witch lady

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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

É MEU









É meu - tem meu cheiro, minha letra,
Meu estilo, minha escolha,
Minhas cores, meus olhares
-E eu sou possessiva.

Piso firme 
calcando os calcanhares
Nesse solo que conheço,
E que me pertence,
-E é meu.

Danço sobre as linhas virtuais e inexatas
Quase me arriscando a cair num abismo
Sem começo ou fim
De bits, megas, terabites,
Entre blogs e sites.

São minhas - e me pertencem totalmente
As palavras que aqui deito, e que deixo
À míngua, para morrer
Ou quem sabe, viver.

E se viverem,
É porque, na verdade,
Não mais me pertencem,
Mas a quem as escolher.





quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O GRITO – EM PRIMEIRA PESSOA UMA REFLEXÃO








O texto abaixo trata-se de uma reflexão baseada em meras observações – sobre mim mesma e sobre outras pessoas.







Por que eu grito?

Há vários motivos que podem fazer alguém gritar ao dirigir-se à outra pessoa. Cada um tem suas razões para gritar, mas estas razões tornam-se perdas logo após o grito: perda de bom senso, paciência, calma, autocontrole, justiça, caridade, compreensão, verdade, razão.

1- Eu grito porque me sinto frustrada. Alguém não está me escutando. Com certeza, quando chego a este ponto, já tentei várias outras formas de abordagem sem ter sucesso. Grito porque eu preciso que me ouçam, pois quem sabe, uma injustiça está sendo cometida contra mim, ou tenho algo muito importante a dizer que, se não for escutado, poderá trazer graves consequências para todos. Mesmo assim, quando eu grito por este motivo, perderei a razão e as pessoas virarão as costas para mim ainda mais rapidamente.

2- Eu grito porque eu fui ferido, magoado, machucado, e pretendo pagar tal pessoa na mesma moeda. Assim, acabo cometendo o mesmo erro que ela, me comportando da mesma forma destemperada, bestial e mal-educada.

3-Eu grito porque eu quero que não me ouçam. Isso mesmo! Eu grito porque existe algo dentro de mim que eu preciso disfarçar de alguma forma, e meu escândalo é a minha tática para que as outras pessoas não escutem meu segredo, e sim a minha mentira. 

4-Eu grito porque não tenho autoconfiança, e a voz elevada pode fazer com que as pessoas fiquem assustadas na minha presença, pensando no quanto eu sou temível, poderoso, superior. Na verdade, esse meu grito não passa de insegurança, medo, pavor. Grito para parecer forte e destemido. Grito porque não sei afirmar-me de outra forma. Sou um incompetente. 

5-Eu grito porque, de repente, as coisas tornaram-se pesadas demais, e meu peito está oprimido. Neste caso, meu grito não é dirigido a ninguém especificamente, mas é uma forma de desabafo, uma tentativa de aliviar o estresse, a opressão, o meu medo do futuro ou a minha incapacidade de lidar com todos os acontecimentos que estão em minha vida. 

6-Eu grito porque não quero escutar o que você tem a dizer, pois sua verdade me assusta. Ela me obriga a encarar meus próprios erros. Ela me coloca frente a frente comigo mesmo, e eu não consigo me olhar e me enxergar em suas palavras, pois sei que elas são verdadeiras. Grito para que você se cale. 

7- Eu grito de medo, porque preciso de ajuda. Meu grito é uma maneira de chamar a atenção dos outros sobre a minha pessoa, mas o efeito é totalmente contraproducente, pois muitas vezes, ao invés de obter a ajuda da qual necessito, acabo espantando quem poderia ajudar-me. 

E você? Por que grita?

Seja qual for o motivo, o grito é uma forma de agressão à outra pessoa. Na maioria das vezes, o grito perpetra uma grande injustiça, e demonstra, não o meu poder, mas a minha incompetência em dialogar.









segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Estou me expondo?










"Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida." – Graciliano Ramos





Quem não deseja expor-se, jamais poderia pensar em escrever alguma coisa. Todos que escrevem correm vários riscos, entre eles: cometer erros de gramática, parecer ridículo para quem lê, ser mal interpretado - e o mais mortal pecado de todos, expor a si mesmo. Porque quem escreve e não expõe a própria alma por medo do que os outros pensarão, nunca produzirá nada que valha a pena.

