witch lady

Free background from VintageMadeForYou

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

NOSFERATU

 






Num voo noturno

Pousou nesse  solo

Um ser abjeto,

Dentes pontiagudos,

De secretos dolos

E pesados coturnos.


Trouxe à tiracolo

Um pesado livro

De pesadelos soturnos,

Que abriu, espalhando

A desgraça: fruto

Do seu próprio crivo.


A ave indigente

De ares sisudos

E olhos de fel,

Não sabe ser gente,

É réu da desgraça,

Senhor da discórdia.


Por onde ele passa,

Espalha, sem dó,

A franca mixórdia;

- Paródia do demo,

Triste criatura,

Que habita o supremo!







sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A DITADURA DA FELICIDADE

 


 

É sempre assim: se eu posto uma foto em minhas redes sociais sem estar sorrindo, alguém sempre pergunta: “Mas por que você está triste?” Ou então comenta: “Sorria!” Então eu percebo que ser feliz – e principalmente, demonstrar felicidade, o que não significa necessariamente ser feliz – tornou-se quase uma ditadura nos dias de hoje. Existe uma competição pelas fotos mais maravilhosas das últimas férias, as roupas mais bonitas, o final de semana mais descolado.

A maioria das pessoas navegam pelas redes sociais e, ao deparar com as imagens fabricadas de vidas perfeitas, começam a pensar que suas vidas são desinteressantes; mas em uma foto, a gente pode colocar o que quiser! Então, basta forçar um sorriso no rosto, criar um cenário bonito, e pronto: você se torna instantaneamente uma pessoa feliz.

Nos canais do YouTube a gente também encontra uma quantidade infinita de vídeos ensinando como ser totalmente feliz e como conquistar todos os objetivos da sua vida através do pensamento positivo. Como se fosse possível conquistar todos os nossos desejos ignorando o fato de que a nossa vontade cruza o tempo todo com as vontades alheias.

Hoje, em uma de minhas aulas, usei um texto que nos ensina a como nos tornarmos miseráveis e infelizes – uma alusão ao que não fazer se você quer ser realmente feliz. O autor do texto, cujo nome desconheço, infelizmente, disserta sobre três coisas; resumindo:

1- Seja o mais voltado para si mesmo que puder: fale sobre si mesmo, pense em si mesmo e viva para si mesmo;

2- Enxergue-se como uma vítima das circunstâncias;

3- Fique o tempo todo ruminando sobre as coisas ruins que aconteceram no passado.

É claro que fazer as coisas acima compulsivamente, tornando-as um hábito, é nocivo para a alma, mas quem não amarra um bode de vez em quando? E o que há de errado em fazer isso quando nos sentimos mal por causa de algo que nos aconteceu? Não podemos controlar tudo, e nem acho que devemos. Acredito que bloquear emoções e posar de pessoa feliz o tempo todo pode ter efeitos catastróficos a longo prazo.

Quando eu estou triste, eu fico triste; quando estou alegre, eu fico alegre – embora a minha alegria não tenha nada a ver com demonstrações efusivas de queima de fogos pela minha satisfação. É uma coisa que tem mais a ver comigo mesma ou com a pessoa ou pessoas envolvidas.

Essa obrigação em ser feliz, em ter pensamento positivo, em ser o mais perfeito possível, em ser um “ser de luz” altamente espiritualizado o tempo todo, é abominavelmente chata. Quem nunca viu guru descer do salto, que atire a primeira pedra.




 

 

 


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A HORA





Todos sabemos, 
Reconhecemos
Os sussurros de algo que agoniza,
O choro ainda medroso de algo que nasce.

É importante que tudo chegue,
É importante que tudo passe.

Os ouvidos treinados,
Os olhares apurados,
As pontas dos dedos, que tocam de leve
A pele mais fina,
Os ossos antigos,
Sabem.

Mergulhemos as mãos
Na umidade da terra
Dentro de nós,
Sintamos as sementes,
As pedras, os musgos,
As rendas dos cumulus
E os túmulos.




sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

AME






Ame tudo como tudo é,
E a ti mesmo como mesmo és.
Ame o Ser de cada criatura,
Veja o rosto na caricatura.
Pise a lama e não encolha os pés.

