segunda-feira, 18 de abril de 2022
PROMESSA
Eu prometi
Desaparecer,
Prometi embrenhar-me ainda mais
Nessa densa floresta dentro de mim
A fim de estender
Uma inevitável despedida.
Mas assim é a vida,
Eu prometi, e hei de cumprir,
Embora nenhuma lei há
Que vá me punir
Se eu quebrar a minha promessa,
Já que nada sou,
Nada represento,
Nada quero ser.
Eu prometi deixar meus dedos
Emaranhados nessas heras,
Subindo pelo muro desta casa,
Pés enraizados no gramado.
Prometi cortar as próprias asas
Para que possa voar bem mais alto
Ao abrir os olhos
Em outras esferas.
EU TE IGNORO
Eu te ignoro, poema,
Nas noites escuras em que procuras,
Um coração que te faça existir.
Quero poder não te ouvir,
Me reservando o direito
De não te parir.
E quanto mais tu insistes
Nas tristes intromissões
Entre a noite e o meu sonho,
Eu me abstenho de ti,
Mas lá dentro
Guardo a esperança vã
De te encontrar pela manhã.
terça-feira, 8 de março de 2022
AH, ESSE CÉU IMENSO...
Final de tarde; as nuvens voltam para casa,
Viajando pelo céu bem devagar,
Vestidas de amarelo, branco, alaranjado,
A noite se fecha em volta delas,
Salpicando de estrelas os espaços nacarados.
E eu, da janela, as olho e penso:
-Ah, esse céu, sempre tão imenso,
Pairando em silêncio por cima de mim,
Pano de fundo do meu pensamento!
Tento descobrir meu próprio caminho
Vivendo a ilusão de que ele é meu,
Olhos perdidos nas nuvens que passam,
Sonhos estendidos por sobre a montanha
Sendo recolhidos nos braços
De Deus.
INTIMISTA
Falta-me doçura. Acho que meu açúcar, minha casquinha de cobertura doce, branca e suave, ficou presa em alguma cerca de arame farpado. Sobrou-me essa pele grossa, esse olhar crítico, essa necessidade de dizer o que penso sem muitos filtros e, às vezes, com alguns conflitos. Mas mesmo essa necessidade tem me faltado ultimamente.
Eu sou feliz, aqui no meu cantinho. Vejo poucas pessoas, visito pouco, recebo poucas visitas. Vivo entre as plantas do meu jardim, meu marido, meu trabalho, meus afazeres e cuidados com a casa e meus cães. Não tenho mais grandes sonhos - calma, não sou doce, mas estou bem longe de ser amarga ou melancólica - porque compreendi que quando a vida sonha para mim, eu tenho muito mais sorte. Gosto de estar sob a minha pele, gosto de mim, da minha companhia, do meu jeito silencioso de ser. Multidões me desagradam e me entediam.
Geralmente, não gosto do que a maioria das pessoas gostam. Não sou nostálgica, não me preocupo com o futuro e nem tenho ansiedades sobre o presente. Meu único medo, que me acompanha desde sempre, é o de um dia passar fome. Creio que não deva existir nada pior do que não ter nada para comer. Algumas pessoas me disseram que isso pode vir de alguma vida passada. Será?
Nos dias de hoje, criei a minha própria moda, meu próprio estilo, uso apenas o que eu gosto. Doo muitas coisas também... vivo esvaziando gavetas, estantes de livros e armários... e depois, encho tudo de novo. Alguém me perguntou: "Por que você não vende?" E eu respondi: "Vender por que?"
Estou ficando velha. Não gosto dos eufemismos que as pessoas usam, "melhor idade, "terceira idade." Gosto de dar às coisas seus verdadeiros nomes. E nesse processo de envelhecer, que eu tanto temi no começo, estou me soltado e deixando de ser tão exigente quanto a mim mesma. Qualquer coisa que me aborreça, aperto o botão de "desligar", a não ser que aquilo que estiver me aborrecendo também me interesse. Afinal, ainda existem coisas lá fora que chamam a minha atenção.
Não fico mais nem cinco minutos lendo um livro ou assistindo a um filme que eu não considere interessante. Antes, eu me forçava a terminar tudo o que começava, mas agora... só se eu estiver me divertindo.
