quarta-feira, 5 de setembro de 2012
CREME DE CONFEITEIRO
Ontem, quando acordei, eu não estava bem. Marasmo se instalando... o dia, apenas no começo. O que fazer para que ele não se estragasse?
Olhei para fora; a manhã estava fria e cinzenta, e até minha cadelinha parecia chateada. Nem mesmo os passarinhos tinham aparecido, talvez por causa da ventania forte que soprava.
Lembrei-me do meu livro de receitas, o "Dona Benta." Uma edição nova, que comprei há pouco tempo. Minha mãe já possuía um livro destes, o dela, tão antigo, que a capa estava desbotada, e quase já não se viam as figuras: uma velha senhora segurando um bolo todo confeitado, enquanto um menino a observa de olhos compridos.
Fui para a cozinha. Mas não sem antes chamar a Latifa, minha cadelinha, para acompanhar-me. Coloquei um velho tapete de lã para ela deitar-se junto a porta, e olhei em volta: tinha algumas maçãs e bananas. Trigo. Açúcar. Pensei em fazer uma torta.
A massa pronta, a cozinha aquecida pelo calor do forno, os aromas... as frutas picadas sobre a massa. Levei tudo ao forno, mas achei que faltava ainda alguma coisa. Folheei o livro, procurando por uma receita de um creme para cobrir a torta... achei uma muito fácil e rápida, de creme de confeiteiro. Fica exatamente igual aos recheios dos sonhos da padaria, e coberturas de cucas e pães doces:
-duas gemas
-três colheres de trigo
-meia xícara de açúcar
-essência de baunilha
-duas xícaras de leite.
Peneirar os sólidos, e juntando as gemas, a baunilha e o leite, levar ao fogo até ferver. Se der pelotas, passar na peneira novamente depois de pronto. A torta pronta, joguei o creme por cima.
Ficou tão bom, que eu e meu aluno, que chegou logo depois, consumimos metade da torta. Depois, meu marido consumiu quase todo o restante, e hoje de manhã, ainda tinha uma fatia que devorei com uma boa xícara de café.
Tédio? Para onde ele foi?...
O AR QUE TU RESPIRAS
Não desejo jamais ser
Esse ar que tu respiras,
Porque um dia, eu te falto,
Porque um dia, eu me vou,
E ficas a sufocar...
Não quero ser a razão
Dessa tua pobre vida...
Porque um dia, eu morro,
E a tua dignidade
Fica num canto, caída!
Não desejo ser a fonte
Pra molhar tua garganta,
Porque um dia, eu seco,
E tu ficas à minha margem
Morrendo, aos poucos de sede...
Não quero ser o teu ar,
Tua razão, tua fonte,
Mas quero ser teus pulmões,
Tua vida, tua sede,
A paz que deita contigo
Ao teu lado, em tua rede..
Esse ar que tu respiras,
Porque um dia, eu te falto,
Porque um dia, eu me vou,
E ficas a sufocar...
Não quero ser a razão
Dessa tua pobre vida...
Porque um dia, eu morro,
E a tua dignidade
Fica num canto, caída!
Não desejo ser a fonte
Pra molhar tua garganta,
Porque um dia, eu seco,
E tu ficas à minha margem
Morrendo, aos poucos de sede...
Não quero ser o teu ar,
Tua razão, tua fonte,
Mas quero ser teus pulmões,
Tua vida, tua sede,
A paz que deita contigo
Ao teu lado, em tua rede..
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Canção do Arrebol
CANÇÃO do ARREBOL
Não adianta sonhar com a canção arredia
Para tentar reviver a velha melodia
Que o vento trouxe um dia, mas levou embora
E que agora navega nos mares de outrora.
De nada adianta tocar as velhas cordas
De uma antiga guitarra desafinada...
Da música ansiada, não resta mais nada,
Rasgou-se a partitura , e não há maestro.
Embora lamentemos o que se perdeu,
A música não volta; dos ecos, os restos...
Morreu para sempre o ritmo da canção...
Mas Deus é bom, e a manda num raio de sol
Que ao findar do dia, em ligeira escanção
Nos brinda com seu brilho, e morre ao arrebol.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
o que vejo
As gotas de chuva são como pó
Purpurinas molhadas
Nas asas das borboletas.
O musgo do tronco, veludo molhado
Por onde caminha a lagarta
Sonhando com o futuro.
Pios de pássaros, afoitos bicos
Despedaçam cantos inteiros
Em fragmentos musicais
Que cabem melhor nos ouvidos...
