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terça-feira, 8 de março de 2022

INTIMISTA



 




Falta-me doçura. Acho que meu açúcar, minha casquinha de cobertura doce, branca e suave, ficou presa em alguma cerca de arame farpado. Sobrou-me essa pele grossa, esse olhar crítico, essa necessidade de dizer o que penso sem muitos filtros e, às vezes, com alguns conflitos. Mas mesmo essa necessidade tem me faltado ultimamente.

Eu sou feliz, aqui no meu cantinho. Vejo poucas pessoas, visito pouco, recebo poucas visitas. Vivo entre as plantas do meu jardim, meu marido, meu trabalho, meus afazeres e cuidados com a casa e meus cães. Não tenho mais grandes sonhos - calma, não sou doce, mas estou bem longe de ser  amarga ou melancólica - porque compreendi que quando a vida sonha para mim, eu tenho muito mais sorte. Gosto de estar sob a minha pele, gosto de mim, da minha companhia, do meu jeito silencioso de ser. Multidões me desagradam e me entediam.

Geralmente, não gosto do que a maioria das pessoas gostam. Não sou nostálgica, não me preocupo com o futuro e nem tenho ansiedades sobre o presente. Meu único medo, que me acompanha desde sempre, é o de um dia passar fome. Creio que não deva existir nada pior do que não ter nada para comer. Algumas pessoas me disseram que isso pode vir de alguma vida passada. Será?

Nos dias de hoje, criei a minha própria moda, meu próprio estilo, uso apenas o que eu gosto. Doo muitas coisas também... vivo esvaziando gavetas, estantes de livros e armários... e depois, encho tudo de novo. Alguém me perguntou: "Por que você não vende?" E eu respondi: "Vender por que?"

Estou ficando velha. Não gosto dos eufemismos que as pessoas usam, "melhor idade, "terceira idade." Gosto de dar às coisas seus verdadeiros nomes. E nesse processo de envelhecer, que eu tanto temi no começo, estou me soltado e deixando de ser tão exigente quanto a mim mesma. Qualquer coisa que me aborreça, aperto o botão de "desligar", a não ser que aquilo que estiver me aborrecendo também me interesse. Afinal, ainda existem coisas lá fora que chamam a minha atenção.

Não fico mais nem cinco minutos lendo um livro ou assistindo a um filme que eu não considere interessante. Antes, eu me forçava a terminar tudo o que começava, mas agora... só se eu estiver me divertindo.

Não faço mais questão de entrar em disputas, de aparecer muito, embora goste das redes sociais, e nem de ser apreciada. Estou me tornando a minha verdadeira imagem. Ando trazendo para fora aquilo que estava socado lá dentro, e jogando fora tudo o que não me representa - e eu mesma me represento.




4 comentários:

  1. A transparência do eu real é urgente.
    No Dia da Mulher, deixou um espelho da Ana sem filtros.
    Também não sou Maria vai com as outras, graças a Deus!
    Tenha um Dia abençoado, Mulher de fibra!
    Beijinhos carinhosos e fraternos

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  2. Adorei o teu retrato de ti...Falar com espelho e nos mostrar como somod realmente é preciso!Autenticidade!
    Adorei! Lindo e feliz nosso dia! bjs, chica

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  3. Querida Ana, que lindo isso, eu concordo plenamente contigo e sinto o mesmo, a vida passa tão rápido que se não formos nós mesmas(os) poderemos nos arrepender e ser tarde demais!
    Amo também me resguardar e estar comigo, sentir a Vida, sem amarguras e curtir de verdade!
    Tenhas e sei que sempre terás, dias sempre bons, eu aqui deixo os meus votos!
    Feliz Dia Internacional da mulher!
    Linda mulher que você é!
    Abraços apertados!

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  4. Ao ler vi a sua foto,e se assim não fosse, diria que a Ana era uma alma velha.
    Aliás acho que é :)
    Um texto onde está tanta sabedoria,tanta autenticidade, tanto desligamento e ao assertivo, só pode ser de alguém muito sábio :)
    E diz-se que mais sabe o sábio por ser velho do que por ser sábio.
    É uma grande aprendizagem cara Ana, eu ainda vou a meio do caminho, mas também lá quero chegar.
    Brisas doces e se me permite um abraço*

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