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sábado, 1 de setembro de 2012

SETEMBRO











SETEMBRO



Traga contigo a primavera, setembro!
Puxe-a pelas tranças do cabelo,
E faça com que ela amanheça!
Ao mesmo tempo,
Leva embora toda a negatividade,
Soprando para bem longe
Os restos do que foi triste,
Lavando a saudade!


Eu hoje acordei e fui até a varanda. O sol despontava no horizonte. Percebi que ele trazia consigo não apenas a promessa de um novo dia, mas de um novo mês, um novo ciclo, uma nova estação do ano: a estação que conhecemos como Estação das Flores, a nossa querida Primavera... a que traz as primeiras nuances do verão, preparando-nos para o auge do calor. A que faz amanhecer as esperanças.

Recebo-te, setembro, de braços abertos. Tu marcas mais um final do meu ciclo de anos, abrindo um novo. Espero que este, que começará em breve, seja bem melhor do que aquele que está indo embora. Entrego em tuas mãos a minha alegria mais sincera e a minha vontade de viver.

Seja bem vindo, Setembro. Que teus ventos sejam brandos, e tua voz, calma e serena. Que possamos descansar tranquilos na palma da tua mão.



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Margem






Margem


Ah, margem da minha vida!
Minhas águas vão passando,
Expostas ficam as coisas
Que se prendem nas ramagens
Dessas minhas pobres margens
Quando baixa a correnteza!

Ah, margem de minha tristeza!
Mas também as alegrias
Deixam sempre seus pedaços,
Fios coloridos, traços
Nessa margem que me guia!

Ah, margem do meu regaço,
Onde perdem-se os abraços,
E os ecos de mil passos
Que não voltam nunca mais
Ressoam na minha alma!

Ah, margem de águas calmas,
Onde eu me sento, calada,
Assistindo, enquanto passa,
Minha vida, afogada
Na corrente dessas águas!



Arrumando as Prateleiras






Tenho umas prateleiras sob as escadas que levam ao segundo andar da casa, onde guardo meus livros e discos de vinil. Há muito tempo vinha planejando arrumá-las e limpá-las, mas com tanto a ser feito em uma casa, mais o meu trabalho com as aulas, sempre acabava 'empurrando a tarefa com a barriga.' 

Mas finalmente, tomei algumas horas para colocar tudo em ordem. As prateleiras abarrotadas de livros que eu puxava e depois, não recolocava no lugar certo por falta de tempo. Discos de vinil cujas capas empoeiradas cheiravam a bolor. Tirei tudo, tudo do lugar, e comecei a árdua (?) tarefa... 

Foi como reencontrar velhos amigos: lá estavam livros que modificaram minha vida e ajudaram a formar o meu caráter, como "Ilusões", de Richard Bach, e "O Profeta", de Khalil Gibran. Maravilhoso e mágico, reler trechos de "O Convite", de Oriah Mountain-Dreamer. Uma delícia, rever Lia Luft, as incríveis memórias de Louis Bourne, os poemas de Cecília Meireles e Fernando pessoa. 

Adorei perder-me novamente nas "Memórias, Sonhos e Reflexões" de Jung. Aproveitei para checar o significado de meus sonhos, nos muitos livros que tenho sobre o assunto, e senti arrepios ao reler meus muitos contos de terror. 

Peguei uma receitinha para o jantar com Sônia Hirsch e reaprendi sobre vinhos relendo trechos dos três livros que comprei quando montamos a nossa adeguinha. 

Separei romances que quero reler um dia. Tirei o pó de cada livro e de cada disco - oh, meu Deus, preciosidades, como o primeiro LP dos Beatles! Relembrei minha adolescência com as coletâneas de músicas de discoteca e minha coleção de discos do Queen, Elton John, Rod Stewart, Supertramp, Barbra Streisand, Guilherme Arantes, Maria Betânia... e, lá no fundo da prateleira, achei a caixa com minhas contas, cristais, pedras, fios e miçangas, da época em que eu fazia colares. Pensei em voltar a fazê-los, quem sabe?... 