Não faço mais questão de entrar em disputas, de aparecer muito, embora goste das redes sociais, e nem de ser apreciada. Estou me tornando a minha verdadeira imagem. Ando trazendo para fora aquilo que estava socado lá dentro, e jogando fora tudo o que não me representa - e eu mesma me represento.
quarta-feira, 2 de março de 2022
Mentes Rasas ou A Sindrome do Coelhinho Bonzinho
Me incomoda a maneira rasa como as pessoas olham para as coisas. O que importa, para eles, não é a quem se mata, mas como. Usar armas de fogo é genocídio, mas impor sanções que poderão levar a morrer de fome todo um povo, é legal. Quando se pensa nas sanções, enxergam apenas uma pessoa, mas não enxergam que por trás dessa pessoa existe todo um povo que será terrivelmente prejudicado, cuja maioria é contra essa guerra é cuja etnia está sendo lentamente cancelada por todos os líderes mundiais. Estão tentando varrer da existência todo um povo, virando-lhes as costas, saindo da sala quando eles falam, impondo sanções de fome.
Quando um presidente que não cumpre acordos é manipulado por países "bonzinhos" e levado a uma guerra, todos o defendem, mesmo que o próprio esteja armando e convocando crianças, mulheres e velhos para lutar em uma guerra perdida, sabendo que a maioria deles vai morrer. "Ah, mas a gente canta "Imagine" na frente da embaixada e resolve tudo.( Canção, aliás, cujo autor entrava bêbado e drogado em bares e surrava pessoas). E esse mesmo homem pede o apoio de todo o resto do mundo, mesmo sabendo que isso poderia nos levar a todos à destruição total por uma Terceira Guerra nuclear, pois o outro maluco megalomaníaco não hesitaria em apertar o botão.
Nenhuma guerra é sobre defender liberdades, mas defender egos e interesses econômicos. Se vocês pensam que Putin é o único demônio nesse inferno, precisam tirar os óculos cor de rosa. O Presidente palhaço não presta. Biden não presta. A União Europeia não presta. Somente teríamos paz se as pessoas, os cidadãos, enxergassem isso e não mais se deixassem usar como buchas de canhão.
#guerraestupida
#terceiraguerra
#estupidez
#Ucrânia
#Nowar
#stupidity
terça-feira, 22 de fevereiro de 2022
QUASE UMA PALAVRA
segunda-feira, 31 de janeiro de 2022
DOR
Dos teus olhos, lágrimas.
Da tua boca, magma.
Algo a se quebrar
No teu diafragma.
Na palavra, lástima
Devagar, se alastra...
Sobre a pele pálida
Tua dor é vasta.
Cálido querer
Aos poucos, se arrasta
Ganha a rua, e quer
Se banhar de sol.
E no arrebol,
Vida a renascer...
Tecitura fina
(Inda transparente)
De uma nova rima.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
ALTEREGO
A flor
também é todo e cada espinho,
O talo
longo em direção ao céu,
As folhas
verdes e as folhas secas,
O seu
perfume de mistério – o véu
Descortinado
à beira do caminho.
A flor é a
praga grudada na planta,
E toda a
seiva que a alimenta,
Ela é a
raiz que na terra se deita
Lutando
contra quem quase a arranca
E não
consegue, mas tenta, e tenta.
A flor é
aquela cuja cor é forte,
Mas poucos
notam, à beira da estrada...
Que seca,
anônima é pisoteada,
Mas se
entrega, sem temor à morte
E à sua
sorte, ao ser abandonada.
A flor é
aquilo que ainda resta,
E ainda
pulsa, e ainda sente,
Que parecia
ser tão indefesa
Mas que
renasce do nada – surpresa!
De uma
obscura, ínfima semente.
NINGUÉM VIU O TEU SORRISO
Ninguém viu o teu sorriso
Dentro dos olhos
Quando te olhavam, convencidos
De que o tinham ferido.
Ninguém viu o teu sorriso
Em cada lágrima forjada
Que sobre o teu rosto rolava
Simulando desabrigo.
Ninguém viu o teu sorriso porque
A melhor estratégia
E a melhor vingança,
É ter um sorriso escondido na manga
Para usar na hora certa
Em que se acha vencedor
O teu inimigo.
terça-feira, 4 de janeiro de 2022
Retribuição
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