witch lady

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quarta-feira, 28 de março de 2012

VOO INFINITO






VOO INFINITO



Ah, pobre pássaro afoito!

Deixou-se seduzir pelo azul mortiço

De um céu que era teto,

E não infinito...

daquele breve voo,

Só restou a saudade,

Pois um voo de liberdade,

Não é feito só de asas!...


É preciso o vento,

Passando entre as penas,

E uma vontade firme

Que una o pássaro ao voo.

E que tudo se dê

Em uma manhã serena,

Culmine ao meio-dia,

E sobreviva ao por do sol.


À noite, há de se ter um ninho,

Que sirva de abrigo

Até o momento certo,

O do voo infinito...




terça-feira, 27 de março de 2012

APELO






Um segredo escondido
No canto da tarde,
Num canto sofrido,
Réquiem de estrelas
Em meus ouvidos,
Uma súplica caída
Do Vale dos Esquecidos

Dizendo: "Lembrai de nós,
Pois não somos mais ouvidos,
Desmancha-se a nossa voz!
E no pó que nos tornamos
Resta aquilo que já fomos,
O que ficou de nós...

Sob a pedra que nos guarda
Haverá sempre um resquício,
E o silêncio onde gritamos
Chora a ausência do que fomos
Sobre os sonhos já morridos
Que nos foram arrancados
Por esse sono forçado,
Por esse corte dorido!"

SANDÁLIAS - um conto







Sandálias





O coração dele disparou ao vê-la aproximar-se. Não era como as outras meninas que chegavam, interessadas nas pulseiras, colares e sandálias que ele fabricava. Já trabalhava naquele canto de praia há vários anos, montando sua barraca todas as manhãs e desmontando-a no final do dia. Estava acostumado à rotina de lindos corpos bronzeados, e por isso, sabia que não era apenas pela beleza do corpo, nem pelas cores deslumbrantes do florão da canga que ela trazia enrolada à cintura.

Talvez fosse a maneira como os cabelos castanho dourados se agitavam sinuosamente com o vento do mar... ou as esmeraldas que ele percebeu nos olhos dela.

Não era só aquilo; era exatamente aquela coisa que acontece e que é indefinível. Pronto: estava perdido, irremediavelmente perdido.

Pegar seus pertences e ir trabalhar todas as manhãs tornou-se um acontecimento diferente, bem longe da rotina que ele cumpria há anos; pois agora, ela estava lá. Sempre no mesmo horário, passava por ele sem notá-lo. Passava como a brisa do mar, refrescando a todos sem distinções.

Ele decidiu que lhe faria um presente: um par de sandálias. O par mais lindo que jamais havia feito. Selecionou as melhores tiras de couro, as miçangas e cristais. Começou a pensar em um arranjo encantador para dispor tudo sobre as tiras, e como trançá-las de forma que os cristais e miçangas formassem um lindo desenho. Engenhoso que era, logo arranjou uma solução.

Um dia, enquanto trabalhava em sua preciosidade, ela chegou de repente, parando para olhar as coisas que ele vendia. Ela fingia estar olhando as pulseiras, mas na verdade, tinha o olhar atento às costas bronzeadas e musculosas do rapaz (ele estava sentado de costas para ela). Reparou que ele usava uma argola em uma das orelhas. Achou aquilo horrível! Pode perceber que suas unhas estavam sujas devido aos produtos que usava para trabalhar o couro. Também não gostou nada daquilo... mas ele tinha alguma coisa de especial que a atraía, embora ainda nem tivesse visto seu rosto: era o cheiro que vinha dele.

Quando ele se virou de frente para ela, ambos tiveram um momento de confusão, corações disparados, bocas entreabertas.Finalmente, ela gostou de alguma coisa que viu nele: os olhos, o olhar profundo, a barba por fazer. Tinha um charme que não era nada parecido com o charme estudado dos rapazes que ela tinha namorado. Ele era totalmente natural e original, tão original que chegava a ser bruto, e aquilo doía.

Ela pegou uma das pulseiras sem pensar, e disse friamente: "Vou levar esta..." Ele não conseguiu dizer nada: colocou a pulseira em um saquinho de papel, que estendeu a ela, pegou o dinheiro, fez o trôco. Foi quando ela reparou nas tiras cravejadas de pedrinhas e contas que estavam no chão, atrás dele. Ficou encantada com a beleza delicada que estava sendo formada por aquelas mãos embrutecidas.

Perguntou: "O que é aquilo?" Ele respondeu, gaguejando um pouco: "Um par de sandálias." Sem pensar, ela quase gritou, entusiasmada: "Eu as quero! Quando ficam prontas?" Ele sorriu: "Na verdade, elas já tem dono... ou melhor, dona. Estou fazendo as sandálias para dá-las de presente à mulher que é a dona do meu coração."

Ela percebeu que uma leve fúria começou a insinuar-se dentro dela, sem querer. Como ele podia ser tão petulante? Ele percebeu o desconcerto da moça, e achou-o divertido. Ela apenas virou as costas e foi embora, deixando no ar o leve perfume de seus cabelos misturado à maresia.

