinal
Obsceno,
Depois, erguem dois
Em paz e amor.

Molham na língua,
Virando a página,
Marcam o caminho
Da linha, à unha.

Erguem-se em dúvida,
Descascam  a uva,
Fazem o sinal
Da cruz, furtivos.

Tamborilam
Sobre a mesa,
Marcando o tédio
Cobrindo a boca
Que boceja.

Dão petelecos
No que desprezam,
Esmagam sonhos
Com o polegar.

Dedos temidos,
Mas distraídos:
um belo dia
São esquecidos
Por sobre o cepo
Aonde desce
A guilhotina.





sábado, 28 de abril de 2012

TENHO RESPONSABILIDADE!




Viva assim. Faça assado. Não escreva isso. Não publique aquilo. Seja deste jeito, não daquele. Não diga tudo o que pensa. Não pense tudo o que diz. Não dê ouvidos. Finja que gostou. Seja sociável. Sorria. Agora, pode chorar. Abra as portas. Saia mais. Saia menos. Menos saia. Não mude de idéia, ou parecerá vulnerável. Não deixe de mudar de idéia, ou parecerá retrógrada. Procure não errar. Procure por seus erros. Não fale mal. Não fale bem. Não fale. As pessoas vão pensar que...

Querem saber?

Eu é que sei de mim!

Se não te agrada o que eu faço, vá plantar batatas! Existem motivos para tudo o que eu faço: a maneira como expresso a minha alegria e a maneira como expresso minha tristeza. Dizer as coisas que digo e não dizer as coisas que não quero dizer.

Escrevo sobre o que eu quero, leia quem quiser! Meu livro é importante para mim, e se não for para você, é um direito seu. Dane-se. Pago minhas contas, pago para viver e estou com as minhas vacinas em dia. Cuido da minha casa, varro minha calçada, escolho os filmes que quero assistir e os livros que quero ler. Cozinho para mim mesma, lavo e passo a minha roupa.

Tenho responsabilidade sobre aquilo que eu digo, sinto e escolho expressar. Assino em baixo de tudo o que eu faço, com a minha própria cara e a minha própria letra.  Não gosta? Não acha adequado?  Não leia!

Vá te catar. O que menos me importa, é a tua opinião sobre mim.



Noite. Na cozinha, o chiado da panela de pressão e o olhar doce e confortante de minha cadela. No CD, Beatles. A taste of Honey. Eight Days a Week.

Cherinho do louro que uso para temperar o feijão. I Feel Fine...

Estou sozinha, e  de repente, enquanto escrevo, sinto como se alguém tivesse chegado e se debruçado sobre meu ombro para espiar o que escrevo. Acho que todo mundo já teve um dia essa sensação. E quando nos viramos, para ver quem é, não há ninguém. Antes, eu tinha medo; pavor! Mas agora, não tenho mais.

Escrevo em um velho caderno pautado, para não perder a prática.

Amanhã é dia de faxina, então Latifa, minha cadela, hoje tem passe livre para brincar de cachorrinha de madame dentro de casa. Mas amanhã, quando eu estiver passando o aspirador e ela sentir o cheirinho de desinfetante e cera, saberá que sua folga acabou.

Help! I need Somebody...

Fechei a porta da sala, pois os morcegos costumam entrar quando escurece.

Viro a página para escrever do outro lado, e sempre desenho, ates de virar, uma setinha no pé da página preenchida. Para quê, se o único caminho, a única alternativa após alguém ler ou escrever sobre  uma página inteira, é virá-la?

Talvez para lembrar-me de que é assim também com a vida. Páginas cheias devem ser viradas. Bem , isto foi uma metáfora.

Desligo o fogo da carne e do arroz, mas a batata doce ainda está dura, e a panela de pressão continuará chiando por mais algum tempo. Isto não foi uma metáfora; na verdade, não significa nada.

Gotta a good reason for taking the easy way out... she was a day tripper, one-way ticket, yeah!

It took me so long to find out, but I've found out.

*******************************************

But I can work it out.

Arranquei a página para postar no blog.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A MARAVILHA DE VIVER



Você nasce,
E o teu primeiro choro
Torna-se o real motivo, o principal,
Da alegria de seus pais.
Você cresce,
Aprende, caminha, avança,
Faz amigos, vai à festas,
Faz inimigos,
E ao aprender a relacionar-se,
Vence e perde muitas batalhas.

Você se apaixona,
Pela primeira, segunda, terceira vez...
Aprende a amar, decepciona-se, encanta-se,
Talvez traia, ou seja traído.
Descobre , nos membros de sua própria familila,
Seus maiores aliados
E seus piores inimigos.

Você estuda, se forma, arranja um trabalho,
E quer você goste dele ou não,
É isso o que faz para viver.
Você sai, vai ao cinema, viaja, lê,
Anda pelas ruas sozinho,
Embriagando-se nos piores momentos
E aprende a fumar,
Para depois, desaprender.