Em cada poema, em cada personagem de contos, em cada crônica, passeia o escritor. A grande confusão, é que muitas vezes a alma dele está ali, naquele personagem ou no eu-lírico de um poema, mas muitas vezes, o leitor pensa, equivocadamente, que a história daquele personagem é uma autobiografia. 

O personagem e o eu-lírico, como os filhos, carregam traços do escritor, mas não são ele, e nem sempre significam uma reprodução de sua vida pessoal. 

Imaginem se Stephen King, escritor de contos de terror, tivesse sua vida real representada em cada personagem que cria! Que tipo de pessoa ele seria? 

Quando, por exemplo, o poeta fala de solidão, apesar de ele estar colocando ali naquele poema seus sentimentos sobre ela, isto não significa que ele seja, necessariamente, um solitário. Ele pode estar falando de uma solidão real ou não. Um eu-lírico não é sempre uma representação da vida do autor, embora traga em si seus traços, vivências, observações sobre vivências alheias e opiniões suas e / ou de outras pessoas. 

Eu penso que o leitor precisa tomar muito mais cuidado ao ler do que o escritor ao escrever. Uma leitura malfeita e uma interpretação precipitada podem gerar comentários totalmente equivocados, e até mesmo, bizarros.



Graciliano Ramos









Pensamentos do autor Graciliano Ramos





"Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano."






"É o processo que adoto: extraio dos acontecimentos algumas parcelas; o resto é bagaço."






"Quem escreve deve ter todo o cuidado para a coisa não sair molhada. Da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal."






"Só posso escrever o que sou. E se os personagens se comportam de modos diferentes, é porque não sou um só."









"Certos lugares que me davam prazer tornaram-se odiosos. Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho a impressão de que se acham ali pessoas, exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. É uma espécie de prostituição."




"Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida."




Graciliano Ramos de Oliveira foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX, mais conhecido por seu livro Vidas Secas.
Nascimento: 27 de outubro de 1892, Quebrangulo, Alagoas
Falecimento: 20 de março de 1953, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro






Às vezes










Às vezes, 
Quando abro os olhos sobre a tela,
Um ranço deixa tudo definido:
As mesmas rusgas de sempre,
As mesmas rugas nos Faces,
A palavra sempre à esquerda
Tentando chegar à direita.


Às vezes, 
Quando os olhos passam sobre as linhas,
Elas cortam como cerol,
Despedaçando as minhas frases,
Partindo em mil pedaços
O verdadeiro sentido
De todas as mensagens.


Às vezes,
O mundo inteiro me cansa,
Então vou lá para fora; fecho os olhos,
Escuto os pássaros nos galhos,
E sinto o vento no rosto
Para trazer de volta o gosto
E matar o desgosto
De tanto esgoto.





ODDITY






What we see 
When we look in the mirror
Is an inverted image of ourselves,
Exactly the image
That others see
When they look at us.





Editadas









Tempo Livre






O que você gosta de fazer no seu tempo livre?

Esta é uma pergunta que sempre aparece durante as conversas com meus alunos de inglês: "What do you like to do in your free time?"  E então começamos a falar de todas as atividades com as quais preenchemos nosso suposto 'tempo livre:' exercícios físicos. Cozinhar. Cuidar da casa. Levar o cachorro para passear. Fazer compras. Ir à festas. Assistir a um filme. Ler um bom livro. E então, eu acabo concluindo de que essa coisa de tempo livre não existe; pelo menos, não como a imaginamos!

Pois se nós tratamos de preencher todas as lacunas do nosso tempo com atividades, então não haverá mais lacunas, e portanto, não haverá o que deveria ser chamado de tempo livre.

O trabalho em uma casa jamais termina. Jamais! Sempre há alguma coisa que a gente deixa para fazer no nosso tempo livre: arrumar os armários, podar as roseiras, retirar as teias de aranha dos cantinhos, tirar o pó. Se não tivermos cuidado, estaremos dedicando todo o nosso tempo livre ao cumprimentos de tarefas após tarefas. 

