witch lady

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quinta-feira, 14 de março de 2013

Sarcófagos





Os altos chapéus 
Escondem os chifres...
"À benção, senhores,
Beijo as santas mãos!"
Sob o ouro brilhante, 
Toda a podridão
De anos e anos 
De perseguições.

As mãos levantadas,
Os dedos cruzados...
A bênção forjada
De ritos fingidos
E ultrapassados.

A face do Cristo
Pisada e cuspida,
As suas palavras
Sem pena, torcidas,
Usura , ambição,
Pseudo perdão
O doce na boca,
As pedras na mão.

Dedos sobre lábios,
Pedindo silêncio
Sobre tudo aquilo
Debaixo dos panos...
Uma história torpe
Bem alicerçada
Sobre montes de ossos
Ao longo dos anos.


BUSCA







BUSCA


Eu busco sentidos
Para o que está vivo
Entre o que está morto.

Só acho uma curva
Em forma de ponto
De interrogação...

O sim e o não
Descansam, rendidos,
Num imenso talvez.

E o dia amanhece
Refazendo os nós
Que a noite desfez.



quarta-feira, 13 de março de 2013

Sempre Aqui





Estive sempre aqui,
Descansando entre as asas das borboletas,
Enquanto te perdias de ti mesmo.
Fiquei aqui, sem qualquer expectativa
Ou tristeza.

Coração envolto num véu frio e úmido,
Olhar pregado nas montanhas ao longe...
O rosto parado, erguido adiante
Esperando a tua volta.

Estive sempre aqui neste jardim suspenso
Entre a eternidade e o tempo,
Totalmente imóvel, em pose de estátua
Para não despertar nenhuma mágoa.








Êxtase





"Êxtase", de Cecília Meireles - do livro Viagem



Deixa-te estar embalado no mar noturno
onde se apaga e acende a salvação.

Deixa-te estar na exalação do sonho sem forma:
em redor do horizonte, vigiam meus braços abertos,
e por cima do céu estão pregados meus olhos, guardando-te.

Deixa-te balançar entre a vida e a morte, sem nenhuma saudade.
Deslizam os planetas, na abundância do tempo que cai.
Nós somos um tênue polo dos mundos...

Deixa-te estar neste embalo de água gerando círculos.

Nem é preciso dormir, para a imaginação desmanchar-se em figuras ambíguas.

Nem é preciso fazer nada, para se estar na alma de tudo.

Nem é preciso querer mais, que vem de nós um beijo eterno
e afoga a boca da vontade e seus pedidos...


Alma Penada





Ele vaga pela casa
Sabendo não ser lembrado.
-Que destino malfadado
O de saber-se esquecido!

Vem um vento desabrido
Leva o que ficou marcado...
Entre o tilintar das taças
Um desejo malogrado

Pois que anda pela casa
Sabendo não ser lembrado...
De toda a vida vivida,
Nenhum sonho foi guardado!

Veio a morte, e carregou
O que havia se orgulhado,
E a memória se fechou
Sobre quem havia amado...

Ele chora pela casa
Sabendo não ser lembrado...
Entre os risos de alegria
Ele se queda, chocado!

Tantos anos de ilusões,
Tanto amor desperdiçado
Entre os frios corações
De quem havia adorado!

E ele assombra aquela casa
Sabendo não ser lembrado...
E o que restou de si
Sob um túmulo, fechado!

Não houve vela, nem missa,
Nem mesmo um canto chorado!
Apenas o esquecimento
Sobre o espírito calado...

E ele não vê consolo
Algum, em não ser lembrado...
Em cada canto da casa,
Um retrato retirado!

E ele chora, vaga, assombra
Pelo seu morto passado
Em cada cômodo, a sombra
daquele que foi levado!






terça-feira, 12 de março de 2013

Humildade





Como veio, foi-se,
Em anônima grandeza,
De quem vem trazendo a paz,
E não cultiva aspereza.

Quase ninguém o viu,
Mas quem o viu, agradece...
Não pediu para ser lembrado,
Mas dele, ninguém se esquece...

Como veio, foi-se
Sem fazer qualquer alarde,
Caminhando lentamente
No silêncio de uma tarde...

Deixou um rastro de amor,
De luz, e muita beleza,
Fica a nossa porta, aberta
Na varanda, a luz acesa.


Fernando Pessoa






As Ilhas Afortunadas - de 'Mensagem'


Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
E a voz de alguém que nos fala
Mas que, se escutarmos, cala,

Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir, ouvimos
Que ela nos diz a esperança.

A que, como uma criança
Dormente, a dormir, sorrimos.
São ilhas afortunadas
São terras sem ter lugar,

Onde o rei morre esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz. E há só o mar.





segunda-feira, 11 de março de 2013

De Mim Para Mim






A jornada do autoconhecimento é uma estrada longa e tortuosa, cujo destino ninguém jamais poderá dizer que alcançou. Mesmo assim, só nos resta segui-lo, entendendo que às vezes, o ritmo será lento, e noutras, mais acelerado. Haverá pontos de estagnação, de descrença e de retrocessos. Mas o mais importante, é perceber estes pontos e continuar em frente.

Recentemente, percebi que mais exigimos dos outros no momento em que menos podemos dar a nós mesmos. Alimentamos a tendência de culpar os outros pelas nossas próprias falhas. É exatamente no momento em que estamos cobrando e apontando as faltas alheias, que precisamos respirar fundo e olhar para dentro de nós: o que eu estou tentando obter do outro, que não estou conseguindo, eu mesma, prover-me? Por que tento apontar as faltas, ao invés de ressaltar o que há de melhor em cada pessoa? Descobri que quando faço isso, estou apenas descobrindo o que me falta.

