witch lady

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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O AR QUE TU RESPIRAS





Não desejo jamais ser
Esse ar que tu respiras,
Porque um dia, eu te falto,
Porque um dia, eu me vou,
E ficas a sufocar...

Não quero ser a razão
Dessa tua pobre vida...
Porque  um dia, eu morro,
E a tua dignidade
Fica num canto, caída!

Não desejo ser a fonte
Pra molhar tua garganta,
Porque um dia, eu seco,
E tu ficas à minha margem
Morrendo, aos poucos de sede...

Não quero ser o teu ar,
Tua razão, tua fonte,
Mas quero ser teus pulmões,
Tua vida, tua sede,
A paz que deita contigo
Ao teu lado, em tua rede..

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Canção do Arrebol







CANÇÃO do ARREBOL



Não  adianta sonhar com a canção arredia
Para tentar reviver a velha melodia
Que o vento trouxe um dia, mas levou embora
E que agora navega nos mares de outrora.



De nada adianta tocar as velhas cordas
De uma antiga guitarra desafinada...
Da música ansiada, não resta mais nada,
Rasgou-se a partitura , e não há  maestro.



Embora lamentemos o que se perdeu,
A música não volta; dos ecos, os restos...
Morreu para sempre o ritmo da canção...



Mas Deus é bom, e a manda num raio de sol
Que ao findar do dia, em ligeira escanção
Nos brinda com seu brilho, e morre ao arrebol.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

o que vejo





As gotas de chuva são como pó
Purpurinas molhadas
Nas asas das borboletas.
O musgo do tronco, veludo molhado
Por onde caminha a lagarta
Sonhando com o futuro.



Pios de pássaros, afoitos bicos
Despedaçam cantos inteiros
Em fragmentos musicais
Que cabem melhor nos ouvidos...



Nuvens cinzentas e tão pesadas
Pairam sobre o nosso mundo,
Chovendo as gotas brilhantes
Que fazem a grama crescer tanto!...



Há um canto em meu jardim,
De onde eu observo o mundo
Diminuto que me cerca,
Onde pousam borboletas,
Joaninhas displicentes
De presença tão fugaz...



Quero ficar por aqui, entre o silêncio
Destes muros cobertos de hera...
Quero estar entre estas criaturas,
Feitas de asas e de pó,
De magia e de renda de espírito...
Quero fitar-me nas poças,
E enxergar, por trás, o céu.

Isto é o que vejo...


O DIA EM QUE O SOL NÃO NASCER






Triste manhã;
Abro as janelas
Não vejo o sol
A despertar!

Horas a fio
Só a mirar
Um horizonte,
A esperar...

No mundo, o caos,
Na Terra, a dor,
O Bem e o Mal
Ódio e Amor...

A escuridão
Dos corações
De uma só vez
Em profusão!

A esperança
A morrer só,
Tudo o que sei
Virando pó...

Triste manhã
Será aquela
Na qual o sol
Não nascerá!

EXPLIQUE!







Explique a beleza que existe
Nas asas de uma borboleta...
Não te peço nem que contes
As estrelas do universo,
Não espero que tu entendas
Os grandes mistérios da vida...


Só te peço que percorras
Com teus olhos, os padrões
Coloridos que se espalham
Sobre as asas, fino pó...

Explique a beleza que existe
Numa pétala de flor,
Na gota d'água, que brilha,
Antes de cair no chão,
Ou o traçado que existe
Na palma da tua mão!

Explique o vento que sopra,
E que murmura segredos
Entre as folhas silenciosas,
Explique as cores das rosas!

Explique a vida, tão breve,
De um pequenino inseto,
Ou talvez, o azul do mar
Ou de onde vem o amor...

Explique os motivos da chuva
Para fazer nascer no céu
Um caminho de arco-íris
Que explode em luz e cor!

Não existe explicação
Que caiba no entendimento!
O que é a vida, a morte?
A resposta, está no vento!


Eu-olhar









Eu quero olhar com olhos de quem nunca viu,
E desvendar nuances entre o negro e o anil
Eu quero verdadeiramente enxergar,
Colher em minhas pupilas todo o céu e o mar...

Eu quero ver o mundo de olhos fechados,
Intuitivamente, perceber os lados
Daquilo que me vem pelo meu eu-olhar
E os mínimos detalhes poder captar.

Eu quero escutar através das retinas,
E perceber até as finas sintonias
Que a vida, em seu mistério, quiser revelar...
Eu quero ouvir bem mais do que eu puder falar!

Sou parte deste todo, água, mar e fogo,
Sou elemento vivo dessa natureza...
Eu quero me encontrar, quero nascer de novo,
E então, vou me perder pra sempre na beleza.                     

DE PASSAGEM





Eu, de passagem
Nessa estação
Dentro da nave
Eu olho a vida.

Muitas chegadas, 
Muitas partidas
É um cliché,
Mas é assim...

Muito de ti,
Muito de mim
Se perderá
Pelo caminho,

E entre as flores
E os perfumes
Há dissabores,
Alguns espinhos...

Ninguém está
Ou estará 
Pronto pra vida,
Não há ensaios...

Talvez por isso
As desistências,
Os desesperos
E os desmaios...

Estou aqui
Não sei por que
E nem desejo
Mesmo, saber...

Mas já que estou,
E será  findo,
Que seja bom,
Que seja lindo...