O mesmo se diz de quem trabalha fora: ao invés de tirar dez minutinhos para o café, as pessoas aproveitam para colocar alguma coisa em dia. Quando eu trabalhava fora, os intervalos entre as aulas eram todos dedicados à preparação de outras aulas. 

Lembro-me de um final de tarde muito cansativo; eram cinco da tarde, estava um calor horroroso e minha próxima aula seria às sete. Todos os professores estavam em sala de aula, e decidi que ao invés de começar a preparar as aulas da semana seguinte, eu ia antes tirar algum tempo para descansar. Apaguei as luzes da sala dos professores, virei o ventilador na minha direção, coloquei os pés para cima em uma cadeira e fechei os olhos. Dez minutos depois, alguém passou no corredor e me viu. Ela entrou, acendendo a luz e perguntando: "Você está bem? Precisa de alguma coisa?" Respondi que estava bem, mas ela continuou me perguntando qual era o problema comigo. Quando insisti que estava apenas descansando, ela me deu um tapinha nos ombros e saiu, dizendo que se eu precisasse conversar, ela estaria disponível, e saiu, deixando a luz acesa.

As pessoas não estão acostumadas a verem as outras descansando. Logo concluem que há um problema de saúde, ou emocional. Se você está apenas parado, contemplando a natureza ou o movimento da rua, você está deprimido. Há muitos anos, quando eu era uma estudante, o pai de uma amiga passou de carro e me viu parada no ponto do ônibus. Por algum motivo, ele não podia me oferecer uma carona, e seguiu adiante. Eu estava bem debaixo de um salgueiro chorão, uma árvore linda, e eu contemplava o vento agitando suas longas folhagens, e nem sequer o vi passar. Quando nos reencontramos, ele me perguntou por que eu estava tão triste naquele dia. Só que eu não estava triste! Estava apenas parada, olhando para uma linda árvore que ninguém olhava, embora passassem por aquela ela centenas de vezes por ano.

Para mim, tempo livre é para não fazer nada. É como eram as horas de recreio na escola, mas ao invés de brincar, eu me sento no pátio e apenas observo. É o momento de aguçar minha percepção, descansar o corpo e a alma. Hora de não fazer absolutamente nada - por mais estranho que isso pareça.




sexta-feira, 7 de outubro de 2016

“Tão Certinha que Dá Nojo!”




Alguém cuja foto de perfil no Facebook era a de Bob Marley solicitou-me amizade  e eu a adicionei; alguns dias depois, ela me fez este elogio através da minha caixa de mensagens: “Parabéns, Ana! Há profundidade em seus textos.” Agradeci, e ficou por isso mesmo. Dias depois, sem mais nem menos, a pessoa, que não sei se era homem ou mulher, voltou e passou uma mensagem em letras garrafais – cujo conteúdo não reproduzirei aqui, pois era cheio de palavrões, mas a coisa mais suave da qual ela me acusou, foi ser ‘certinha demais’ e de ter ‘Uma dignidade prussiana’ (tive que pesquisar para saber do que ela estava me acusando, e descobri eu ela queria dizer “Fascista.”). Acrescentou uma dúzia de palavrões, um comentário mal-educado em uma de minhas postagens – que deixei lá, para que todo mundo tivesse a chance de ver que tipo de pessoa ela era – e então bloqueei o seu perfil.

O motivo de toda essa agressão? Não sei, e nem quero saber. Acho que se essa coisa de carma de vidas passadas existe de verdade, na minha outra vida eu fui um troller.

Fiquei pensando no quanto os valores mudaram; hoje, ser uma pessoa correta é motivo de vergonha. Viver a própria vida baseada nas coisas em que acredito, ser educada, ganhar meu dinheiro através do meu próprio trabalho, não trair o marido, tentar fazer as coisas da maneira certa – tudo isso é motivo para ser desprezada.

Reli o comentário várias vezes, como quem observa, através do telescópio, os movimentos de uma ameba. Além de me render inspiração para algumas crônicas, o bizarro sempre melhora meu vocabulário e meus conhecimentos gerais, desperta a minha curiosidade (talvez por isso eu goste tanto de assistir a filmes de terror), e personalidades como esta devem ter sido parte de algum manicômio no qual trabalhei em uma vida passada, e hoje esses espíritos sem luz nos quais administrei tratamentos de choque, me perseguem. Palavras assim não me ofendem, não me magoam; pelo contrário: me divertem. Servem de material para pesquisa – e depois, tal qual acontece a estes materiais, elas são descartadas no vaso sanitário da minha lixeira virtual. Sinal de que não sou tão certinha assim.