Um dia, você acha que está ficando velho demais,
E se casa, talvez tenha filhos,
Forme uma linda família,
Consiga aquela tão sonhada promoção
Que, na verdade, só trará horas extras, problemas extras,
Aborrecimentos extras...
Quem sabe, uma doença grave.
Você planta uma árvore, escreve um livro
E acha que já fez tudo.

Você questiona a vida,
Quer saber sobre a morte
(Talvez, motivado por uma recente perda)
E então, passa a ler muitos livros,
Assiste a muitas palestras e documentários,
E talvez, até entre para uma religião
Em busca de respostas para seus questionamentos,
Mas não obtém nenhuma,
A não ser, se a sua fé for maior que a sua descrença.

Você um dia, sente que a vida
É muito mais do que tem sido pra você,
E resolve dar um grito, um pulo,
Um salto quântico, e faz loucuras...
É a meia-idade que se aproxima,
E desse voo, pode restar bem pouco,
Tudo depende do tamanho da sua frustação.

Tudo isso acontece a todos,
Embora alguns tentem negar,
E nem sempre, as coisas acontecerão
Nessa ordem na qual foram apresentadas.
Um dia, meu amigo, e isso é para todos,
Até mesmo para os que negam,
Você morre.

Se for famoso, ou se tiver muitos amigos,
As pessoas farão lindas homenagens,
Chorarão muitas lágrimas,
Esquecerão de todos os seus defeitos
E você passará a ser um ser de luz perfeito
Que veio à Terra com uma grande missão.
Mas depois - e isto também é fatal
Você será esquecido.

Mas a vida pode ser maravilhosa,
Entre o primeiro e o último momentos.
Não pode?

Pequenas Maldades (humor)



Eu espero que você ganhe a Megasena
Sozinho
E que veja, estupefato o bilhete voar
E cair dentro de um rio poluído
e bem profundo.

Eu espero que você tenha uma cólica
Intestinal
Bem no meio daquele encontro amoroso e fatal,
Essencial.

Eu espero que você vá àquela entrevista de emprego
Bem confiante
E que após duas horas se gabando, você saia
E perceba que seu nariz estava sujo
O tempo todo,
E que havia uma casca de feijão
Bem em cima de seu dente.

Eu espero que, num dia de chuva,
Você esteja vestindo aquele terno passadinho
Para ir à formatura dos netinhos ou sobrinhos
E um carro passe, esparramando lama
E te sujando inteirinho.

Eu espero que aquela ostra maravilhosa
Esteja estragada,
E que chegando na emergência do hospital
Para fazer uma lavagem estomacal
A sua cueca esteja suja e furada.

Eu espero que, na pista de dança,
Você esteja imitando o John Travolta
E rebolando, e dando mil voltas
Enquanto a galera te aplaude,
E, ao se cuvar durante um passo mais ousado,
Perceba que o fundilho de sua calça
Tenha rasgado.

Eu espero que, ao tomar, pela primeira vez,
A sopa servida pela sogra,
A colherada esteja quente como o inferno,
E você tenha que sorrir e engolir,
Fazendo cara de paisagem...

Eu espero que você perca o ônibus de manhã
Na ida para o trabalho,
E que um amigo passe, oferecendo uma carona,
E o carro quebre no meio do caminho, em uma estrada deserta,
E seus celulares estejam
Sem bateria.

Eu espero que, no próximo natal,
Você receba de presente, um casal de hamsters,
Uma gravata borboleta,
Um par de meias das Lojas Americanas,
Um breguete da loja de 1,99,
Um livro de autoajuda (você vai precisar)!
E uma bermuda de xadrez cor-de-abóbora
Duas vezes maior que você.

Enfim, só te desejo tudo de bom,
Que você viva muitos e muitos anos,
E que consiga - eu disse CONSIGA
Ser muito feliz, apesar de tudo.

Substância




Tomara que eu possa viver o meu tempo
Sem precisar rir forçadamente
E dizer coisas idiotas
Sempre que o silêncio for mais adequado.

Que eu jamais escreva
A minha própria biografia,
Pois quem interessar-se-ia?

Que eu viva sem a necessidade
De ter sempre, a última palavra,
Mesmo que essa palavra seja
A mais substancial prova
De minha imbecilidade.

Que eu possa permanecer até o fim
Sem escrever coisas ruins demais,
E se escrever
Que ninguém leia,
E se lerem, que  esqueçam.

Tomara que eu tenha, até o fim,
Apenas um nome nessa vida,
E que eu possa assiná-lo com naturalidade.

Que todos os dias, eu olhe
A minha face no espelho,
Sem precisar dizer a mim mesma:
"Qual é mesmo a face que eu vou usar hoje?"