Ele trabalhou a noite toda, na casinha humilde que ocupava junto ao pier, para terminar o par de sandálias no dia seguinte. Não aceitou o convite dos amigos para mais uma noitada de violão na praia, em volta da fogueira. Quando terminou, o dia amanhecia, e as gaivotas gritavam em volta dos barcos de pesca.

Ele vestiu sua melhor camiseta, sua melhor bermuda, e foi caminhando até a praia. Seu coração não estava acostumado à emoções tão fortes. Batia descompassado, causando-lhe um misto de alegria e ansiedade.

Ela chegou, passando por ele. Desta vez, ela sorriu e seus olhares se cruzaram. Ele esperou até que ela estendesse sua canga na areia e, colocando seus óculos escuros, se deitasse sobre ela. Então, ele pegou sua obra-prima e foi até aonde ela estava, parando diante dela, que, ao perceber que havia uma sombra entre ela e o sol, abriu os olhos, retirando os óculos escuros.

"Você ainda quer as sandálias?"
"Pensei que você tivesse dito que elas estavam sendo feitas para a dona do seu coração..."

Sem nada dizer, ele se ajoelhou diante dos pés dela, colocando-lhe as sandálias. Só então ela compreendeu!

No final do dia, quando ambos estavam sentados diante do mar, exaustos de tanto amar, ela se lembrou que teria que partir na manhã seguinte. Sua vida estava lhe esperando. E a vida bem sabia que não poderia juntar, durante muito tempo, duas criaturas tão diferentes.

Quando ele acordou e estendeu o braço, procurando por ela, encontrou apenas o par de sandálias.





Ana Bailune







A MAGIA DE ESCREVER







Acho que tenho passado tempo demais escrevendo... mas é uma das coisas que eu mais adoro fazer. 

As palavras e idéias vão surgindo e se entrelaçando... as frases se formam. Adiciono alguma imagem, que eu mesma fotografo e edito, e pronto: nasce mais uma crônica, poema, pensamento ou conto. E quando termino, fico como uma mãe coruja, contemplando meu bebê recém-nascido, mas isso não dura muito, pois logo vem a vontade de escrever mais um.

É um vício: até quando eu ando pela rua, tudo me faz ter mais uma idéia para uma crônica, poema, pensamento... acho que ando obcecada.

Sem contar com os benefícios psicológicos que o ato de escrever traz a todos nós. A gente fica se autoconhecendo (isso, quando não tentamos mascarar sentimentos e mentir para nós mesmos), e até a vida muda. Os relacionamentos, as interações. escrever, para mim, é vital. Gostaria muito de viver disso, nunca mais precisando fazer outra coisa para ganhar a vida.

Acho que viver é uma experiência riquíssima, e não consigo achar tédio na vida. Mesmo nas situações tristes, a gente encontra alguma coisa útil, um aprendizado, uma nova visão. Acordar todos os dias, olhar em volta com os olhos da alma, ao invés de bufar e dizer: "mais uma segunda-feira!", faz parte da magia de viver.

É claro, às vezes a coisa desanda, eu perco o prumo. Mas o importante, é retornar ao ponto de equilíbrio, e tenho conseguido fazer isso. Pois escrever me auxilia no caminho de volta. Como eu escrevi em um poema há muitos anos, "Perdida de Mim:"

"Perdida de mim eu andei tanto tempo/que já nem me lembro por onde que andei/Mas sei que voltei mais dona de mim/ Eu não me sabia, mas hoje, eu me sei.../ ...E caso algum dia eu me perca outra vez/ Talvez seja fácil me reencontrar/ Tracei meu caminho, uma trilha se fez/Hoje posso ir, pois sei como voltar."

Escrever deu-me esta certeza. Agradeço todos os dias porque eu posso escrever. Agradeço também a todos que tem a paciência de ler meus escritos, do fundo do meu coração. Fico sempre feliz quando fico sabendo que alguém aproveitou alguma coisa deles, sempre!



segunda-feira, 26 de março de 2012

A FELICIDADE É VIRA-LATA





Não, não se trata de briga; esses dois aí na foto fazem parte de uma turminha de cães abandonados que ficam sempre nos arredores da Praça D. Pedro, aqui em Petrópolis. Protegidos pelos motoristas de taxi do local e por algumas senhoras que os alimentam, eles já fazem parte da paisagem.

Já é costume das pessoas, parar para observá-los brincando sobre o gramado da praça. Às vezes, alguém lhes joga uma garrafa plástica, e a festa dura horas... pessoas param e sentam-se nos bancos da praça, enquanto algumas (como eu) resolvem tirar uma foto.

Ser cachorro de rua não deve ser fácil... nem sempre, o dia está bonito, e nem sempre seus 'protetores' estão por perto. O inverno Petropolitano pode ser duro, e na época das chuvas, é preciso encontrar um abrigo. Sem falar nas pessoas maldosas, que lhes atropelam ou envenenam. Felizmente, elas são a minoria absoluta!