As pessoas que acham que ainda existe anonimato no mundo virtual são bem mais inocentes do que me acusam. Há alguns dias, através do IP de um e-mail anônimo, consegui identificar não somente o nome, endereço, CPF e local de trabalho de uma pessoa, como também obtive através do Google Maps, uma fotografia do local onde a pessoa mora. Como eu sei que é de verdade? Porque eu antes testei comigo mesma e com algumas pessoas que conheço aqui fora, e deu certinho.

Um amigo do Recanto das Letras aconselhou-me a processar tais (per)seguidores, mas fico pensando em todo estresse, tempo e aborrecimento gastos com tal processo. Prefiro continuar vivendo a minha vida certinha e prussiana, acreditando em coisas como integridade, honestidade, fidelidade aos meus valores e trabalho. E se isso incomoda a alguém, nossa, quanta preocupação me causa...





terça-feira, 4 de outubro de 2016

Te Vi Criança






Sonhei contigo, te vi criança,
A mesma que há tanto tempo conheci.
Estavas nua, e entre as andanças
De pessoas que iam e vinham na calçada,
Sem te verem, naquela tarde alquebrada,
Eu te reconheci.

Parei, olhando em volta,
Te dei a mão, dizendo:
"Vem comigo, menininha, 
Vou te levar daqui!
Mas antes, vamos àquela loja
Achar um pano pra te cobrir!"

E tu sorriste, tranquilamente,
Desvencilhando-se do meu abraço
E me dizendo, bem calmamente:
"Eu estou bem, está tudo bem,
Não sinto frio, nem fome ou sede,
Eu estou bem..."

E na inocência da tua nudez
Sem frio ou dor, ou falsa polidez,
Senti o cheiro dos teus cabelos,
Um cheiro doce, que há muito tempo,
Um dia, eu senti,
E depois, conforme os anos nos separavam,
Dele eu me esqueci.

Pedi perdão por não despedir-me,
Por não ter sido tão corajosa
Para encarar os milhões de erros
Que nós, tão tolos,
E tão cruéis, contra ti cometemos.

Deixei-te em paz: pois naquela noite,
Me visitaste, e o que ficou,
Foi o perdão daquele sorriso,
A tranquilidade daquele rosto,
E o som doce das tuas palavras:
"Eu estou bem, me deixe ir!"





sábado, 1 de outubro de 2016

CADA VEZ MAIS







Cada vez mais,
Haverá mais ontens nos amanhãs,
E o passado se esticará
Pesando sobre o futuro
E fazendo sombra ao presente.

Façamos da vida uma leve caminhada,
Que a saudade fique bordada apenas
Nas bordas do que foi levado...

Deixemos que o pano que nos cobre
Esteja rasgado,
Para que o céu possa ser visto,
O firmamento, vislumbrado,
Quando o vento ameaçar levar nossos telhados!

Cada vez mais,
As flores que morreram à míngua
Espelharão seus perfumes fantasmagóricos
Pelos jardins que nos esquecemos de cuidar.

Deixemos que ao menos as sementes
Que caíram dos miolos destas flores
Tenham a chance de brotar!

Sejamos nós, entre o céu, as montanhas e o mar,
Caminhemos devagar, mas sempre em frente,
E se houver correntes a arrastar,
Que elas sejam de fantasmas mais contentes...

Cada vez mais, a nossa pele
Há de cobrir-se com as rendilhas do tempo,
Que não impedem o vento de passar,
Mas nos emprestam a ilusão do aquecimento!

-Esquecimento! Abra as asas sobre nós,
Leve consigo, da maneira mais veloz
A vozes temidas do rancor e desalento,
Para que a pele não se enrugue sem motivos,
Para que a morte não se torne, ao fim de tudo,
Apenas o fim dos nossos ressentimentos!


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Wyna, Daqui a Três Estrelas

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