Que eu saia desta vida, um dia,
De consciência limpa,
Porque jamais caluniei ninguém,
E jamais acreditei em calúnias.

Que eu sobreviva, de cabeça erguida,
Porque não devo nada a ninguém,
Não preciso ser perfeita,
Não preciso ter razão,
Não preciso.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Micos do Passado



Quando nos casamos, moramos durante sete anos em um apartamento próximo à casa dos meus sogros. Era bonitinho, mas tinha um porém: ficava no andar térreo, e em frente a ele, a apenas alguns passos, havia um bar/mercearia. Os donos do bar - do qual éramos clientes- eram jovens estudantes de Direito. Todos gente boa... vizinhos antigos do bairro.

Durante o dia, eu e meu marido trabalhávamos fora, só voltando para casa à noite; portanto, durante a semana, só íamos para casa para dormir. E tudo era uma maravilha, exceto pelas sextas feiras. Os meninos que eram donos do bar, gostavam de reunir os colegas de faculdade à noite. Apesar da cervejada acontecer dentro do bar, por trás das portas fechadas, devido a proximidade ao nosso apartamento, era difícil pegar no sono. Mas nós aguentávamos; afinal, nós gostávamos dos garotos, eram nossos vizinhos, e nós, seus clientes. E também já tínhamos sido tão jovens e barulhentos quanto eles.

Mas em uma certa sexta feira, meu marido precisava muito descansar, pois andava adoentado. A farra corria solta naquela noite, mais do que nas outras! Acho até que o número de pessoas na 'festa' era bem maior do que o normal, tanto que, em certa altura, eles abriram a porta do bar e foram para a rua.

Dentro do apartamento, não dava para escutar nem a nossa própria TV! Mas estávamos aguentando firme, até que uma garota berrou: "Aí, pessoal! 'Desiste,' porque ninguém vai dormir esta noite! Uh-huuu!" Aquilo me tirou do sério, e comecei a perpretar uma vingança maligna... a única coisa que tínhamos para levar o nosso plano adiante, eram os ovos na geladeira. Os carros estavam estacionados ao longo da calçada.

Meu marido, vencendo a forte gripe que o abatia, foi lá para a rua, escondendo-se atrás dos carros, e quebrou vários ovos nas maçanetas das portas e pára-brisas.

Foi muito divertido ouví-los indo embora após a festa. Demos gargalhadas, principalmente ao ouvirmos a mesma voz feminina gritando: "Aiiii!!! Que coisa pegajosa é essa aqui?! É oooovoooo!"

A vingança é um prato que se come cru. Mesmo que seja ovo.

ESCREVO...




As praias cheias de gente
E de sol,
Nas ruas, pessoas
Indo sempre
A algum lugar...
Férias, viagens, carnavais,

E eu, escrevo.

Homens de terno,
Gravatas-forcas,
Aos microfones
Fazem discursos
A tanta gente louca
Que os escuta.

E eu, escrevo.

Dentro dos carros
A impaciência nos sinais,
Os engarrafamentos
E os telefonemas excusos
Que não devem ser ouvidos.

E eu, escrevo.

Nos motéis, gemidos e sussurros
Todos bem ensaiados,
Atos mecânicos, sem sentimentos,
Prazeres fingidos
E comprados.

E eu, escrevo.

Pessoas nascem, gritam ao chegar,
Pessoas morrem, gritam ao sair.
Os hospitais, portais.
Um grupo ri, e o outro chora,
Outros, vão embora.

E eu, escrevo.

Sentido








Um braço de rio,
Uma curva,
Um galho de árvore,
Uma ruga
Na testa.

A vida em festa
Infesta sentidos
Insere motivos
Ao que 'inda resta.

Viver é nobre,
Vale esta ruga
E este pesar 
Por sobre a alma,

Viver é longo,
Exige calma,
Exige sonhos
Exige ser.

Viver é tudo
O que nos resta
Graças a Deus,
Graças!...

Discretamente...


Tarde cinzenta
E silenciosa...
Em meu jardim,
Dormem as rosas
Que eu plantei
Com minhas mãos
E adubei
Com o que restou
Do que amei.

Discretamente
Um passarinho
Pousa na cerca
Triste e sozinho
Eleva um canto
Doce, baixinho
Como quem teme
Ser escutado.

Ele alça voo,
Vai pelas fendas
Das nuvens cinzas
Entreabertas
Some na tarde
Triste e cinzenta
E as rosas dormem
Tão bem fechadas...

As margaridas
Estão cansadas,
A grama seca
Sob as camélias
As folhas murcham
Ficando velhas
A noite as cobre
Com sua capa.

Atrás do monte
O sol responde
Ao meu chamado
E se espreguiça
Abrem as rosas
Suas corolas
As cores voltam
Discretamente...

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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...