A minha casa é meio-Frida Kahlo:
As cores se misturam e se espalham
Aleatoriamente nas paredes,
Em verdes e azuis, roxos, laranjas,
Em brancos, amarelos e vermelhos.
Cortinas não tem forros; esvoaçam
Ao vento que adentra e as agita,
E espalha o cheiro doce do incenso
Que eu queimo pela casa todo dia.
A minha casa é simples, e aqui dentro
Somente os objetos que amamos:
Presentes e lembranças de viagens,
E coisas que gostamos e compramos.
Por sobre a escadaria de madeira,
As mãos dos marceneiros já idosos...
A maioria deles já se foi,
Deixaram suas presenças no meu chão.
Sob esta escadaria, hoje estão
Os livros que mais amo, e que não doo;
De vez em quando os leio, e então me entrego
A branda realidade dos seus voos.
O meu jardim é uma parafernália
De plantas que eu encontro pela rua,
E ao plantá-las, raramente brotam
Onde eu as plantei, mas onde querem.
E Burle Marx, acho, se revira
Na tumba onde dorme, ao contemplá-lo!
Pois nada nesse canto é ordenado,
E nada obedece seus espaços!
Cresce uma pitangueira no canteiro,
As rosas se debruçam sobre o muro
E escolhem enfeitar outros jardins;
O meu bonsai cresceu trinta centímetros,
O cedro se encheu de passarinhos
Que fazem os seus ninhos por ali;
Me acordam de manhã, sempre bem cedo.
Pelo gramado, há falhas onde a grama
Foi arrancada pelas patas ávidas
Dos meus cachorros; ele se divertem
Ao derraparem sobre as folhas verdes.
Na minha casa nada é muito certo:
Eu desafio o rígido bom gosto
E rio das suas leis – desobedeço
O que já foi determinado e posto.