Quando terminei, já começava a escurecer. Próximo objetivo: o armário de CDs.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Na Minha Boca





Na minha boca, não ponhas palavras, 


Nem mordaças. 


Não tente refrear-me a língua, 


Ou calar a voz que perpassa 


Teus tímpanos insensíveis. 



Na minha boca, não te alimentes, 


Nem sequer tentes, 


Pois hei de destilar o veneno 


Que há de matar essa coisa 


Que se move nesse peito 


Assaz pequeno. 



Na minha boca, não vasculhes 


A procura do que esperas 


Que eu te diga, e que não quero... 


Pois de ti, eu nada espero, 


Nem sequer que tu me ouças, 


Pois teu nome já calou-se 


Há tempos 


Na minha boca. 










*

Meu Erro





Esperei que o mar 


Fosse doce 


(Embora não fosse). 


Eu pensei que o vento 


Traria perfumes, 


Mas não trouxe... 



Desejei que uma flor 


Se abrisse 


E jamais murchasse, 


Desejei que o tempo 


Não passasse... 



Eu pensei que o amor 


Compreendesse 


Sempre, incondicionalmente, 


Mas o amor esqueceu-se 


De amar; retirou-se 


Ao trazer consigo 


O castigo, 


Desamou-se... 



Quisera abraçar e trazer 


Sempre comigo, 


A certeza tranquila, 


A esperança trançada 


Nos cabelos! 



Mas a trança desfez-se, 


A esperança partiu-se 


Em pedaços pequenos 


Cortados em foice... 



E de erros em erros, 


O que eu esperava 


Tornou-se pó, 


Foi soprado sem dó 


Pela boca profana, 


Pela voz rouca, louca 


Sussurrante. 














quarta-feira, 29 de agosto de 2012

FOBIAS






Todos temos fobias. Eu, por exemplo, tenho fobia de aranhas e de altura. Lembro-me uma vezes em Brasília, quando, em visita ao Monumento JK, resolvi tirar uma foto de pé sobre a mureta que cercava a entrada - uma escadaria que conduz ao subsolo. Enquanto caminhava sobre a mureta, comecei a sentir-me tonta e enjoada ao olhar os degraus lá embaixo ,e os joelhos começaram a tremer. Meu marido teve que ir em meu resgate, ou eu acabaria caindo lá de cima. Eu nem sabia, antes daquele episódio, que eu tinha medo de altura!



Estou usando um artigo sobre estranhas fobias em minhas aulas desta semana, e surpreendi-me ao ler sobre pessoas famosas e suas fobias;  a atriz Megan Fox, por exemplo, tem fobias de pessoas respirando perto dela. Será que ela preferiria que as pessoas não respirassem? Talvez assim ela pudesse sentir-se mais confortável, suponho... a moça também confessa ter pavor de tocar em papel seco, e precisa molhar os dedos a fim de virar as páginas de seus scripts. Nossa!

Também há pessoas que tem medo de frutas, botões, antiguidades (o ator Billy Bob Thornton não entra em lugares onde haja mobília pertencente a épocas anteriores aos anos 50) e outros medos absurdos. Por incrível que pareça, há, nos Estados Unidos, mais de 250,000 pessoas sofrendo desta estranha fobia de antiguidades... incrível como somos loucos!




Algumas pessoas desenvolvem fobia de multidões. Bem, eu também não me sinto lá muito confortável quando estou no meio de um monte de pessoas, e evito este tipo de situação sempre que posso; mas não chego a ter pânico.

Conheço uma pessoa que tem muito medo de insetos. Qualquer um deles. E uma outra (homem) que tem pavor de mariposas, e sai correndo, dando o maior 'piti' se alguma delas entrar pela janela.

Dizem que  a melhor maneira de perder o medo de alguma coisa, é enfrentando-o. Às vezes, dá certo. Por exemplo, eu costumava ter muito medo de usar escadas rolantes quando era jovem. Um dia, meu namorado (atual marido) descobriu meu medo, e obrigou-me a passar um tempo subindo e descendo de uma escada rolante várias vezes, até que eu consegui perder o medo. 