Ame a chuva quando ela cair,
ame o sol quando ele surgir,
Ame as fases e as estações,
Sem negar qualquer premonição.

Ame aquilo que ninguém mais vê,
A Essência, o Invisível Ser,
Aprendendo a enxergar ao ver,
Ame aquilo que tu sabes ser.

Ame aquilo que o silêncio traz,
Ame a noite ou o nascer do dia,
Sem ter medo de amar demais,
Ame até o que não compreendes,
Plante amor e colha poesia.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

INFELICIDADE




Tem gente que tenta te pisar,

E a cada tentativa,

Deixa bem clara a sua

Infeliz

Cidade.


As sobrancelhas erguidas,

Arqueadas em descaso,

Deixam entrever a amargura

De um coração raso

Que só bate 

Por interesse próprio.


Na solidão do próprio opróbrio

Em sua cidade pobre

E (des) encantada,

Essa gente amargurada

Desfia um rosário

Interminável

De impropérios

Contra todo aquele

Que só cuida da sua vida,

E que se recusa

A rezar pela sua bíblia.


Talvez a pequenez

Das suas pupilas

Vejam as pessoas sempre menores,

Sempre pequenas,

Fazendo com que elas sejam dadas 

À cenas e tentativas

De humilhação,

E nessas passadas longas e descompassadas,

Essas gentes atrasadas

Acabam pisando

No próprio coração.


Pobre gente infeliz,

Que só enxerga, nas cores,

Uma única matiz,

Que só se sente mais forte

Tentando pisotear,

E que alegremente, dançam

Com suas pernas curtas

Sem nunca poder derrubar

Aquilo que jamais alcançam!





sexta-feira, 20 de novembro de 2020

UM MERGULHO PROFUNDO




Ver o que a gente escreveu em um livro é como olhar em um espelho. Já escrevi outros livros, nove no total, que estão disponíveis na amazon.com.br - alguns apenas em formato digital e outros também em formato paperback. Durante a quarentena tive tempo de rever alguns deles, que já estão na amazon há algum tempo em formato digital, e colocá-los em paperback. "Vai Ficar Tudo Bem" é um desses livros:



Porém, o mais recente, UM MERGULHO PROFUNDO, está bem além das minhas expectativas. Sem prefácio, já que a vida da gente também acontece assim, naturalmente, o livro ficou realmente lindo! São crônicas e poemas espalhados aleatoriamente pelas páginas - todas elas sem numeração - e o leitor pode começar a leitura da mesma forma: abrindo o livro ao acaso e lendo o poema ou crônica que surgir. Desta forma, achei que a leitura ficaria mais dirigida às necessidades do leitor no momento em que abrisse o livro, estabelecendo uma conexão mágica com o seu momento.



A contracapa também está bem simples, e escrevi apenas o que eu achei que seria necessário para que o objetivo do livro fosse descrito. Por dentro, há uma introdução de apenas seis linhas, foto da autora e... vamos logo ao livro!


Eu fiz tudo sozinha: escrevi, revisei, editei, escolhi a foto da capa e o layout. É um trabalho quase artesanal, que resultou em um livro bastante simples e despretensioso, sem luxos, e pode ser que eu tenha deixado passar algum errinho inadvertidamente, mas a vida é assim, não é? É um livro sem firulas ou floreios, direto ao ponto como tudo o que eu faço. O conteúdo é o melhor que já produzi até hoje.

As crônicas e poemas são realmente os mais bonitos e introspectivos.