Nuvens cinzentas e tão pesadas
Pairam sobre o nosso mundo,
Chovendo as gotas brilhantes
Que fazem a grama crescer tanto!...
Há um canto em meu jardim,
De onde eu observo o mundo
Diminuto que me cerca,
Onde pousam borboletas,
Joaninhas displicentes
De presença tão fugaz...
Quero ficar por aqui, entre o silêncio
Destes muros cobertos de hera...
Quero estar entre estas criaturas,
Feitas de asas e de pó,
De magia e de renda de espírito...
Quero fitar-me nas poças,
E enxergar, por trás, o céu.
Isto é o que vejo...
O DIA EM QUE O SOL NÃO NASCER
Triste manhã;
Abro as janelas
Não vejo o sol
A despertar!
Horas a fio
Só a mirar
Um horizonte,
A esperar...
No mundo, o caos,
Na Terra, a dor,
O Bem e o Mal
Ódio e Amor...
A escuridão
Dos corações
De uma só vez
Em profusão!
A esperança
A morrer só,
Tudo o que sei
Virando pó...
Triste manhã
Será aquela
Na qual o sol
Não nascerá!
EXPLIQUE!
Explique a beleza que existe
Nas asas de uma borboleta...
Não te peço nem que contes
As estrelas do universo,
Não espero que tu entendas
Os grandes mistérios da vida...
Só te peço que percorras
Com teus olhos, os padrões
Coloridos que se espalham
Sobre as asas, fino pó...
Explique a beleza que existe
Numa pétala de flor,
Na gota d'água, que brilha,
Antes de cair no chão,
Ou o traçado que existe
Na palma da tua mão!
Explique o vento que sopra,
E que murmura segredos
Entre as folhas silenciosas,
Explique as cores das rosas!
Explique a vida, tão breve,
De um pequenino inseto,
Ou talvez, o azul do mar
Ou de onde vem o amor...
Explique os motivos da chuva
Para fazer nascer no céu
Um caminho de arco-íris
Que explode em luz e cor!
Não existe explicação
Que caiba no entendimento!
O que é a vida, a morte?
A resposta, está no vento!
Eu-olhar
Eu quero olhar com olhos de quem nunca viu,
E desvendar nuances entre o negro e o anil
Eu quero verdadeiramente enxergar,
Colher em minhas pupilas todo o céu e o mar...
Eu quero ver o mundo de olhos fechados,
Intuitivamente, perceber os lados
Daquilo que me vem pelo meu eu-olhar
E os mínimos detalhes poder captar.
Eu quero escutar através das retinas,
E perceber até as finas sintonias
Que a vida, em seu mistério, quiser revelar...
Eu quero ouvir bem mais do que eu puder falar!
Sou parte deste todo, água, mar e fogo,
Sou elemento vivo dessa natureza...
Eu quero me encontrar, quero nascer de novo,
E então, vou me perder pra sempre na beleza.
DE PASSAGEM
Eu, de passagem
Nessa estação
Dentro da nave
Eu olho a vida.
Muitas chegadas,
Muitas partidas
É um cliché,
Mas é assim...
Muito de ti,
Muito de mim
Se perderá
Pelo caminho,
E entre as flores
E os perfumes
Há dissabores,
Alguns espinhos...
Ninguém está
Ou estará
Pronto pra vida,
Não há ensaios...
Talvez por isso
As desistências,
Os desesperos
E os desmaios...
Estou aqui
Não sei por que
E nem desejo
Mesmo, saber...
Mas já que estou,
E será findo,
Que seja bom,
Que seja lindo...
*
AVE
Ave impassível, impossível ave
Ave de prata, plumas de metal...
Quisera eu tocar teu flanco liso
Que se incendeia ao sol filosofal!
Nave de Marte, que brinca entre os astros,
Vai pelos vastos trilhos do infinito...
Leva contigo todos os meus sonhos,
Deixa-os errar pelo universo prisco!
E quando os primos raios da manhã
Tornarem rubras nuvens de açucena,
Despertarei, ave, no chão tristonho,
E tu, ó fruto da ilusão serena,
De um outro Ícaro serás o sonho.
sábado, 1 de setembro de 2012
SETEMBRO
SETEMBRO
Traga contigo a primavera, setembro!
Puxe-a pelas tranças do cabelo,
E faça com que ela amanheça!
Ao mesmo tempo,
Leva embora toda a negatividade,
Soprando para bem longe
Os restos do que foi triste,
Lavando a saudade!