Há um programa em um canal de TV a cabo onde as pessoas vão a fim de perderem seus medos... os métodos são bem radicais, ou seja, eles são forçados a confrontar seus medos. Um dia, uma mulher que tinha pavor de aranhas (como eu) teve uma caranguejeira viva colocada em seu braço.

 Nem pensem em fazer isso comigo! Prefiro morrer com medo.






terça-feira, 28 de agosto de 2012

Dona Franci





Eu, lendo um discurso no dia do aniversário de D. Franci - ao lado de sua filha vera, D. Franci e seu colar de botões




Quando eu e minha irmã éramos pequenas, nossos pais não podiam pagar uma escola particular. Mas nós estudamos durante cinco anos em uma das melhores escolas particulares de Petrópolis naquela época, o Colégio Progresso. Graças à diretora da escola, Dona Franci (Francisca Ferreira de Souza). Assim como nós, havia muitos bolsistas naquela escola. Tinha até uma família de indiozinhos amazonenses. Ela tinha também uma classe para alunos especiais, que em 1971, ainda sofriam todo tipo de preconceito... lembro-me de como a Dona Franci e as demais professoras sempre faziam a interação entre nós - as crianças "normais" e os alunos excepcionais...

Ela adorava seu trabalho. Na hora do recreio, ela ficava em um ponto mais alto do pátio, observando as crianças brincando, e quando acabava o recreio, de vez em quando ela anunciava: "Mais dez minutos extra!" E era a maior festa!
Ela tratava a todos igualmente, e com muita educação, fosse criança ou adulto, rico ou pobre. Se alguém dizia que ia sair da escola porque não podia mais pagar, ela logo vinha com um bom desconto. Lembro-me que conosco, foi assim: minha mãe não podia pagar mais as mensalidades, e ia tirar-nos da escola; ela foi dando descontos e mais descontos, e quando minha mãe finalmente anunciou, muito envergonhada, que não poderia pagar de jeito nenhum, ela não hesitou: pediu à secretária que trouxesse nossos carnês de pagamento e rasgou a ambos. Simples assim. E determinou: "A partir de hoje,  elas não pagam mais mensalidades."
Lembro-me de uma sala de aula enorme que tinha lá, a Sala do Turmão. Tinha um piano, e algumas vezes por semana, ela reunia todos os alunos de algumas classes para ensinar hinos: o Hino à Bandeira, o Hino Nacional, o Hino do Soldado, o Hino da escola... ela sentava-se ao piano, a professora escrevia a letra no quadro, nós copiávamos e cantávamos. Nunca me esqueço: "Companheiro, entoemos um hino/Que ressoe com grande sucesso/Que cantemos com força e entusiasmo: /Viva o Colégio Progresso!" E assim nós cantávamos, até o final...
Tenho várias fotos de mim mesma, lendo para ela homenagens em seu aniversário (eu era sempre escolhida para ler, pois era a que lia melhor entre os alunos). Ela sempre chorava durante essas homenagens!
Um dia, adoeceu. Nós, alunos, não sabíamos direito o que ela tinha. Quando ela morreu, foi um choque para todos, pois eu tinha ido visitá-la no hospital na semana anterior com minha mãe e minha irmã. Chegamos a escola um dia de manhã, e estava tudo fechado. Os alunos passavam a notícia: "Tia Franci morreu!" 
Infelizmente, após a sua morte, a escola foi decaindo... cortaram todos os alunos bolsistas - incluindo minha irmã e eu. Alguns anos depois, a escola fechou.
Parte do prédio ainda existe, e não existe uma única vez que eu passe por lá e não me lembre da Dona Franci. Graças a ela, eu me tornei Ana Bailune.

Rapidíssima Crônica










Porque está ameaçando chover forte, e ouço trovões ao longe. Não quero perder mais um computador por causa de uma descarga elétrica. 


É que me lembrei de quando eu era criança, e me escondia sob a mesa de madeira da cozinha quando dava trovoada. Ficava olhando os chicletes colados sob ela e procurando me acalmar, tampando os ouvidos. 