Fico feliz que existam sites como os da Amazon e também outros, que permitem ao autor disponibilizar seus escritos sem qualquer custo para si, possibilitando que toda uma vida e obra passem a ter um significado especial para ele e também para os leitores que o admirem. Meu objetivo não é o lucro. O formato digital sai a um custo bem baixo - apenas $24,00 reais. Já o livro físico, que a Amazon ainda não tem como produzir no Brasil (mas já há rumores de que eles planejam construir uma gráfica por aqui a partir do próximo ano, quem sabe) sai por um precinho mais salgado: se você optar, na hora da compra, por "2 novo a partir de", o livro fica em $73,00. É assim que o livro aparece na Amazon, quando você digita ANA BAILUNE na busca:


Aquele preço de $174,00 é um delírio da Amazon, não cliquem nele. Cliquem em "2 novo a partir de 73,17". Ou então escolham baixar a versão digital, que custa só $24,00, para ter o livro na hora em seu computador, celular, leitor digital ou tablet.
Se você estiver inscrito no KDP, que é uma espécie de clube do livro da Amazon, você poderá ler de graça.

Ainda estou aqui, lendo e relendo, lambendo a cria... tenho certeza de que está lindo.









terça-feira, 17 de novembro de 2020

MORRI SEM MORRER






Morri sem morrer ao carregar tal peso,

Ao silenciar meu grito,

Ao pisar sem sapatos

Para não incomodar.


Morri sem morrer ao negar minha sede,

Ao fechar em meu peito

O rosto mais terrível,

O ardiloso olhar.


Morri sem morrer ao molhar minha fronha

Ao aguar pesadelos

Taciturnos, obscuros,

Ao negar, negar, negar...


Morri sem morrer; -Haverá ressurreição

Para minha triste alma

Cujo corpo insepulto

Se arrasta pelo chão?


Morri sem morrer - continuo morrendo,

Ao raiar dos meus dias

Ao entardecer soturno

Da palavra-cadeado

Que fechou meu coração...



(Poema baseado em um dos capítulos do livro MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS)





segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A VIDA É A ROTINA, A ROTINA É A VIDA



 Você gosta da sua rotina? Se não, por que você se sente dessa forma? Talvez o problema não esteja na rotina em si, mas na forma pouco criativa com que você a vive.


Sem criatividade, até mesmo os melhores momentos podem se tornar chatos.


É disso que eu falo no meu novo vídeo, e convido você a assistir e deixar um comentário.


Eis o link:


A ROTINA É A VIDA, E A VIDA É A ROTINA


Desde já, agradeço a quem sair um pouquinho da sua rotina e for até o meu canal para assistir ao vídeo!





segunda-feira, 9 de novembro de 2020

PASSAR


 

Passar, como se fosse nuvem,

Levada pelas mãos do vento,

Tão leve, tão sem molduras,

Sem bordas ou pensamentos.


Passar, chover, fertilizar,

Evaporar e renascer

Pelo mesmo céu, viajar,

Sem nada querer - só passar...





quinta-feira, 5 de novembro de 2020

SE VOCÊ EXISTISSE

 




Se você existisse, 

Eu te diria para tomar cuidado,

E jamais atravessar a rua

Sem olhar para os dois lados.

Te aconselharia a cuidar de si, ter um corpo bonito,

Pintar as unhas e tratar os cabelos,

A amar a si mesma acima de qualquer crítica

Mas prestando atenção ao que for dito.


Se você existisse, 

Eu tentaria te mostrar todos os dias

Que o mundo nem sempre é bonito,

Que nem todo mundo é bom,

E que devemos todos, sem exceção, 

Evitar as ruas escuras, os lugares suspeitos,

As pessoas vis, os olhos famintos que querem nos comer,

E as saias demasiadamente curtas

Para não despertar no outro,

O monstro que ele tenta adormecer.


Se você existisse, eu tentaria te ensinar a ser

Livre, com responsabilidade,

Esperta, mas sem maldade,

Forte, sem brutalidade,

Feminina, e não feminazi. 


Se você existisse, eu te diria

Para pensar com sua própria cabeça,

Que ser sexy não é ser vulgar,

Mas está no jeito de respirar, de ser e de olhar,

E quase nunca depende da roupa.

Uma menina precisa determinar, com segurança,

Na vida, seu verdadeiro lugar

Mas sem tomar o lugar de outra. 