Mas eu gosto de parar para observar estes cães, porque eles deixam o coração leve... não sabem quando será sua próxima refeição, mas desfrutam de cada momento vivido com intensidade; brincam, correm, deitam-se ao sol, fazem festas nas pessoas. Parece até que gostam de ser observados, e fazem questão de que o espetáculo seja digno de admiração. Isso é que é viver!

De vez em quando, deveríamos tirar uma folguinha para deitar na grama, brincar um pouquinho, desfrutar o momento sem pensar no que vai ser amanhã. Ser viralatamente felizes.








Rápida Crônica Nascida da Bruma


Leve e rápida como a névoa que se dissipa sob os primeiros raios da manhã, assim deverá ser esta crônica. Ela ainda cheira a café recém-coado, e espreme-se, ansiosa, entre a vontade de nascer e a lida do dia, que me aguarda. Uma crônica de significados sutis.

Queria falar da beleza do acordar e sentir sob os pés os fios molhados de grama, em uma temperatura matinal de apenas onze graus. Ver-me refletida nos olhos amados de minha cadelinha Latifa, e poder tocar seu pelo macio e receber sua alegria como o segundo presente do dia.

Alguém me disse há alguns dias: "Viver bem e agradecer, é isto o que nos resta!" É isto que estou fazendo, a cada manhã e a cada fim de noite.

O sol agora já engoliu quase toda a neblina, e as gotas de orvalho brilham, enquanto morrem sobre o gramado, voltando ao lugar de onde vieram - o céu, em nuvens de vapor. Será que conosco?... Não; prometi que esta seria uma crônica leve.

E nasce esta crônica simples, feita da matéria etérea dos meus pensamentos, cuja alma deito sobre o teclado, e que faz-se visível e corpórea na tela.




domingo, 25 de março de 2012

MAR DE SANGUE







Já não posso navegar
Por esse mar de sangue
Cujas águas são tão densas,
Que quebraram-se meus remos...


E a ilha que eu desejo
Fica sempre mais distante!
Já não posso navegar
Por esse mar de sangue!


O meu barco, antes sereno,
Hoje teme o abissal
De onde nascem tantos monstros...
(Todos de água e de sal?...)


Já não posso navegar
Por esse mar de sangue,
Minhas velas se rasgaram,
Nem o vento a me levar...


Já não há nem mesmo um porto,
Um cais para onde voltar,
Estou só e sem guarida
Bem no meio desse mar!


Talvez haja uma saída
Se eu me deixar afundar, 
Pois sobre esse mar de sangue,
Já não posso navegar!



Para o povo do Afeganistão, que navega há tanto tempo entre o sangue, o medo e os monstros.

CEM MIL



Cem Mil


Havia cem mil,
Dos quais cinquenta
Não tinham face,
Uma falácia...
Destes cem mil,
Cinquenta mil no éter
De uma falsa existência,
A façanha de viver
Múltiplas vidas 
Mortas em uma...

Entre os cem mil, 
apenas cinquenta
Eram de verdade.

Aplausos!!!
Risos...

Palavras







Para um bom entendedor
Meia palavra não basta...
A metade de uma letra
Jamais forma uma palavra.

Pelo crivo que me passas
De mim, quase nada resta,
E no fim da tua festa
Meu champanhe se estraga.

A metade de uma boca
Jamais diz alguma coisa
Que nos seja inteligível
Que nos faça algum sentido...

A palavra, se cortada,
Só dirá meias verdades,
Palavras despedaçadas
Em algum texto ilegível.

Que a beleza sobreviva,
Que a verdade seja dita,
E, que de cabeça erguida,
Caminhemos nessa lida!...



Mulheres Afegãs



Elas varrem a poeira
Que se deita sobre as coisas
E que se gruda, em camadas,
Nas mobílias e vassouras.



A poeira sempre volta,
Vem nos ventos e sapatos,
Nas palavras e nos atos
Seculares, imutáveis...


Elas cortam as cebolas
Que provocam sempre o choro
Por aquilo que não foram
E jamais virão a ser.


Elas parem muitos filhos,
Elas calam e consentem
Já nem sabem o que sentem,
Não desejam, jamais brilham...


São dadas em casamento
A quem elas jamais amam,
A quem nunca há de amá-las
Com total indiferença...


Pois uma mulher não pensa,
Não opina, não contesta,
Com os olhos baixos, varrem
A poeira, após a festa.



Não conhecem a esperança,
Dormem sempre um sono leve
Que fará com que despertem
A qualquer sinal de sonho.


Não conhecem outra vida,
Todas são cópias exatas,
São mulheres xerocadas,
E em série produzidas.










ESTÁTUA ENTERRADA






No meio da lama, a face
Encovada.
Dura, rígida, de pedra,
Órbitas vazias,
Face rachada.


Era a face de um santo,
Mas não sei qual santo era,
Tinha as palmas bem unidas,
E um semblante de fera.


Desenterrei, com as mãos,
O resto da estátua.
Meu sangue pingou no chão
Pela fé desenganada...


Santo, santo, se ao menos
Eu soubesse teu nome,
Quem sabe, falava contigo
Sobre a minha fome...




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Wyna, Daqui a Três Estrelas

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