Sei que jamais chegarei a um ponto no qual poderei dizer: "Esta sou eu!" Houve momentos, no passado, em que eu achava que isto era possível. Houve até momentos em que eu pensei que tinha chegado 'lá;'  e foram momentos que precederam uma grande queda. Precisei deles a fim de perceber o quanto eu ainda me encontrava longe desse destino que eu ainda não sei qual é, e que pretendera alegar que alcançara.

Hoje eu percebi que todo o caminho resume-se a apenas um passo de cada vez.



O Amor





O amor
É todos os dias testado,
E esteja certo ou errado,
Considera o coração.

O amor
Está bem além do beijo,
E descansa, inalterado,
Sob arroubos de desejo.

O amor
É o perdão açucarado
Concedido, sem alardes
A quem quer ser perdoado.

O amor
É um querer que não se cansa,
E que mesmo adormecido,
Sempre mantém a aliança.

O amor 
Prevalece no final,
Acima do bem e do mal,
Pois amar é compreender.

O amor
Mora dentro do olhar,
O amor é tudo aquilo
Que eu mais preciso aprender.


domingo, 10 de março de 2013

Promessas Quebradas





Em volta, cacos cortantes
De promessas quebradas.
Migalhas de vidas,
Sobras... mais nada.

Um carinho magro,
Raquítico e seco,
Tentando emendar
O logro fadado.

Um beijo anêmico,
Fraco, doente,
Tentando selar
O trato rompido.

Promessas, só promessas...
Melhor não prometer nada!

Voltas e voltas
Em torno de si,
Vertigens e náuseas,
Um sangue de água...

Palavras sem força
Que são repetidas
Numa tentativa
De enganar a vida...

Promessas vazias,
Palavras vazias,
Arrasta-se a noite
Num triste arremedo
De amanhecer.

Como crer?...

Promessas que saem
Da boca dormente...
Nem sequer pretende
Cumprir o que diz!

Ah, vontade fraca,
Ah, peito abafado!
Ignoto futuro
Que nunca decola!
Presente fechado...

Por que se agarra, assim,
Ao passado?
Palavra de esmola,
Intento frio,
Riso malogrado.

*

A Ciência Secreta






Trecho do volume II do livro A Ciência Secreta, publicado em 1926 - por Henri Durville - 


Obs: mantive a grafia do texto original

Certamente, as pedras tem uma alma, a alma daquelles que as reuniu, daquelles que viveram na sua sombra doce ou cruel. E essa alma, nessas horas meditativas, penetra a nossa. Sentimol-a no fundo de nós mesmos, despertar todo um mundo de pensamentos deliciosos. Encontramos de novo essa alma, diversa e profunda, segundo os seres que a formaram.

É a mesma cousa em toda parte e a alma que encontramos nas pyramides do Egyto differe, em sua calma religiosa e funeraria, da paz reclusa do convento dos monges occupados a instruir os homens, abencôal-os, sob a guarda dos cavalleiros sem cessa preoccupados em os defender, em uma epocha em que só a espada protegia aquelles que faziam florescer, á margem dos manuscriptos, as mesmas flores que a sombra, cahida das rendas de pedra, traçava sobre os muros dos corredores acinzentados.

Nos livros, encontramos o pensamento daquelles que os escreveram.

Os auctores desappareceram, mas o seu pensamento vive nas suas obras, mais poderoso pelo seu recuo do que pelo tempo em que a palavra vibrava no ar. Lemos, e os pensamentos saltam de dentree as paginas do livro, adejam-nos como grandes passaros, tocam-nos, entram em nosso cerebro, e ahi se vão combinar, em profundezas ignoradas, com as nossas acquisições anteriores.

Tal quadro nos commove. Primeiramente o assumpto que representa attrahe o nosso olhar attento. Examinamol-o, porém, mais seriamente. Então, a alma do pintor nos penetra. Sentimos a sua magua ou a sua alegria e se, como o Vinci, por exemplo, elle pôz um symbolo profundo em sua obra, descobrimol-o e a nossa impressão artistica é sublimada.

Vibramos em unisono com seu pensamento. A alma do artista está alli, presente na sua obra. 

O pensamento, é , pois, um elemento capital na base da nossa vida mental. A influência de tudo o que nos rodeia é uma verdade da maxima evidencia e é por que somos accessiveis a essa suggestão do pensamento dos outros que somos capazes de suggerir em torno de nós.

Certamente, o pensamento é uma formidável potencia.

sábado, 9 de março de 2013

OUTONO






Dias cinzentos,
O frio, gris intenso
As folhas tombam.

Nos recolhemos;
As lareiras acesas,
Os sonhos dormem.

Além do muro
Os pássaros cansados
Esperam verão.

Mata fechada,
Outono se derrama
Com folhas secas.

*

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sobre as Mulheres









"As mulheres existem para que as amemos, não para que as compreendamos." - Oscar Wilde





"Quem não sabe aceitar as pequenas falhas da mulher, não aproveitará suas grandes virtudes." -Gibran





"O coração da mulher, como muitos instrumentos, depende de quem o toca." - Saint Prosper





"A mulher que se preocupa em evidenciar sua beleza anuncia ela própria que não tem outro maior mérito." - Julie lespinasse





"A mulher mais idiota pode dominar um sábio. Mas é preciso uma mulher extremamente sábia para dominar um idiota." - Rudyard Kipling







"Não se nasce mulher; torna-se." - Simone de Beauvoir





"A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem. - John Lennon





"Nenhuma situação é tão complicada que uma mulher não a possa piorar." - Tom Jobim







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