Dois dias de aulas desmarcadas e repouso. A gripe me pegou, e estacionou em minha garganta, me impedindo de dar minhas aulas. Hoje eu estou voltando devagar. Está tudo bem.
Mas sou daquelas que pensa que todos os momentos da vida devem ser aproveitados, até mesmo os piores. Febril e com a garganta ardendo, pude colocar em dia a minha lista de filmes a serem assistidos. Foram horas intermináveis deitada no sofá do quarto, conhecendo personagens e entrando nas histórias a fim de disfarçar a realidade do momento, que estava bastante dolorida. E o filme de ontem à tarde foi uma história baseada em fatos reais.
É claro que eu não me recordo do título, mas a história fala sobre duas meninas adolescentes que o destino infelizmente uniu. Uma delas é linda e talentosa, uma bailarina. Tem uma família amorosa, muitos amigos e um namorado lindo e apaixonado. A segunda menina é desajustada, está acima do peso, não é bonita e sofre de depressão e eplepsia; seus pais acabaram de se separar, e ela ouve uma conversa da mãe com uma amiga na qual ela diz que o pai foi embora porque já não conseguia aguentar a menina.
Um dia, a menina feia olha pela janela e vê sua linda vizinha bailarina dançando para a família. Ela fica fascinada, e passa a elaborar um plano para transformar-se nela. É claro que isso significa que a outra deve morrer. Assim, ela dá asas à sua imaginação invejosa e passa a elaborar um plano macabro para acabar com a outra. Infelizmente, ela é bem sucedida.
O filme termina com a menina bonita sendo sepultada entre as lágrimas da família, e a menina feia indo parar em um manicômio. Dá um nó na garganta saber que o filme foi baseado em fatos reais, em coisas que realmente aconteceram. A inveja e uma coisa perigosa, embora a maioria das pessoas prefira achar que é apenas um sentimento ruim sem maiores consequências.
A inveja é a causadora de todas as tragédias, pois ela está unida a sentimentos como ciúmes, mentiras, competição e possessividade. De todos os males liberados pela caixa de Pandora, com certeza este é o pior de todos.
A inveja está naquele olhar que nos examina enquanto estamos distraídos e derrama-se sobre nossas roupas. Ela especula sobre nossas vidas, quer buscar informações sobre nossas posses, onde moramos, onde trabalhamos, quanto ganhamos. Ela também está nas redes sociais, nas fotos compartilhadas que são observadas compulsivamente por pessoas que dedicam horas a tais atividades. A inveja está na mulher mal-amada que cobiça o marido de outra.
Em todas as situações conflituosas entre as pessoas, ela estará lá: a Dona Inveja, sentada à cabeceira daquele que espalha tragédias e maledicências, ditando regras e estabelecendo atitudes maldosas. E ela não sossega enquanto não ver destruidos os seus alvos, ou enquanto não for detida através de atitudes de confrontamento e exposição.
Porque o mal cresce e prospera no silêncio. A partir do momento em que alguém acende a luz, expondo a sua feiúra, ele age como os vampiros ao sol:seca e dissolve-se em si mesmo.
Pena que as meninas bonitas às vezes confiam demais nas meninas feias - e eu não falo aqui de beleza física.