E veio a inundação,
Invadiu a casa onde eu morava
E me trancava,
Levando consigo tudo o que se escondia
Em meus porões.
O medo venceu a surpresa,
E de repente,
Eu não tinha mais nada
– Sequer a mim mesma.
E quando se foram as águas,
Passei vários dias raspando a espessa
Camada de lama.
Dormi ao relento, sob as estrelas,
Pois não me restou sequer uma cama.
E foi assim que descobri o sopro da brisa, ao ar livre,
E a chuva fresca lavou toda a noite da minha alma,
Levando-a na correnteza das suas águas.
O brilho das estrelas enfeitou minha dor,
E ao sol da manhã, sequei minhas mágoas.
Na casa, então vazia de tudo,
Eu entrei descalça,
Deixando as janelas abertas, as portas escancaradas.
Os passarinhos cantaram nas calhas
Enquanto as folhas dançaram
No piso da sala.
.
.
.
Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi. Porque,
Nunca mais não é "Te vejo daqui a alguns dias,"
Nunca mais não é "Vou ali e já volto,"
Nunca mais não é como "Um dia nos reencontramos para um café,"
Nunca mais é bem depois que se acabaram
A esperança e a fé.
Nunca mais não é "Talvez um dia,"
E de nada adianta rezar mil Padre Nossos
Ou Ave-Marias,
Porque nunca mais é acabou, fim,
Até que se perceba
Que nunca mais é um rio de amor jorrando
Sem um mar que o receba.
Nunca mais é como uma lápide sobre o peito,
Que vai doer por muito, muito tempo,
Até que se aceite, de fato,
Que nunca mais é cadeado,
Nunca mais é para sempre,
É fato consumado.