*

AVE


Ave impassível, impossível ave
Ave de prata, plumas de metal...
Quisera eu tocar teu flanco liso
Que se incendeia ao sol filosofal!

Nave de Marte, que brinca entre os astros,
Vai pelos vastos trilhos do infinito...
Leva contigo todos os meus sonhos,
Deixa-os errar pelo universo prisco!

E quando os primos raios da manhã
Tornarem rubras nuvens de açucena,
Despertarei, ave, no chão tristonho,
E tu, ó fruto da ilusão serena,
De um outro Ícaro serás o sonho.


sábado, 1 de setembro de 2012

SETEMBRO











SETEMBRO



Traga contigo a primavera, setembro!
Puxe-a pelas tranças do cabelo,
E faça com que ela amanheça!
Ao mesmo tempo,
Leva embora toda a negatividade,
Soprando para bem longe
Os restos do que foi triste,
Lavando a saudade!


Eu hoje acordei e fui até a varanda. O sol despontava no horizonte. Percebi que ele trazia consigo não apenas a promessa de um novo dia, mas de um novo mês, um novo ciclo, uma nova estação do ano: a estação que conhecemos como Estação das Flores, a nossa querida Primavera... a que traz as primeiras nuances do verão, preparando-nos para o auge do calor. A que faz amanhecer as esperanças.

Recebo-te, setembro, de braços abertos. Tu marcas mais um final do meu ciclo de anos, abrindo um novo. Espero que este, que começará em breve, seja bem melhor do que aquele que está indo embora. Entrego em tuas mãos a minha alegria mais sincera e a minha vontade de viver.

Seja bem vindo, Setembro. Que teus ventos sejam brandos, e tua voz, calma e serena. Que possamos descansar tranquilos na palma da tua mão.



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Margem






Margem


Ah, margem da minha vida!
Minhas águas vão passando,
Expostas ficam as coisas
Que se prendem nas ramagens
Dessas minhas pobres margens
Quando baixa a correnteza!

Ah, margem de minha tristeza!
Mas também as alegrias
Deixam sempre seus pedaços,
Fios coloridos, traços
Nessa margem que me guia!

Ah, margem do meu regaço,
Onde perdem-se os abraços,
E os ecos de mil passos
Que não voltam nunca mais
Ressoam na minha alma!

Ah, margem de águas calmas,
Onde eu me sento, calada,
Assistindo, enquanto passa,
Minha vida, afogada
Na corrente dessas águas!



Arrumando as Prateleiras






Tenho umas prateleiras sob as escadas que levam ao segundo andar da casa, onde guardo meus livros e discos de vinil. Há muito tempo vinha planejando arrumá-las e limpá-las, mas com tanto a ser feito em uma casa, mais o meu trabalho com as aulas, sempre acabava 'empurrando a tarefa com a barriga.' 

Mas finalmente, tomei algumas horas para colocar tudo em ordem. As prateleiras abarrotadas de livros que eu puxava e depois, não recolocava no lugar certo por falta de tempo. Discos de vinil cujas capas empoeiradas cheiravam a bolor. Tirei tudo, tudo do lugar, e comecei a árdua (?) tarefa... 

Foi como reencontrar velhos amigos: lá estavam livros que modificaram minha vida e ajudaram a formar o meu caráter, como "Ilusões", de Richard Bach, e "O Profeta", de Khalil Gibran. Maravilhoso e mágico, reler trechos de "O Convite", de Oriah Mountain-Dreamer. Uma delícia, rever Lia Luft, as incríveis memórias de Louis Bourne, os poemas de Cecília Meireles e Fernando pessoa. 

Adorei perder-me novamente nas "Memórias, Sonhos e Reflexões" de Jung. Aproveitei para checar o significado de meus sonhos, nos muitos livros que tenho sobre o assunto, e senti arrepios ao reler meus muitos contos de terror. 

Peguei uma receitinha para o jantar com Sônia Hirsch e reaprendi sobre vinhos relendo trechos dos três livros que comprei quando montamos a nossa adeguinha. 

Separei romances que quero reler um dia. Tirei o pó de cada livro e de cada disco - oh, meu Deus, preciosidades, como o primeiro LP dos Beatles! Relembrei minha adolescência com as coletâneas de músicas de discoteca e minha coleção de discos do Queen, Elton John, Rod Stewart, Supertramp, Barbra Streisand, Guilherme Arantes, Maria Betânia... e, lá no fundo da prateleira, achei a caixa com minhas contas, cristais, pedras, fios e miçangas, da época em que eu fazia colares. Pensei em voltar a fazê-los, quem sabe?... 

Quando terminei, já começava a escurecer. Próximo objetivo: o armário de CDs.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Na Minha Boca





Na minha boca, não ponhas palavras, 


Nem mordaças. 


Não tente refrear-me a língua, 


Ou calar a voz que perpassa 


Teus tímpanos insensíveis. 



Na minha boca, não te alimentes, 


Nem sequer tentes, 


Pois hei de destilar o veneno 


Que há de matar essa coisa 


Que se move nesse peito 


Assaz pequeno. 



Na minha boca, não vasculhes 


A procura do que esperas 


Que eu te diga, e que não quero... 


Pois de ti, eu nada espero, 


Nem sequer que tu me ouças, 


Pois teu nome já calou-se 


Há tempos 


Na minha boca. 










*

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