Traga contigo a primavera, setembro!
Puxe-a pelas tranças do cabelo,
E faça com que ela amanheça!
Ao mesmo tempo,
Leva embora toda a negatividade,
Soprando para bem longe
Os restos do que foi triste,
Lavando a saudade!
Eu hoje acordei e fui até a varanda. O sol despontava no horizonte. Percebi que ele trazia consigo não apenas a promessa de um novo dia, mas de um novo mês, um novo ciclo, uma nova estação do ano: a estação que conhecemos como Estação das Flores, a nossa querida Primavera... a que traz as primeiras nuances do verão, preparando-nos para o auge do calor. A que faz amanhecer as esperanças.
Recebo-te, setembro, de braços abertos. Tu marcas mais um final do meu ciclo de anos, abrindo um novo. Espero que este, que começará em breve, seja bem melhor do que aquele que está indo embora. Entrego em tuas mãos a minha alegria mais sincera e a minha vontade de viver.
Seja bem vindo, Setembro. Que teus ventos sejam brandos, e tua voz, calma e serena. Que possamos descansar tranquilos na palma da tua mão.
Recebo-te, setembro, de braços abertos. Tu marcas mais um final do meu ciclo de anos, abrindo um novo. Espero que este, que começará em breve, seja bem melhor do que aquele que está indo embora. Entrego em tuas mãos a minha alegria mais sincera e a minha vontade de viver.
Seja bem vindo, Setembro. Que teus ventos sejam brandos, e tua voz, calma e serena. Que possamos descansar tranquilos na palma da tua mão.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Margem
Margem
Ah, margem da minha vida!
Minhas águas vão passando,
Expostas ficam as coisas
Que se prendem nas ramagens
Dessas minhas pobres margens
Quando baixa a correnteza!
Ah, margem de minha tristeza!
Mas também as alegrias
Deixam sempre seus pedaços,
Fios coloridos, traços
Nessa margem que me guia!
Ah, margem do meu regaço,
Onde perdem-se os abraços,
E os ecos de mil passos
Que não voltam nunca mais
Ressoam na minha alma!
Ah, margem de águas calmas,
Onde eu me sento, calada,
Assistindo, enquanto passa,
Minha vida, afogada
Na corrente dessas águas!
Arrumando as Prateleiras
Tenho umas prateleiras sob as escadas que levam ao segundo andar da casa, onde guardo meus livros e discos de vinil. Há muito tempo vinha planejando arrumá-las e limpá-las, mas com tanto a ser feito em uma casa, mais o meu trabalho com as aulas, sempre acabava 'empurrando a tarefa com a barriga.'
Mas finalmente, tomei algumas horas para colocar tudo em ordem. As prateleiras abarrotadas de livros que eu puxava e depois, não recolocava no lugar certo por falta de tempo. Discos de vinil cujas capas empoeiradas cheiravam a bolor. Tirei tudo, tudo do lugar, e comecei a árdua (?) tarefa...
Foi como reencontrar velhos amigos: lá estavam livros que modificaram minha vida e ajudaram a formar o meu caráter, como "Ilusões", de Richard Bach, e "O Profeta", de Khalil Gibran. Maravilhoso e mágico, reler trechos de "O Convite", de Oriah Mountain-Dreamer. Uma delícia, rever Lia Luft, as incríveis memórias de Louis Bourne, os poemas de Cecília Meireles e Fernando pessoa.
Adorei perder-me novamente nas "Memórias, Sonhos e Reflexões" de Jung. Aproveitei para checar o significado de meus sonhos, nos muitos livros que tenho sobre o assunto, e senti arrepios ao reler meus muitos contos de terror.
Peguei uma receitinha para o jantar com Sônia Hirsch e reaprendi sobre vinhos relendo trechos dos três livros que comprei quando montamos a nossa adeguinha.
Separei romances que quero reler um dia. Tirei o pó de cada livro e de cada disco - oh, meu Deus, preciosidades, como o primeiro LP dos Beatles! Relembrei minha adolescência com as coletâneas de músicas de discoteca e minha coleção de discos do Queen, Elton John, Rod Stewart, Supertramp, Barbra Streisand, Guilherme Arantes, Maria Betânia... e, lá no fundo da prateleira, achei a caixa com minhas contas, cristais, pedras, fios e miçangas, da época em que eu fazia colares. Pensei em voltar a fazê-los, quem sabe?...
Quando terminei, já começava a escurecer. Próximo objetivo: o armário de CDs.
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