Lá fora, o céu está cimentado. Nenhuma folha se mexe nas árvores. Meus cães estão nervosos na varanda. Parece que a natureza está grávida, mas que o filho não quer nascer, e os trovões são as dores do parto, um parto muito difícil. 


Quero ter terminado esta crônica-relâmpago bem antes da parturição. Algumas gotas bem fininhas, destas esvoaçantes que parecem pedacinhos lascados de vidro, já começam a cair. 


Uma vez vi um filme, há séculos atrás, no qual a heroína, a fim de suicidar-se, ia para a sacada de seu quarto durante uma tempestade magnética e era atingida por um raio. Totalmente 'chocada' e eletrificada, morreu nos braços do amante (que deve ter tomado muitos choques)... 


Mais um trovão. Parece dizer-me: "Desligue este computador enquanto é tempo!!!!" 


Em 1981 tivemos uma época de muitas tempestades e mortes aqui em Petrópolis. Quase todo mundo conhecia alguém que tinha morrido em uma enchente ou desabamento. Foi perto do Carnaval, uma época de muita dor. Veio ajuda até da Europa, caixas e mais caixas de agasalhos, comida, sapatos... 


Mesmo assim, as tempestades me fascinam. repito: "Gosto delas, mãe, eu gosto!" Como fez Khalil Gibran. 


Uma vez, quando eu ainda era uma adolescente, estava armando uma tempestade. Minha mãe estava terminando de limpar a sala de estar, e o cheiro de cera perfumava a casa. Foi uma tempestade de vento, e muitas casas perderam seus telhados, inclusive a nossa. Era água de chuva entrando pelo forro de madeira, as telhas voando para longe, e o encerado de minha mãe virando mingau... 


No começo, assustei-me com a barulho das telhas sendo arrancadas, mas depois, comecei a gostar... apesar dos xingamentos da minha mãe. Era uma sensação de perigo, aventura, o mundo totalmente fora de controle, como se um Mago estivesse passando e lançando um feitiço. E nós, totalmente à sua mercê. 


Agora vou desligar. Ainda nem terminei de pagar as prestações deste computador!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

VOCÊ SE FOI!






Amarrei os teus pés
À minha memória,
Colei os teus olhos
Sobre esta paisagem
Que juntos, miramos
Tentando evitar, num sonho,
A inevitável viagem.

Gravei tua voz
Por sobre estas pedras
Com todos os ecos
Dos quais me lembrei...

Deixei os teus passos
Por este caminho,
Sangrei de espinhos
Aquela palavra
Para não haver despedidas...

Enfim, veio a vida
E te levou
Junto com ela,
Foi apagando e te afastando
Sem piedade,
Soltando os laços
E me deixando
Só a saudade!

Você se foi,
E isto é tão real!...
Se algo ficou?...
Passos sem pés,
No meio do quintal,
Vozes caladas
Por sobre as pedras,
Olhos fechados
Por sobre a paisagem.

Só permaneceram
Dentro de mim
As memórias presas no fio
Tão frágil
Que tu deixaste...
Fatalidade!

Canto de Rolinha







Há um canto de rolinha
No fundo desse dia azul
Crivado de passarinhos,
E ele me chega
Junto com o perfume
Das flores de laranjeira.

Dia ensolarado,
Belo, preguiçoso!
Há tanta beleza
No verde das árvores,
Mas junto com ela
Há toda a tristeza
Do canto da rolinha.

Ah, como eu queria
Que essa rolinha
Voasse para longe!

Ficarão Meus Poemas





Ficarão meus poemas
Espalhados na rede
Nas placas de memórias
Do meu computador...

Centenas de histórias
Algumas, risíveis,
E outras tão tristes,
Escritas na dor...

Ficarão meus poemas
Em muitos cadernos
E folhas esparsas
Datilografadas...

Escritos em livros
Como anotações
Ou capas de discos
E papel de pão...

Ficarão meus poemas
No meio da estrada...
Palavras rasgadas
Que o vento levou.

E um dia, esquecidos,
Amarelecidos
Serão deletados
Pra sempre varridos!

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