Se você existisse,

Eu sei que seria bem difícil

Convencê-la disso tudo nesse mundo de artifícios,

Onde são mais valorizadas

As pessoas afetadas,

O sorriso de plástico, o olhar de lado,

O escândalo, o corpo demasiadamente malhado,

E as ideias engolidas sem água e sem cuidado

Que deixam o cérebro cada vez mais 

Atrofiado.










quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O LUTO DOS SABIÁS







Meu cachorrinho matou um filhote de sabiá polca. Eu estava ouvindo música, concentrada em outra coisa, e quando me dei conta dos gritos dos pais, já era tarde: peguei-o ainda vivo em minhas mãos e coloquei-o de volta no ninho, que fica em uma das árvores em meu jardim. O ninho foi estranhamente construído em um local bem próximo à linha dos olhos.  Achei que eu tinha salvado o pássaro, porém, minutos mais tarde, quando fui verificar se ele estava bem, encontrei-o morto. Havia uma perfuração enorme sob a asa que eu não tinha visto.
Acho que aquele tinha sido seu primeiro voo. Infelizmente, também o último.

Meu marido e eu o salvamos muitas vezes, ainda no ninho, de ataques de tucanos, gambás e pica-paus, mas acho que ele estava destinado a não viver. Nós escutávamos os gritos desesperados dos pais e corríamos lá para fora, para espantar os invasores. Confesso que criei um vínculo com os pais; acostumei-me a acordar com seus pios alegres, todos os dias. Eu me sentava no banquinho da varanda e ficava olhando os pais levando comidinhas para ele no ninho.  Eles se alimentavam das frutas que eu coloco no comedouro e tomavam banho e bebiam água na minha fonte.

Ao ver o filhotinho morto, achei que os pais, que procuravam por ele gritando desesperados, deveriam saber o que havia acontecido com o bebê deles. E foi aí que eu tive a maior surpresa de todas: passarinhos têm luto.

Coloquei o corpinho em um galho de árvore, e logo a mãe veio com comida no bico para dar a ele, mas ao perceber que estava morto, ela engoliu a comida, demorou-se um pouco rodeando o corpo e voou para um galho de árvore alto junto com o pai. Os dois ficaram ali ainda durante algum tempo. Não mais piavam desesperadamente, mas entoavam um canto que eu tenho certeza que era de luto. Nunca tinha escutado um sabiá cantar daquela maneira, tão suave e sentida.

O casal ainda pousou no meu muro coberto de hera; os dois ficaram lá, me olhando. Pareciam querer se despedir de mim. Eu pedi desculpas a eles em voz alta (se algum vizinho me escutou, deve estar pensando que eu enlouqueci) por não ter conseguido salvar o filhotinho dessa vez. Assim que eu terminei o meu discurso, os dois voaram para longe, e um silêncio de morte baixou no meu jardim.

Bem, não se pode vencer sempre... sei que meu cachorro não fez de maldade, ele só queria brincar com o pássaro, tanto que quando gritei “Mootley, não!” ele imediatamente largou o passarinho. Porém, acabou por matá-lo. Se eu tivesse chegado pelo menos um minuto antes, talvez tivesse conseguido salvá-lo.

O episódio me fez pensar mais uma vez nos milhares de passarinhos que são mortos todos os dias por incêndios, caçadores ilegais e pessoas egoístas que os contrabandeiam. Penso também nos milhares que, neste exato momento, estão presos em gaiolas minúsculas, pulando de um poleiro ao outro, porque é a única coisa que podem fazer, apenas para satisfazer o egoísmo de alguns seres humanos e servir de fonte de renda para outros. Alguns ficam supostamente “soltos,” mas com correntes nas patinhas, como acontece com os criminosos.

Só pude devolver o corpo do pássaro à natureza, desejando boa sorte aos pais da próxima vez, e desejando também boa sorte aos demais pássaros e animais selvagens ou silvestres, vítimas da maldade humana.

Mas a vida continua sempre. Enquanto eu termino esta crônica, escuto os pássaros voltando ao meu jardim. No próximo ano, os sabiás farão outro ninho e terão outros filhotes, pois é assim que tem que ser. Penso que também nós devemos sempre olhar para aquilo e aqueles que perdemos com ternura, nos despedirmos e continuarmos vivendo, cantando sempre que for possível sobre as coisas vivas e as coisas mortas das nossas vidas.





Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...